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Ainda há 50 mil chumbos no básico, Governo quer reduzi-los ao mínimo

 

Outro dia li no jornal que agora já não é no básico mas no secundário que se chumba mais. Pudera... no básico tornou-se, na prática e, em alguns casos na lei, proibido chumbar, de modo que os alunos chegam ao secundário num estado tão primário que não conseguem ultrapassar nenhum obstáculo. O governo há-de mandar passar todos no secundário e depois, evidentemente, hão-de voltar-se para as universidades e exigir que passem todos também e assim teremos no futuro pessoas muito qualificadas para fazer nada e não trabalhar que foi o que aprenderam com muitos anos de prática na escola.

Como me dizia uma aluna, outro dia, 'porque é que a professora complica tudo com peguntas? Porque é que não simplifica e assim é mais fácil estudar'.

Vou contar um episódio de há duas semanas: entrei com a turma do 12º ano na sala x para a aula do meio-dia. Assim que entramos, duas alunas que se sentam à frente, dizem, 'que nojo! Professora, venha cá ver o que está aqui em cima da mesa e no chão. Unhas dos pés!' Lá me enchi de coragem para ir olhar nojices, pus os óculos e fui ver. A mesa da frente e o chão estavam cheios de unhas de pés. A turma toda foi ver. Disse a uma das garotas para ir chamar a funcionária do bloco, porque temos instruções para avisar a funcionária de serviço quando as salas estão sujas ou com algo estragado, para poder-se saber quem foi a turma responsável. Entretanto fui à entrada da sala ver no horário de ocupação da sala, que está afixado à porta, quem era a turma e as disciplinas que tinham estado na sala nesse dia. É uma turma do básico. Bem, veio a dona H. com uma vassoura e uma pá e varreu aquilo e limpou. Aproveitei para perguntar-lhe se tinha visto quem era a turma que ali esteve, ela confirmou ser a turma x e acrescentou, 'a professora não tem ideia do que são os dessa turma'. 

 

Quando saí da aula fui ver, na sala de professores, quem era a DT dessa turma. No dia seguinte fui ter com ela e contei-lhe o episódio para ter conhecimento e poder tomar medidas. Ela não ficou surpreendida. A turma, disse-me, já leva várias participações disciplinares, repreensões registadas e ninguém os aguenta. Tem uns dez alunos que dominam a turma e não deixam os outros trabalhar. Passam as aulas a fazer barulho, falam com os professores com palavrões.

A turma tem lá alunos interessados mas têm medo destes e não se consegue trabalhar porque toda a aula é passada a gerir estes indivíduos. Isto não admira assim tanto. Quando lemos os comentários nas notícias dos jornais, são todos nestes termos muito ordinários. Ora, esses que comentam assim dessa maneira, são encarregados de educação de alguém. Ainda outro dia, aqui no blog uma pessoa anónima me deixou um comentário todo neste teor extremamente ordinário que fez-me lembrar a minha colega a contar como os alunos daquela turma falam aos professores. Portanto, se os pais falam assim e têm esta atitude perante os professores, não é de admirar que os filhos os imitem e façam o mesmo.

A questão é: estes alunos cujos pais têm este nível, são aos milhares e nenhuma aula de apoio, explicação, medida de recuperação de aprendizagem alguma vez funcionará com eles porque o problema deles não é falta de compreensão ou, como defendia, obscenamene, um artigo de jornal recente, a violênca contra professores dá-se porque estes são velhos e os alunos acham as aulas uma seca. Não, o problema destes alunos é a educação que trazem de casa e para a qual regressam a meio do dia ou ao fim do dia.

Os PIAs (processo individual do aluno) estão cheios de documentos reveladores. Nós vemos em muitos deles que os pais nunca ajudaram os filhos a fazer um trabalho de casa ou que nunca foram à escola saber deles, durante todos os anos do básico, desde que entraram para a escola. 

 

Não digo que estes alunos não possam, daqui a uns 10 anos, quando não tiverem 15 mas 25 anos e estiverem num emprego qualquer a ganhar miseravelmente (embora me pareça que nesses casos culpem os professores por não os terem transformado magicamente, como se nós tivéssemos uma varinha mágica que os transforma de pessoas agressivas e com desprezo pelo conhecimento em pessoas corteses e ávidas de conhecimentos), perceber que deviam ter aproveitado a oportunidade da escola mas neste momento, nenhuma explicação ou aula de apoio lhes corrige o comportamento sem o qual nenhuma aprendizagem é possível. E nestes casos nenhum professor, com mais ou menos estratégias os modifica por milagre. 

A única coisa que pode fazer-se é responsabilizá-los pelos seus comportamentos mas, para isso, seria preciso que o ME apoiasse os professores nas questões de disciplina, o que não faz; pelo contrário, o seu discuso é de vitimização destes alunos e de culpabilização dos professores, de modo que eles, os alunos, e os pais, sentem força para desrespeitar os professores.

 

Na educação não há milagres, tudo leva muito tempo a maturar e muitas vezes são necessárias certas experiências de vida transformadoras. No entretanto, o resto da turma não aprende nada porque aqueles não deixam. Os professores saem exaustos e stressados destas aulas e vão para as seguintes afectados, quer queiram quer não. 

Passar este alunos com estes comportamentos, embora a maioria, de facto, seja uma vítima dos pais que tem, é dizer-lhes que não há diferença nenhuma entre a agressão e a ofensa, e o esforço, o respeito e o trabalho. Entretanto estragou-se a oportunidade dos outros da turma poderem aprender e progredir.

 

Na quinta-feira passada um aluno veio ter comigo no fim da aula e disse-me, 'professora, queria saber como é que se faz queixa de um professor'. Disse-lhe que se tem um problema com um professor a primeira coisa que deve fazer é ir falar com o professor em questão para resolvê-lo. Perguntei-lhe qual era o problema. Disse-me que o professor x não lhe aceitou um trabalho, disse-lhe que não estava bom e mandou-o corrigir; ora, dizia-me o rapaz, se não está bom é porque o professor não me sabe ensinar e quero fazer queixa dele... esta ideia que os alunos têm de que são bons em tudo, que não precisam de esforçar-se, que a aprendizagem é um acto instantâneo da responsabilidade dos professores e não um processo lento e gradual que se passa no interior e necessita de correções e ainda, que se não conseguem atingir resultados a culpa é dos professores, releva de anos de endoutrinação do ME a alunos e pais com slogans de os alunos serem excelentes por natureza e só não progridem porque os professores não prestam.

 

Não compreendem os problemas, partem de pressupostos errados e irreais do ser humano e do seu desenvolvimento e depois, como as soluções com base nestes princípios não resultam e querem a todo o custo apresentar tabelas com percentagens de sucesso total, mandam passar toda a gente de qualquer maneira. Para fingir que isto é a sério, carregam os professores de aulas de apoio, explicações, medidas universais, parciais e o diabo a nove... 

 

Outro dia uma ignorante qualquer escrevia um artigo no jornal que é mais um pasquim de publicidade do Costacenteno que outra coisa, a dizer que até que enfim que alguém diz aos professores do secundários que os meninos (os meninos...) com educação especial têm tanto direito como os outros de estar ali. É que nem me lembro da última vez que estive um ano sem alunos com educação especial.

Mais, às vezes somos nós que temos que insistir com os pais para requererem para os filhos, as condições especiais a que têm direito porque a maioria dos pais não quer e tentam convencer os filhos a recusá-las. Rejeitam a ideia de alguém saber que os filhos têm uma doença ou uma incapacidade. Também há o inverso que é alguém da educação especial convencer os pais, desde a escola primária, que os filhos têm um problema e depois os miúdos crescerem a pensar que têm incapacidades, quando não as têm.

Mas é claro que o problema são os professores. Sempre. Porque é que estas pessoas todas não tiram 2 ou três anos para ir dar aulas aos 5ºs, 6ºs, 7ºs, 8ºs,9ºs, etc. anos que por aí andam a chamar palavrões aos professores ou a deixar unhas de pés nas aulas, antes de virem com conversas de quem pouco percebe de adolescentes e de aprendizagem. Talvez estes alunos não tivessem chegado assim ao fim se não lhes tivessem inculcado na cabeça que a educação e o sucesso são algo que lhes vem de fora como um presente e que está nas mãos dos professores.

 

A educação é como o voto: é um direito das pessoas e das famílias, sim, que o Estado providencia mas, também é um dever das famílias para com o Estado. E é isso que toda esta gente que traz a revolução no bolso não compreende.

 

publicado às 08:10


BE: recados para o PS

por beatriz j a, em 08.10.19

 

Educação? Recicle bin

BE quer muito ter cargos e tem dossiers para a troca...

 

3. O Bloco consolida-se como terceira força política nacional, com um importante reforço em muitos distritos, mantendo o seu grupo parlamentar de 19 deputados. O Bloco é, assim, uma força indispensável à procura de soluções que garantam a estabilidade da vida das pessoas naquilo que é mais importante: habitação, saúde, salário e investimento público para combater as alterações climáticas.

(...)

Sobre esta possibilidade de entendimento o PS deu sinais contraditórios ao longo da campanha eleitoral, tendo até sugerido cenários de instabilidade caso não vencesse com maioria absoluta. Se essa for a sua vontade, o país não sairá beneficiado. Pela parte do Bloco de Esquerda, dizemos com clareza ao que vimos, sem suspense nem surpresas.

Mariana Mortágua, JN

 

 

publicado às 06:05


Quem quer sovietizar o ensino superior?

por beatriz j a, em 01.10.19

 

Já fizeram isto, mais ou menos, no ensino médio, pois quase reduziram o ensino ao Português e Matemática, como se os outros saberes fossem despiciendos.

 

Visão sovietizante do Ensino Superior

Com o início do ano académico, voltaram a fazer-se ouvir as vozes que, recorrentemente, defendem que a formação no Ensino Superior se deve centrar em áreas em que o país é deficitário.

Argumentam que é dispendiosa uma oferta de cursos alargada e que, em determinadas áreas, não se vislumbra uma utilidade para o país ou para os próprios formandos.

 

Trata-se de uma visão sovietizante do Ensino Superior. Faz lembrar os planos quinquenais de Estaline, em que tudo era programado com um rigor quase científico. Ora, esta planificação não deu bons resultados porque o suposto interesse da sociedade inelutavelmente se sobrepunha ao interesse pessoal, por mais legítimo que este fosse.

...

É estranho que sejam indivíduos pretensamente liberais a defender modelos socializantes para o Ensino Superior. Mas o paradoxo pode explicar-se pela serventia a interesses corporativos, que ademais só contribuem para o atraso do país.

Importa, pois, contrariar esta mentalidade que encara as pessoas como peças de uma máquina (que, ainda para mais, frequentemente trabalha mal), e não como cidadãos dotados de liberdade individual e direitos fundamentais, designadamente de acesso à educação.

António De Sousa Pereira, Reitor da Universidade do Porto

 

publicado às 06:01

 

É que para além do programa de Lógica ser barbaramente extenso -dantes optava-se pela lógica silogística ou pela lógica proposicional, agora dá-se as duas, exceptuano os silogismos... são doidos... aumentaram o programa em mais um quarto de conteúdo, ou assim...- as AE ignoram partes do programa em vigor que têm que ser abordadas para os temas fazerem sentido. Falar do problema da liberdade e do determinismo na acção humana sem falar na acção humana, quer dizer, nos conceitos que a mobilizam, nas suas condicionantes biológicas, sociais, culturais é um absurdo... e ainda temos que falar na questão do valores pois de outro modo, a ética também fica coxa... e eu leio que há escolas que reduziram a carga horária semanal da disciplina... é o total desnorte... não sei como vou conseguir dar este programa todo... não sei, logo se vê... o que eu não faço é andar a dar aulas de palestra ou abordar os problemas à bolonhesa, que é o mesmo que dizer, à pressa e a correr, para conseguir cumprir um programa desconexo porque isso não é filosofia não é nada. Eu estou a pensar que tenho que dar a argumentação este ano, a seguir à lógica porque dá-la desgarrada de tudo no 11º ano, não faz sentido; ainda por cima, atiraram a estética e a religião, que também são agora obrigatórias, ambas, para o 11º ano embora façam parte do tema da acção humama do 10º ano. Se não tiro a argumentação do 11º ano, como tenho tempo de trabalhar as questões da estética e da religião?? Confuso? Pois, isto é tudo ridículo.

Tenho raiva a estas pessoas sem cabeça que mandam na educação. Não vou dizer o que penso destas pessoas todas, as que mandam de cima e as que são coniventes com isto tudo que ainda arranjava chatices...

Entretanto já gastei 1 tinteiro de impressora e uma resma inteira de folhas de papel. E ainda nem comecei com o 12º ano. Tenho estado só a trabalhar no 10º ano.

Querem que façamos a quadratura do círculo.

 

Se pudesse dizer aos alunos para não comprarem o manual de Filosofia, dizia, porque é um desperdício de dinheiro. Não tem metade da matéria obrigatória e tem matéria que só se dá no ano a seguir. Não consigo ultrapassar o absurdo disto tudo...

 

(esqueci-me de almoçar...)

 

publicado às 17:59

 

Les pédagogies auxquelles on nous forme nous poussent à prendre les enfants pour les adultes, mais nous, on nous prend pour des enfants.

 

IUFM, Espe, Inspe : ces instituts où l'on cultive l'art de mal former les professeurs Par Anthony Cortes

Méthodes inefficaces, abandon de la grammaire, de la logique et du sens de l'effort… Tout se joue au moment de la formation des jeunes professeurs. Reprendre la main sur les idéologues implantés depuis trente ans au cœur de la machine est essentiel… et périlleux.

« Ridicule », « infantilisante », « perte de temps ». Nul besoin d'insister pour connaître l'opinion des futurs professeurs sur leur formation. Dans le XVIe arrondissement de Paris, à la sortie de l'école supérieure du professorat et de l'éducation (Espe) de Paris (Ile-de-France), en ce mois de janvier, Marielle s'emporte : « Franchement, la formation est à vomir ! » Le stress a fait exploser les restes de modération.

 

Formação de professores: os formadores fechados nas suas teorias, sem nenhuma experiência de salas de aula, teóricos que evitam defrontar-se com as consequências das sua elucubrações.

 

O estudante deve construir o seu próprio saber segundo os seus desejos é uma teoria dogma que leva já 30 anos. Cá, todos sabemos que foi introduzida pela Ana Benavente que passava o tempo a dizer que os alunos deviam estar felizes na aulas e que a aprendizagem devia ser um constante prazer. 

 

Não por acaso as ideologias e dogmas pedagógicos que cá se usam são semelhantes a estas franceses. Nós copiamos tudo sem nenhuma reflexão e, sobretudo, sem nenhum interesse em ouvir os professores que estão nas escolas e têm experiência de trabalhar com alunos.

 

Uma formação de jovens professores seria melhor se promovesse a reflexão sobre o próprio ensino em vez de querer ser, e sê-lo, efectivamente, uma endoutrinação nas ideologias dos formadores. 

 

Neste momento temos no ministério da educação verdadeiros cruzados que endoutrinam com grande prejuízo dos alunos. 

Há muitos professores nas escolas que trabalham bem, pedagogicamente; no entanto, isso não interessa aos governantes. A sua prioridade é 'vomitar' as suas teorias e reformas e endoutrinar professores para ganhar devotos sem pensamento próprio, como líderes religiosos no pior sentido do termo. 

 

Para quem quiser ler o artigo:

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daqui:

 

publicado às 12:20

 

Girls and boys are taught science differently, new study finds

Dr Newall’s research published in Contemporary Educational Psychology investigated what happened when the gender of a fictitious eight-year-old child was manipulated experimentally, and how this affected adults’ perceptions of the child's ability and enjoyment of science.

 

“We discovered that adults are already biased against girls by the time children are eight years old,” Newall says. “Even at that age, adults already have low expectations of girls’ potential in physics.”

 

“When they knew they were teaching a girl, they used less scientific talk.”

She says it is likely the participants were unaware of their bias, and had they known they had taught girls and boys differently, they would be surprised.

 

publicado às 07:12

 

A escola é um local social e é um local de aprendizagem. As notas dos alunos não classificam a pessoa do aluno mas o seu trabalho, ou a falta dele. Esconder os nomes dos alunos para não se saber quem teve qual nota, parece-me ter consequências negativas, sendo que não vejo nenhuma positiva:

 

1. os alunos, em vez de aprenderem a conviver com os seus sucessos e fracassos, os seus pontos fortes e fracos, aprendem que as notas os catalogam enquanto pessoas, são motivo de vergonha ou orgulho e por isso devem esconder-se: porque provocam o escárnio ou a inveja. Isto é muito anti-pedagógico. Em vez de educar-se para a sociabilidade educa-se para o isolamento. A pessoa isolada e sem termo de comparação não tem noção das suas qualidades, se precisa melhorar um pouco ou se está muito longe do melhor. Nós vamos aferindo de nós mesmos, também pelos outros.

 

2. as turmas são grupos sociais e são avaliadas. Onde há avaliação existe a questão da justiça. A justiça relativa da turma. Se as notas, em vez de públicas são privadas como é que um aluno pode aferir dos critérios de justeza do professor? Isso é dar um poder enorme e isento de crítica ao professor, o que não me parece bem. As notas dos alunos também reflectem a qualidade do trabalho e a honestidade do professor e a sua oclusão afecta o trabalho e a relação com os alunos e até entre professores.

 

3. nos níveis mais baixos de ensino, uma má nota na pauta é um grande incentivo para estudar e uma boa nota é uma prova merecida de um esforço feito. Ambas têm valor pedagógico. Esconder as notas é nivelar por baixo, é ensinar a uns que devem disfarçar o seu esforço e sucesso para não incomodar os que não se esforçam e ensinar os que não trabalham que o seu não trabalho não tem consequências nenhumas.

 

Entretanto dão-se prémios de quadro de honra aos alunos que tiveram boas notas, o que não me parece bem, porque isso é que é dar a entender que a escola aprecia mais uns que outros. O que me parecia bem era haver uma cerimónia de graduação que incluísse todos e não cerimónias exclusivas. Também acho interessante o quadro de mérito independente das notas: mérito por ajudar os colegas, por ser uma pessoa dialogante que resolve conflitos, enfim, por questões de comportamento e não de notas. A escola é também um local de formação do espírito.

 

As notas devem ver-se com naturalidade. Uns estudam mais que outros, uns são mais organizados, outros mais criativos, uns são muito bons no cálculos mas menos bons nas línguas, por exemplo. Isso é normal, assim como é normal que tenham classificações a condizer com esses esforços e talentos. O que não é normal é incentivar-se a vergonha de não serem Leonardos da Vinci.

 

Parece-me que hoje em dia se educa para a inveja. Criou-se a ideia de que o direito à educação é um direito ao certificado. Por essa ordem de ideias, acabe-se com a escola ou com os programas. Se os alunos querem aprender a fazer gomas, pois é isso que aprendem...  que diabo, a educação não existe sem constrangimentos, sem experiências positivas e negativas, sem sucessos mas também fracassos. Fala-se muito em ensinar o espírito crítico mas furtam-se os alunos a todas as situações passíveis de auto-crítica para eles não se sentirem mal. Que tipo de pessoas se está a educar?

 

Compreendo que este governo, querendo poupar dinheiro de modo obsceno com os serviços públicos para engordar a banca e os amigos, tenha, a certa altura, entendido que o melhor seria mandar passar todos os alunos de qualquer maneira para garantir números de sucesso, porque passar todos justamente, isto é, fazendo com que a passagem e as notas correspondam a saberes e conhecimentos construídos (coisa que os mais desfavorecidos precisam muito se querem não estar cinco gerações na pobreza), custa muito dinheiro em investimento. Ora, a escola tem sido sujeita a desinvestimento. Não há milagres: para se ter níveis de sucesso é preciso investir e não é possível desinvestir e, simultaneamente, ver tudo a melhorar. Logo, manda-se passar todos e manda-se esconder a realidade...

 

 Na saúde, como são casos de vida e de morte imediata e não a longo prazo e por isso, não dá para disfarçar, o desinvestimento levou ao caos que se está a ver por todos os lados. Na educação as coisas não se vêm logo porque as pessoas levam tempo a crescer e a chegar ao mercado de trabalho mas, hão-de ver-se. 

 

Isto é uma traição que se faz a estes alunos disfarçada de boas intenções. E os pais acreditam, claro está, pois o que querem é que os filhos passem sem chatices.

 

O que é mais difícil de compreender são os directores das escolas, em vez de lutarem contra este miserabilismo de dar peixes podres em vez de ensinar a pescar como diz o ditado, só para poupar dinheiro para enfiar em bancos e Salgados e Berardos e boys, embarquem alegremente nestes logros, com o argumento de que lá fora também se faz. Mas não lêem os jornais, não se dão conta que a decadência da educação é geral, que lá fora as coisas estão também a rebentar? 

 

Só um pequeno exemplo: em França os professores fizeram greve às correções de exames e o ministério recorre a cortes no salário e outras ameaças. Por cá o silêncio da comunicação social acerca do assunto é tumular... pois... queremos é folhas de excel a dizer que vai tudo bem.

 

Escolas apagam nomes dos alunos nas pautas com medo de multas

 

publicado às 20:56

 

O nível de absurdo a que se chegou com certas regras... as faltas que os alunos dão não podem estar nas pautas para não se traumatizarem os que têm 500 faltas ou mais, os nomes não podem estar nas pautas para não se traumatizarem os que não estudam e têm más notas... 

 

Escolas apagam nomes dos alunos nas pautas com medo de multas

Diretores queixam-se de falta de orientações e formação para lidar com os dados pessoais de alunos, professores e encarregados de educação.

 

publicado às 11:34


É isto

por beatriz j a, em 03.05.19

 

 

publicado às 20:43


A chatice dos factos

por beatriz j a, em 02.05.19

 

Terça-feira vinha à conversa com o meu filho que me foi buscar ao tratamento, acerca da carga de impostos que pagamos. Ele queixava-se, com alguma revolta, que paga uma brutalidade de impostos e depois o dinheiro em vez de ser usado para melhorar os serviços públicos, ser usado para enfiar em ladrões que roubam milhões e centenas de milhões, para desresponsabilizar os seus cúmplices e para desperdícios em benefício de interesses particulares, como por ex., sendo a maioria dos deputados advogados, porque precisam de recorrer a firmas exteriores? Se fossem engenheiros ou outra coisa qualquer e não soubessem de leis... 

 

Estamos de acordo em pagar impostos e ter uma sociedade o mais equitativa possível mas não estamos de acordo em pagar impostos para servir interesses particulares, queimar dinheiro em serviços por gestão incompetente e ruinosa e/ou ideologia ou desinvestir continuamente nos serviços básicos de saúde, educação e justiça.

 

Estávamos nesta conversa e pusémo-nos a comparar salários. OMG! Ele ganha quase o dobro do que eu ganho... quer dizer, fico muito contente que valorizem o trabalho dele e lhe paguem como deve ser; no entanto, não pude deixar de sentir que ganho mesmo mal e não valorizam o meu trabalho, tendo em conta que ele trabalha há meia dúzia de anos e que eu já levo mais de trinta anos de trabalho.

 

Depois, ter que ouvir o Centeno e o Costa dizerem que pagar o que devem aos professores é contrário aos interesses do país, sendo que pagar a tudo o que é ladrão e incompetente é a favor dos interesses do país, revolta...

 

publicado às 07:59


Mudar a cultura de escola

por beatriz j a, em 02.05.19

 

Teachers are miserable because they’re being held at gunpoint for meaningless data

Almost a third of teachers quit in the first five years, and those who stay are burning out in record numbers.

Let me clear up this edu-mess for you. It’s not Sats. It’s not workload. The elephant in the room is high-stakes accountability. And I’m calling bullshit. Our education system actively promotes holding schools, leaders and teachers at gunpoint for a very narrow set of test outcomes. This has long been proven to be one of the worst ways to bring about sustainable change. It is time to change this educational paradigm before we have no one left in the classroom except the children.

 

Accountability. Surely that’s a good thing? I don’t think there is an educator in the country who would disagree with the idea that schools have a responsibility to be their very best. But we have options about how we make it happen.

Gunpoint is one option. We tell schools, leaders and teachers to make something happen or they will be miserable, jobless or a combination of both. This can lead to some pretty quick change, but it’s not long-lasting and will bring only compliance to the minimum standards because being held at gunpoint is stifling. It creates a “take-no-risks” attitude that becomes enshrined in the culture of leadership within a school. School improvement is seen as school inspection. Gains are made by the act of weighing. When gains are not made, the problem lies within the school, leader or teacher, rather than the culture, climate or conditions.

publicado às 07:39

 

Isto é em Inglaterra mas não há-de ser diferente do que acontece aqui, ainda para mais porque este [anglo-saxónico] é o sistema que mais copiámos no passado recente e vemos os problemas serem os mesmos: cortes na educação, crianças e jovens em pobreza crescente, falta de interesse e desvalorização no trabalho dos professores, falta de professores, violência contra professores, políticas de adesivo que não sabendo conter hemorragias mandam pôr adesivo para tapar a ferida e ninguém ver.

 

Ainda há duas semanas um rapaz de 12 anos bateu num professor e exclamou triunfante, 'já lhe parti  o focinho'. Não recordo o ministro da educação ter dito algo a propósito deste assunto. Talvez no entender dele não seja muito grave... ... quem sabe se o professor não mereceu, não é verdade...?

 

Entretanto anda a dar entrevistas ao modo do grande masturbador [“No hay que ser impositivos: cuando confías en las escuelas, responden”Portugal se ha convertido en un referente mundial en mejora educativa y pedagogías innovadoras. Es la nueva Finlandia] em que arrecada o mérito, com um descaramento desavergonhado, de termos melhorado no PISA, numa entrevista que é um rol de mentiras e traições (desde, la intensa formación del profesorado até confiarem nos professores sem nada imporem) que até mete nojo, sabendo nós o estado a que votam as escolas e os professores.

 

Vai lá para fora gabar os professores mas aqui dentro é só ofensas, controlo, desprezo, perseguição e degradação. Já aprendeu com o Costacenteno a arte de ter duas caras.

 

Subimos no relatório PISA, não devido ao trabalho dos milhares de professores que trabalham apesar das políticas anti-pedagógicas e reformas atrás de reformas de ministros incompetentes, mas devido a este indivíduo, quem sabe, um iluminado, que sem perceber nada de ecucação tem revelações da divindade...

 

Agora até já dizem que somos a nova Finlândia lol  

Cá dentro tratam-nos como bestas, como se viu no ano passado e acham que devíamos ser proibidos de fazer greves. Mas depois vão lá para fora gabar do trabalho que fizémos nestas condições incríveis como se o trabalho fosse deles. Isto é só rir...

 

Passa-se aqui o mesmo que em Inglaterra. Para terem pretexto de cortarem dinheiro na educação destruiram os professores, o que teve como efeito, como se gabou a outra incompetente, que o Costacenteno tem como ídolo, de terem ganho os pais contra os professores. Nisso foi ela competente.

Daí segue-se que o mau comportamento dos filhos é aceite como normal pelos pais, pois os professores, como se sabe, são todos uns incompetentes e, hoje em dia, espera-se que um professor tolere o mau comportamento dos alunos. Como se fizesse parte da natureza de ser aluno, comportar-se mal e/ou violentamente e da profissão de professor tolerar esse comportamento.

 

A inclusão é entendida como tolerância total, até dos comportamentos mais intolerantes. Os alunos podem falhar em todos os seus deveres: faltar a quase todas as aulas, faltar aos apoios, não estudar como se estudar fosse um dever do professor e não deles, ser mal educados, violentos, auto-indulgentes e, mesmo assim, o ministro quer que passem de ano e que se esconda informações na pauta para ninguém perceber que as pobres crianças passaram com 9 negativas, por exemplo e processos disciplinares por mau comportamento, tudo em nome de uma inclusão perspectivada como uma anulação de tudo o que deve ser uma escola na formação da pessoa. Ahh mas têm aulas de cidadania, como se umas aulas teóricas tivessem algum valor face à prática do quotidiano que as contraria. Não sabendo conter hemorragias mandar tapar as feridas com pensos rápidos para não se verem. E é disto que ele se gaba lá fora...

 

Many say poor behaviour is making them want to leave the profession, NASUWT finds.

Nearly nine in 10 teachers said they had received some sort of verbal or physical abuse from pupils in the past year. Eighty-six per cent said they had been sworn at and 46% said they had been verbally threatened.

Many teachers said the abuse and attacks made them less enthusiastic about their job. Several said they did not report poor behaviour because they feared school leaders would take no action, while others said they had been warned that doing so would harm their careers.

...

Kitchen said “incredible” levels of poverty and homelessness were having a major impact within British classrooms.

He also said: “Resources for the classroom are being diverted away from teaching to be spent on law firms, accountancy and private companies, to name but a few. 

Kitchen said “a climate of fear” was being used in some schools as a tool to control teachers.

 

publicado às 09:56


Uma iniciativa interessante

por beatriz j a, em 09.04.19

 

... melhor que aulas de cidadania para cumprir calendários de secretários de Estado que não percebem nada de educar alunos.

Juízes vão a 200 escolas de norte a sul do país falar de justiça e cidadania

 

publicado às 18:16


Educação e nepotismo

por beatriz j a, em 08.04.19

 

A manutenção de padrões elevados de exigência na certificação é necessária para que o público não desvalorize o título e venha a optar por um leigo bem-falante. Um grande estudo estatístico recente concluiu que, em Inglaterra, certos cursos e certas universidades tinham um impacto salarial negativo aos 29 anos. O escândalo ainda não abateu, mas temos de compreender o que se está a passar para evitar que os diplomas se desvalorizem ao ponto de os jovens abandonarem ou deixarem de sentir que o esforço vale a pena.

 

Este argumento é muito simples e transparente, mas não parece bem assimilado quando vemos a ligeireza com que se tomam algumas decisões com forte impacto no nosso sistema educativo. Depois da extinção de exames ao longo do ensino básico e secundário, passamos à bem orquestrada campanha contra os exames finais do secundário. E foi agora anunciado (PÚBLICO, 25 de março) que teremos um novo canal de acesso ao superior para que os diplomados pela via profissional possam fugir àqueles exames.

 

E que tem isto a ver com o nepotismo? Uma organização bem gerida e focada nos resultados seleciona o seu pessoal com base nas competências demonstradas e tendo em vista as tarefas propostas. Isso exige um bom sistema de certificação de competências. Falhando este, voltamos à velha prática de escolher os colaboradores entre os mais próximos de modo a satisfazer expectativas que são legítimas se não for público e notório que outros fariam melhor. Baixando a exigência e a seriedade do sistema de certificação do sistema educativo, estamos a destruir a sua função de ascensor social e a alimentar o nepotismo. Os mais bem relacionados ganharão. Os mais frágeis e socialmente marginais estarão condenados à marginalidade definitiva. É esta a opção que vemos crescer nos dias de hoje. Será este o resultado desejado?

 

José Ferreria Gomes, Educação e Nepotismo

 

publicado às 07:39

 

Um trabalho de uma professora e seus alunos na minha escola. O que pode esconder-se por detrás das flores que dão às mulheres no dia da mulher. É assim que o interpreto e acho-o bem conseguido.

 

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pormenor

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pormenor

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publicado às 08:59

 

Tim Oates acerca do 'conto de fadas finlandês'

 

Tim Oates diz várias vezes que é preciso cuidado com aquilo a que damos crédito sem reflexão. Isso aplica-se a ele próprio. Ele é professor em Cambridge, "num departamento onde não se ensina: o Cambridge Assessment é a maior agência dedicada à pesquisa sobre avaliação na Europa."

 

Durante os anos Thatcher houve grandes cortes nas Universidades e os administradores resolveram cortar nos cursos e matérias e surgiu a ideia de fazerem 'centros de excelência'. Estes centros, que estavam na moda, eram grandes escolas que cobriam tão excelentemente o estudo de certas matérias que dispensavam que outras universidades tivessem esses departamentos. A Física toda era estudada em Manchester, a economia na LSE, etc. Ora, as escolas/universidades têm culturas próprias e ao concentrar-se assim todo o estudo numa só escola perdeu-se a diversidade de culturas que enriquece as discussões e fomenta a qualidade. Por conseguinte, é preciso ter alguma prudência com as palavras deste especialista.

 

Dito isto, estou de acordo com muito do que ele diz, a começar pelo cuidado com a autonomia nos currículos para não acontecer o que está a acontecer aqui que é o Director sózinho decidir e dizer mesmo, 'este ano tirei 50% do tempo curricular da História, para o ano vou tirar na disciplina x e dá-lo à y', ou seja os alunos e os professores estão à mercê das experimentações dos directores e seus galambas.

 

Também concordo com a questão da avaliação ser muito importante para os alunos saberem se estão a progredir e como; ainda concordo com a coerência que tem de haver entre os conteúdos, os métodos e as pedagogias: temos sempre de ser claros acerca do objectivo que queremos que seja atingido e não o perder de vista; ajudar imediatamente os alunos que ficam para trás; ter currículos adequados aos tempos senão os professores escolhem o que dar e cada um escolhe o que quer, sendo que os alunos depois vão fazer os mesmos exames, ter boas condições e bons materiais. E, claro, ter bons professores, ficando por esclarecer, ao certo, que qualidades tem um bom professor que o torna tal.

 

Não estou de acordo com o projecto de passar toda a gente de qualquer maneira, mesmo que tenham 500 faltas e processos diciplinares. Penso que isso é uma ofensa aos alunos, é uma visão miserabilista das possibilidades das pessoas. Nem todos os alunos serão bons em algumas matérias e a maioria nem gosta de estudar mas todos têm margem de progresso e não precisam de ser tratados como estúpidos. Estou de acordo em que se trabalhe para se evitar os chumbos.

 

Agora, isto é tudo muito bonito em condições ideais e não nas condições que temos aqui no país: excesso de alunos por turma, excesso de turmas, excesso de burocracia, gestão anti-democrática e outros problemas que impedem um trabalho sério. Professores desmotivados, desvalorizados e caluniados... enquanto não levarem a educação a sério todas as palavras acerca de melhorá-la são 'contos de fadas'.

 

Esta equipa cometeu erros grosseiros nos currículos que são agora pedaços de matérias, por vezes contraditórios com os programas em vigor e demasiado extensos; desprezo pelos conhecimentos e excessiva valorização dos aspectos formais (como se uns viessem sem outros, descontextualizados),  com possibilidade de o director retirar grande parte do tempo de aula semanal de uma disciplina, passagens em qualquer condição; desvalorização da avaliação; desconfiança visceral dos professores; complicação das regras de apoio a alunos; tempos infindáveis desperdiçados a fazer coisas que não têm rendimento...erros mesmo grosseiros mas, são tão arrogantes que não arredam pé. As coisas estão contraditórias, desgarradas e incoerentes.

 

publicado às 11:40

 

Savater acerca da educação

O senhor tem escrito livros de filosofia para os jovens. Entende que a filosofia tem sido negligenciada para as novas gerações? O que espera alcançar com essas obras?Fernando Savater: Eu não me considero um filósofo, com maiúscula, como Spinoza ou Kant, e sim um simples professor de filosofia. Acho que se os jovens aprenderem a prática da filosofia (e não apenas de dados, datas e nomes dos movimentos intelectuais, é claro), poderão dar mais profundidade humana para suas vidas e talvez pensar melhor sobre as questões que os cercam. Meus livros são destinados a ajudar os recém-chegados a conhecer essa tradição emancipadora, com base em dúvidas estimulantes e não em certezas rotineiras.

 

No Brasil, a escola funciona como um mecanismo de reprodução da desigualdade social. Crianças pobres vão para escolas públicas de qualidade deficiente, enquanto crianças de posses estudam em colégios privados em que a qualidade, muitas vezes, corresponde àquilo que a família pode pagar. Que mensagem um sistema assim passa à sociedade?
Fernando Savater: Envia a mensagem de um país mal governado, onde as pessoas não se importam o suficiente com a educação ao votar ou ao exigir dos eleitos que cumpram suas obrigações neste campo (e esse não é um problema exclusivo do Brasil, é claro, na Espanha acontece o mesmo). 

Os governos não se preocupam muito com a educação, porque os seus efeitos só são sentidos no longo prazo, e os políticos só planejam o futuro a algumas semanas de distância; de modo que são os cidadãos que devem insistir na importância desta questão. Uma boa educação pública é um elemento mais revolucionário de equiparação social do que qualquer sublevação violenta.

 

O Brasil também tem enfrentado outro problema: a carreira de professor não parece atraente para muitos jovens, e a procura por faculdades na área vem diminuindo. O ex-ministro da Educação do Brasil, Renato Janine Ribeiro, recentemente se referiu ao risco de um “apagão" de professores no sistema de educação. Que riscos uma situação dessas pode trazer para um país em desenvolvimento?
Fernando Savater: Riscos gravíssimos. Os professores são o fundamento da democracia, e eu diria que também da civilização. Sem eles, há apenas a barbárie da elite tecnológica e a arrogância brutal dos plutocratas latifundiários ou financeiros. É uma obrigação racional de todos tornar a carreira de professor atraente, dotá-la de uma boa preparação e de uma remuneração adequada. 

Acima de tudo, é importante que a cidadania escute os problemas e as advertências dos professores, converta-os em protagonistas sociais, limpe as suas fileiras de sindicalistas corruptos. Só então poderá exigir deles as responsabilidades de sua alta função, que não consiste em orientar meninos e adolescentes para que sejam revolucionários ou conservadores, e sim para que conheçam os requisitos da cidadania democrática e a exerçam como acharem melhor.

 

A promoção da leitura na escola tem sido muito discutida em termos duais: para alguns, as aulas de literatura devem apresentar ao aluno os clássicos que formam um cânone; para outros, deve ser encorajada a leitura com livros contemporâneos que os adolescentes e as crianças podem desfrutar com prazer. Qual sua opinião neste debate?
Fernando Savater: Em minha opinião, o importante é contagiar os jovens com o amor pela leitura, e não com a veneração aos clássicos. Esta última virá depois, se vier, e se não vier, o mundo não vai afundar por isso. Assim, os jovens devem ler o que eles gostam, não o que a maioria de seus professores de literatura aprecia. Que leiam Harry Potter e mais tarde, como tema acadêmico, conheçam Machado de Assis.

 

A educação do cidadão no século XXI - um quarto de hora que vale a pena ouvir

 

publicado às 14:32


Pois... e vê lá no que isso deu...

por beatriz j a, em 15.02.19

 

A minha geração, que é considerada a mais bem preparada de sempre, não pôs os olhos num exame nacional até ao 12.o ano. Os meus amigos um pouco mais velhos, nem isso.

Os exames são o único obstáculo a esta escola inclusiva? Dificilmente. Não são deus nem o diabo do sistema educativo, são apenas um instrumento desadequado nas atuais circunstâncias. Provocam estreitamento curricular, uniformizam o ensino, são um retrato pobre de uma educação que serve para mais do que aprender a ler e a contar.

 

De facto, neste ensino, não servem para nada:

A caricatura não é tão exagerada quanto parece. Por exemplo, aqui há duas semanas ou isso apareceu uma notícia alfaiate com título enganador, segundo o qual Nunca o abandono escolar foi tão baixo e  de 12,6% em 2017, Portugal conseguiu reduzir para 11,8% a taxa de abandono precoce da educação e formação, um valor nunca antes alcançado. No entanto, quem está nas escolas sabe que no 7º ano houve um projecto de ninguém chumbar mesmo com negativa a todas as disciplinas, 50% de faltas e até permissividade para ter 3 faltas disciplinares... ou o outro caso da directora de uma escola aqui perto da cidade que a todos os professores, pelo menos de Matemática, não sei se outras disciplinas também, que dêm mais de 10% de negativas têm logo as aulas assistidas para pressionar a passar toda a gente. E muitos outros casos do género. Isto não é um ensino inclusivo, isto é um logro que pagaremos caro, enquanto país.

 

O diretor da OCDE para a Educação, Andreas Schleicher, já identificou o sistema de exames nacionais ligado ao acesso ao ensino superior como um dos “principais problemas” do sistema educativo português. E alertou para a dificuldade de conciliar “dois mundos”, o do ensino para os exames e o outro, que privilegia a aprendizagem em torno de projetos e o trabalho colaborativo.

 

Ahh, pronto... se o director da OCDE disse isto temos que ir já fazer o que ele diz porque ele tem a Verdade sobre a educação... 

Começa logo por falar no ensino que inclui exames e no do trabalho colaborativo como se fossem dois mundos diferentes e difíceis de conciliar quando sempre fizeram parte do mesmo mundo e todos os dias o conciliamos, enquando atravessamos as reformas mais ou menos imbecis das equipas ministeriais que se sucedem umas às outras bem como os directores da OCDE que se sucedem uns aos outros e até as comentadoras que não percebem nada de educação mas não se privam de dar palpites como se fossem especialistas.

 

publicado às 13:45


Isto é verdade

por beatriz j a, em 20.01.19

 

No que respeita à educação, digo mais: eu sou contra esta mania de cada governo fazer uma reforma e dar cabo de tudo o que havia mas quando esta equipa se for e vier outra de outro governo com outra ideologia espero que rasguem esta reforma de alto abaixo que istto não se conserta com acertos. É como a reforma da Lurdes Rodrigues com as duas carreiras de professores. Aquilo não tinha acerto e mesmo tendo sido rasgada, a coisa era tão cancerígena que ainda agora a estamos a pagar. Esta equipa foi ao ponto de mudar a formação dos professores considerando que um professor que faça formação em inclusão ou cidadania, sobretudo se for coordenador ou da direcção (os que têm cheques em branco da tutela) é igual a fazer formação na sua área de especialidade.

 

O setor da habitação oferece um outro exemplo eloquente de como a resolução dos desequilíbrios causados pelo abandono de vários domínios da política social não se consegue fazer com políticas de pequenos acertos. Sobre este tema crucial, o Observatório sobre Crises e Alternativas promove, no próximo dia 22, em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian, um oportuno debate 1 .

O hiato entre os rendimentos das pessoas e os preços de aquisição, ou de rendas das casas, é um obstáculo que se agudiza a cada dia que passa. Ele agrava os problemas da mobilidade nas áreas metropolitanas, expulsa os pobres que ainda restavam no centro das grandes cidades e as classes médias para as periferias, limita as aspirações dos jovens em vários planos. Tornaram-se insuportáveis, para milhares de famílias, os custos da habitação de um estudante nas principais cidades do país, quando é imperioso muitos mais jovens acederem ao Ensino Superior.

As políticas de incentivos e isenções fiscais para os proprietários, recentemente anunciadas para estimular o mercado de arrendamento, não resolvem o problema. A manutenção de todos os outros incentivos de atração do capital financeiro estrangeiro para o imobiliário através de programas como o Regime de Autorização de Residência para Atividade de Investimento (vistos dourados), só acentua a crise habitacional. Na habitação o Governo tem uma escolha crucial a fazer: promover um mercado imobiliário internacional especulativo ou optar por uma política de provisão de habitação para os habitantes das grandes cidades, ao mesmo tempo que trata de outros problemas do setor, associados ao reordenamento do território.

Manuel Carvalho da Silva

 

publicado às 12:32


Educação - disparates e mais disparates

por beatriz j a, em 14.01.19

 

Alunos madeirenses vão ter tablets em vez de livros

 

Os tablets, nem saem mais baratos que os livros porque são materiais muito mais frágeis (e caros) que os livros nem dão para fazer anotações que são uma prática indispensável não apenas do ponto de vista da memorização e organização do estudo mas do trabalho cognitivo sobre os conteúdos. Os instrumentos digitais são ferramententas complementares e não substitutas dos livros mas as pessoas acham que a tecnologia digital, só por ser mais recente que os livros, é um valor em si mesma, em qualquer circunstância. Como dizia alguém, 'estamos bloqueados pelo progresso da tecnologia'.

 

publicado às 17:07


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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