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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Quase oito mil estudantes desistiram do ensino superior após o primeiro ano de inscrição numa licenciatura. Nas instituições particulares a taxa chega aos 17%.
As universidades continuam a ser o único meio, sem rival, de aceder a um conjunto de empregos. E certas privadas em particular, para um certo nicho de empregos com certo tipo de salários. Daí o preço escandaloso que pedem de propinas; e daí também o facto de muita gente estar disposto a pagá-las (não propriamente pelo que ensinam mas pela cunha que são...) enquanto têm dinheiro para isso... mas a crise em que estamos poucos perdoa.
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Primeiro apoiam o empobrecimento e induzem à subserviência do país, depois vêem cá buscar os instrumentos do seu futuro económico. Tudo debaixo do nosso nariz e com a nossa conivência. É triste... em vez de forjarmos o nosso futuro enterramo-lo debaixo do dos outros.
Mas a verdade é que os economistas também parecem não perceber. Se percebessem não estávamos onde estamos. Percebem de câmbios e spreds e regras disto e daquilo mas não economia, de macro-economia. Nisso têm demonstrado grande incompetência.
Eu no meu trabalho, percebo de educação e de instrução das disciplinas que ensino. Quando me põe uma turma à frente sei fazer um diagnóstico, identificar problemas e encontrar soluções. Pode acontecer as soluções não funcionarem sempre como quero porque as pessoas são muito complexas e muitos factores as afectam mas, no geral, sei o que fazer e resulta. E sei identificar problemas da escola e sei também propor soluções.
E os economistas o que sabem? Diagnosticar? Não. Propor soluções? Também não. Só sabem mandar destruir postos de trabalho, subir impostos e roubar as pessoas dos seus salários.
Pois eu, que não percebo nada de economia, percebo que a opção de despedir pessoas é uma não-solução e foi a pior opção que tomaram. Sem emprego não há economia e, isso, até eu sei.
Em vez de despedirem a função pública e darem cabo dos serviços e da qualidade dos servições deviam ter feito os possiveis para manter as pessoas com empregos e ter-se dedicado à limpeza dos saqueadores e corruptos. Assim, continuamos com os saqueadores e corruptos, mas sem crescimento, porque não há empregos e toda a gente acumula dívidas para poder viver. E isto, até eu percebo. Também percebo que a não-solução de despedir vai continuar.
Espero que os economistas vão de férias durantes quinhentos anos e que pessoas de bom senso consigam chegar ao poder.
Li hoje no Público uma notícia que me parece paradigmática também do que se passa na educação, e que mostra como é importante ler para além dos títulos e pensar um pouco sobre o que é que a notícia realmente diz.
Dizia a notícia que a FCEE da Universidade Católica aparece no ranking do Financial Times. Apesar de ter descido de posição relativamente ao ano passado, está bem posicionada no conjunto europeu. A notícia diz depois quais as universidades, em cada país, que estão melhor posicionadas. Lá para o fim, um pequeno parágrafo informa-nos que o critério do ranking é o emprego/ordenado das pessoas que saem do curso. As universidades referidas são, nos seus países, particulares e das mais caras.
Ou seja, se eu sou uma empresa que vive na lógica do mercado capitalista na sociedade política actual e preciso de um ou dois licenciados, onde vou recrutá-los? Será que tento arranjar o melhor? Vou a uma universidade pública, sabendo que é aí que se encontram os que mostraram ter melhores médias, mais motivação e empenho, embora me arrisque a que esses sejam provenientes de famílias mais modestas? Ou vou à Universidade Católica, onde sei que quem lá estuda tem poder económico e, consequentemente, influência social e até política? O que é que valorizo mais? É óbvio que valorizo alguém que me dá acesso a uma potencial rede de pessoas influentes, já que isso é o que, no fim de contas, interessa.
Muitos empregadores, hoje em dia, dizem à boca pequena isso mesmo: que o que interessa é ir buscar alguém que venha de certo estrato social. Que sabem que muitas vezes os melhores alunos estão em outras faculdades para onde tiveram que concorrer mostrando o seu mérito. Mas que, apesar de serem de qualquer modo de classe média (hoje em dia é raro um pobre chegar à faculdade - o ensino público quase não o permite) não serão a elite entre os que têm muito dinheiro e influência, e é isso que interessa (como o caso da rede de conhecimentos do sucateiro o demonstra).
Quer isto dizer que o curso da universidade católica não é bom? Claro que não quer dizer isso. Mas também não quer dizer que seja melhor que os outros. Só quer dizer que têm os alunos com mais posses. E as outras universidades do ranking são a mesma coisa: é a Business School inglesa, a outra da Suiça, etc.
As pessoas que frequentam essas escolas têm geralmente melhor empregos? Sim, mas não por serem melhores. Apenas porque alimentam a lógica desta sociedade onde o mérito não conta, o que conta é seres filho ou sobrinho deste ou daquele e o papá ter um iate na marina.
As notícias que aparecem muitas vezes sobre as escolas e a educação são também capciosas, como esta. Partem do pressuposto que os que têm os títulos e os cargos são melhores, porque os conseguiram, quando às vezes conseguiram-nos por outras razões muito alheadas do mérito.
Mas isso é para o próximo post que este já vai longo.
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