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Pelos vistos a minha escola tem uma fama

por beatriz j a, em 30.09.19

 

Disse-me um colega novo que está lá na escola. À conversa acerca de um aluno de uma das minhas DTs  concordámos que a turma parece ser sossegada e diz-me ele, 'pois, foi por isso que concorri para esta escola. Diz-se que aqui nesta escola os alunos não dão problemas'. Achei piada.

Isso dos alunos darem problemas ou não darem problemas tem menos que ver com eles -miúdos são miúdos em qualquer parte- e tem mais que ver com outros factores, donde o principal, parece-me, no nosso caso, foram as obras que a transformaram. Na realidade, nota-se uma diminuição brutal dos problemas com os alunos desde que a escola teve obras.

Dantes, as salas eram escuras, esconsas e sujas - os miúdos sujavam mais; as paredes pareciam de papel de modo que o ruído era em nível insuportável e constante. Por vezes tínhamos que parar a aula porque nem nos ouvíamos a falar e porque os alunos ficavam numa grande excitação; certas valências, como a mediateca, estavam dentros dos blocos de salas de aulas e era um entrar e sair constante de pessoas que perturbava as aulas; tinhamos que sair das aulas para ir buscar giz ou um projetor- os alunos ficavam sozinhos; a sala de convívio era escuríssima, sempre com música aos gritos nos intervalos e havia lá sempre confusões entre alunos; as portas opacas - agora vê-se lá para dentro (as obras nas escolas foram uma das duas únicas coisas que a Rodrigues fez bem enquanto foi ministra).

É claro que outros factores também pesam: os DTs serem pessoas com experiência e saberem lidar com os alunos e com os pais; a direcção da escola não se acobardar, nomeadamente com os pais dos alunos complicados e não desautorizar constantemente os professores; os funcionários serem pessoas com experiência a quem os miúdos respeitam, etc.

Mas pronto, não sabia que a escola tinha essa fama.

 

publicado às 13:45


Toque à entrada

por beatriz j a, em 16.09.19

 

Misé Pê

 

publicado às 06:48

 

Quem lê os preâmbulos dos currículos cheios de propósitos como, fomento do pensamento crítico, da reflexão, da autonomia na aprendizagem, etc., ou quem ouve os discursos pretensiosos da equipa da educação e depois vai ver os programas -incoerentes e retalhados, extensos e desagregados- e os tempo semanais das disciplinas percebe que os preâmbulos são fogo-fátuo. Cortam os tempos da disciplinas para enfiar falsas disciplinas e projectos chamados de cidadania e outros afins apenas para alimentar a demagogia dos dirigentes.

 

Não matem a História

Mª José Gonçalves

Neste novo ano lectivo, na minha escola e na maioria das escolas portuguesas, a disciplina de História vê reduzida em um terço a sua carga horária curricular semanal. Sem tempo, a aula de História converte-se provavelmente num monólogo.

 

Estive ausente do ensino 15 meses. Regressei à escola e constatei muitas mudanças — para pior. A mais dolorosa, a mais preocupante, é a mudança ocorrida com a minha disciplina, História, que viu reduzida a sua carga horária semanal nos 8.º e 9.º anos de escolaridade.

Em 2017, a disciplina de História era leccionada em dois tempos semanais (90+ 45 minutos). Porém, partir de 2018, passou a ser leccionada em dois tempos lectivos de 45 minutos, no 8.º ano, acontecendo o mesmo, a partir deste ano lectivo, no 9.º ano. Não quero acreditar.

Vou ter que ensinar História “a correr” e História ensinada “a correr” corre o risco de morrer. A incoerência entre a acção e o discurso político neste assunto é manifesta. Senão, vejamos.

A 31 de Agosto, na página oficial da Presidência da República, para assinalar os 80 anos do início da Segunda Guerra Mundial, o Presidente da República afirmava: “(…) Devemos, pois, ensinar às gerações mais novas o que foi a Segunda Guerra Mundial, para que os milhões de mortos não tenham perecido em vão (…).”

 

Gostaria que o senhor Presidente da República soubesse que, a partir deste ano lectivo, os alunos do 9.º ano de escolaridade, da minha escola e da maioria das escolas portuguesas, vão ter apenas quatro ou cinco aulas de 45 minutos para estudar “Da Grande Depressão à Segunda Guerra Mundial”.

 

O senhor ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, numa entrevista recente, afirmava: “É fundamental que as disciplinas mais tradicionais continuem a ser adensadas”. Não será a História uma disciplina tradicional? Será adensar sinónimo de reduzir?

O senhor secretário de Estado da Educação, João Costa, no âmbito do I Encontro de Educação, em Cantanhede, afirmou: “Não cortem nas disciplinas de Ciências Humanas, nomeadamente na disciplina de História, pois um povo sem memória é um país doente”.

 

publicado às 05:13


Mudar a cultura de escola

por beatriz j a, em 02.05.19

 

Teachers are miserable because they’re being held at gunpoint for meaningless data

Almost a third of teachers quit in the first five years, and those who stay are burning out in record numbers.

Let me clear up this edu-mess for you. It’s not Sats. It’s not workload. The elephant in the room is high-stakes accountability. And I’m calling bullshit. Our education system actively promotes holding schools, leaders and teachers at gunpoint for a very narrow set of test outcomes. This has long been proven to be one of the worst ways to bring about sustainable change. It is time to change this educational paradigm before we have no one left in the classroom except the children.

 

Accountability. Surely that’s a good thing? I don’t think there is an educator in the country who would disagree with the idea that schools have a responsibility to be their very best. But we have options about how we make it happen.

Gunpoint is one option. We tell schools, leaders and teachers to make something happen or they will be miserable, jobless or a combination of both. This can lead to some pretty quick change, but it’s not long-lasting and will bring only compliance to the minimum standards because being held at gunpoint is stifling. It creates a “take-no-risks” attitude that becomes enshrined in the culture of leadership within a school. School improvement is seen as school inspection. Gains are made by the act of weighing. When gains are not made, the problem lies within the school, leader or teacher, rather than the culture, climate or conditions.

publicado às 07:39


Mãe, não sei andar de bicicleta...

por beatriz j a, em 31.03.19

 

 

publicado às 08:00


A vida no campo

por beatriz j a, em 18.03.19

 

As vantagens de viver no campo, por assim dizer, é termos acesso a coisas campestres e saudáveis. Temos uma colega que tem uma horta com árvores de fruto e se entretém, ela e o marido, a plantar e semear. Depois, como são bons nesse trabalho, a horta e o pomar produzem mais do que consomem. Então, ela dá-se ao trabalho de fazer saquinhos com produtos que traz para a escola e põe na sala de professores para quem quiser levar, o que acontece em menos de cinco minutos porque os produtos não têm químicos e são sempre bons :)

Hoje os sacos tinham louro, bróculos já a espigar e tangerinas. Às vezes têm espinafres, tomate... enfim, vão tendo as coisas da época. 

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Em geral não trago porque há colegas que têm filhos e precisam mais das coisas que eu mas... quando são espinafres, às vezes não resisto e trago. Não foi hoje o caso mas como estava a apetecer-me comprei um molho na mercearia a caminho de casa e, como não me estava a apetecer cozinhar hoje o jantar são 120 gr de espinafres e outro tanto de tagliatelle fresca (que são duas coisas que gosto e se fazem em 4 minutos)... 

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... e um dedo de Sauternes. Nisso dos vinhos a minha regra é, salvo excepções óbvias, no Inverno bebo vinho tinto e no Verão, vinho branco. Sauternes bebo o ano inteiro...

Não sei se este jantar é saudável mas é o que me apetece :)

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publicado às 20:09

 

Um trabalho de uma professora e seus alunos na minha escola. O que pode esconder-se por detrás das flores que dão às mulheres no dia da mulher. É assim que o interpreto e acho-o bem conseguido.

 

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pormenor

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pormenor

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publicado às 08:59

 

 

... e stressar é uma coisa que não posso fazer. Hoje cheguei à escola e estava tudo stressado com as Aprendizagens Essenciais. Não é só na Filosofia, pelos vistos, que as AE não estão de acordo com o programa em vigor. As pessoas preocupam-se porque os alunos hão-de ir a exame e é preciso saber o que é que vai contar: se é o programa em vigor, se são as AE. Em relação a isso o ME diz nada.

 

O caso da Filosofia é dramático. Acrescentou-se ao 10º ano um curso de Lógica que no programa em vigor só existe no 11º e nem é igual a este que as AE pensam para o 10º ano. Também acrescentaram como obrigatório um tema que era opcional. Quer dizer, o programa fica enormíssimo, nesta versão das AE e não consta que tenham aumentado o tempo de aulas semanal. Trocaram-se temas do 10º para o 11ºano... tudo uma incoerência. Se tivesse turmas do 10º ano já estava a stressar com isto. Com que critério é que escolhemos entre dar o programa em vigor ou as AE?

 

Entretanto pus-me a ler os despachos e legislação que caiu na escola para ser implementada antes de ontem sobre a flexibilidade curricular, a educação inclusiva... é toda uma nova nomenclatura com protocolos associados que representam mais burocracia sem ganhos que se adivinhem. Bem que a certa altura, num dos documentos, se diz que um dos efeitos é que permite diminuir o número de professores...

 

Proclama-se que os alunos são todos diferentes para a seguir se dizer que são todos iguais porque estão todos em estado de proto-inclusão e também não podem ser categorizados, após o que, passam imediatamente a categorizá-los segundo os problemas de inclusão bem como às medidas de diagnóstico e apoio, sendo que para cada cenazinha há que fazer relatórios e controlar, controlar, controlar... mentalidadezinha de polícias... o secretário de Estado acha que somos os seus escuteirozinhos e pensa estar a educar-nos...

 

E agora não se pode dizer que os alunos têm necessidades especiais, tem que dizer-se que têm necessidades de saúde especiais... era tão simples melhorar o que havia... mas não... tinha que ser mais uma reforma... quando este governo cair há-de vir outra reforma reformar esta... 

 

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publicado às 18:08

 

... nomedamente:

1. sem ordem numa sala de aula ninguém aprende coisa alguma.

2. os exames em si não são negativos, são momentos de aprender a concentrar num objectivo e ser capaz de se organizar, não se dispersar, para o atingir. Isto é importante para qualquer trabalho na vida profissional e até pessoal.

3. a escola não é uma creche e o professor não é um animador social. A escola é um local de aprendizagem e trabalho.

4. a autoridade do professor baseia-se nos conhecimentos, na atitude de respeito, por si próprio e pelos alunos e na capacidade de se empenhar para tornar as aulas úteis e interessantes.

5. as aulas não podem ser apenas emocionais. Os professores não são substitutos dos pais, nem psicólogos.

6. o trabalho intelectual é fundamental. Descurá-lo é desrespeitar os alunos com potencial e não dar oportunidade aos outros de se superarem.

7. o google e outras ferramentas da internet só servem a quem tem bases com que pensar. Como dizia Kant, "intuições sem conceitos são cegas.".

8. a escola não tem como fim divertir. É preciso um esforço para começar a gostar.

9. os professores devem ser escolhidos entre os melhores, ter uma carreira e ser deixados em paz a não ser que haja caso para intervir. A competição entre professores e escolas é um tremendo erro que leva à desmobilização em vez de levar ao empenho e colaboração.

10. as novas tecnologias são úteis e imprescindíveis no mundo actual, o trabalho em equipa também mas não podem obliterar o estudo e o trabalho individuais que desenvolvem o potencial pessoal dos alunos.

11. os pais têm que estar envolvidos nos processos de suporte: incentivar à leitura, ao empenho, à preseverança, à resistência à frustração, ao respeito pelos professores e pelos colegas.

12. há muitas maneiras de se recuperar alunos com dificuldades, há muitas pedagogias e muitos estilos de ensinar de modo que querer impôr um único como o certo é um erro.

 

 

Inger Enkvist: “A nova pedagogia é um erro. Parece que não se vai à escola para estudar

Enquanto a maioria dos pedagogos questiona a utilidade de decorar informações na era do Google e prega o fim das carteiras enfileiradas e das disciplinas estanques, com mais liberdade para os alunos, Enkvist (Värmland, Suécia, 1947) defende a necessidade de voltar a uma escola mais tradicional, onde se destaquem a disciplina, o esforço e a autoridade do professor. Seu ponto de vista contraria os postulados dessa nova pedagogia, mas também se distancia daqueles que acreditam que a escola é uma fábrica de alunos em série e que deve centrar seus esforços em competir com outros colégios para subir nos rankings mundiais.

 

Começou sua carreira educativa como professora do ensino secundário, e agora é catedrática emérita de espanhol na Universidade de Lund. Centrou sua pesquisa na obra de Mario Vargas Llosa e Juan Goytisolo, e escreveu ensaios sobre José Ortega y Gasset, Miguel de Unamuno e María Zambrano. Publicou vários livros sobre pedagogia – como Repensar a Educação (Bunker Editorial, 2006, digital) – e centenas de artigos, além de ter assessorado o Governo sueco no assunto. Sentada na sala de sua casa, Enkvist conversa em espanhol sobre como acredita que as escolas deveriam ser, enquanto bebe um suco de frutas vermelhas servido num jarrinho de barro comprado em Segóvia. Falando com ela, não é nada difícil imaginá-la no seu colégio, ainda menina, tirando ótimas notas.

 

Pergunta. Como recorda sua escola?

Resposta. Era pública e tradicional. Não tenho más recordações. Talvez houvesse algumas aulas chatas, mas às vezes a vida é assim. Os alunos chegavam na hora e não havia conflitos com os professores. A Suécia me deu uma educação gratuita e de qualidade.

 

P. Os tempos mudaram. Continua valendo a disciplina daquela época?

R. A relação entre pais e filhos se baseia mais do que nunca nas emoções. Temos uma vida mais fácil, e queremos que nossos filhos também a tenham. Mas a escola deve estar consciente de que sua tarefa principal continua sendo formar os jovens intelectualmente. A escola não pode ser uma creche, nem o professor um psicólogo ou um assistente social.

 

P. Qual deve ser a finalidade do ensino infantil?

R. Deve ser muitas coisas, mas sua tarefa principal é dar uma base intelectual. Dar conhecimentos aos jovens, prepará-los para o mercado de trabalho, transmitir-lhes uma cultura e proporcionar-lhes uma ideia da ordem social, porque a escola é a primeira instituição com a qual as crianças se deparam, e é importante que vejam que há algumas regras, que o professor é a autoridade e que é preciso respeitar tanto ele como os colegas.

 

P. Mas a tecnologia torna mais difícil controlar crianças hiperestimuladas.

R. Sempre houve dificuldades na aprendizagem. Há 50 anos, era o fato de precisar andar uma hora para chegar ao colégio, ou oferecer refeições nutritivas. Hoje se trata da enorme quantidade de estímulos. O novo desafio é controlar o acesso ao celular e ao computador para que se concentrem. As escolas que proíbem o celular fazem bem. Em casa, os pais devem vigiar o tempo de uso da tecnologia. Proibir é muito difícil, porque se criam conflitos, mas um pai moderno deve saber dizer “não”. Deve resistir.

 

P. Há pedagogos que afirmam que a escola tradicional é chata e educa crianças submissas, e que é preciso aprender a aprender.

R. A escola é um lugar para aprender a pensar sobre a base dos dados. Isso de insistir em aprender a aprender sem falar antes de aprendizagem é uma falsidade, porque não podemos pensar sem pensar em algo. Sem dados não há com o que começar a pensar.

 

P. A escola não deveria ser um lugar onde se divertir?

R. A satisfação na escola deve estar vinculada ao conteúdo: entrar numa aula e que lhe contem algo que você não sabia. Mas é preciso saber que, para entender algo novo, é necessário fazer um esforço. Além disso, é fundamental que o professor nos ensine a ler e também como nos comportar. É impossível aprender bem sem que haja ordem na sala de aula. Essa é a base principal: comportamento, leitura e avaliação pelo conhecimento.

 

P. O que opina da tendência de pôr almofadas na sala de aula para que os alunos se deitem?

R. Isso é enganar os jovens. Para aprender a escrever, uma criança precisa sentar-se bem, olhar para frente, ter lápis e papel, concentrar-se… Aprender pode ser um prazer, mas, insisto, exige um esforço e um trabalho. É preciso dizer isso às crianças. Se não, estamos enganando-as. Tocar violino, por exemplo, não é fácil. Exige muita prática. Os estudos do psicólogo sueco Anders Ericsson mostraram que é necessário um esforço prolongado para melhorar em algo. Para ser bom em algo você tem que se dedicar 10.000 horas. E precisa fazê-lo de forma consciente e trabalhar com um professor. Sua pesquisa avaliza a ideia tradicional de uma escola baseada no esforço do aluno, sob a orientação de um professor.

 

P. Há quem diga que não é preciso decorar porque tudo está no Google.

R. Essa é outra falsidade. O Google é uma ferramenta genial. É de grande ajuda para os adultos, porque sabemos o que procuramos. Mas, para quem não sabe nada, o Google não serve de nada. Há intelectuais que andam por aí dizendo que estudar geografia não foi útil. Acredito que se esqueceram de como e quanto aprenderam na escola. Afirmar essas coisas é uma falta de honradez com os jovens. E menosprezar a importância em si da vida intelectual do aluno.

 

P. Em que consiste a nova pedagogia que você critica?

R. A nova pedagogia é um pensamento que se vê por toda parte no Ocidente. A Suécia a adotou nos anos sessenta. Consiste, por exemplo, na pouca gradação das notas, por isso muitos pensam que não há razão para estudar muito se isso não for se refletir no histórico escolar. Dá-se muita importância à iniciativa do aluno, trabalha-se em equipe e, ao mesmo tempo em que as provas desaparecem, aparecem os projetos e o uso das novas tecnologias. Em geral, parece que se vai à escola para fazer atividades, não para trabalhar e estudar. Dá-se mais ênfase ao social que ao intelectual. Acho que é um erro. Por um lado, os alunos com mais capacidade não desenvolvem todo o seu potencial e, por outro, os que têm uma menor curiosidade natural por aprender não avançam. Além disso, muitos gostos são adquiridos, como a história, a leitura e a música clássica. No começo podem parecer chatos, mas, se alguém insistir para que tenhamos um primeiro contato, é possível que acabemos gostando. Atualmente, muitos jovens escolhem sem terem conhecido e, claro, escolhem o fácil.

 

P. A Espanha é um dos países da OCDE que dedica mais horas à lição de casa. Isso tem alguma utilidade?

R. Quando a jornada é muito longa, como na Espanha, não faz sentido. Se um aluno está cansado, a lição de casa não melhora o seu rendimento. É preciso buscar um número ideal de aulas pela manhã, quando a criança está mais acordada, dar-lhe um tempo de descanso e, à tarde, talvez uma tarefa de revisão do que fez durante aquele dia. Um bom exemplo é a Finlândia, onde os alunos entram às oito da manhã e saem às duas da tarde, incluindo o almoço; exceto às quintas-feiras, quando saem às quatro da tarde.

 

P. Quando criança, você era um grande leitora. Como despertar esse prazer se uma criança não está interessada?

R. Era uma leitora compulsiva. Ninguém teve de insistir para que eu pegasse um livro. Mas há crianças que precisam disso. Talvez no começo seja necessário forçá-las um pouco, encorajá-las para que se tornem leitoras de lazer. Como se faz isso da escola? Comprar bons livros para a biblioteca e recomendar um a cada sexta-feira. Um aluno pode contar o que leu naquela semana. Fazer pequenas competições para ver quem leu mais. Medir como o seu vocabulário aumenta. E explicar que a leitura lhes permitirá, quando adultos, um melhor desenvolvimento. Se os alunos começam a ler, quase todos descobrirão que é um prazer. Mas eles precisam de horas. Calcula-se que na maioria dos países se dedicam 400 horas à aprendizagem da leitura na escola primária. Para ser um bom leitor, são necessárias 4.000 horas. É impossível ter tanto tempo na aula. Eles têm de fazer isso em casa. O que os pais podem e devem fazer é ler com os filhos: apoiar a leitura e servir de modelo.

 

P. Mas as humanidades estão perdendo peso.

R. Dizem que o amanhã será dominado pela tecnologia e pelas ciências naturais, e que o que é histórico não é importante. Além disso, as provas do PISA [Programa Internacional de Avaliação de Estudantes], um conjunto de exames organizados pela OCDE para avaliar as competências de alunos de 15 anos em ciências, matemática e leitura] não levam em conta as humanidades porque é difícil comparar esses conhecimentos entre países, então a vontade de competição os leva a dar mais ênfase às matérias que fazem parte do PISA e negligenciar as outras. Tanto a escola quanto a família devem dar mais ênfase às humanidades.

 

P. A visão do PISA é a de uma escola que deveria funcionar como uma empresa?

R. A OCDE é uma organização econômica e analisa a educação a partir dessa perspectiva. O que o PISA não revela é se existe uma boa atmosfera na sala de aula, se bons princípios de trabalho são inculcados, se as ciências humanas, as ciências sociais, as matérias estéticas como arte e música, que são essenciais, são bem ensinadas. O PISA é uma prova muito específica que analisa algumas coisas. As escolas e os países deveriam defender que eles ofereçam muito mais do que isso.

 

P. Em seus livros, você aponta a Finlândia como um dos grandes modelos.

R. A educação na Finlândia foi tradicional, embora há dois anos o Governo tenha lançado um programa mais parecido com o da Suécia, porque meu país tem um desempenho escolar inferior, mas tem um comportamento econômico superior e criou empresas de tecnologia como Spotify e Skype. O Governo finlandês parece pensar que com um pouco de desordem suas escolas serão mais criativas. Não acredito nisso.

 

P. A Finlândia era tradicional? Não há exames no ensino obrigatório nem os havia antes dessa reforma que você menciona.

R. É preciso repensar a fobia aos exames. O exame ajuda a se concentrar em um objetivo. Que em tal dia você tem de saber esses conhecimentos. Um bom professor ensina coisas aos alunos, revisa com eles e faz algumas provas. E constroem outros ensinamentos sobre o que já foi aprendido, então esses conhecimentos voltam a aparecer mais tarde. Não faz um exame sobre algo sem importância. Com a prova final acontece a mesma coisa. É um objetivo claro. Ajuda a ter uma visão global.

 

P. Na Finlândia não se compara tanto as escolas, o que é comum na Espanha. É assim?

R. Na Finlândia continuam com a tradição de confiar nos professores. Quando existe um controle estatal do desempenho e se fazem comparações entre as escolas, o ambiente se deteriora. Para os professores, gera estresse e rancor em relação a quem te controla.

 

P. Como deve ser um bom professor?

R. Responsável e bem formado. Deve acreditar no poder do conhecimento. Não se é bom professor apenas pelo que se sabe sobre a matéria, nem só porque sabe conquistar os alunos. É preciso combinar ambos os elementos: atrair os alunos para a matéria para ensiná-la adequadamente. É preciso recrutar professores excelentes em que alunos, pais e autoridades possam confiar. E a menos que haja uma situação grave, devemos deixá-los trabalhar.

 

P. Como foi sua experiência na sala de aula?

R. O aluno tem de respeitar as instruções do professor, fazer as lições de casa e, por exemplo, não mentir. Antes, mentir era muito grave. Agora parece que não acontece nada. Vi jovens que inventam motivos para justificar por que não fizeram um trabalho, que escrevem de forma pouco legível para gerar dúvidas ou discutem o tempo todo com os professores. Sei o quão desagradável é que um aluno tente mentir para você. Vi isso no ensino médio e na universidade. Quando um professor sente que não é respeitado, que tentam enganá-lo, todas as relações de ensino se rompem.

 

P. O que fazer com as crianças que incomodam e não deixam os outros trabalharem?

R. Isso é um tabu. É considerado pouco democrático. Diz-se que devemos dar uma oportunidade a todos. Mas o que acontece quando uma criança problemática não deixa os outros trabalharem, quando se fala com ela e com os pais, mas não se corrige? É preciso colocá-lo em um grupo separado para ver se percebe e muda.

 

P. E as crianças que se esforçam, mas não atingem o nível?

R. Elas podem ter aulas de reforço. E podemos oferecer itinerários diferentes, como no caso de Cingapura.

 

P. E repetir de ano?

R. Fazer repetir uma criança às vezes serve e às vezes não, porque cada um é diferente. Gosto do sistema de Cingapura, onde o lema é que cada criança pode atingir seu nível ótimo. Existem diferentes maneiras de conseguir isso: uma maneira, digamos, normal e outra, expressa. A segunda inclui mais conteúdos em menos tempo. Há quem diga que é menos democrático, mas creio que, pelo contrário, é mais democrático porque convém à criança, à família e ao Estado. E há menos evasão escolar, um problema muito mais grave.

 

P. Não está aprendendo também por imitação? Ou seja, os alunos adiantados podem puxar aqueles que ficam para trás?

R. Funciona quando o grupo tem um bom nível e um bom professor. E se aqueles que têm de se integrar são poucos e querem fazê-lo. Se não, o que geralmente acontece é que aqueles que não querem trabalhar arrastam os outros.

 

 

publicado às 21:03


Post para mim mesma

por beatriz j a, em 02.01.18

 

 

Amanhã é dia de voltar à escola e estava a aqui a pensar em aproveitar umas reflexões de uns textos de Marcuse que andei a reler. Vou lançar um desafio aos alunos do 10º ano. Acredito muito no poder da educação nestas idades em que as pessoas ainda não cristalizaram e estão em plena formação da identidade. Mostrar caminhos diferentes da unidimensionalidade a que as cegas sociedades os querem obrigar por introjecções de padrões que os afastam da possibilidade de uma vida autónoma e autêntica, não só ajuda cada um em particular a conseguir, se assim o desejar e quiser, a sua própria autonomia mental e ética, como ajuda a romper com o discurso unidimensional que varre o espectro político, económico e social. Um discurso de resignação a uma (falsa) ausência de alternativas ao mundo actual. É possível fornecer instrumentos de libertação de uma sociedade 'suavemente esclavagista', como dizia Marcuse.

Cada vez acredito mais que o serviço (serviço não é subserviência, pelo contrário) é a única via humana possível. Não no sentido louco de querer contribuir para transformar as pessoas e as sociedades em algo utópico que as aliena ou violenta mas no sentido de ajudar cada um, no máximo das nossas possibilidades, a ter na sua mão os seus próprios instrumentos de transformação, de auto-construção e de evitamento ou libertação de vidas inautênticas. Uma pessoa pode facilitar esse percurso aos outros, abrindo portas de conhecimento. Depois, só lá entra quem quer. É claro que isso só se faz incomodando que é a única maneira de desacomodar mas vale a pena porque é muito difícil termos que fazer todo o percurso sozinhos, ter que descobrir tudo sozinhos. Gostava que alguém me tivesse incomodado quando era mais nova. Acredito mesmo numa certa irmandade de pensamento transtemporal ou supratemporal onde o insight de uns ajuda os outros a relacionar-se mais autenticamente com o ser.

 Não por acaso, o nome deste blog (IP) é um acrónimo dessa crença.

 

publicado às 14:52

 

 

Suspeito de matar segurança em Lisboa entregou-se e tem 17 anos

Jovem já estava identificado pela Polícia Judiciária.

 

Quando leio estas notícias o que me vem à mente é a ideia destes indivíduos predadores andarem numa escola, misturados com crianças e jovens. Sendo menor de idade, mesmo que falte às aulas mais que o permitido por lei, essa mesma lei obriga a que seja mantido na escola até aos 18 anos. Mesmo que aterrorize os colegas, os professores e toda a gente, mesmo que seja um assassino: se tem menos de 18 anos anda numa turma e não pode ser mandado embora da escola. A escola está cheia de alunos menores de idade mas maiores no tipo de comportamentos que exibem, pois aos 16 e 17 anos muitos jovens já tem a [outra] escola toda, não querem estudar, querem é ir ganhar dinheiro e não podem de modo que, como detestam a sua experiência na escola, fazem os possíveis para estragar a experiência dos outros. Não é raro ter alunos de 16 e 17 anos, com tendências delinquentes, ainda no ensino básico, misturados com miúdos de 12 e 13 anos. Este rapaz da notícia, como tem menos de 18 anos, há-de andar numa turma, provavelmente com colegas de 14 e 15 anos... deve ser fantástico para os colegas, para os professores, para o sucesso da turma, os níveis de leitura, o dia a dia na escola, etc....

Foi você que pediu para ter um assassino na turma do seu filho/a?

 

publicado às 05:33


La buena escuela portuguesa (El País)

por beatriz j a, em 27.11.17

 

 

La buena escuela portuguesa (El País)

Portugal es el único país europeo que mejora continuamente su nivel educativo desde el año 2000

Ni la bancarrota del país ni el recorte de sueldos de los profesores ni el aumento de alumnos por aula. Nada. El periodo económico más sombrío de Portugal en lo que llevamos de siglo no ha roto la mejora continuada de su sistema educativo. Si la troika acudió al rescate económico del país de 2011 a 2014, el informe educativo PISA 2012-15 señala que Portugal es el único país europeo que sigue mejorando su educación desde comienzo de siglo.

 

publicado às 06:08


A escola que a Rodrigues nos deixou

por beatriz j a, em 11.11.17

 

 

Saí um bocadinho de casa para ir à mercearia -na verdade para fazer um intervalo nesta maratona de testes- e encontrei uma colega que conheço há muitos anos, com quem me dou muito bem, que saiu no ano passado lá da escola porque foi obrigada a voltar à sua escola de origem, que não é muito longe da minha. Estava como eu nunca a vi: cheia de olheiras, branca como a cal, com um ar de fim de ano lectivo. Bem, fez-me aquilo que eu fiz outro dia ao meu médico (que é um querido), ou seja, esteve dez minutos a descompensar para cima de mim os problemas da escola, mais especificamente duma turma que tem, do sétimo ano, onde um rapaz que já frequenta o sétimo ano pela quarta vez, bate e ameaça, professores, funcionários e colegas sem que nada se possa fazer porque agora, a não ser que um aluno mate alguém, e mesmo assim, não sei, o mais que se pode fazer é suspendê-lo 12 dias ou, em caso limite, mandá-lo para outra escola bater em outros alunos, funcionários e professores. Até aos 18 anos nada se pode fazer. É a escola que a incompetente da Rodrigues deixou. Até me fez impressão porque ela é uma pessoa muito proactiva, optimista e muito boa profissional mas, quem é que aguenta uma dose diária de delinquência completamente desarmada de instrumentos, de recursos e de pessoal especializado?

O que mais se vê nas escolas é desistência. É avassalador. só quem está bem nas escolas são os directores e os seus sabujos.

 

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publicado às 17:35


Concursos de professores

por beatriz j a, em 19.07.17

 

 

Hoje era o único tema de conversa na escola. Uma colega de Viseu, contratada, que ficou cá este ano, sem ajudas de custo, casada e com dois filhos pequenos, teve a candidatura invalidada e não entou em QZP. Toda a gente sabia e contava casos. No grupo de História da minha escola, a colega que era a decana da escola, vai passar a ser a mais nova do grupo com a entrada de três professoras de outra escola daqui. Em outros grupos também entram pessoas já muito perto da reforma. Isto só mostra o estado de envelhecimento do corpo docente das escolas. As coisas cada vez pior é um desânimo. Sabemos porque é tudo assim: porque 50 mil milhões de eurinhos foram para o BPN, o BES, a SLN, o Salgado, o Vara e todos os parasitas que rastejam de cargo em cargo.

 

Entretanto: hoje vi umas pautas de uma escola básica. Alunos que transitam com 5 e 6 negativas. Se me contassem não acreditava. Agora é proibido aparecer nas pautas afixadas, as faltas e as alíneas, calculo que para não se ver que estes alunos que assim passam têm 500 ou 700 faltas, por exemplo ou, alíneas indicando subidas de notas, etc. Uma vergonha. Por isso quando me chegam ao 10º ano alguns mal sabem ler e escrever... 

 

publicado às 16:12


Hoje foi um dia bom

por beatriz j a, em 18.05.17

 

 

Resolvi três problemas de alunos, um dos quais delicado e urgente. Este último não o tinha resolvido se uma colega não o tivesse detectado e não tivesse vindo imediatamente dizer-me e se outra colega não tivesse sido expedita a accionar um contacto assim que lhe pedi. Mesmo um dos outros dois só o resolvi com a colaboração de colegas. O que quero dizer com isto é que as escolas não são efectivas sem a colaboração e entreajuda dos professores que não é algo que se decrete mas algo que se induz com um certo clima e dinâmica no local de trabalho, incompatíveis com a cultura de poder cristalizado e assédio que a tutela parece gostar já que não a muda, antes a alimenta, mantendo um sistema malsão, oposto a tudo o que a escola deve ser e representa.

 

publicado às 19:22


Coisas que revoltam na educação

por beatriz j a, em 27.04.17

 

 

Ontem e hoje tive reuniões de pais. As três DTs têm uma maioria de alunos cujos pais têm em média o 9º ano. Alguns têm mais mas são poucos. As turmas são fracas, os pais não têm recursos, nem económicos, nem intelectuais para ajudar os filhos como eles precisavam. É aí que devia entrar a escola pública, não é verdade? Pois devia... mas não entra. Todas as três turmas têm aulas misturados com outras turmas nas diferentes disciplinas: numa podem estar com a turma x, na outra com a y e na outra foram divididos e metade tem aulas com a x e a outra metade com a z. Quer dizer, a turma em si só existe como entidade teórica no livro de ponto (excepto em algumas disciplinas específicas) ou nem isso e está repartida por dois livros de ponto com letras diferentes numa baralhada total... isto tudo para que as turmas estejam no máximo de alunos possível. O resultado é os professores trabalharem com turmas que na realidade são conjuntos de alunos de duas, três ou quatro turmas diferentes somados em número de 30 ou mais dentro da sala. Claro que é impossível fazer um trabalho diferenciado com estes alunos fracos e cheios de dificuldades, em turmas descaracterizadas, sem identidade, enormes, sem dinâmica própria e, muitas vezes, como acontece em duas das minhas DTs, francamente antagónicas.

 

Hoje os pais de uma das turmas perguntavam-me, 'mas os professores não chamam a atenção da Direcção, não dizem que os alunos assim não conseguem?'. É claro que chamamos a atenção e vai escrito em todas as actas das reuniões mas ninguém quer saber. O Ministério não quer saber de investir na educação, quer é reduzir custos e a inspeção aprova estas barbaridades todas e ainda outras... [como o meu e outros horários, por exemplo...]. E não me venham dizer que é uma questão de dinheiro porque há dinheiro aos milhares de milhão para todos os calotes de todos os bancos, ano após ano...

 

É difícil vermos estas pessoas, que trabalham em fábricas, em supermercados, em restaurantes terem já os filhos a trabalhar metade do dia para pagarem as contas da casa [uma das alunas do 12º ano que trabalha na caixa de um hipermercado disse-me que agora foram proibidas de sentar-se porque isso reduz a produtividade de modo que estão horas de pé a atender clientes, sem pausas... ] e irem aos poucos desistindo da ideia de os verem ter uma vida melhor que a deles porque a escola pública se demite de investir nos alunos e só trabalha para inglês ver: primeiro tratam-se assim os miúdos e a maioria vai abandonando os estudos e chumbando por falta de condições reais de igualdade de oportunidades e depois vem o ministro e manda acabar com os chumbos para fingir que todos têm sucesso, que é uma maneira de tapar as rachas da parede com pintura bilhante. É revoltante.

 

 

publicado às 20:56


Isto chateia mas ninguém quer saber

por beatriz j a, em 30.03.17

 

 

Levo sempre uma fruta ou iogurte para a escola para comer a meio da manhã. Hoje esqueci-me de levar (porque uma pessoa anda com tanto trabalho que já não anda a bater bem) e como tomei o pequeno almoço cedíssimo, antes das seis da manhã, estive a trabalhar até às 13.30h, à fome, o que me custou bastante na última aula por estar em fraqueza. É que não posso comer açúcar e na escola só há pão (com queijo ou fiambre), bolos, fritos, bolachas e chocolates. Na última aula da manhã disse que à turma que estava cheia de fome. Uma aluna disse-me que às vezes chega atrasada porque não pode comer açúcar e tem que fazer uma merenda para trazer antes de sair de casa com uma panqueca e uma banana (o que às vezes a faz perder o autocarro porque ela vem de longe) pois caso contrário fica toda a manhã sem comer porque não há nada que possa comer na escola a não ser pão, bolos, chocolates, fritos e porcarias de máquina. Já desisti de ir ao bar. De cada vez que lá ia perguntava por fruta ou iogurtes (respondiam sempre que isso é no mês a seguir e que não trazem porque não se vende bem) e dizia-lhes que acho um escândalo não perceberem que estão numa escola e que têm que ser pedagógicos, até a vender comida. Ficam chateados de ouvir isto e, de qualquer modo, não há lá nada que possa comer... olha, se é para beber cafés vou à máquina que ao menos não me chateio...

 

 

publicado às 17:22


Mas este mês e este período não têm fim?

por beatriz j a, em 29.03.17

 

 

Eu sei que isto de classificar testes e trabalhos e fichas e o diabo a nove faz parte do trabalho mas já não se aguenta e este período é interminável... testes às resmas mais um caderno inteiro com anotações de apresentações orais de trabalhos para organizar/avaliar e depois traduzir em comentários escritos devolvidos aos alunos na parte escrita dos trabalhos, mais todo o resto do trabalho de apoios, de 3 DT ou, por exemplo, ter de voltar à escola daqui a bocado para uma reunião de burocracias que podiam ser resolvidas por email. Que massacre... E quando chegar às 'férias' (ahah) da Páscoa, que são cinco dias úteis, metade é para dormir e tentar recuperar do cansaço acumulado a outra metade para preparar o 3º período.

Hoje em dia as coisas são de tal maneira que ou se tem trabalho e se está sempre com excesso de trabalho [enfim, excepto os os queridos predilectos que formam uma elite ao contrário] ou não se tem trabalho e se está desempregado. O meio termo que é ter um trabalho equilibrado é uma espécie em vias de extinção. 

É claro que se fosse uma portuguesa a sério ocupava o meu tempo com copos e homens para agradar ao Dijó...

 

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publicado às 15:03

 

 

Querermos educar os jovens para a cidadania, partilha de poder democrático, espírito crítico e outros ideais que aparecem na 'nova' representação dos currículos mas depois darmos-lhes como exemplo a vivência num sistema anti-democrático é, no mínimo, um contra-senso, para não dizer mesmo, uma farsa.

 

Menos poder para os directores, defendem 92% dos professores

Inquérito da Fenprof a 25 mil docentes. Resultados mostram que mais de nove em cada dez discordam do actual modelo de gestão das escolas.

Os professores consultados mostraram estar alinhados com as posições que têm vindo a ser defendidas pela Fenprof nesta matéria. Além dos 92% que defendem que o órgão de gestão das escolas deve ser colegial e eleito por lista, a mesma percentagem de docentes dos 25 mil que responderam acreditam que o órgão de gestão da escola deve ser eleito por todos os professores, funcionários e representantes dos encarregados de educação e alunos.

A eleição entre os pares é o modelo favorito para os professores, segundo este inquérito, seja para a coordenação de departamento (94%) como para a coordenação de turma (87%). Além disso, 79% apontam que qualquer docente deve poder candidatar-se ao órgão de gestão, cabendo aos eleitores avaliar a sua competência.

 

 

publicado às 05:20

 

 

Students are working harder than ever to pass tests but schools allow no time for true learning in the Socratic tradition

 

The atmosphere in the class is relaxed, collaborative, enquiring; learning is driven by curiosity and personal interest. The teacher offers no answers but instead records comments on a flip-chart as the class discusses. Nor does the lesson end with an answer. In fact it doesn’t end when the bell goes: the students are still arguing on the way out. This is my ideal classroom. In point of fact, it is more than just a dream. My real classroom sometimes looks like this, at least occasionally.

A minha também!! Quase sempre :))) embora não seja verdade que nunca ofereça respostas é verdade que nenhuma aula é fechada com uma resposta 😀

 

Mas as disciplinas que lecciono não têm, hoje em dia, exame obrigatório e a verdade é que a maioria das aulas onde há exames obrigatórios são dadas para os alunos passarem esses exames e como os programas são enormes e as turmas gigantes não há tempo para que possam fazer um exercício de progressão socrático. Na geral as coisas são mais assim:

‘Teaching to the test’, which increasingly dominates public school classrooms, produces an atmosphere of student passivity and teacher routinisation. The creativity and individuality that mark out the best humanistic teaching and learning has a hard time finding room to unfold.

 

Os malefícios do caos que atinge a constituição de turmas não tem explicação e ninguém fala disso. Estamos com 30, 32, 34 ou mais alunos dentro da sala de aula, sendo que esses alunos são de várias turmas misturadas anti-pedagogicamente só para poupar dinheiro.

Geralmente são duas turmas que se juntam mas, podem ser mais. Como estamos no nível secundário e não universitário, os alunos não têm autonomia suficiente para não dependerem do professor em quase todas as tarefas. Estamos a falar de adolescentes. Pessoas naquela fase da vida que é um universo diferente e alienígena dos adultos, onde levantar o braço para fazer uma pergunta ou ser capaz de dizer que não percebe pode ser um drama que leva um mês a ultrapassar, onde ter que expôr-se em frente de desconhecidos, mesmo que nesse universo reduzido da turma pode causar um ataque de pânico.

 

Outro dia vinha a falar com um colega de Matemática à saída da aula do meio da manhã acerca de termos mais de 30 alunos dentro da sala e nem haver cadeiras suficientes para se sentarem. Dizia-me ele, 'é impossível um ensino de qualidade - quando fazemos um exercício o mais que podemos é escolher um aluno para ir ao quadro e o que ele fizer serve de modelo para os outros porque não é possível ver o que cada um fez, como fez, tirar as dúvidas a cada um, ver onde cada um está a falhar, etc.'

 

Depois é a misturada de turmas. Uma turma no 10º ano tem 30 alunos. Se 5 ou 6 não passam, 2 ou 3 mudam de curso e outros 2 mudam de escola, a turma fica com 19, por exemplo. No ano seguinte essa turma tem aulas com outra turma que também ficou com menos 10 alunos, nas disciplinas como o Português e mais outas 2 ou 3 que são comuns a todos os cursos.

 

O resultado não é uma turma nova mas duas despersonalizadas enquanto grupo, com dinâmicas e modos de funcionamento diferentes enfiadas numa mesma sala. Uma pode ser uma turma de Humanidades e outra de Artes ou de Ciências e não têm nada em comum; depois de um ano no secundário num determinado curso, já têm um modo de funcionamento mental próprio do curso de maneira que não se fundem em uma só turma o que afecta os alunos, para além de nos afectar a nós porque depois temos 30 alunos dentro de uma sala de aula, sendo que muitas vezes estão desfazados em termos de ensino porque cada um teve seu professor.

Estamos ali a dar aulas a duas turmas e não uma, só que estão todos dentro de uma única sala. Às vezes juntam-se a duas turmas diferentes consoante as disciplinas. É o caos e já se tornou rotina quando dantes era uma excepção. Para os alunos isto tem consequências extremamente negativas. 

 

Este ano tenho uma turma do 10º que está a começar agora e mais outras seis juntas duas a duas de modo a fazer 3.

As duas turmas do 12º ano que tenho são 4. Por exemplo, uma é a turma A+B e a outra é a turma C+D. Cada uma é a junção de 2 turmas. Em cada uma delas eu conheço metade da turma: por exemplo, na A+B conheço os da A desde o 10º ano e a outra metade (a B) só os conheci este ano.

O facto de eu conhecer perfeitamente todos os alunos de uma das turmas (A, por exemplo), ter um enorme à vontade com eles e trabalharmos muito bem porque já nos habituámos uns aos outros e porque os treinei desde o 10º para serem autónomos no trabalho e dependerem o mínimo possível de mim, afecta negativamente os da outra, cujos nomes não sei e vou levar muito tempo a decorar, coisa que eles reparam e não gostam embora compreendam, que estão agora a apanhar o modo de trabalhar nas minhas aulas comigo e a fazer um grande esforço para serem mais autónomos, que não têm o à vontade que vêem os outros ter no trabalho e na convivência dentro da sala, etc. Por muito que trabalhe para amenizar isso, para os pôr à vontade, etc., isso afecta-os no rendimento. São adolescentes, não adultos. Têm imensas inseguranças.

 

Para não falar que com turmas a 30 ou muito mais, deixamos de fazer a quantidade de avaliações que fazemos por ser matematicamente impossível de os corrigir. E quem perde são os alunos, claro, porque as avaliações são um instrumento  para aferir do seu progresso e para desenvolver técnicas específicas e de desenvolvimento pessoal.

 

Isto está caótico. Agora até as Direcções de Turma querem que sejam à molhada, tipo dois em um... o trabalho mais importante do DT é a gestão dos conflitos: entre pais e professores, entre alunos e professores, entre alunos. Quando se consegue gerir bem os conflitos corre tudo às maravilhas e quando não se consegue transforma-se num inferno que afecta logo as aulas e o rendimento deles. Juntar DTs é o caminho mais curto para potenciar conflitos porque é misturar grupos com dinâmicas e problemas diferentes e tratá-los como iguais. Está tudo numa enorme degradação e ninguém fala de nada porque só o que interessa ao ME é poupar dinheiro, e ter alunos amestrados para vomitarem respostas em exames para aparecerem bem nas tabelas internacionais.

 

Se as coisas funcionam nas escolas deve-se exclusivamente aos professores que ainda têm profissionalismo, que se preocupam e gostam dos miúdos e não são capazes de desistir deles porque todo o sistema está organizado para que as escolas falhem, para que os professores desistam, para que tudo seja aparência e fogo de vista e o que mais choca é o total desprezo que têm pelo interesse dos alunos. No meio disto tudo que se faz para inglês ver, os alunos são a última coisa em que se pensa.

 

 

Um aluno hoje em dia que tenha o azar de não passar e ter 18 anos, está tramado e pode acontecer não ter lugar em nenhuma escola ou ter mas não poder matricular-se a todas as disciplinas porque as turmas estão juntas à molhada e o professor já tem 34 alunos ou algo assim. É revoltante.

 

Esta profissão, para quem leva o trabalho a sério e não faz tudo à balda só pelo (mau)salário ao fim do mês (porque podemos fazer isso, sim, tratar tudo chapa 5 já que está tudo à molhada, como se os alunos, os pais, as turmas fossem parafusos e não universos individuais) exige muita fortitude mental. Daí que milhares de professores andem com depressões, burnout, de baixa ou na escola tipo zombies. A mim custa-me o sono e não durmo como deve ser. Ao contrário do que se diz não tem que ver com a idade mas sobretudo com a impotência de ver tudo ser mal dirigido, mal pensado e mal feito, com gritantes injustiças e abusos e de não conseguir introduzir bom senso e inteligência num sistema cada vez mais estúpido que premeia os simulacros.

 

 

publicado às 20:44


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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