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Has a book ever changed your life?

por beatriz j a, em 23.04.19

 

 

publicado às 00:01


No dia do livro

por beatriz j a, em 23.04.16

 

 

... uma imagem da mais antiga Universidade portuguesa -a de Coimbra- e uma das mais antigas do mundo, com mais de 700 anos de funcionamento. Um sítio de letras, de livros e de leituras.

 

 fotografia da Anabela Simão

 

 

publicado às 09:34


No dia do livro

por beatriz j a, em 23.04.15

 

 

 

No dia do livro costuma-se fazer um elogio a um qualquer livro positivamente marcante mas eu, sendo uma leitora, quer dizer, alguém que lê todos os dias, como quem respira, acho que posso outorgar-me o direito de falar de um livro marcante, sim, mas não positivamente. 

Comprei o livro porque gosto do autor, costumo gostar dos livros dele e, também, porque o tema me interessa. Como o livro está escrito à maneira de um dicionário temático, estando cada tema sub-dividido em tópicos, dá para abrir numa página de um tema ao calhas e ler um tópico, de modo que tenho o livro naquela pilha ao lado da banheira e tenho andado a ler tópicos enquanto descanso de molho ao fim do dia. E tenho gostado bastante. Só que ontem deu-me para ler a introdução e fiquei chocada.

Por esta altura já convém dizer qual é o livro. É este: Idade Média Vol 1 , Bárbaros, Cristão e Muçulmanos de Umberto Eco. A obra vai ter quatro volumes, dos quais já se publicaram dois.

 

 

Estou chocada com esta introdução. É um branqueamento de tudo o que foi negativo na Idade Média. Começa-se por dizer que ela não é o que se pensa, que há muitos estereótipos relativamente a essa época, que é uma época como outra qualquer, como o Renascimento, ou a Idade Clássica, por exemplo(!), pois durou mil anos e é evidente que em mil anos passa-se muita coisa... enfim, fazendo crer que o espírito vivo e criativo das épocas se conta em dias e anos... depois disto põe-se a procurar agulhas em palheiros para provar que isso de se dizer que o palheiro está cheio de palha é um exagero porque até se encontram lá uma série de agulhas. Chega ao ponto de dizer que a Idade Média inventou a ideia de liberdade e participação dos cidadãos na vida da cidade! What??

Que a Idade Média não era misógena como dizem, até houve duas ou três mulheres que puderam estudar. E a influência da Igreja não era tão má como dizem, pois até havia padres que criticavam e protestavam. É mais ou menos como dizer que as sociedades muçulmanas teocráticas actuais até não tratam mal as mulheres pois até há uma que é piloto de aviões e outra que é professora e mais uma que até chegou a ministra e até há pessoas que criticam os apedrejamentos de modo que afinal até são iluminados! Ah! E as raízes da Europa são cristãs. Okay, okay, os gregos e os judeus existiram mas... são coisas menores, a Europa é a obra positiva dos cristãos...

É chocante. Uma tentativa de branquear toda a História. Uma coisa é denunciar estereótipos e sabemos que quando olhamos os fenómenos à lupa descobrimos muitos pormenores divergentes que contrariam as visões uniformistas, outra é dizer que esses pormenores divergentes são os pormaiores que fazem a norma...

É chocante e acho que este branqueamento da Idade Média é uma tendência actual da investigação Histórica. Já ouvi isto noutro contexto. Há meia dúzia de anos fui à Gulbenkian assistir a um colóquio cujo título era, Is Science Nearing its Limits?, em que participaram físicos, matemáticos, astrofísicos, biólogos, neurologistas, ensaístas filosóficos, todos pessoas de grande reputação mundial e, ainda o indivíduo que escreveu o livro, O Fim da Ciência.

Uma das participantes era uma socióloga, Helga Nowotny, à época presidente do European Research Council, um organismo que depende directamente do Presidente do Conselho Europeu, que recebe verbas de milhões da UE e que atribui bolsas a projectos de candidatos dos países da União com intenção, segundo percebi, de rivalizar com a investigação científica americana e não deixar que os cérebros europeus desertem para o Novo Mundo.

Essa socióloga, a páginas tantas, numa discussão, defendia que as "Novas Correntes da História" já não aceitavam o protagonismo de algumas figuras, que isso era coisa do passado e, deu como exemplo Galileu, dizendo que ao contrário das vozes correntes, ele nem fez nada de extraordinário pois as suas descobertas foram feitas na e, pela, Idade Média, sendo que, atribuir-lhe um papel de relevo na origem da Ciência Moderna, é um exagero completamente despropositado... fiquei estupefacta porque me pareceu um branqueamento do que foi a Idade Média como força de bloqueio à inovação, à diferença, à inteligência não-dogmática, etc.

[Só por curiosidade, acrescento que a mulher também afirmou que num futuro próximo a Filosofia e outras ciências humans serão inúteis e desaparecerão pois a Ciência é a única resposta credível e suficiente para todas as questões e que questões que não possam ser respondidas positivamente pela ciência são inúteis... ficavam a Arte e a Sociologia... uma fulana mesmo dogmática e pobre de espírito, achei eu, na minha infinita ignorância, sendo que falou depois de uma discussão interessantíssima entre dois físicos.]

Pois a introdução deste livro de Umberto Eco (não é só dele, é de vários autores) vai no sentido de fazer à Idade Média o que a Idade Média fez aos filósofos gregos, que foi cristianizá-los, baptizá-los, por assim dizer, torná-los legíveis para cristãos, depurá-los do seu paganismo. Não é por acaso que Nietzsche afirmava que a teologia cristã é platonismo para o povo. Este livro tenta revestir de espírito objectivo, livre e liberal, científico, filosófico e inovador a Idade chamada, das Travas.

Estou chocada porque me parece uma cedência da investigação histórica à ideologia.

 

 

publicado às 19:13

 

 

 

 

 

 imagem da net

 

publicado às 04:23


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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