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Esta entrevista não se acredita. E veio parar-me ao email com um sinal a dizer Premium. Agora isso está na moda para imitar o que se faz lá fora, calculo... uns indivíduos que não têm opinião sobre coisa alguma, apenas se repetem uns aos outros aparecem com artigos e entrevistas fechadas com um aviso a dizer Premium como se fosse a opinião crítica de alguém que pensa coisas de grande valor e que vamos a correr pagar dinheiro para ler, como a opinião do Bertrand Russel, da Hanna Arendt, ou outra pessoa do género.

 

O DN por exemplo, está cheio disso. Entre parentesis, gostava de saber quem paga esse jornal... nunca mais o vi nas bancas à venda, o povo em geral não compra jornais e muito menos os assina pela internet... para quem são aqueles artigos fechados? São para ser lidos por outros jornalistas e políticos? Devem ser porque são quem tem jornais à borla: instituições públicas e afins que assinam jornais... enfim... portanto, escrevem para se lerem uns aos outros... 

 

O que quero dizer é, Heidegger tinha uma opinião crítica de Nietzsche e de Kant; Hume tinha uma opinião de Descartes; Popper tinha uma opinião crítica de Wittgenstein e da política que se fazia... agora esta gente que escreve artigos de opinão nos jornais, na grande maioria (muito poucas são as excepções) tem opiniões como aquelas que o ministro da educação pensa que devemos pedir aos alunos, isto é, citam-se uns aos outros por outras palavras, geralmente as da moda, como populismo, mas não dizem nada que adiante, esclareça ou introduza um critério de pensamento novo. No entanto, rotulam-se a si mesmos de Premium.

 

Esta entrevista vinha com esse rótulo de Premium LOL o que já me ri com isto... este padre é um atraso de vida... não tenho pachorra para ler tudo, porque é demasiado estúpido... é como contar uma anedota de um alentejano e depois darmos de caras com um alentejano que é mesmo igual à anedota e nem queremos acreditar que a anedota seja literal e não apenas uma caricatura... a defesa que faz da igreja católica e os moldes em que a faz... um clube de petrificados medievais, de parafílicos do celibato e da auto-flagelação, que defendem que a pedofília foi um erro que se cura com Deus e que as mulheres nascem com o gene de cuidar da casa, tipo... sei lá, o gene do espanador...   ahahah. Epá... é demais! LOL

 

 

Vou ler um excerto que retirei do site do Opus Dei relativamente à organização interna: “Algumas numerárias — denominadas numerárias auxiliares — dedicam-se — de modo prioritário (não exclusivo) e habitual (não necessariamente sempre) — como seu trabalho profissional à atenção doméstica dos centros do Opus Dei”. Também há numerários auxiliares?
Não. Repare. As mães de família são mães. S. João Paulo II falava do génio feminino, que faz com que cada mulher tenha em si esta capacidade de ser quem cuida da casa. Há muitas mulheres que tomam a opção, na sua vida profissional, de cuidar da casa, de cuidar da família. As numerárias auxiliares — e também há outras que as ajudam — são aquelas que veem que a sua vocação profissional é ser mãe de família. Portanto, cuidam das casas do Opus Dei como uma mãe.

...

As mulheres não podem ser ordenadas sacerdotes, não podem ocupar cargos de liderança na Igreja…
Quanto a isso, a questão do acesso ao sacerdócio é algo que está perfeitamente esclarecido. Ainda agora, recentemente, foi esclarecido, porque é algo que vem da vontade de Cristo. A Igreja foi aprofundando esta realidade do que é que significa o sacerdócio de Cristo, como identificação com Cristo homem. Daí, vê-se que as mulheres não têm acesso ao sacerdócio. Mas uma das coisas nas quais a Igreja está a caminhar é a descobrir o que é que os leigos podem fazer e que, muitas vezes por razões históricas, há tarefas que os sacerdotes assumem que podiam ser assumidas por leigos.

...

Usa-se o cilício [cinto, corrente ou cordão com farpas, usado sobre a pele como penitência] e as disciplinas [um objeto semelhante a um chicote]?
As pessoas que querem sim. Mas o Papa Francisco referiu há pouco tempo que houve alturas em que ele também usava o cilício.

 

 

publicado às 14:51


As entrevistas de Oliver Stone a Putin

por beatriz j a, em 14.06.17

 

 

Foram feitas entre Dezembro de 2015, no rescaldo da crise da Ucrânia e Fevereiro de 2017, já com Trump eleito. É uma entrevista obrigatória para quem se interessa pelo que se passa no mundo. É uma oportunidade de perceber o indivíduo e a sua política, coisa que Oliver Stone, com paciência e pézinhos de lã, consegue fazer entrever, umas vezes pelo incómodo de Putin, outras pelas não respostas. Nos dois primeiros episódios, que passaram nos EUA ontem e antes de ontem vemos o Oliver Stone a criar um ambiente de confiança e a crescer na seriedade da entrevista, de modo que, espero, no episódio de hoje e no de amanhã, as coisas sejam ainda melhores.

O que vemos, entre outras coisas, é que Putin é um tipo muito inteligente e culto, com um pensamento sistematizado acerca de questões da História das nações, da diplomacia, das relações internacionais, da psicologia das nações, da economia e finanças dos países e, como ex-KGB que é, dos bastidores dos centros de decisão. Depois, é vaidoso, tem imenso orgulho na sua inteligência e argúcia, na sua ascensão ao poder e nas suas capacidades de liderança. Bem, isso tinha que ter ou não estaria onde está.

Enfim, as entrevistas têm tanto conteúdo que há muita coisa para ver e ler nelas. Muito interessantes.

Hoje passa o 3º episódio e amanhã o 4º e último, o que significa que depois de amanhã já estão todos no youtube.

 

 

 

publicado às 19:30


As insónias levam-nos a lugares estranhos

por beatriz j a, em 16.12.15

 

 

 

Levam-nos a ver programas que nunca veríamos... como uma discussão na TV acerca da entrevista do Socas onde ouvimos dizer 80 vezes que ninguém o está a acusar de ser culpado (parecem os europeus com medo de ofender os muçulmanos por denunciarem certas práticas que violam os direitos mais básicos de qualquer ser humano) apenas a dizer que não é vulgar receber dinheiro vivo às tranches em malas por um motorista... 'não é vulgar'?? O que não é vulgar é um eclipse do sol... receber dezenas de milhares de euros em notas às escondidas é o típico procedimento dos criminosos e é até muito vulgar... e depois, fala-se sobre a relevância política do Socas... ele não foi preso por ser um ex-primeiro-ministro ou um político relevante mas por se suspeitar ser um vulgar criminoso, de modo que só tem relevância política porque continuam a convidar um tal sujeito para dar entrevistas na TV. 

 

 

publicado às 05:15

 

 

na RTP 2 - 21:47Página 2

Entrevista a Jorge Alcobia, diretor geral da Multiset que fala do voto eletrónico e das formas de aumentar a segurança digital na Europa e no mundo.

 

 

publicado às 20:28


Uma entrevista anónima?

por beatriz j a, em 03.10.15

 

 

“Lamento a situação em que está José Sócrates”

 

Estive a ler esta entrevista. Nem uma única vez se diz o nome do entrevistado [ou eu estou muito cegueta]. Tem uma fotografia com a pessoa muito ao longe. Se não soubermos da história recente do País ficamos sem saber quem ele é.

Depois, gostei desta parte da entrevista:

 A história dos 16 mil euros surgiu porque somaram o subsídio mensal vitalício. Estivera 10 anos no Governo e tinha direito a 40% do ordenado de ministro. Quando fui para a Caixa este subsídio mensal vitalício foi interrompido porque estava a exercer um cargo de gestão pública. Assim que saí da Caixa, automaticamente voltei a receber o subsídio. A reforma que tive mais o subsídio mensal vitalício é que davam 16 mil euros. Hoje, e bem, só recebo os tais 11 mil euros da Caixa [ndr: foi retirado o subsídio mensal vitalício]. No meu caso nunca me ouviu criticar por isso.

 

Portanto, ele recebia mais 5 mil euros mensais por ter feito parte de um governo, ou seja, os políticos fizeram leis para se beneficiarem obscenamente, atribuindo-se um subsídio mensal para se compensarem por perderem os privilégios de imenso dinheiro aliado ao poder que os cargos governamentais trazem, o que dá a entender que os políticos se pensam como entidades com supra-cidadania que merecem privilégios até à morte, ao contrário do comum dos mortais cidadãos. Ora, ele é um político. No entanto, fala como se, beneficiar desse abuso de poder de se auto-outorgarem privilégios feitos à medida, fonte de grandes larapiansos e corrupção que nos puseram onde estamos, fosse um fait-divers sem importância. É um admirador do Socas... bate certo...

 

 

publicado às 10:34


Para compreender o EI - testemunhos

por beatriz j a, em 04.03.15

 

 

 

 

publicado às 05:58

 

 

 

 “Nos gouvernements sont oligarchiques”

 

.

(...) la démocratie ou « pouvoir du peuple » impose cette vérité paradoxale : pour qu’il y ait de la politique, et pas seulement de la domination, il faut présupposer un pouvoir qui ne s’identifie à aucune compétence exercée sur d’autres, qui est celui de n’importe qui. On n’est pas en démocratie simplement parce que le peuple est représenté par des députés, ou gouverné par des présidents élus, mais quand il existe des formes d’affirmation de ce pouvoir de personnes qui sont autonomes par rapport aux institutions de l’État.

(...)

Notre système repose sur une double légitimité. D’un côté, il y a un État de droit, avec un certain nombre de contraintes juridiques qui limitent les prérogatives du pouvoir et protègent les citoyens. Mais nos gouvernements sont oligarchiques : y siègent des politiciens de profession, de plus en plus liés au monde de la finance. Ils s’appuient sur l’avis d’experts qui naviguent entre monde des affaires, gouvernement et université, comme l’a montré exemplairement leur rôle dans la dérégulation libérale et la spéculation financière aux États-Unis. Le pouvoir de tous est accaparé par une petite minorité qui s’autoreproduit. Ce système réduit l’action démocratique au processus électoral, c’est-à-dire au choix entre des politiciens qui sont d’abord désignés par cette minorité en son sein. L’élection est deux choses en une : elle est la forme de reproduction de l’oligarchie gouvernante.

 

(...)

En tout état de cause, la démocratie est l’action commune au nom d’un pouvoir de pensée appartenant à tous. On ne peut la ramener au choix entre des opinions proposées. Le référendum n’est pas pour moi un modèle. Il prend sens dans des situations où il y a une décision à prendre sur des orientations collectives clairement énoncées. Partout où l’on gère des fantasmes, on peut s’attendre au pire.

 

(...)

La démocratie comme idée du pouvoir de tous peut disparaître, sous une forme douce, se dissoudre dans ces oligarchies tempérées que nous connaissons en Occident. Beaucoup d’éléments sont réunis pour cela : la pression croissante du gouvernement économique mondial, la réduction de la scène politique au concours pour le choix du dirigeant suprême, la tendance à criminaliser les mouvements sociaux, à ramener grèves et manifestations à des rituels strictement réglés, et à rejeter toute contestation des formes dominantes du côté du sabotage et du terrorisme, le consensus intellectuel antidémocratique croissant. Mais, du même coup, nos oligarchies n’ont pas besoin d’un parti unique, sur le modèle chinois, pour faire marcher le système. Les moyens de suppression doux peuvent aboutir à des résultats globalement comparables à ceux qu’obtiendra, de son côté, le communisme « libéralisé » de la Chine. Ce qui peut s’y opposer, c’est seulement une force de pensée et d’action autonomes par rapport aux agendas étatiques.

 

 

publicado às 13:15


vocações tardias

por beatriz j a, em 13.08.12

 

 

 

 

Há coisa de uma semana e meia vi, na BBC News, uma entrevista ao António Guterres e a mais duas mulheres, uma delas uma herdeira bilionária que defende que esta crise tem como principal origem a ganância de alguns e que criou um programa de auxílio a crianças pobres - acho... já não lembro ao certo, que não vi a entrevista toda até ao fim.

O primeiro entrevistado foi o Guterres e falou sobre os refugiados, os problemas das populações dos países em guerra, a questão da ajuda internacional e da falta de solidariedade e crescentes nacionalismos europeus. Ele falou muito bem. O que me impressionou foi ver a convicção e dedicação dele à causa. Fez-me lembrar um apontamento do Derek Sivers sobre o prazer que dá ver alguém trabalhar naquilo para o qual nasceu, por assim dizer. Ora, era exactamente isso que se percebia na entrevista: que o Guterres encontrou a sua vocação neste trabalho que faz. Fiquei a pensar que é bom que ele tenha encontrado a sua vocação e que esteja a fazer um bom trabalho mas que é pena que não a tenha encontrado há mais tempo, antes de ter sido primeiro ministro. Ele não foi um bom primeiro ministro. Gastou o que não era dele como se não houvesse futuro e comprometeu-nos. Trouxe para o governo, promovendo-os, o Sócrates e outras alimárias...

Ouvi-o, nesta entrevista, falar com pena da situação que o país atravessa. Pareceu-me uma pessoa à procura de redenção...

 

publicado às 10:39


só verdades e ditas da melhor maneira

por beatriz j a, em 06.12.10

 

 

VISTO DA PROVINCIA

12.05.2010

Uma entrevista que causa desespero

 

No Expresso foi publicada por estes dias uma entrevista de Manuel F. C. Esperança, Director da Escola José Gomes Ferreira. Curiosamente é director da escola cujo patrono foi o autor do primeiro livro, como eu dizia então, “sem bonecos”, que li na vida: “As aventuras de João Sem Medo”. Estava a ler a entrevista e lembrei-me imediatamente desse livro surrealista, mas que me marcou imenso e a que voltei inúmeras vezes. Manuel Esperança é, como eu, director de uma escola mas aquilo que diz assume relevância especial por ser presidente do Conselho de Escolas (que, com rigor, deveria ser chamado Conselho dos Directores de Escolas). Por isso, deveria ter cuidado com o que diz e não confiar demasiado na sua longa experiência para falar de coisas que exigem estudo sistemático mais que conhecimento baseado no senso comum.
Muito se poderia comentar sobre as suas respostas que, além disso, incluem a sensação de que é alguém pouco acostumado a lidar com a comunicação social e que ficou deleitado e entusiasmado com o microfone amplificado que agora possui, rendendo-se aos soundbytes.
O mais chocante de tudo foi a resposta que deu à pergunta: Gostava de escolher os professores? Este tema da escolha é típico dos ambientes liberais e escolher, em si mesmo, não tem mal nenhum (bem antes pelo contrário). Aliás, o escriba deste texto, que se considera um liberal (no sentido americano do termo), é conhecido entre os seus alunos e colegas por uma frase tema que é “Quem escolhe o seu caminho não tem de se lamentar”. Curiosamente essa frase foi impressivamente adquirida na leitura daquela obra do comunista José Gomes Ferreira, em que o protagonista foge de uma terra em que todos se lamentam e choram para viver uma vida aventurosa e livre e, a dada altura, tem de escolher entre caminhos com pedras que mordem e alternativas mais fofas mas que obrigam à remoção do cérebro (leiam o livro e deleitem-se com a cena).

Escolher professores nas escolas. Trará assim tão bons resultados?


No caso de Manuel Esperança desespera ver que escolheu o caminho da asneira, o que se lamenta em quem também me representa. Mas isso é o que acontece a quem lê a cartilha liberal pela metade e só apanha parte da música, esquecendo que, além da escolha ilimitada, há o bem comum. Mas comentemos o que respondeu.
Respondeu então assim (e numero as frases, para melhor as comentar):
(1) Sim, gostava de o poder fazer. Essa é a grande diferença entre o ensino público e o privado e iria trazer vantagens. (2) Temos de ser competitivos. E a verdade é que há pessoas que nasceram para dar aulas e outras, que mesmo ajudadas, não fazem nada para isso. (3) O concurso de professores não faz a distinção do trigo do joio.

Na primeira frase evidencia-se a pouca preparação da entrevista. Uma questão cujo verbo é gostar não precisa de ser respondida nesse nível do gosto. Se me perguntarem “Gostou de ler a entrevista de Manuel Esperança?” posso responder “Gostei”, “Não gostei” (o que se verificará que é realmente a única resposta não hipotética) ou, ser racional, e responder, fora do nível do gosto individual, e dizer “Foi uma entrevista de uma pessoa responsável que evidenciou pouca preparação para falar de assuntos de nível nacional complexos”. O nível do gosto é fulanizado e pouco “competitivo”. E como Manuel Esperança sabe, com certeza, a colocação de professores é uma questão historicamente muito relevante, antiga, complexa, operacionalmente difícil de abordar e cujo sistema de execução não pode mudar apenas para lhe fazer o gosto.
Nessa primeira frase, também aparece uma afirmação gongórica e que ainda para mais é falsa. A grande diferença entre o ensino público e o privado não é a selecção dos professores, é a origem dos alunos (que escolhem um e são encaminhados para outro) e a origem do dinheiro que paga o sistema (no público, os impostos e que, no privado, devia ser o contributo das famílias que optam por escolher algo diferente da oferta pública gratuita, assegurada pelos impostos). E privado tem dono, no público o dono está sujeito a regras legais mais estreitas porque é o conjunto dos cidadãos.
Sobre as vantagens da sua escolha nada diz mas sobre as desvantagens sempre poderei dizer que um concurso local para cada lugar docente do país seria sempre mais caro e pior de operacionalizar que um concurso regional ou nacional.
Na segunda frase, aparece outro leitmotiv típico dos novos líderes educativos que repentinamente começaram a descobrir temas como a competitividade e a escolha. Pois temos de ser competitivos, mas num país que precisa de 150 mil docentes para cobrir o território será duvidoso que se consiga arranjar tantos que tenham nascido para isso.
Por isso é que leccionar é uma profissão: aprende-se. Dar entrevistas não é profissão e, por isso, é que há alguns que nascem para isso e outros, nem que os ajudem, conseguem acertar nas respostas.

O trigo e o joio: o senso comum vs. o conhecimento do real

A terceira frase sintetiza a linha de pensamento e é o culminar da asneira. A metáfora agrícola da separação do trigo e do joio esconde a profunda superficialidade da opinião que o seu autor evidencia sobre os concursos de professores.
O sistema de concursos de professores prejudicou-me muito. Porque "não nasci para dar aulas", fiz um curso científico de História e só escolhi a profissão mais tarde. Assim, o meu tempo de serviço antes de estágio é contado pela metade. Mas são as regras e são para todos. Pessoas que estudaram ao mesmo tempo que eu na mesma faculdade começaram a leccionar ao mesmo tempo mas tem mais 4 valores na graduação para selecção. Como escolhi não fazer o estágio integrado não me lamento. Mas podia vir aqui queixar-me do concurso nacional pela via umbiguista de que gostava de ter mais uns pontitos….
Ora, esse é o problema do Senhor Presidente do Conselho de Escolas. O seu eventual gosto em vir a escolher professores fá-lo esquecer que escolher professores numa escola não é um problema de gosto individual, mais ou menos arbitrário, mas de bem comum. Por isso, é preciso haver critérios. E se correr o mundo vai ver que o problema de escolher professores para uma escola se resume a dois critérios: a experiência que têm e a formação que têm. Quanto mais experiência melhor e quanto mais formação melhor. Foi este o ponto de partida de quem inventou a fórmula que rege o concurso de professores nacional que é compartimentado pelas disciplinas que os professores vão leccionar. Assim, se o Senhor Presidente do Conselho quer escolher tem de sempre ir parar a isto: formação para a leccionação específica e experiência. Não é possível medir coisas como a resistência psicológica a alunos difíceis ou a adaptação a meios sociais mais seleccionados e colocar isso numa fórmula operativa e que permita um concurso sério e expedito para seleccionar. É que concurso significa escolha mas não significa escolha arbitrária ou aleatória. O concurso de professores sempre será um concurso de massa, isto é, a que concorre muita gente daí que além dos seus objectivos na determinação dos seus procedimentos se tenha de levar em conta o tamanho do processo.
Hoje já há concursos locais. Sou director de uma escola TEIP em que a selecção é feita com base em critérios elaborados pela escola e, noutras escolas, as ofertas de escola são do mesmo modelo. Na minha escola, depois de aturado estudo (de semanas), concluímos que os únicos critérios sérios são os que incluam numa fórmula tempo de serviço (experiência) e nota de cursos formativos. Assim, os nossos concursos praticamente reproduzem, com 2 ligeiras adaptações, a fórmula do concurso nacional.
Noutras escolas não é assim, e com todo o respeito pelos meus colegas directores, que pensam o contrário, tenho sérias dúvidas que um tribunal administrativo aceitasse como critério legal ou constitucionalmente adequado “ter estado ao serviço no ano anterior naquela escola” ou, como consta que acontece, “residir na área da escola”.
Os critérios a colocar num concurso têm de ser objectivos e intrínsecos ao candidato. Ora, os únicos que passam esta barreira são os que tenham a ver com formação e experiência. Coisas abstrusas como motivação não passam um crivo legal que é baseado na equidade entre candidatos e na protecção contra a arbitrariedade. Até porque a panaceia das entrevistas de selecção esconde o facto de que há profissionais disso que parecem motivados na entrevista e são joio na prática. Posso, por exemplo, não parecer muito motivado face ao critério do “nascimento para a coisa” que Manuel Esperança enunciou mas os meus alunos testemunharão que não fui, com certeza, o pior professor que tiveram.

As desvantagens dos concursos de escola


Assim, os critérios do concurso nacional sempre poderiam ser melhorados (como tudo na vida) mas dificilmente podem ser totalmente afastados, por razões legais.
Como o número de candidatos é muito elevado a selecção local nas escolas torna-se cara, pouco operativa e gera repetição de operações. Assim, já este ano seleccionei candidatos que, antes de o serem na minha escola, tinham concorrido a 104 concursos de outras (entregando documentos e gerando actos dos seleccionadores). Já tive concursos de oferta de escola com 1200 e mais candidatos (as listas podem ser consultadas em www.escolasdarque.com), operações que consumem horas, sem vantagem significativa e que podiam ser agregadas a unidades de gestão maiores (por exemplo, regiões). E a verdade é que, como todas as escolas seleccionam mais ou menos ao mesmo tempo no início do ano, é melhor um concurso geral uniforme que mini-concursos locais dispersos e com critérios todos diferentes. O tempo que os candidatos perdem é infindo, as escolas perdem tempo que faz falta para gerir a sua actividade, no final o resultado é percepcionado como injusto, está sujeito a críticas de falta de transparência e até nem traduz grande escolha (porque que escolha há, quando se selecciona o nº 35 de uma lista de 450, porque do 1 ao 34, não aceitam por já estarem noutra escola…?).
Isto são as questões práticas que a trincheira desta guerra ensina e que afastam o dogma da escolha como base desta reflexão. Valerá a pena insistir no dogma quando um concurso local custa caro, demora dias a fazer e resulta num final injusto?
A discussão das malfeitorias do concurso nacional (ou não localizado) e da sua pouca capacidade para produzir cereais de qualidade resulta de observações de senso comum que não resistem a análises de gestão científica (nomeadamente no domínio dos custos). Na verdade, quem quer localizar os concursos nas escolas, quer poder sobre os professores e lança uma forma de deslocar a questão da gestão para um factor externo. Em vez de melhorar os professores, vamos seleccioná-los a priori e com tendências fatalistas (“os que nasceram para isto”). Se o Senhor Presidente do Conselho passasse por alguns critérios que alguns usariam não ía gostar. E o concurso nacional escolhe: quem tem mais experiência e formação, conjugadas numa determinada fórmula, pode ser preferido na escolha pelas escolas que vários escolhem em paralelo. É só escolha como vê…..
E a verdade é que algumas experiências localizadas de escolha pelas escolas evidenciam falta de transparência e alguma aleatoriedade que não traduz melhorias.
Por isso, devolvo a Manuel Esperança a expectativa de que, ao emitir opiniões sobre questões como esta, me represente melhor como Director e em vez do senso comum (das expressões proverbiais e da superficialidade da opinião gasosa) pense como gestor que conhece a história e realidade do sistema e não como político atrás de soundbytes.

Luís Sottomaior Braga
Professor de História do ensino básico, Director de um agrupamento de escolas com formação especializada em Administração Escolar e Gestão Pública e o Curso de Alta Direcção em Administração Pública

posted by Luís Braga @

 


publicado às 07:24


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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