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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
A questão das reprovações, em relação à qual se desenvolveram duas posições opostas, fundamenta-se numa das dicotomias da Psicologia relativamente ao desenvolvimento e aprendizagem: o desenvolvimento é decidido na influência do meio ou o desenvolvimento é uma actualização dum potencial genético de capacidades que se têm, ou não têm?
Os que defendem que o desenvolvimento depende inteiramente do meio defendem que as reprovações se devem exclusivamente a uma má/pobre influência do meio, seja o familiar, social ou escolar. Defendem que todos são capazes de alcançar as mesmas metas desde que o meio seja favorável. Nessa lógica não faz sentido reprovar uma vez que a falha não é do aluno mas do meio que não soube desenvolvê-lo correctamente.
No outro extremo estão os que entendem que não nascemos com as mesmas capacidades de modo que o meio só pode ter influência onde, geneticamente já lá há qualquer coisa. É certo que o meio desenvolve essas capacidades mas até um certo ponto, que é o das capacidades inatas. Deste modo, as reprovações seleccionam os alunos consoante as capacidades. Os que têm mais capacidades passam, os outros não passam e devem escolher outras vias.
Em primeiro lugar, o que me faz confusão é ver que os ministros da educação têm por hábito escolher um dos lados desta dicotomia como se tivessem uma resposta para o problema que nós outros desconhecemos e põem-se a fazer leis e despachos baseados numa hipótese teórica altalmente polémica.
Em segundo lugar, convém dizer que existe um meio termo, que defende a interacção dos dois factores, inato-adquirido, que não é nenhuma novidade e já foi defendido, mas nunca aplicado. Lembro do Roberto Carneiro a ter defendido, embora tivesse feito o oposto do que tinha defendido assim que chegou ao ministério. Podemos acabar praticamente com as reprovações mantendo um sistema de aferição que distinga os alunos relativamente às metas alcançadas, ou não alcançadas.
O Ramiro tem hoje um post sobre essa alternativa: os alunos têm metas para alcançar e são avaliados, internamente, por obrigação, e externamente por opção. Todos os alunos com dificuldades têm um acompanhamento tutorial (que não tem nada a ver com as pseudo-tutorias que se fazem nas escolas). Só o aluno que não comparece às aulas é que reprova; os outros terão, consoante os casos, um certificado de frequência (se passaram sempre sem conseguir aproveitamento positivo na avaliação interna), certificado de aproveitamento interno ou aproveitamento externo, consoante o caso de terem sido sujeitos, ou não, a avaliação externa.
Este sistema não resolve todos os problemas, uma vez que cria o problema de termos turmas com alunos muito bons misturados com outros que estão vários níveis abaixo em termos de desenvolvimento. Com turmas grandes o trabalho torna-se impossível: ou sacificamos os melhores para acudir aos que estão muito atrasados ou sacrificamos esses para não prejudicar os melhores. Para além disso, um aluno que esteja muito atrasado em termos de conhecimentos não consegue acompanhar o que se está a fazer e perde completamente a motivação e a auto-imagem degrada-se muito porque compara-se com os outros. A vantagem das reprovações está em que muitas vezes o problema dum aluno é a maturidade psicológica e cognitiva, quer dizer está num nível de ensino que requer uma maturidade que ainda não tem. Quando reprova, acontece por vezes acertar-se com o nível de ensino e mudar radicalmente.
O que quero dizer é que a questão da educação e das reprovações é complexa, tem a ver com os padrões do desenvolvimento humano e não há uma resposta universal nem há, tampouco, um padrão de desenvolvimento único que todos cumprimos do mesmo modo. Agora, o que fica claro é que a educação, para resultar, é cara. Requere investimento e boas condições de trabalho. Ora, este e outros governos antes deste tiveram como meta desinvestir na educação de modo que tudo o que fazem é no sentido de piorar as coisas.
Agora esta ministra fofinha que gere a pasta lembrou-se que era giro não chumbar ninguém e até vem dizer que num país qualquer é assim que se faz...como se isso fosse argumento para alguma coisa, quer dizer, os ingleses comem peixe frito e bacon ao pequeno almoço...deveremos também passar a comer peixe frito e bacon ao pequeno almoço?
O problema da educação neste país começa com os ministros, os secretários de estado e os primeiro ministros...
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