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Tim Oates acerca do 'conto de fadas finlandês'

 

Tim Oates diz várias vezes que é preciso cuidado com aquilo a que damos crédito sem reflexão. Isso aplica-se a ele próprio. Ele é professor em Cambridge, "num departamento onde não se ensina: o Cambridge Assessment é a maior agência dedicada à pesquisa sobre avaliação na Europa."

 

Durante os anos Thatcher houve grandes cortes nas Universidades e os administradores resolveram cortar nos cursos e matérias e surgiu a ideia de fazerem 'centros de excelência'. Estes centros, que estavam na moda, eram grandes escolas que cobriam tão excelentemente o estudo de certas matérias que dispensavam que outras universidades tivessem esses departamentos. A Física toda era estudada em Manchester, a economia na LSE, etc. Ora, as escolas/universidades têm culturas próprias e ao concentrar-se assim todo o estudo numa só escola perdeu-se a diversidade de culturas que enriquece as discussões e fomenta a qualidade. Por conseguinte, é preciso ter alguma prudência com as palavras deste especialista.

 

Dito isto, estou de acordo com muito do que ele diz, a começar pelo cuidado com a autonomia nos currículos para não acontecer o que está a acontecer aqui que é o Director sózinho decidir e dizer mesmo, 'este ano tirei 50% do tempo curricular da História, para o ano vou tirar na disciplina x e dá-lo à y', ou seja os alunos e os professores estão à mercê das experimentações dos directores e seus galambas.

 

Também concordo com a questão da avaliação ser muito importante para os alunos saberem se estão a progredir e como; ainda concordo com a coerência que tem de haver entre os conteúdos, os métodos e as pedagogias: temos sempre de ser claros acerca do objectivo que queremos que seja atingido e não o perder de vista; ajudar imediatamente os alunos que ficam para trás; ter currículos adequados aos tempos senão os professores escolhem o que dar e cada um escolhe o que quer, sendo que os alunos depois vão fazer os mesmos exames, ter boas condições e bons materiais. E, claro, ter bons professores, ficando por esclarecer, ao certo, que qualidades tem um bom professor que o torna tal.

 

Não estou de acordo com o projecto de passar toda a gente de qualquer maneira, mesmo que tenham 500 faltas e processos diciplinares. Penso que isso é uma ofensa aos alunos, é uma visão miserabilista das possibilidades das pessoas. Nem todos os alunos serão bons em algumas matérias e a maioria nem gosta de estudar mas todos têm margem de progresso e não precisam de ser tratados como estúpidos. Estou de acordo em que se trabalhe para se evitar os chumbos.

 

Agora, isto é tudo muito bonito em condições ideais e não nas condições que temos aqui no país: excesso de alunos por turma, excesso de turmas, excesso de burocracia, gestão anti-democrática e outros problemas que impedem um trabalho sério. Professores desmotivados, desvalorizados e caluniados... enquanto não levarem a educação a sério todas as palavras acerca de melhorá-la são 'contos de fadas'.

 

Esta equipa cometeu erros grosseiros nos currículos que são agora pedaços de matérias, por vezes contraditórios com os programas em vigor e demasiado extensos; desprezo pelos conhecimentos e excessiva valorização dos aspectos formais (como se uns viessem sem outros, descontextualizados),  com possibilidade de o director retirar grande parte do tempo de aula semanal de uma disciplina, passagens em qualquer condição; desvalorização da avaliação; desconfiança visceral dos professores; complicação das regras de apoio a alunos; tempos infindáveis desperdiçados a fazer coisas que não têm rendimento...erros mesmo grosseiros mas, são tão arrogantes que não arredam pé. As coisas estão contraditórias, desgarradas e incoerentes.

 

publicado às 11:40


José Gil - palavras de aviso

por beatriz j a, em 05.01.19

 

José Gil: "O passado está a ser engavetado, digitalizado e virtualizado" (DN)

 

Até que ponto estaremos imunes?
A resposta generalizada será que sim, mas não se sabe exatamente apesar de os extremos do xadrez político estarem ocupados pelo Bloco de Esquerda, pelo PCP, pelo CDS, pelos sindicatos, ou seja, as reivindicações estão todas cobertas pelas estruturas institucionalizadas. Ora, o populismo nasce e floresce fora das instituições e contra elas, portanto terão de ser reivindicações que saem fora do discurso habitual dos sindicatos, dos partidos e do governo, para que qualquer coisa nasça, até porque se caracterizam por serem fenómenos que aparecem sem que saibamos como. O populismo atual vem rapidamente de uma cada vez maior sensibilização das classes médias baixas e não instruídas devido ao aumento do escrutínio dos media sobre as desigualdades ou a corrupção. Há um sentimento de injustiça que atravessa a sociedade e que faz que os políticos sejam cada vez menos reconhecidos e representativos, podendo observar-se uma onda latente de populismo possível na abstenção que é cada vez maior. Também pode acontecer, por exemplo, a propósito de uma exigência que não tem expressão política.

Pode dar um exemplo?
É fácil, basta pensar numa que seja intolerável no novo espaço público, o das redes sociais, como é o caso das mortes que estão a acontecer no país porque não houve cirurgias. Ou mortes psíquicas, que cada vez mais acontecem no corpo docente do ensino primário e secundário, em que os professores têm uma vida cada vez mais difícil. É intolerável que um português em cinco tenha perturbações psíquicas. Que povo é este? Suponhamos que tudo o que está nesse fundo da abstenção política emerge e ultrapassa os partidos políticos que não tiveram capacidade de fazer de certas situações uma reivindicação política que poderá provocar um movimento social do tipo coletes amarelos. Foi isso que aconteceu lá e poderá surgir aqui.

As novas tecnologias tornam possível o espaço público diferente, propício para dar expressão a injustiças

A falência económica da comunicação social e a forte emergência das redes sociais é uma combinação fatal?
Não é uma combinação, haverá um efeito que resulta de causas comuns, mas os efeitos são divergentes. Há um facto muito simples, é que até agora em países muitos pequenos e específicos, como o nosso, o espaço público era dominado pelos media e pela televisão, mas as novas tecnologias tornaram possível a criação de um outro espaço público muito particular, diferente e que se torna o terreno propício para dar expressão a uma injustiça: «Eu, cidadão anónimo, desprezado pelo sistema e pela injustiça das políticas, posso manifestar-me aqui.» Mesmo que isto signifique que o ignaro mais incongruente possa manifestar a ignorância com agressividade nesse espaço público. E este é um fenómeno novo para as elites.

(...)

O passado mostrado pela arte e pela cultura tem vindo a ser suplantado pela preocupação com a situação financeira e económica. Os pilares da educação mudaram?
Não é só a questão económica, o que se passa é, repito, uma erosão de tudo o que é a tradição. O passado está a ser engavetado, digitalizado e virtualizado, e cada vez menos lhe atribuímos uma realidade com peso. O passado é cada vez mais uma imagem que se transforma numa coleção de imagens enquanto objetos de consumo, apesar de não informarem nem sedimentarem a nossa pessoa e cada vez menos os comportamentos sociais. Um aluno sabe cada vez menos sobre o passado, nem lhe interessa saber, e isso é terrível, pois há uma erosão que vem da transformação do valor da realidade do passado e da transmissão pela tecnologia que traduz tudo em imagem. Tudo isso é metabolizado e instrumentalizado pelo capitalismo, que só conta cada vez mais com o que gera uma mais-valia.

É um tempo em que Botticelli vale tanto como Madonna?
Acaba-se a nossa relação com o passado e a maneira de «fruir» e «consumir» a própria arte. A introdução maciça no mercado da arte do valor de troca como parte do juízo estético é recente e transformou completamente a valoração do objeto de arte.

Como é que se confronta pessoalmente com esta mudança de paradigmas?
Não acho que haja mudança de paradigma, porque tal não existe para o nosso presente. Estamos a mudar de paradigma sem que tenhamos aquele para o qual queremos mudar. Isto em tudo, como é o caso da educação para a cidadania. Havia antes uma educação para a transmissão e acumulação na área das humanidades, agora é o da cidadania. O que é que os professores vão ensinar? E como vão formar turmas tumultuosas. Isto é uma coisa ridícula, porque quando não se dão meios nem se preparam os professores para a cidadania não há formação possível: ou seja, não há paradigma, tanto mais que a questão da cidadania leva a ponderar questões totais na sociedade.

publicado às 08:04

 

Q. How is the academy implicated in or imperiled by this moment of epistemological crisis?

A. The academy is largely itself responsible for its own peril. The retreat of humanists from public life has had enormous consequences for the prestige of humanistic ways of knowing and understanding the world.

Universities have also been complicit in letting sources of federal government funding set the intellectual agenda. The size and growth of majors follows the size of budgets, and unsurprisingly so. After World War II, the demands of the national security state greatly influenced the exciting fields of study. Federal-government funding is still crucial, but now there’s a lot of corporate money. Whole realms of knowing are being brought to the university through commerce.

I don’t expect the university to be a pure place, but there are questions that need to be asked. If we have a public culture that suffers for lack of ability to comprehend other human beings, we shouldn’t be surprised. The resources of institutions of higher learning have gone to teaching students how to engineer problems rather than speak to people.

(entrevista a Jill Lepore  in ‘The Academy Is Largely Itself Responsible for Its Own Peril’)

 

publicado às 06:22


Everybody is watching you - entrevista do mano

por beatriz j a, em 23.05.18

 

 

 

publicado às 08:27


Entrevista interessante

por beatriz j a, em 10.09.17

 

Cláudia Caldeirinha: “As mulheres foram apagadas da fotografia da História”

 
 

publicado às 06:15

 

 

Infelizmente, a maioria só cá vem passar férias...

Entrevista a Maria Pereira, uma investigadora portuguesa. Muito interessante.

 

1ª parte

2ª parte

 

publicado às 05:24

 

 

Com a seriedade do homem, com o espírito de sacríficio que tem mostrado desde que tem às costas estes processos de gente sem escrúpulos que parecem ser capaz de muito e ainda mais. Ele faz lembrar aqueles juízes que nos anos 80 do século passado tinham a coragem de ir atrás dos mafiosos e seus tentáculos, alguns dos quais eram o Presidente de Itália, por exemplo... também esses andavam sempre vigiados. Alguns tiveram um fim trágico como se sabe.

 

Que seria das sociedades sem estas pessoas cheias de coragem e, acima de tudo, com uma noção de dever superior aos interesses próprios que não se deixam amedrontar, corromper e amochar às ordens de poderes amorais e imorais? 

 

Sócrates fez muito mal ao país. Os manipuladores amorais, quando em cargos de poder, destroem tudo à volta, como se sabe. Rodeiam-se de outros sem escrúpulos e espalham metasteses na máquina que se instalam e depois não desaparecem, mesmo quando eles próprios já foram afastados. Ainda esta semana tivémos as revelações do que se passou na Presidência de Cavaco com escutas e manobras de bastidores.

 

Acho que era o J. Bouveresse que dizia que, se a mentira não fosse tão parecida com a verdade, não enganava tanta gente como engana. O Platão falava muito no poder corrosivo dos simulacros que se enraízam no poder e empestam tudo à volta.

 

Espero que este juíz tenha sorte e que isso lhe fortaleça a coragem porque é para nós que o homem está a trabalhar. É para nós.

 

 

publicado às 22:51

 

 

 

 

 

publicado às 20:00


Alguém fala pelo rapaz que está em coma?

por beatriz j a, em 22.08.16

 

 

Ouvi, na SIC, um pedaço da entrevista dos rapazes iraquianos que, pelos vistos, vai passar amanhã na íntegra. Fiquei confusa. Pareceu-me ouvir dizer que começaram a discutir com o Rúben e que não querem dizer que são vítimas do Rúben mas ele também não é vítima nenhuma e que estas coisas acontecem muito em Portugal e que ninguém é vítima porque são as circunstâncias. Não percebi bem que coisas são essas que acontecem muito em Portugal... dois rapazes deixarem outro irreconhecível e a lutar pela vida em coma? São coisas que fazem parte da rotina do país? É que os moços, apesar de dizerem que levaram ou foram vítimas ou algo assim aparecem num estado muito perfeitinho enquanto que o outro está a lutar pela vida. A minha pergunta é: alguém vai falar pelo rapaz que não está em estado de falar por si mesmo?

 

 

publicado às 23:03

 

 

Uma entrevista com 50 anos.

 

 

publicado às 14:12


Cristiano Ronaldo no programa de Jonathan Ross

por beatriz j a, em 26.11.15

 

 

Um tipo muito genuíno de modo que vê-se tudo: as virtudes, como a seriedade, o trabalho, o humor, a dedicação e os defeitos como a vaidade, etc. 

 

 

 

publicado às 20:16


Hannah Arendt - entrevista

por beatriz j a, em 22.09.15

 

 

Esta entrevista -de 1964- é extraordinária. Embora ela negue ser uma filósofa, toda a entrevista é um exercício filosófico: a  busca do pensamento que correctamente compreende a realidade acompanhado da palavra exacta que a mostra. Tudo com uma honestidade intelectual própria do verdadeiro filósofo, o que quer, acima de tudo, compreender, analisar os problemas até que tudo fique claro. Fascinante ver o pensamento na sua actividade de pensar. Ela fala da Alemanha nazi, da sua experiência pessoal e analisa o que era a realidade de então.

 

 

 

 

publicado às 19:58


Entrevista de Costa Gravas

por beatriz j a, em 11.07.15

 

 

A entrevistadora endoutrinada...

 

 

 

publicado às 12:47

 

 

... a Isabelle Kumar, sobre Tsipras, a Grécia e a Europa. Costa Gravas é um grande cineasta com uma voz política engagée, consciente e democrata. O último filme dele, Le Capital, mostra, como sempre com muita lucidez e inteligência o que é a economia contemporânea e a sua relação com as pessoas.

 

 

 

 

publicado às 21:04


"Acho os professores estranhos"

por beatriz j a, em 15.03.15

 

 

 

 

 

publicado às 22:10

 

 

 

Segunda episódio da série da FFMS "O Valor da Liberdade". 
Todos os sábados, até dia 25 de Abril às 20 horas na SIC Notícias, com repetições domingo às 14h30 e à 01h30. 

 

 

 

publicado às 04:25


Muito interessante

por beatriz j a, em 19.01.15

 

 

 

“BES é muito revelador da forma como se comporta a elite económica portuguesa”

 

 

publicado às 11:36

 

 

Interview with an Islamic State Recruiter: 'Democracy Is For Infidels'

 

How does Islamic State think? How do its followers see the world? SPIEGEL ONLINE met up with an Islamic State recruiter in Turkey to hear about the extremist group's vision for the future. Interview Conducted by Hasnain Kazim more..

 

Abu Sattar: A Muslim is a person who follows Allah's laws without question. Sharia is our law. No interpretation is needed, nor are laws made by men. Allah is the only lawmaker. We have determined that there are plenty of people, in Germany too, who perceive the emptiness of the modern world and who yearn for values of the kind embodied by Islam. Those who are opposed to Sharia are not Muslims. We talk to the people who come to us and evaluate on the basis of dialogue how deep their faith is.

 

 

publicado às 15:07

 

 

Mario Vargas Llosa - “Os heróis discretos são a grande reserva moral de um país” (excertos da entrevista)

 

 

Sobre o papel da cultura e da literatura na inversão do adormecimento das sociedades, na compreensão dos fenómenos de barbárie, na manutenção de uma necessária crítica beligerante:

 

Essa é uma das ideias fundamentais do seu pensamento, nomeadamente no ensaio A Civilização do Espectáculo, em que defende que o papel da literatura, da cultura, é ajudar as pessoas a libertarem-se das suas circunstâncias adversas.
Sem dúvida nenhuma. A literatura não é apenas uma fonte maravilhosa de prazer. Cumpre, além disso, uma função social e histórica de primeira ordem que é a de desenvolver nos leitores um espírito crítico. Depois de termos lido uma grande obra literária, um grande romance, um grande poema, um ensaio, regressamos ao mundo real convencidos de que a realidade está mal feita, que está muito aquém daquela ficção que somos capazes de inventar através da fantasia e da palavra. Isso faz-nos olhar para a nossa envolvência social, cultural e política com olhos muito críticos. E creio que essa é a razão pela qual a literatura, ao longo de toda a História, foi sempre vista com muita desconfiança e com muito temor pelos governos autoritários, pelas ditaduras, por todos os regimes que, no fundo, tratam de controlar a vida e querem demonstrar aos cidadãos que o mundo está bem feito. É essa a razão da censura. E efectivamente a literatura é um perigo para esse tipo de regimes porque tem sempre uma atitude muito crítica face ao mundo tal como ele é.

 

Mas que pode hoje a literatura contra a indiferença e o conformismo dos cidadãos, nomeadamente dos jovens?

O problema é que a literatura hoje em dia vive uma crise muito profunda, converteu-se sobretudo em entretenimento, perdeu a sua pugnacidade, a sua beligerância crítica, e busca sobretudo entreter. E o entretimento também é uma espécie de adormecimento, uma maneira de desmobilizar criticamente os cidadãos. Creio que essa crise da cultura, que é muito profunda na minha opinião, pode ter um efeito gravíssimo na vigência da democracia e da liberdade. Pela primeira vez na história, o pesadelo de [George] Orwell, de uma ditadura tecnológica, com um absoluto controlo sobre a vida das pessoas, um mundo de cidadãos convertidos em autómatos, já é possível. Isso acontece por causa da degradação da cultura no nosso tempo.

 

Considera que esta deriva da cultura para o entretenimento, a sua banalização, foi intencional?
Não, não, foi acontecendo. O desaparecimento do espírito crítico vem com a frivolização de uma cultura que só procura entreter e divertir, e que se converteu muito mais num espectáculo do que o que tradicionalmente era: pensamento, ideias, uma visão crítica da realidade, da vida e de todas as manifestações das relações humanas. Creio que esse problema – um problema mundial, porque dá-se tanto em países desenvolvidos,como em países subdesenvolvidos – é a maior ameaça à democracia. No passado, a democracia tinha a ameaça do comunismo, do marxismo, de doutrinas totalitárias, mas essas doutrinas caíram por si e não são hoje o perigo maior que tem a cultura democrática. A democracia, o inimigo maior tem-no no seu seio, e é o desaparecimento da cultura enquanto questionamento constante da realidade.

 

O filósofo francês Gilles Lipovetsky, com quem tem debatido publicamente estas questões sobre o papel da cultura nas sociedades actuais, lembra que a alta cultura não impediu barbáries como o nazismo.
Mas foi a cultura que permitiu derrotar o nazismo. Agora não temos uma cultura capaz de derrubar nada, porque a cultura tornou-se uma derrota em si mesma. Creio que foi a cultura que nos permitiu compreender a barbárie que significava o nazismo, a barbárie que significava o comunismo. E penso que a democracia triunfou em grande parte graças às ideias, valores, sonhos, fantasias e objectos artísticos criados por uma cultura que era fundamentalmente crítica, questionadora da realidade. Com a cultura transformada em algo passageiro, fugaz, não sei quem nos defenderia de novo das ameaças.

 

 

Sobre a crise da Europa:

 

Crê que há o perigo de ressurgimento dos regimes totalitários nesta velha Europa?
Desgraçadamente há alguns sintomas inquietantes – por exemplo, a grande criação cultural, política, moderna que é a União Europeia vive hoje em dia uma crise muito profunda. Há movimentos antieuropeus que estão a recorrer aos velhos recursos nacionalistas, racistas, e, ainda que sejam minoritários, significam um grande perigo. O retorno aos nacionalismos seria uma grande tragédia para a Europa neste mundo globalizado.

 

As cifras económicas melhoraram um pouco, e mostram que os diferentes países estão a progredir, mas instalou-se, entre os cidadãos, uma certa incapacidade de acreditar.
Há uma grande desconfiança na classe política e considero que justificada. As estruturas políticas estão muito distanciadas da realidade, desfasadas. A corrupção, por outro lado, contribuiu muitíssimo para o desprestígio da política. Isso fez com que movimentos anti-sistema, extremistas, tanto de direita como de esquerda, tenham crescido muito. Esse perigo, há que enfrentá-lo de forma muito resoluta, com maior transparência, castigando os corruptos, devolvendo à opinião pública a fé nas instituições, que é algo absolutamente fundamental para que uma cultura democrática funcione.

 

Sobre o erotismo e o amor:

 

Fonchito e Lucrécia, com don Rigoberto, são protagonistas, em vários dos seus romances, de episódios de amor e erotismo. Há neles sempre um jogo com tabus e proibições, como quando Fonchito pede a Lucrécia que imite as poses das mulheres pintadas por Egon Schiele.

George Bataille dizia algo que me parece muito certo e que era que, se desaparece a ideia de transgressão e de tabu, desaparece o erotismo. Creio que o erotismo é uma espécie de jogo altamente civilizado no qual um par inventa uma mise-en-scène para enriquecer o jogo do amor. Então, se a transgressão não existe, há que inventá-la para que o erotismo surja e enriqueça o amor físico, desanimalizando-o, acrescentando-lhe um elemento de espiritualidade e de criatividade artística. Creio que essa é a ideia básica do erotismo.

 

Crê que isso pode ser compreendido pelos jovens de hoje que perante o sexo se fazem adultos muito cedo?

Não por muitos, porque converteram o sexo numa espécie de desporto passageiro e efémero. Creio que o amor é muito mais profundo do que aquilo que muitos jovens hoje em dia fazem com ele, graças à liberdade que existe.

 

 

publicado às 17:41


António Damásio em entrevista muito boa

por beatriz j a, em 17.05.14

 

 

 

publicado às 14:24


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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