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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
É que o Camilo escreve divinamente: com uma riqueza e fluência de vocabulário, umas analogias requintadísimas de humor e inteligência tais que vamo-nos deleitando com as palavras a querer ler mais e mais. Eu leio, ou para me divertir ou para aprender. Sou capaz de ler um autor que não escreva muito bem se quero muito saber o que ele pensa sobre certo assunto, mas se não estou muito interessada nas opiniões da pessoa, não estou para fazer o frete de ler algo mal escrito, ou sem graça alguma. Ora, para quem já leu os filósofos e os clássicos e os grandes autores/pensadores, a maior parte do que se publica não tem grande coisa a dizer que proporcione aprendizagem. Em contrapartida, umas páginas bem escritas ensinam sempre qualquer coisa, quanto mais não seja, refinam o olhar, a linguagem e a imagética literária tão necessária para dar côr à vida. Pois o Camilo é mestre nisso. E vê-se que o faz com naturalidade e não para armar ao erudito. E escreve tão bem, com tanto espírito e graça, e acutilância também, que nos põe constantemente um sorriso de cumplicidade nos lábios. Ele gosta disso, de fazer do leitor um cúmplice. Ao mesmo tempo que é elegante a escrever tem aquele sarcasmo tipicamente português.
Da Introdução à História da Égua (excerto)
_ Ainda fazes romances? _ perguntou-me o meu amigo.
_ Ainda...Sedet aeternus que sedebit. Infelix... faço romances e expio os pecados de meus avós, neste incessante rodar do penedo ao alto do monte, e resvalar com ele ao fundo.
_ Estás magro, homem! - observou ele apalpando-me o pescoço, provavelmente com o tacto magistral de quem ajuizava da nutrição dos potros pela fibra atochada e nediez do pescoço.
_ Deixa-te desse modo vivente, se não aspiras à mumificação. Olha que a natureza fez homens, não fez literatos. O Criador, quando expulsou Adão do paraíso, teve a piedade de lhe não dizer: «Serás escritor!» O que lhe disse foi: «Viverás trabalhando até suar». Considera amigo que é necessário suar para viver. E o escritor não sua: logo, morrerá anazados qual te vejos pobre homem! Saíste das prescrições da natureza: torna sobre ti e corrige o vício.
O processo da criação literária e da evolução intíma do escritor cristalinamente explicado.
O movimento que vai do facto à emoção do facto, do objectivo ao subjectivo, do exterior ao interior.
Palavras com peso, de acordo com o estilo do autor.
Uma conversa interessante. Curta. Sabe a pouco. Apetecia ouvi-lo mais.
Os alunos do externato Papião, em São Pedro do Estoril, acham mais fácil escrever com as regras do Acordo Ortográfico do que com as actuais. Quem o garante é Isabel Nunes, directora do estabelecimento de ensino, o primeiro do País a adoptar as novas regras. "Os alunos já estão bem adaptados e acham que é mais fácil", contou ao CM.
Ah bem! Se os alunos do Papião acham mais fácil, de facto não se percebe a demora na implementação do acordo. Aliás, se o critério para mudar a ortografia duma Língua Nacional quase milenar é 'as crianças' acharem uma certa maneira de escrever mais fácil, o melhor seria mesmo adoptar a ortografia das mensagens de texto dos telemóveis, que é o que todos eles acham muitíssimo mais fácil.
Ficaria a notícia escrita assim:
- ox alunx d xtrnato ppiao m s. pdro xtril axam + fssil xkrver kom ax rgrx d kordo ortgrfko d k kom ax atuaix. etc.
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