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Coisas que deviam envergonhar qualquer editor

por beatriz j a, em 06.11.15

 

 

 

 

... mas que mostram o tipo de sociedade pseudo-jurídico-politicamente correcta em que vivemos. Este editor da Wilder Publications entendeu pôr um aviso de PG na edição das Críticas de Kant, onde adverte que o livro de Kant é um produto do seu tempo e que, se Kant o tivesse escrito hoje, teria certamente outros valores. Aconselha ainda os  pais a discutir este assunto com os filhos já que os valores, no que respeita a género, raça, sexualidade, etc., mudaram muito.

 

O editor, com o maior dos paternalismos, entende que Kant é um autor marcado pelo seu tempo... jura?? E que se vivesse hoje teria outros valores, nomeadamente os do editor... ai sim? Portanto o editor é o referencial universal de como se deve pensar! Porque não vende então os seus próprios livros em vez de vender os de Kant? Isto é ridículo e errado. Kant poderia viver hoje e ter as mesmas ideias e contradições. Platão, só para dar um exemplo, viveu muitos séculos antes e, no entanto, não defendia uma visão sexista e racista do conhecimento e das sociedades. Einstein viveu no século XX e era muito machista... e então, devemos escrever isso na edição das suas obras?

 

Se um aluno ou um professor ou, um mero leitor de Kant ou outro filósofo não percebe que os filósofos são pessoas e como tal, influenciadas pela mentalidade do seu tempo, não percebe nada de nada. Uma pessoa não tem que desculpar ou polir os grandes filósofos do passado. Eles foram grandes justamente porque, apesar de terem os pés no seu tempo, terem também e, ao mesmo tempo, a cabeça no tempo universal que não tem limites. Justamente o Kant era aquele indivíduo que exortava as pessoas a aprender não a Filosofia, isto é, não aprender a ser um reprodutor de conteúdos mas, o filosofar -ser um excelente pensador crítico e analítico.

 

O pior de tudo é dar a impressão que as ideias do passado, por o serem, são piores que as do presente, como se tivessem o prazo de validade ultrapassado. Então, alguém que esteja agora a começar a ler ou pensar, pega no livro, lê isto e começa a ler já com um sentimento de desvalorização do autor em questão e, por consequência das suas ideias.  

 

(via openculture.com)

 

 

publicado às 13:20

 

 

 

 

Freitas da Costa.“Dizer que, ou se pirateia ou não se tem acesso à ...

E não haverá uma ligação entre esses crimes e as condições socioeconómicas de quem o faz?

Penso que não. É evidente que quem tem mais dificuldades tem mais desculpa para o fazer, mas quem tem recursos também o faz. Se podem ter uma obra sem pagar e sem serem censurados, para quê pagar?!


É preferível uma sociedade privada da cultura, a uma que precisa de fotocopiar e piratear para aceder à cultura?

Dizer que, ou se pirateia, ou não se tem acesso à cultura é um falso dilema. Neste momento há dezenas de milhar de obras grátis à disposição de quem as quiser ler. Há bibliotecas, há projectos na internet que põem à disposição das pessoas obras de domínio público e transcritas em formato digital. Posso não ter dinheiro para comprar todos os livros que me apetece, mas não significa que não tenha acesso à cultura. Tenho à minha disposição Aristóteles, autores do século XIX. Posso ir a museus, ver programas de televisão, etc.

[...]

E ao cidadão que se dirigiu à loja para fazer fotocópias, o que lhe pode acontecer?

É um crime, mas neste caso iria mais pelo enriquecimento ilícito do centro de cópias – que se está a apropriar de uma propriedade intelectual para fazer negócio.


Mas o cliente não está também a cometer um crime?

É diferente. O acto do cidadão pode ser considerado como um crime por inadvertência. A culpa é desses estabelecimentos que sabem o que não podem fazer...


Mas fazem-no, até em centros de cópias de universidades. Não é um contra-senso?

É. E estamos a tentar fazer com que isso deixe de acontecer. Os reitores estão aliás já sensibilizados e espero que venham a tomar medidas nesse sentido.


Esta é a entrevista típica de um editor português. Salvo raríssimas excepções (que existem porque, apesar de tudo, Portugal não é habitado apenas por totós...)  os editores portugueses querem não ter que arriscar nada, não ter que fazer nada (quantas vezes se vê publicidade a livros?) e poder viver de autores que lhes caiam no colo, que vendam milhões e a quem possam pagar 10% das vendas de livros com preço caríssimo. Depois, dizem estas barbaridades como a pirataria não tem nada a ver com a crise e, É evidente que quem tem mais dificuldades tem mais desculpa para o fazer, mas quem tem recursos também o faz. Se podem ter uma obra sem pagar e sem serem censurados, para quê pagar?!. Quantas pessoas ricas ou com bastante dinheiro conhece que tenham as prateleiras cheias de fotocópias...?

 

Em primeiro lugar, um leitor que possa comprar uma obra não a lê em fotocópias e, se os estudantes copiam livros inteiros é porque não têm 50 ou 60 euros para dar por cada obra daquelas que precisam de ler e de que, muitas vezes, só há um exemplar na biblioteca das faculdades que raramente se arranja. Talvez este senhor não saiba que um estudante universitário tem que ler centenas de livros (talvez tenha tirado um curso 'à relvas') e que a maioria não tem dinheiro sequer para as propinas, alguns nem para comer todos os dias têm...

 

Em segundo lugar, este senhor parece não perceber que quem consome cultura, seja livros, cinema, etc., não consome um produto por mês... Uma pessoa que vá ao cinema, vá ao teatro, leia livros e ouça música com regularidade, gasta por mês, pelo menos, 100 euros. Ora, quem é que, entre os adolescentes, que são quem mais ouve música e vê filmes, tem esse dinheiro para gastar? Este senhor deve viver na lua... e mesmo entre os adultos, quem tem dinheiro para dar 40 euros por um bilhete na Gulbenkian, 40 euros por dois livros mais 15 euros por um CD mais 20 euros por filmes, etc.? Meia dúzia de pessoas.

Um professor, neste momento, já não tem salário para poder ler, ouvir música, ir ao teatro... se precisar de passar filmes na aula faz o quê? Compra-os do seu bolso? Gasta centenas de euros? Sim, porque o ministério não tem dinheiro para apetrechar as mediatecas. E os alunos que não têm 300 ou 400 euros para comprar os manuais? Não estudam para não tirarem cópias porque ofende este senhor? E se os editores pusessem os livros a preços decentes? E os CDs e os DVDs? Sabe quanto custa um CD? Se for de uma ópera, entre 40 a 100 euros, se for de outro tipo de música, entre 10 a 20 euros. Um bilhete para o cinema outros 10 euros e por aí fora.

 

Em que raio de país vive? Sabe quanto ganha em média um português? Sabe quanto é o ordenado mínimo que é o máximo que muitos têm?

É por isso que a pirataria se massificou: porque as sociedades estão a empobrecer e a maioria das pessoas, nomeadamente as que mais consomem música e filmes, por exemplo, que são os adolescentes e jovens, não têm dinheiro para os comprar.

Nem uma única vez nesta entrevista se fala do preço destes bens culturais que em Portugal é obsceno! Uma porcaria dum livro custa vinte e tal euros, às vezes mais!  Sai mais barato, mesmo com os portes de envio, mandar vir um livro ou um CD da Amazon inglesa ou do BookDepository que comprá-lo numa loja aqui.

 

Mais a mais, as editoras não perdem dinheiro com as fotocópias ou os 'downloads', pois quem os faz, ao contrário do que este senhor diz, não os compraria nunca por falta de dinheiro e, ao fazê-lo acaba por fazer publicidade às obras.

A maioria dos alunos universitários que conheço tenta arranjar os livros online, de borla, sempre que eles existem. Mas muitos não existem e as versões digitais são caras! Este senhor diz, 'vão ler o Aristóteles online'. Pois o Aristóteles e o São tomás de Aquino arranjam-se online por um euro, mas concerteza este senhor percebe que as pessoas que os lêem são uma minoria!

E este senhor ainda diz, a gozar, que as pessoas podem ir ver programas de Televisão! Pois é o que faz a maioria por não ter dinheiro para outra coisa: ver novelas e porcarias de casas de segredos! É por isso que não lêem: porque os editores do tipo deste senhor não estão interessados em mexer uma palha ou mudar seja o que for para terem mais leitores.

 

Na música já se arranjou uma forma de vender música online que sai barata a quem compra e, por isso, desincentiva o 'download' ilegal. Porque é que este senhor não pensa qualquer coisa inovadora, também para os livros, de modo que uns tenham dinheiro para pagar e outros -os autores- recebam o que lhes é devido? Talvez por ser mais um incompetente que quer ter tudo sem ter que mexer uma palhinha...?

 

publicado às 05:10


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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