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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Desmarcaram-me um exame horrível à cabeça que deve ter sido inventado por um esquizofrénico em pleno ataque psicótico que quis partilhar a experiência (sem ofensa para os esquizofrénicos...) do horror e da ansiedade que o acompanha. Essa notícia de não ter que fazer esse filme de horror pôs-me logo bem disposta de modo que tive num pagode com a minha irmã durante o tratamento :))
Depois fomos comemorar a boa disposição a um restaurante giríssimo com uma vista espectacular sobre Lisboa e como tenho a minha glicémia no óptimo, acabei com uma bruta sobremesa de lamber os beiços 😀
No hospital, como já lá ando em tratamentos há muito tempo de seguida, já todos os enfermeiros, técnicos e funcionários dos balcões do hospital de dia me conhecem pelo nome. Já trocamos impressões sobre as férias e etc. Hoje o enfermeiro R. ouviu-nos falar e assim que soube da notícia de não ter que fazer aquela ressonância nojenta perguntou-nos logo onde íamos comemorar e assim que lhe disse que andamos a experimentar restaurantes a cada 15 dias a seguir aos tratamentos, quis logo saber onde íamos, onde já tínhamos ido, quais os de melhor ambiente e onde se come bem... ficámos de fazer uma lista com avaliação para lhe dar daqui a 15 dias.
Com esta excitação agora não tenho sono... mas também não me importo... até me passou a neura de amanhã ter que ir para outro hospital... estou mesmo na boa, foi um dia bom :))
Já ontem tinha sido. Os miúdos do 10º ano passam o primeiro mês a testar os professores para ver até onde podem ir. Procuram fraquezas e inconsistências e cheiram a insegurança à distância. Provocam-nos para ver a nossa reacção. Depois há uma altura em que mudam de perspectiva e deixam-se cativar e a partir daí é tudo jóia, como dizem os brasileiros.
Ontem aconteceu isso com uma das turmas do 10º, no que tenho a agradecer a uma aluna porque foi a situação dela e a questão que fez que possibilitou a mudança de dinâmica da turma. O resto da aula foi fantástico.
Hoje aconteceu com outra turma que tem um grupo de alunos que estavam numa de mostrar que são muito cool e não precisam de professores para nada. Um deles, o líder, tem andado a provocar-me para ver se eu desisto dele e o mando sair da sala porque deve estar habituado a usar isso ao peito como uma medalha. Se me conhecesse um bocadinho que fosse mudava de estratégia; não mando sair ninguém da sala de aula porque eles estão ali para trabalhar e ademais não desisto de alunos muito menos por causa de provocações de adolescentes... nesta relação de professor-aluno o adulto somos nós de modo que não podemos reagir da mesma maneira que eles às provocações (a adolescência é um Universo muito diferente do nosso, com grande instabilidade emocional, inseguranças, dramas e sonhos recambolescos do qual só temos vislumbres) sendo que os que mais provocam são, geralmente, os que estão mais bloqueados e mais precisam de ajuda.
Uma pessoa tem que pensar que estes miúdos um dia vão ser adultos e não quero que algum venha ter comigo e me diga, 'olhe lá, então quando eu tinha 15 anos e não sabia nada da vida, em vez de puxar por mim nas aulas e me obrigar a estudar e a progredir deixou-me fazer disparates e desistiu de mim?' Eu quero poder responder que fiz tudo o que era capaz e sabia.
Pois, hoje foi o dia em que o grupinho que ele liderava entrou completamente na dinâmica da aula e o levou a fazer o mesmo.
É claro que, a partir do momento em que os cativamos a nossa responsabilidade cresce ainda mais porque eles depois confiam imenso em nós e levam muito a sério o que lhes dizemos; é que os adolescentes não relativizam bem as coisas, é tudo preto ou branco.
Quando as turmas estão cativadas e se fecha a porta da sala de aula entramos num Universo só nosso e o resto do mundo só está ali dentro como objecto de estudo. É difícil de explicar a dinâmica extraordinária que se cria ali dentro quando estamos todos em sintonia e o trabalho é uma colaboração.
Enfim, esta semana foi um ponto de viragem nestas duas turmas e daqui para a frente o trabalho vai ser jóia 🙂.
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