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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Hoje sentei-me aqui a ver as ovelhas enquanto esperava...
imagem da net
Pedro Afonso Médico psiquiatra diz que os governantes não transmitem segurança nem esperança e que isso tem um efeito desmoralizador sobre as pessoas. Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental.
Não há dúvida que a esperança tem um peso importante na preservação da saúde mental. E, não há dúvida que os nossos governantes têm um modo de acção que retira qualquer réstia de esperança às pessoas. Isso, é uma das coisas que tem chocado. O ministro das finanças, depois de ter andado por gabinetes muito sossegadinho a fazer estudos senta-se na cadeira do poder à Marquês de Pombal e, sem respeito nenhum pela vida das pessoas decide, que aqui se despedem 40.000, ali tira-se o subsídio de desemprego, baixa-se o salário (então e aos assessores? Baixa-se o número de assessores por ministro? Nem pensar! A esses não se toca em nada! Mantém-se tudo para ees estarem motivados) e ali sobe-se o IMI 1000%, por exemplo, sem considerar que isso pode pôr as pessoas numa situação de perda total da capacidade de ter uma vida com um mínimo de dignidade.
Ontem, à conversa com umas pessoas da escola, algumas diziam-me que estão com medo do IMI [estamos todos] porque agora o senhor Gaspar lembrou-se que pode cobrar o IMI pelo 'ratio' do numero de assoalhadas das casas 'versus' o número de pessoas que lá habitam. Ora, muitas pessoas vivem em casas grandes que são de família e que herdaram de pais e avós onde já viveu muita gente mas onde agora só lá moram uma ou duas pessoas, em virtude dos pais e avós terem morrido e os filhos já terem saído de casa... deve haver milhares e milhares nesta situação, mas o senhor Gaspar achou que, se tem várias assoalhadas e mora lá sozinho ou só com mais uma pessoa deve ser milionário!
Também o ministro da educação diz, com a maior das calmas e um ar de naturalidade, 'É inevitável que vamos continuar a despedir pessoas'.
Como se pode ter esperança num contexto de crise com governantes a tratar as pessoas, não com o respeito que é devido às pessoas, mas como números numa estatística? E, como é que pessoas sem nenhuma esperança no futuro combatem depressões e outos males mentais?
Têm muitos assessores e conselheiros mas parece que ninguém lhes diz as coisas básicas.
Philippe Halsman photo. The resulting image, with a leaping Dali in midair amid the madness, is a portrait as kinetic and surreal as artist’s own work.
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
(...)
Augusto dos Anjos
carlo mariani
O Presidente, Hosni Mubarak, estendeu entretanto o recolher obrigatório a todo o país. O Governo tinha decretado o recolher obrigatório em três cidades, Cairo, Alexandria e Suez, a entrar em vigor a partir das 19 horas (locais, menos duas horas em Lisboa). Mas, segundo a estação de televisão Al-Jazira, entretanto caiu a noite e a polícia não parece estar a impor o recolher obrigatório.
A internet impede o isolamento social e político. Bonito. Se o Norte de África se democratizasse e laicizasse um pouco...quem sabe onde isso levaria?
Uma semana depois da fuga do presidente Ben Ali, repete-se a interrogação: qual será o país árabe que se segue? A revolução tunisina atingiu o Magrebe e o Médio Oriente como uma onda de choque. Graças à Al-Jazira, os cidadãos testemunharam a implosão de uma ditadura árabe por obra e graça de um movimento popular. É a primeira vez que tal acontece - com um esquecido precedente no Sudão, em 1964.
Isto é que é verdadeiramente excitante e significante: que a revolta e os passos dados em direcção, quem sabe, a uma democracia, não foram impostos ou instigados pelo Ocidente. É isso que cria a esperança de que talvez desta vez isto tenha pernas para andar e para se propagar pelo mundo árabe.
Aproveitei a manhã de hoje para ler este livro.
Stefan Zweig olha para a História e escolhe catorze momentos que considera terem sido pontos de viragem no decorrer dos acontecimentos. Vê-os dum ponto de vista duplo: o do interveniente que os provocou numa 'fuga para a imortalidade' como lhes chama e o da própria História por ele, para sempre, marcada.
É evidente que Zweig, um austríaco que vive ao lado da Alemanha nazi, vê os homens individuais como forjadores do sentido da História humana e, em última análise, da sua possibilidade redentora. É por isso que releva estes momentos fundadores da mudança: porque é consciente das implicações para o destino da Humanidade que lhes estão subjacentes.
Uma pessoa desta natureza vê os acontecimentos como sinais do que aí vem e, necessariamente, vê-se a si mesmo e às outras pessoas como instrumentos ao serviço dum todo Humano, sem o qual o individual perde também o sentido.
Talvez por isso se tenha suicidado,mais a mulher, no Brasil, para onde tinham ido quando os nazis subiram ao poder: teria perdido a fé no futuro da Humanidade e, num arremesso, no sentido da sua própria existência como parte desse todo não-Humano.
Compreendo-o perfeitamente.
Cada vez mais actual esta música. Adolescentes, enfiados em guetos, juntam-se a gangs para terem algum sentido de afirmação. Têm a sensação - não errada - de não terem nada a esperar, nada a perder...
Jornal Expresso
Caso Freeport
A primeira tranche, que ao câmbio da altura correspondia a 80 mil euros, foi transferida do
E não se demite! Este indivíduo que nos governa - ele e os seus apoiantes que têm assento nos lugares de poder públicos duma ponta à outra do país e que estão envoltos em fumos negros e pestilentos de corrupção, práticas sexuais infames, abuso de poder, etc., abriram um grave precedente ao não se demitirem em face da gravidade das acusações que sobre eles pesa.
Não falo de acusações daquelas que surgem ao serviço de oposições com agendas eleitorais como motor - falo de acusações com indícos fortíssimos: videos, gravações, acordãos repetidos de tribunais sobre condutas infames, contas cheias de dinheiro que não sabem explicar, casas compradas com dinheiros inexplicáveis, vidas de luxo com ordenados públicos, etc.
O sistema do país permitir que, face a tais acusações com tão fortes indícios a apoiá-las, os visados continuem a exercer o poder, abre um precedente para as próximas legislaturas: temo que a partir de agora, nenhum primeiro ministro ou ministro ou autarca seja demitido ou se demita, seja porque razão for. Talvez se for apanhado em flagrante a matar alguém: e mesmo assim poderá alegar que é uma montagem, um holograma ou qualquer absurdo que lhe apeteça.
Uma das coisas que mais me impressionou quando li o Arquipélago de Gulag de Soljenitsine - li-o há muitos anos, era ainda adolescente - foi o relato que ele faz do transporte dos presos políticos para os campos e das celas de algumas prisões. Eram misturados com criminosos comuns -assassinos de toda a espécie, inclusivé canibais- e a viagem era feita sob o comando daqueles criminosos. Faziam-no de propósito: era para que percebessem, desde a primeira hora, que não podiam esperar justiça ou sequer decência, da parte de quem os tinha condenado.
Ultimamente lembro-me muito destas passagens deste livro, talvez pela trágica ausência de esperança que releva um sistema onde cada vez menos podemos esperar justiça e onde sabemos que já não há decência naqueles que dela deviam dar exemplo.
Como o post anterior foi um bocado feio, deixo aqui um substituto mais de acordo com o sentimento do dia e do momento:
A verdade dos lutadores
é a força de sentirem a razão
como esperança que os liga
uns aos outros em união
para além da finitude da vida
em linha inquebrável estendida
de geração em geração.
beatriz j. a.
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