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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
... a solução de um problema é a mais óbvia... mas, talvez por isso mesmo, invisível. Quem usa óculos negros dificilmente se apercebe do azul...
René Magritte
Partindo de exemplos práticos, Luís Maia pretende demonstrar como a desresponsabilização dos membros familiares e educadores próximos das crianças e adolescentes apenas contribui para a acomodação a uma sociedade desumanizada.
"Na minha opinião cerca de 90% da responsabilidade do comportamento inadequado das crianças e adolescentes está sedeado nas práticas educativas nos primeiros dias e anos da criança", disse em declarações à Lusa, adiantando que na maioria dos casos são os pais que precisam de ajuda para se reorientarem na educação dos seus filhos.
Ainda esta semana recebi um email duma mãe. Queria saber se está tudo bem com o filho, se ele tem espaço para progredir ou se está a dar o máximo, o que que ela e o marido podem fazer para ajudá-lo a melhorar os resultados... claro que quem é professor já adivinhou que se trata de um bom aluno.
Os miúdos responsáveis, mesmo quando os pais não têm muito tempo para ir à escola, quando lá aparecem é sempre para saberem o que podem fazer e apoiam os professores no seu trabalho, responsabilizando os filhos.
Já os mal comportados, quando conhecemos os pais, na maior parte das vezes, porque há excepções, pensamos para nós próprios, 'okay, está explicado o comportamento do miúdo/a... é fotocópia dos pais'. Esses, quando aparecem é para reclamar de tudo ou para fazer ameaças ou para falar connosco como se fossemos seus criados ou inimigos...de modo que lemos esta notícia, temos vontade de perguntar, 'Onde é que está a notícia?'
Desde que temos «ajuda» da UE estamos cada vez mais pobres...
Uma sociedade onde a educação é cara e qualitativamente diferenciada segundo se é ou não é rico é uma sociedade que não promove a mobilidade social → uma sociedade que não promove a mobilidade social é uma sociedade estagnada → uma sociedade estagnada é uma sociedade que não cresce → uma sociedade que não cresce é uma sociedade que não enriquece...
Uma pessoa quando sabe que falar não altera nada devia era ficar calada, não é verdade? Pois...
Confesso que ainda não abri o mail do relatório de auto-avaliação mas na escola só ouço falar de evidências. À conta disso pus-me aqui a pensar o que serão as evidências.
Evidente é o que se vê e, por isso, não carece de demonstração [porque se mostra]. Por exemplo, este ano fiz duas exposições com cartazes de alunos de duas turmas. Os cartazes estiveram expostos (foi uma exposição...) publicamente, logo, foram evidentes. Por acaso tenho fotografias das exposições. Vou incluir essas fotografias no relatório? Não, claro que não. Pois se a actividade foi pública e evidente, não carece de demonstração. Pois por essa ordem de ideias pode dar-se o caso de alguém alegar que não me viu na escola e que por isso precisa de evidência da minha pessoa, o que obrigaria a que apresentasse fotografias de mim própria na escola e dentro dos contentores para provar que eu sou eu. Talvez me pedissem então uma reportagem fotográfica da actividade de escrever o relatório como evidência de ser eu que o escrevi...mas parece que este ministro encontra algum mérito nesta avaliação.
Se eu quisesse ser rigorosa teria então de apresentar a lista de todos os livros que li, actividade na qual gastei muitas dezenas de horas e que contribui para a auto-formação e actualização de conhecimentos que afectam positivamente (quero crer) o trabalho (apesar deste ministro achar que os professores que estão nas escolas não são grande coisa): apresentaria fotografias dos livros, recensões, a provar que os li e que têm relevância para o trabalho ou devo fazer uma visita guiada a minha casa?
Nas mãos de crianças que ainda dão pontapés no português e na matemática, os computadores portáteis são uma desgraça: servem para brincar, e não para aprender. Este efeito é reforçado em crianças de famílias pobres.
I. Aqui há uns tempos, os iluminados do Ministério da Educação decidiram que o passo que faltava na estrada dourada do progresso era a distribuição de computadores. Com um passe de mágica - financiado pelos contribuintes, claro está - transformaram todas as criancinhas da escola primária em orgulhosos proprietários de personal computers. A igualdade material era o elemento que faltava para o sucesso trans-classista. O estado intervinha com uma prenda azul, e permitia que todos pudessem ser o Steve Jobs lá da rua.
II. A bem da verdade, a tentação não foi exclusivamente portuguesa. Outros países aderiram ao mesmo raciocínio fácil: "distribuem-se computadores, brotam bons resultados". Entretanto, os factos vieram estragar esta utopia tecnológica. Recentemente, dois economistas de universidades americanas publicaram um estudo sobre o impacto dos computadores nos resultados escolares, focando-se em particular na Roménia. Conclusões? Miúdos que mexem em computadores ganham jeito para... mexer em computadores (ganham especialmente jeito para jogos, acrescente-se). Mas, atenção, as técnicas informáticas são apenas isso: técnicas. Se não souber escrever, se não souber raciocinar, um miúdo de 10 anos não sairá da cepa torta mesmo que seja o campeão mundial do "power point".
III. Pior: o estudo indica que as crianças mais desfavorecidas, em regra com pais menos escolarizados, saem pior do experimentalismo educacional. No caso romeno, tiveram piores notas a matemática e à língua materna, agravando ainda mais o fosso que já as separava dos meninos de classe média.
IV. Com tudo isto, é de esperar que o Ministério da Educação tire a devida lição: experimentar com crianças em idade escolar é profundamente errado, e pode arruinar-lhes o futuro. Se uma criança não souber calcular um troco simples, não vai ser o computador a tratar disso por ela. O computador é uma "técnica", um "instrumento" que está a jusante. A montante está a "essência": os conhecimentos, a capacidade de escrever, o raciocínio matemático. O "Magalhães" e afins são fraudes pedagógicas, porque metem o carro à frente dos bois.
Esta gente toda - a Mª Lurdes Rodrigues, esta Isabel Alçada (que é igual à outra, pois se não estivesse de acordo com o que é decidido no conselho de ministros já se tinha demitido, que é o que fazem as pessoas se não se deixam corromper), o primeiro ministro, o clone, o Santos Silva, o Pacheco Pereira (ainda me lembro de o ouvir fazer elogios à Rodrigues por 'finalmente alguém estar a pôr os professores na ordem', o Lino e todos os outros que desprezam a educação ou se usam do facto de terem mais educação para esmagarem os outros (acham-se... não sei o quê...superiores?) ou se usam do poder de forma imprópria e venal, se não tivessem prejudicado tanta gente eram apenas dignos de pena.
"Pessoas que não servem a Humanidade", servem quem? Se não servem a Humanidade em si, servem o quê, em si? Pessoas que vivem afastadas da Humanidade em si, do que é que se aproximaram?
É díficil não sentir desprezo por todas as pessoas que entendem os cargos como modos de porem outros ao seu serviço. Pessoas habituadas a excesso de poder e de importância tornam-se inadequadas à convivência civilizada. Tratam todos ou como servidores ou como coitados, ou como ídolos, o que diz muito acerca deles próprios.
A necessidade que as pessoas têm de protagonismo, de bajulação, de símbolos de poder, de estarem sempre em pose e de estarem constantemente em felicidade doa a quem doer é uma das maiores causas do egoísmo social e da crueldade individual.
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