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L’Europe est-elle trop honteuse d’elle-même, ou au contraire trop arrogante ? 

Ni l’un ni l’autre. L’Europe n’a aucune raison d’avoir honte, surtout si nous nous retournons sur les réalisations politiques de ce continent entre la seconde moitié du XXe siècle et notre époque. Mais l’Europe n’a aucune raison de se montrer arrogante non plus quand elle repense à son histoire criminelle faite de guerres, d’impérialisme et de colonialisme. Reste que l’Europe est le seul continent à pratiquer l’autocritique : aucun autre ne mène une réflexion aussi critique sur l’histoire, c’est une réflexion qui refait régulièrement surface, et, même quand elle est refoulée, elle refait surface, et la question des leçons que nous devons en tirer ne cesse de revenir en débat. Il y a une chose dont l’Union européenne peut réellement être fière : c’est le premier système politique de l’histoire à avoir fondé sa Constitution sur une charte des droits de l’homme. La Déclaration des droits de l’homme de l’ONU n’était qu’une recommandation que la moitié des États membres de l’ONU n’a pas signée, dont les États-Unis d’ailleurs. En Europe, elle est inscrite dans la Constitution, et son respect est une obligation. Quand on y réfléchit, on voit bien que ça, c’est une révolution politique. 

 

A Europa tem demasiada vergonha de si mesma ou, pelo contrário, é demasiado arrogante?

Nem uma coisa nem outra. A Europa não tem nenhuma razão de ter vergonha, sobretudo se pensarmos nas realizações políticas deste continente entre a segunda metade do século XX e a nossa época. Mas a Europa também não tem razão para se mostrar arrogante quando pensamos na sua história criminosa feita de guerras, imperialismo e colonialismo. Resta que a Europa é o único continente a praticar a auto-crítica: nenhum outro faz uma reflexão tão crítica sobre a sua história, é uma reflexão que emerge regularmente (...) e as lições que dela devemos tirar vêm constantemente ao debate. Há uma coisa da qual a União europeia pode sentir orgulho: é o primeiro sistema político da história a ter fundado a sua Constituição sobre uma Carta dos Direitos Humanos. A declaração dos Direitos Humanos da ONU era apenas uma recomendação que a metade dos seus Estados membros, nomeadamente os EUA, não assinou. Na Europa, ela está inscrita na Constituição e o seu respeito é uma obrigação. Quando reflectimos nisto vemos bem que é uma revolução política.(tradução minha)

...

A Carta dos Direitos Humanos devia, digo eu, ser o guia orientador da política e da economia da União e essa devia ser a prioridade da União. Parece-me uma ideia ou melhor dizendo, um ideal, capaz de agregar e mobilizar os europeus para a Europa. É claro que isso implica mudanças na mentalidade dos políticos que governam os países cujos ideais cada vez mais se afastam desde desígnio extraordinário.

 

publicado às 14:59


Direitos Humanos

por beatriz j a, em 10.12.18

 

Amnistia Internacional alerta: discurso de ódio chegou a Portugal

 

Para Pedro Neto, os maiores desafios de direitos humanos são hoje o combate à discriminação e à falta de direitos económicos.

Por um lado, disse, a discriminação de mulheres, refugiados, comunidades LGBTI [Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transgénero e Intersexo] e de outra raça, e por outro, a inexistência de direitos económicos para franjas da população.

"Numa altura em que o mundo poder ser próspero e em que é matematicamente possível que não morra ninguém de fome, que toda a gente tenha um teto para viver e onde dormir, que toda a gente tenha acesso a cuidados básicos de saúde, a questão da pobreza extrema e da pobreza em geral é o outro grande mal", disse.

Portugal enfrenta, segundo Pedro Neto, também estes problemas de direitos humanos e destaca a violência racial por parte da polícia, as condições prisionais, a discriminação salarial das mulheres e no acesso a cargos de chefia e o problema de acesso à habitação.

"A questão da habitação afeta muitas pessoas em Portugal, já não apenas pessoas pobres, mas pessoas de classe média ou até pessoas com empregos que não pagam apenas o salário mínimo. Em determinadas situações, essas pessoas já têm dificuldades no acesso a uma habitação condigna, principalmente nos grandes centros urbanos", disse.

 

publicado às 06:14

 

 

 

 

publicado às 08:15

 

 

A Amnistia Internacional Portugal adotou este ano quatro casos, aos quais dedicará toda a sua atenção e trabalho: Annie Alfred (do Malawi), Edward Snowden (E.U.A.), Eren Keskin (Turquia), Shawkan (Egito).

Assine as cartas.

 

 

publicado às 21:43


O problema da ética religiosa

por beatriz j a, em 28.03.16

 

 

Russia's Patriarch Kirill: Some Human Rights Are 'Heresy'

 

"We are seeing how efforts are being made in many prosperous countries to establish by law the person's right to any choice, including the most sinful ones, those that contradict god's word, the concept of holiness, the concept of god," Patriarch Kirill said after a Sunday service at Moscow's Christ the Savior Cathedral, Interfax reported.

 

São os machos velhos que mandam nas igrejas e que têm uma ganância de poder desmesurada. Querem voltar ao tempo em que as nações lhes pediam autorização para existir e as pessoas lhes pediam autorização para viver e o respeito pelos outros e os direitos dos outros vinham atrás dos seus interesses e visões dogmáticas pessoais. Lá vai o tempo em que as pessoas, para saberem o que fazer, iam a correr ao padre perguntar.

Kant, que hoje em dia está na moda atacar, deu-nos a ideia de autonomia e de dever para connosco próprios e para com os outros. A questão não é saber se os direitos humanos respeitam os ensinamentos religiosos do que é o bem, a questão é saber se as religiões respeitam os direitos dos outros, a sua autonomia e o bem comum.

Como li algures, a questão das religiões não é a crença num Deus mas o que fazem aos outros em nome dessa crença. O radicalismo da religião muçulmana actual está a fazer crescer a audácia de outras confissões religiosas. Uma espécie de, 'se eles podem falar assim nós também havemos de poder'.

 

 

publicado às 10:56


Coisas que deviam envergonhar a Inglaterra

por beatriz j a, em 21.02.16

 

 

... e provocar reacções dos outros países. Infelizmente, muitos dos outros países também vendem armas e equipamento militar à Arábia Saudita.

 

Britain lobbied UN to whitewash Bahrain police abuses

Documents shared with the Observer reveal that the UN’s criticism of the Gulf state was substantially watered down after lobbying by the UK and Saudi Arabia, a major purchaser of British-made weapons and military hardware.

The result was a victory for Bahrain and for Saudi Arabia, which sent its troops to quell dissent in the tiny kingdom during the Arab spring.

 

 

publicado às 09:09

 

 

 

... sobre as religiões no mundo actual. Outro dia... hoje não estou com paciência para ficar mal disposta por pensar em gente que entende e defende que os direitos humanos se referem só aos homens... gente que está sempre a falar do respeito devido às religiões mas todos os dias ofende metade da humanidade.

 

Dalaï-lama. On a d’abord cru à une bonne nouvelle. Mais en fait non. Dans une interview avec la BBC repérée par les Inrocks, le dalaï-lama a fait savoir qu’il était ouvert à l’idée que son successeur soit une femme. Parce que les femmes sont les égales des hommes ? Non, parce que «biologiquement, elles ont plus de possibilités de montrer de l’affection et de la compassion». Déjà, là, on tique. Le leader bouddhiste ajoute : «Les femmes devraient avoir plus d’importance dans le monde… Mais si c’est une femme, elle devrait avoir un visage très très séduisant». Le journaliste de la BBC rit nerveusement et pense avoir mal compris : «Si le dalaï-lama est une femme, elle devra vraiment être belle ?». «Elle devra être séduisante, sinon elle sera inutile», insiste le dalaï-lama. Le journaliste tente un «vous devez plaisanter, je suppose». «Non c’est vrai.» Ouch.

 

 

publicado às 20:24


“Error 404 — Democracy Not Found”

por beatriz j a, em 27.09.15

 

 

 

A coragem e o heroísmo têm a ver, penso, com a consciência capaz de se projectar na colectividade. Dois acontecimentos a presidência de Obama vai deixar como grandes manchas no seu trabalho: Guantanamo, que disse ir fechar e continua no mesmo sítio e o exílio forçado de Snowden para proteger ilegalidades depois de ter prometido que a sua presidência seria a da Lei contra o abuso. Ambos são casos de abusos de poder, autoritarismo disfarçado de preocupação e desrespeito pelos direitos humanos dos outros: o direito à liberdade, à privacidade e à justiça. Heróis são estas pessoas que estando plenamente conscientes das consequências negativas que as suas acções terão para si e para os seus, não recuam mas, pelo contrário, avançam, em nome de nós todos.

 

 

 

 

publicado às 16:14


Os factos

por beatriz j a, em 25.06.15

 

 

Violência contra mulheres e crianças mancha Direitos Humanos em Portugal

 

O relatório de 2014 do Departamento de Estado norte-americano, sobre Direitos Humanos, refere ainda, no que toca a más práticas de Portugal, a detenção de pessoas que procuram asilo, a discriminação e a exclusão social de ciganos, a diferença salarial entre homens e mulheres e a prática da mutilação genital feminina entre a comunidade da Guiné-Bissau residente no país.

 

 

publicado às 22:30

 

 

 

Bispos querem nova lei do aborto Prelados entendem que a atual lei é um atentado aos direitos humanos.

Sweden’s feminist foreign minister has dared to tell the truth about Saudi Arabia. What happens now concerns us all

 

O que têm estes dois títulos para que os relacionemos? Bem, comecemos pelo segundo: há umas semanas a ministra dos negócios estrangeiros sueca denunciou a opressão das mulheres sauditas às mãos de uma monarquia teocrática masculina que impede as mulheres de terem autonomia sobre si próprias e as suas vidas - não podem estas ter propriedade privada a começar pelo seu próprio corpo, são obrigadas a casamentos desde a infância com pedófilos, não podem viajar, etc. Condenou também o modo como Raif Badawi está a ser tratado e denunciou estes métodos como medievais.

A Arábia Saudita não gostou: retirou o seu embaixador da Suécia e deixou de emitir visas para suecos. Os Emiratos Árabes Unidos juntaram-se ao protesto bem como a Organização Islamita e acusaram a Suécia de faltar ao respeito "à riqueza e variedade de standards do mundo". Condenaram a ministra por ter "interferido em assuntos internos do Reino da Arábia Saudita."

A ministra, por sua vez, disse que não é ético a Suécia manter a cooperação militar com a Arábia Saudita face ao desrespeito que mostram pelos direitos humanos, nomeadamente no que respeita à lei sharia e cortou toda a cooperação.

Ninguém veio em auxílio da Suécia (uma pequena nação ameaçada por mais de 50 estados islâmicos por causa desta posição) e este caso está a ser silenciado na imprensa. Os EUA há pouco também lá foram prestar vassalagem ao petróleo.

Os próprios empresários -homens- suecos já fizeram abaixo-assinados a dizer que a Suécia não pode prescindir dos negócios das armas com os árabes.

Posto isto cabe perguntar, porque é que as nações ocidentais criticam os jihadistas e esperam auxilio da Arábia Saudita, Irão, etc., para lutar contra eles, se estes países, eles próprios são os primeiros a defender que negar direitos humanos às mulheres é uma riqueza cultural? E, porque é que as nações ocidentais não se calam, se na prática, na hora da verdade, são cúmplices com todas as barbaridades que se cometem contra as mulheres, pois calam a boca  e aceitam tudo, para não inviabilizar negócios? 

 

Os bispos portugueses vêem mais uma vez dizer o que é que eles pensam sobre os benefícios da instrumentalização das mulheres na sociedade. 

A Igreja Católica (como quase todas) faz do desrespeito pelas mulheres o estandarte da sua pregação: desde logo porque proclamam que as mulheres são inferiores aos homens de tal modo que não podem ocupar nenhum cargo eclesiástico de autoridade (onde há um homem ele tem que ser a cabeça - as mulheres não a têm) e que devem obedecer aos que os homens ordenam. E o que ordenam as igrejas? Ordenam que as mulheres devam ser usadas como incubadoras porque há 'um deserto de natalidade'.

E se as mulheres não quiserem ter filhos... o que propõem...? Bem, se seguirmos a lógica do argumento, os homens poderão forçar as mulheres para acabar 'com o deserto de natalidade' ou fazer chantagem, como proibi-las de estudar ou trabalhar enquanto não tiverem filhos... ou proibi-las de sair de casa como advogava aquele padre do Norte no ano passado quando veio dizer que o lugar das mulheres é o lar... é que se partem da posição que não lhes cabe a elas mas a eles, homens, decidir, mesmo que à força (a lei é força), do destino delas, chegar aos extremos dos afegãos, que legalizaram a violação, são uns poucos de passos... esses próprios afegãos, também começaram há duas dezenas de anos apenas por querer que as mulheres tapassem a cabeça... e veja-se onde chegaram.

 

As crianças crescem a testemunhar o desrespeito da igreja pelos direitos das mulheres, como coisa positiva, crescem a testemunhar a apropriação das mulheres como objectos dos interesses masculinos, como coisa desejável e positiva, pois os homens que o Estado ouve como campeões da ética o defendem activamente. As igrejas educam para a opressão e para o sexismo. E isto não é uma opinião subjectiva: são os factos objectivos à vista de todos.

 

Porque não vão eles, padres, ter filhos, já que querem tanto crianças? Ah, porque fizeram uma opção de vida que inclui não ter filhos? Quer dizer eles podem fazer opções de vida livremente sem que sejam obrigados a dispôr dos seus corpos para acabar com 'o deserto da natalidade'? Ah, portanto um homem pode ter essa opção de ser livre no seu projecto de vida, mas uma mulher não? As mulheres não podem ser livres? É a igreja na pessoa dos homens padres que lhe dita o seu projecto de vida?

 

A minha pergunta é: porque é que, sendo o Ocidente tão crítico com o tratamento desrespeitoso que a religião muçulmana faz às mulheres, continua a compactuar com esse desrespeito dando importância, voz e proeminência a instituições, as igreja cristãs, católica (e outras) que têm como um dos principais estandartes o desrespeito dos direitos das mulheres e a negação da liberdade inerente à sua humanidade. Ao negarem a liberdade às mulheres estão a dizer que elas são menos que seres humanos.

 

Eu pago impostos e não quero ser obrigada a pagar tempo de antena e de voz a pessoas que são uma ofensa em termos de ética humana no que respeita às mulheres. Ofende-me e envergonha-me ver a deferência com que os poderes públicos em situações públicas, falam, também em meu nome e, lhes dão poder, a essas pessoas que defendem um mundo em que as mulheres não têm liberdade, um mundo de opressão de uns pelos outros, para decidir sobre os meus assuntos enquanto cidadã e pessoa livre, que não desisto de ser. E quando são mulheres a fazê-lo ainda me envergonha mais.

Vivemos num mundo em comum, mulheres e homens. Como é que há homens que podem querer um mundo de opressão de uns por outros?

 

Em meu entender, enquanto não se disser claramente a todos os homens de todas as igrejas que não se aceita como parceiros de decisão de coisa alguma indivíduos que não têm nem mostram nenhum respeito pelos direitos humanos das mulheres (tal como fez, muito bem, a ministra sueca), está a ser-se cúmplice e apoiante, implicíta ou explicitamente com todas as barbaridades que acontecem às mulheres, por esse mundo fora, às ordens de religiões. Umas podem ser mais chocantes que outras mas [quase] todas partilham o mesmo princípio: liberdade é um atributo do homem que deve ser negado às mulheres. Ora, ou isto é inaceitável ou vamos rasgar a Carta dos Direitos Humanos e regressar ao tempo medieval teocrático como fizeram os Estados Islâmicos.

 

 

publicado às 04:02

 

 

 

... e porque não fazemos o que é necessário para alterá-la? 

 

Jornalista angolano Rafael Marques sem esperança sobre qualquer apoio de Portugal

 

"Todos sabemos qual é o papel do Governo português sobre Angola. É de total harmonia com os interesses corruptos e autoritários deste regime", disse à Lusa Rafael Marques.

O jornalista angolano Rafael Marques não espera qualquer ajuda do Governo português, referindo-se ao apelo e à petição que a Amnistia Internacional lançou sobre o seu julgamento, que começa na terça-feira em Luanda.

 

 

publicado às 18:49

 

 

 

 Pope Francis told parents it is OK to spank their children to discipline them – as long as their dignity is maintained.

 

The Catholic church’s position on corporal punishment came under sharp criticism last year during a grilling by members of a UN human rights committee monitoring implementation of the UN treaty on the rights of the child.

 

É triste que nem os máximos representantes de religiões que pregam o amor se dêem ao trabalho de esconder que não ligam um chavo aos direitos do ser humano em geral e das crianças em particular. Segundo o Papa, um bom pai deve disciplinar e para fazê-lo pode bater nos filhos desde que não seja na cara para não humilhar. Não sei se também defende que um bom marido deve disciplinar a mulher... que atraso de vida...

 

 

publicado às 05:31


"Entrega-me ao vento para me levar."

por beatriz j a, em 29.10.14

 

 

A carta de despedida da iraniana que foi enforcada

 

 

 

Reyhaneh Jabbari, detida desde 2007, quando tinha 19 anos, foi enforcada no sábado, acusada de ter matado o homem que a tentara violar. A sua confissão fora obtida sob ameaças e tortura e as organizações de direitos humanos mobilizaram-se, sem êxito, para que tivesse um julgamento justo. A carta que o Observador revela hoje (traduzida da sua versão em inglês) foi escrita em abril e entregue a militantes pacifistas, mas só agora foi revelada.

Nela dirige-se à sua mãe, Sholeh Pakravan, que tinha pedido aos juízes para ser enforcada em vez da sua filha. Na última semana antes do enforcamento, Sholeh só pode ver a filha durante uma hora, acabando por saber da execução com apenas algumas horas de antecedência e através de uma nota escrita.

 

Aqui fica a transcrição dessa carta que vale a pena ler:

 

“Querida Sholeh, recebi hoje a informação de que chegou a minha vez de enfrentar a qisas [a lei de retribuição do sistema legal iraniano]. Estou magoada por não me teres deixado saber através de ti que cheguei à última página do livro da minha vida. Não achas que tenho o direito a saber? Sabes o quanto me envergonha saber que estás triste. Porque não me deixaste beijar a tua mão e a do pai?

O mundo permitiu-me viver durante 19 anos. Aquela noite assustadora foi a noite em que eu deveria ter sido morta. O meu corpo seria atirado para um qualquer canto da cidade, e dias depois, a polícia chamar-te-ia ao departamento de medicina legal para me identificar e também saberias que fui violada. O assassino nunca seria encontrado pois nós não temos a riqueza e o poder deles. Tu irias continuar a tua vida em sofrimento e envergonhada, e poucos anos depois morrerias desse sofrimento e nada mais haveria a dizer.

No entanto, esse golpe amaldiçoado alterou o rumo da história. O meu corpo não foi atirado para um lado qualquer, mas sim para a sepultura que é a Evin Prison e as suas alas solitárias, e agora para a prisão-sepultura de Shahr-e Ray. Mas entrega-te ao destino e não te queixes. Sabes melhor do que ninguém que a morte não é o fim da vida.

Ensinaste-me que cada um de nós vem a este mundo para ganhar experiência e aprender uma lição e que cada pessoa que nasce tem uma responsabilidade depositada nos seus ombros. Aprendi que, por vezes, temos de lutar.

Lembro-me muito bem quando me disseste que o homem da carruagem protestou contra o homem que me estava a chicotear mas este acertou-lhe com o chicote no rosto e ele morreu. Disseste-me que, de modo a criar valores, temos de perseverar, mesmo que isso signifique morrer.

Ensinaste-nos que, na escola, devemos enfrentar as quezílias e os confrontos como senhoras. Recordas-te da insistência dos teus reparos sobre o nosso comportamento? A tua experiência estava incorreta. Quando este acidente ocorreu, os teus ensinamentos não me ajudaram. Quando me apresentei em tribunal aparentei ser uma assassina a sangue-frio e uma criminosa implacável. Não verti lágrimas. Não implorei. Não me desmanchei a chorar pois confiava na lei.

No entanto, fui acusada de indiferença perante um crime. Eu nem mosquitos matei e as baratas que tirei do caminho, levei-as pelas suas antenas. E agora tornei-me em alguém que assassina premeditadamente. O modo como trato os animais foi interpretado como sendo masculino e o juiz nem se deu ao trabalho de ver que, na altura do acidente, as minhas unhas eram grandes e estavam pintadas.

Quão otimista é o que espera justiça dos juízes! Ele nunca questionou o facto de as minhas mãos não serem grossas como as de uma desportista, em particular de uma boxeur.

E este país, pelo qual cultivaste um amor em mim, nunca me quis e ninguém me apoiou quando, perante as investidas do interrogador, eu gritava e ouvia as palavras mais obscenos. Quando o meu último indício de beleza desapareceu, ao cortar o meu cabelo, fui recompensada: 11 dias na solitária.

Querida Sholeh, não chores pelo que estás a ouvir. No primeiro dia na esquadra, um agente velho e não casado, magoou-me por causa das minhas unhas e eu percebi que a beleza não é desejável nesta era. A beleza das aparências, dos pensamentos e dos desejos, uma caligrafia bela, a beleza do olhar e da visão e até a beleza de uma voz agradável.

Minha querida mãe, a minha ideologia mudou e tu não és responsável por isso. As minhas palavras não têm fim e dei tudo a alguém para que, quando for executada sem a tua presença e conhecimento, te seja dado a ti. Deixo-te muito material manuscrito como herança.

No entanto, antes da minha morte quero algo de ti, algo que tens de me dar com todo o teu poder, custe o que custar. Na verdade, isto é a única coisa que eu quero deste mundo, deste país e de ti. Sei que precisas de tempo para isto.

Posto isto, vou-te revelar parte do meu testamento mais cedo. Por favor, não chores e presta atenção. Quero que vás ao tribunal e lhes faças o meu pedido. Não posso escrever tal carta, a partir da prisão, que fosse aprovada pelo diretor; mais uma vez terás de sofrer por mim. É a única coisa que, se chegares a implorar por ela, eu não ficarei chateada, embora te tenha dito várias vezes para não implorares por nada, exceto para me salvares de ser executada.

Minha mãe bondosa, querida Sholeh, mais querida para mim que a minha própria vida, eu não quero apodrecer debaixo do solo. Não quero que os meus olhos e o meu jovem coração se transformem em pó. Implora para que, assim que eu seja enforcada, o meu coração, rins, olhos, ossos e tudo o que possa ser transplantado, possa ser retirado do meu corpo e dado a alguém em necessidade, como uma doação.

Não quero que o destinatário saiba quem sou, que me envie um ramo de flores ou até que reze por mim.

Do fundo do meu coração te digo que não desejo ter uma sepultura onde tu venhas chorar e sofrer. Não quero que vistas roupas pretas por mim. Faz o teu melhor para esquecer os meus dias difíceis. Entrega-me ao vento para me levar.

O mundo não nos amou. Não quis o meu destino. E agora entrego-me a ele e abraço a morte pois no tribunal de Deus eu vou acusar os inspetores, vou acusar o inspetor Shamlou, vou acusar o juiz e os juízes do Supremo Tribunal que me espancaram quando eu estava acordada e que não se abstiveram de me intimidar.

No tribunal do criador eu vou acusar o Dr. Favandi, vou acusar Qassem Shabani e todos aqueles que, por ignorância ou pelas suas mentiras, fizeram-me mal, passaram por cima dos meus direitos e que não tiveram em conta o facto de que, por vezes, o que aparenta ser realidade não é.

Querida Sholeh de coração mole, no outro mundo tu e eu seremos quem acusa e os outros, os acusados. Veremos qual é a vontade de Deus. Quero abraçar-te até que a morte chegue. Amo-te.”

 

 Tradução da carta por Francisco Ferreira

publicado às 19:07


Boas notícias

por beatriz j a, em 01.07.14

 

 

 

 

La CEDH valide l'interdiction du voile intégral en France

 

La Cour européenne des droits de l'homme, saisie par une jeune Française adepte de la burqa et du niqab, juge "légitime" la loi votée fin 2010 qui interdit le port du voile intégral en France.

 

Nenhum argumento de respeito cultural ou relativismo cultural pode legitimar o abuso, a discriminação, a violência e a humilhação de uns às mãos de outros. E, nem mesmo no caso de serem as próprias a pedirem, pois por essa lógica teríamos que permitir as auto-mutilações e outras práticas próprias de pessoas que vêm de ambientes violentos e, por não terem outras referências, assumem a violência como normal e, até, positiva.

A cultura islâmica que vigora neste momento na maior parte do mundo defende a ignorância, o obscurantismo, a aniquilação e a violência de todos os que se lhe opõem e, em primeiro lugar, defende isso tudo contra as mulheres a quem têm um ódio de morte. Não temos que lhes dar mais força do que a que já têm, muito antes pelo contrário.

 

Às vezes, em conversa com conhecidas que são católicas e defendem este papa, digo o que penso: que é igual aos outros no que respeita aos direitos humanos e aos direitos das mulheres, que a igreja continua a defender a inferiorização das mulheres, o 'lugar' da mulher em casa, fora do espaço público, sem voz, dentro e fora da igreja, a sua submissão aos homens e a entrega do seu corpo e da sua sexualidade ao poder discricionário dos homens - dizem-me que não, 'isso era dantes, agora a igreja já aceita as mulheres'. 'Aceita??! Mas temos que pedir autorização para existir como seres humanos? E então eu não continuo a ir a casamentos e a ouvir as pessoas lerem aquela escritura de S. Paulo  a dizer às mulheres que desde que se casam têm que aceitar a submissão aos maridos que passam a ser a sua cabeça?' - 'Não, dizem-me, isso são só palavras'.

Não sei... é como se estivessem com uma venda colada aos olhos ou sofressem do síndrome de Estocolmo...

 

 

 

publicado às 13:02


Muito preocupante

por beatriz j a, em 16.04.14

 

 

 

Não é que não soubéssemos isto mas o relatório torna-o oficial, por assim dizer. Esta já não é a Europa idealizada no fim da Segunda Grande Guerra. Esta é a Europa do lucro a qualquer preço, muito parecida à imediatamente anterior à Primeira Grande Guerra mas, um bocadinho mais cínica.

 

 

 

Europa: Direitos humanos atravessam 'crise sem precedentes

 

 

Os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito atravessam hoje, na Europa, uma "crise sem precedentes desde o fim da Guerra Fria", conclui-se num relatório divulgado hoje pelo Conselho da Europa.

 

No documento, o secretário-geral da organização pan-europeia de defesa dos direitos humanos, Thorbjorn Jagland, alerta para um "aumento dos casos graves de violação dos direitos humanos (corrupção, impunidade, racismo, discursos de ódio e discriminação) em todo o continente ".

 

"Os direitos da pessoa humana estão igualmente ameaçados pelas repercussões da crise económica e por desigualdades crescentes", avisa Jagland, que apela aos 47 Estados-membros do Conselho da Europa a "agir o mais depressa possível para conter esta erosão dos direitos fundamentais ".

 

Jagland refere, por exemplo, a situação na Ucrânia, onde a ausência de um poder judiciário independente nos últimos anos criou "um terreno propício à corrupção e aos abusos de poder", o que levou à revolução.

Entre os problemas mais recorrentes, o relatório cita as discriminações contra as minorias étnicas em 39 dos 47 Estados-membros do Conselho da Europa, as condições de detenção, nomeadamente a sobrelotação prisional, em 30 Estados e a corrupção em 26 Estados.

 

Cerca de 20 países registam ainda falhas nos direitos reconhecidos aos demandantes de asilo e aos migrantes, enquanto oito Estados não respeitam a liberdade de expressão e dos media, acrescenta o mesmo documento.

Os Estados faltosos referidos não são identificados no relatório, tendo o Conselho da Europa transmitido confidencialmente a cada um deles os problemas identificados, a fim de melhorar a situação de forma construtiva, disse à AFP o porta-voz de Jagland, Daniel Höltgen.

 

 

publicado às 18:41

 

 

Ninguém sabe se isto é verdade ou se foi uma invenção dos chineses, ou dos próprios norte-coreanos mas, a questão é que há possibilidade de ser verdade, quer dizer, não nos parece de todo improvável que o tivesse feito. De modo que, o que era preciso era que se reflectisse no que deve fazer-se relativamente a um regime do qual se sabe que viola sistemática e indiferentemente os mais básicos direitos humanos como até se acredita que seja capaz deste tipo de barbaridades.

 

 

Jang Song-thaek, tio do ditador norte-coreano Kim Jong-un, terá sido despido, lançado para dentro de uma jaula e comido vivo por uma matilha de 120 cães famintos, relata um jornal chinês com ligações ao Partido Comunista da China, avançou esta sexta-feira a NBC News.

 

O jornal "Wen Wei Po", de Hong Kong, informou que Jang e os seus cinco assessores mais próximos foram atacados por 120 cães de caça, que foram deixados sem comer durante cinco dias.

 

A execução demorou cerca de uma hora, sob o olhar atento de Kim Jong-un e o seu irmão Kim Jong Chol, com a companhia de 300 funcionários. A mesma publicação acrescenta ainda que as vítimas foram "completamente devoradas".

 

 

publicado às 18:34


Decepção...

por beatriz j a, em 21.02.09

 

 

 

 

   www.nytimes.com/2009/02/22/washington/22bagram.html 

 

Li, nesse artigo do New York Times acima linkado, que Obama mantém um dos argumentos chave da administração Bush segundo o qual se nega aos prisioneiros do Afeganistão o direito de contestar a sua prisão. Por outras palavras, não terão direito a advogado, não terão direito a justiça. Ou ainda, estarão excluídos do grupo dos indivíduos a quem se reconhece  direitos humanos e, por consequência, humanidade.

Mais uma decepção...

 

 

 

 

publicado às 20:57


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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