Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Tem sido um tema recorrente nos discursos do Presidente da República: o apelo à acção contra os perigos para a democracia. Num texto para a TSF, Marcelo insiste na mensagem.
É que nós podemos pouco mais podemos fazer que falar e votar mas o Presidente está em posição de agir contra estas forças que fazem nascer os populismos e não o tem feito.
O modelo económico-financeiro do país e da Europa dos útimos vinte ou trinta anos não são de molde a que se possa ter visões e valores políticos de inversão da tendência de degradação do que é público em favor da construção de forças de interesses privados que colidem com o desenvolvimento positivo das democracias.
Falo de três factores: o sacrifício do investimento público com benefício do investimento cego na banca sem responsabilização; a desresponsabilização recorrente dos políticos que causam danos ao país e o fecho dos círculos políticos a qualquer aragem de forças de renovação.
Primeiro: tem havido um movimento consciente de proletarização faseada das três grandes áreas públicas das quais dependem as democracias: primeiro foi a educação, logo a seguir a saúde e agora começa-se a degradar a justiça, também.
Primeiro proletarizararam-se os professores, reduzidos a funcionários facilitadores de certificações, controlados pelo Estado na sua missão de poupar dinheiro para investir na banca e em empreendimentos financeiros e políticos duvidosos que beneficiam entidades particulares cativadores dos bens públicos. A proletarização dos professores (longas horas de trabalho mal pago, burocrático, com excesso de turmas e alunos e sem benefício para estes) e a proletarização dos currículos na sua pobreza de aprendizagens essenciais niveladas pelo mais pobre de espírito, leva à degradação do próprio ensino e, portanto, ajuda a formar cidadãos menos capazes, menos conscientes, mais indulgentes, mais medrosos, consumistas e impotentes.
Nesta destruição consciente da educação, dia sim dia não saem notícias a caluniar e degradar o estatuto dos professores, sacrificados na mesa da auto-indulgência dos políticos.
A seguir proletarizaram-se os enfermeiros e os médicos. Essa operação ainda está em curso. Dia sim dia não demonizam-se os enfermeiros como se fez com os professores, descritos como gente indigna que pouco faz e só pensa em dinheiro.
Os médicos a mesma coisa: transformados em tarefeiros que correm de um hospital para outro para ganhar um salário, obrigados a fazer trabalho de enfermeiros e ajudantes, trabalham dezenas de horas de enfiada, mal pagos (Médico: profissão de risco) e deprimidos; é evidente que os serviços se deterioram o que tem efeito na saúde dos doentes, postos em situações de impotência perante os poderes, por medo e falta de meios para se curarem. Logo, cidadãos mais manipuláveis. Os póprios médicos em situação precária individualizam-se e calam-se.
Os juízes estão agora a começar a ser atacados. Há falta de procuradores (Combate à violência doméstica vai regredir, avisam procuradores), há problemas com a discussão e aprovação do estatuto dos juízes e de cada vez que essas coisas vêm à discussão começam a aparecer nos jornais notícias a degradar a imagem dos juízes como há pouco onde se dizia que os juízes que não trabalham são os que ganham mais e etc. A destruição da imagem dos juízes leva ao controlo da justiça pelos políticos o que por sua vez leva à degradação da democracia pela falta de independência da justiça face aos interesses dos políticos.
As forças de investigação e segurança, como a PJ, têm menos pessoal que há dez anos para trabalhar... excesso de trabalho sem compensação. Qualquer dia temos que fazer como os brasileiros, se tivermos dinheiro, lá está, e contratar jagunços para protecção...
Estas forças: professores, médicos e juízes, pela natureza das suas profissões de contactarem directamente com o povo são, em geral, profissões onde tradicionalmente mais se luta por uma visão da sociedade mais justa, são profissões já de si viradas para a utilidade social e, talvez por isso, são as forças que geralmente mais exercem pressão -directa ou indirectamente- nos poderes públicos para o desenvolvimento dos direitos das pessoas e progresso social.
Proletarizados, enfraquecem. Enfraquecidos, fazem menos pressão, tornam-se mais individualistas e mercantis. Individualistas como, aliás, os querem as forças políticas completamente dominadas pelos grupos económico- financeiros que querem cidadãos em constante competição (destruidora do tecido social) por bens de consumo e prazer, cada vez mais enfraquecidos nos seus direitos e menos reivindicativos.
A degradação do espaço público leva ao ressentimento contra os políticos e forças financeiras e à desresponsabilização destes à medida que cresce o fosso entre poderosos e ricos e povo em geral. A desresponsabilização gera mais ressentimento, frustração e desistência - porque a diferença de forças entre o Estado e os amigos do Estado e os cidadãos particulares em geral, é demolidora.
Cada vez que um político quer destruir uma pessoa ou uma força manda os jornais fazer uma campanha até quebrá-las e cada vez que quer promover-se manda os jornais escreverem artigos masturbatórios.
Segundo: desresponsabilização recorrente dos políticos e dos gestores que causam danos ao país e clientelismo vergonhoso, desde receberem mesmo dinheiro à descarada até empregarem toda a família e amigos no Estado e viverem de fraudes nos salários e ajudas de custo e etc. E isto à custa de nos roubarem nos impostos, nos salários congelados, etc.
Não só não são responsabilizados como são enviados a destruir o pelouro a seguir como os padres pedófilos que eram enviados de paróquia em paróquia como é o caso de tantos gestores de bancos e empresas públicas que são premiados pela incúria, incompetência e até corrupção. Isto causa a total descrença na política e na banca. Se houvesse uma alternativa à banca no que respeita a guardar os nossos bens, nem um tostão ficava nos bancos.
Finalmente, os partidos fecharam a possibilidade de novas forças rejuvenescerem estes quistos que tomaram conta dos partidos e os transformaram numa espécie de 'famiglias' com os seus corruptos, os seus caceteiros e tudo.
É isto, senhor Presidente, que está na origem dos populismos. É as pessoas assistirem, impotentes, à degradação das forças democráticas para benefício de uns poucos e, a certa altura, cada vez mais proletarizados, enfraquecidos e impotentes para mudar o rumo da situação entrarem naqueles raciocínos de, 'perdidos por cem, perdidos por mil' ou, 'quanto pior melhor para ver se isto dá uma volta', etc.
O senhor, que está em posição de agir, tem compactuado com os Centenos que tudo sacrificam pelo poder e pelas falsas ideias dos mesmos interesses financeiros e políticos que laboram para a destruição do espaço público e das pessoas que dele vivem -todos nós- e que são coniventes com os cegos europeus que nos conduzem dia após dia ao desastre colectivo. Sim, porque veja, senhor Presidente, o que eu faço atinge a minha família, os amigos, os alunos, os colegas e os que me lêem, talvez, mas o que o senhor enquanto Presidente e outros políticos com cargos importantes fazem, atingem logo directamente milhões e indirectamente dezenas ou centenas de milhões.
De modo que, acorde o senhor, desperte e lute contra os populismos pois para o primeiro-ministro e ministro das finanças, populismo é lutar pelo bem estar das pessoas em detrimento dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros e para eles isto vai de vento em popa!
Há pouco tempo, um amigo, religiosamente PS, numa discussão deste assunto, disse-me, 'mas os pobres não se queixam deste governo, os únicos que se queixam são vocês (profs), os médicos, os enfermeiros e juízes que estão bem na vida...' pois, os pobres não se queixam porque já não têm nenhuma força para se queixarem, completamente dependentes que estão de pensões e salários miseráveis ao passo que estes que ele citava são ainda os que conseguem lutar por uma sociedade mais justa. Por enquanto. Enquanto não os destruírem completamente e com eles o que resta da 'res publica'.
Este Presidente não faz um gesto a favor de nenhum deste profissionais, só dos discursos dos governos contra eles. E faz questão de estar sempre ao lado dos banqueiros e gestores para benefício de quem o país está a ser destruído.
Acorde o senhor e aja ou, pelo menos, não compactue com a destruição dos pilares da res publica!
No Estado de BC, Canadá, o governo levou a leilão, 300 hectares da floresta de árvores gigantes e centenárias perto de Port Alberni na ilha de Vancouver, para abate por parte de madeireiros e nehum protesto de ambientalistas os demoveu.
... mas não é!
"Faz-se uma consulta pública à população que legitima a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). E pasme-se, o Governo de António Costa pedirá depois ao consórcio GALP/ENI que apresente o estudo de impacto ambiental. A incompetência [ou manigância, digo eu] e a incúria do senhor Ministro do Ambiente é total. Aparentemente da informação que agora sai na imprensa, via Jornal de Negócios, o Estado concede às petrolíferas que decidam do impacto ambiental da actividade de prospecção de petróleo na Costa Vicentina." (MALP)
Imagens impressionantes de Berlim em 1945, logo a seguir ao fim da guerra. Para quem, como eu, esteve em Berlim há pouco menos de um ano, ver a cidade neste estado... Chocante também é ler os comentários deste filme no youtube. As pessoas em geral são tão inseguras e pequenas que têm que passar o tempo a tentar humilhar e destruir as outras... hence, war...
(do blog Correntes)
Os radicais da privatização do sistema escolar perderam o norte (e não apenas por a Suécia ser a norte) após a publicação do último PISA e dos outros estudos internacionais do género; é que ainda por cima eram eles quem exigia essas evidências.
Mas o que vem a seguir ainda os deixará mais desorientados. Começam a conhecer-se os indicadores do nosso investimento no sistema escolar que incluem o período de 2011 a 2014.
Ora leia este pequeno documento elaborado pelo economista e ex-deputado Eugénio Rosa.
Toda a discussão na educação se centra agora em questões de saber quem mentiu mais: se o ministério da educação se a Fenprof.
Enquanto isso, a Parque Escolar vai engolindo os terrenos de todas as escolas por onde passa -já é dona também dos edifícios do ministério da 5 de Outubro e da 24 de Julho-, o primeiro ministro, o das finanças e a ministra da educação divertem-se a dar cabo de tudo o que podem na educação e a oposição assite na maior das cumplicidades com estem horror que se desenvolve diante de todos.
Que raio de esperanças pode haver...?
Tristeza não é depressão.
É um estado de espírito.
Advém da consciência da impotência contra a negatividade da vida.
Contra tudo o que impede de ser.
Contra tudo o que impede o crescer das coisas e das pessoas.
Contra tudo o que destrói a flor antes de florescer.
Contra o desperdício do tempo e do alento.
Contra tudo o que é cego.
Jornal i
Imagine que tem um blogue pessoal onde escreve e assina com um pseudónimo, e que o seu patrão e colegas de trabalho se reúnem numa tarde, sem o consultar, para falarem do assunto. No dia seguinte comunicam-lhe que tem de fechar o blogue e que, caso não o faça, irão até às últimas consequências. "Entendi o aviso como uma ameaça de despedimento", conta ao i Daniel Luís, ex-professor assistente da Universidade do Minho.
Em Dezembro de 2007, 14 colegas do departamento universitário onde dava aulas reuniram--se e decidiram que o professor devia fechar o blogue, aberto desde 2004. "Disseram-me que um professor universitário tem de se dar ao respeito e não deve dedicar-se a conversas patetas. Recebi ameaças de pessoas acima de mim, e de colegas", lamenta, acrescentando: "Fui cobarde, fechei o blogue." Daniel Luís considera que as pressões dos colegas alteraram o seu comportamento. "Deixei de ir à universidade. Sentia-me mal, nervoso e comecei a ser acompanhado por um psicólogo", relembra.
Nestes últimos anos, os desta legislatura, os professores foram vítimas de 'bullying' moral.
Agredidos, rebaixados e caluniados todos os dias - pelos responsáveis da tutela, pelos jornais, pelos políticos, pelos intelectuais em geral.
Eram ameaçados (continuam a ser) com despromoções, denúncias, processos disciplinares, despedimentos.
Quem está na escola sabe, porque viu e viveu a situação, como a revolta e a raiva por este tratamento de 'bullying' ( de que reconhecem os padrões, por tanto o verem nos alunos problemáticos/violentos) foram crescendo, foram envenenando as relações das pessoas no trabalho, foram desmotivando até os mais persistentes e, como destruiram muita gente, exactamente do modo como se fala na notícia - pessoas que cederam ao 'bullying', por medo, por cansaço, mas que depois se sentem mal consigo próprios e tornam-se pessoas angustiadas e, necessariamente, menos capazes no trabalho.
A mim, o que me choca é que pessoas responsáveis por pastas tão importantes, e que têm de estar por dentro destes assuntos e das suas consequências, possam, eventualmente, ter utilizado técnicas de 'bullying', deliberadamente, para destruir numa classe profissional aquilo que ela tinha de maior valor: brio no trabalho sem pensar em lucros, espírito de cooperação e autonomia.
Choca-me que tenham promovido e premiado os que praticam esse 'bullying' - directores, das escolas e das direcções regionais. Que ao mesmo tempo que multiplicam acções de formação sobre a gravidade do 'bullying' sejam os seus maiores promotores. E com que objectivo nobre?? Nenhum! Apenas para destruir, pois é para isso que se pratica o 'bullying'.
A manifestação de ontem foi uma bofetada na ministra, e no primeiro ministro, se é que ainda têm cara...
Pelas contas mais baixas estavam lá 55.000 mil professores. Isso, é uma enormidade de gente na situação actual. Estamos mesmo no fim do ano lectivo na semana(s) do ano em que há mais trabalho para milhares de professores; é a 5ª manifestação em menos de dois anos; muitos professores ficaram pelo caminho, subornados e 're-subornados' com títulos, após cada manifestação, com cargos e benesses para que desistissem da contestação; muitos o fizeram e estão bem contentes nos cargos merdosos que foram criados apenas para a destruição dos professores. Pois mesmo assim ainda lá estavam mais de um terço da totalidade dos professores.
Um terço duma classe profissional enorme como a nossa, é muita gente. Se lhes juntarmos todos aqueles que quereriam ir e não puderam, por motivos de trabalho, doença, etc., vemos claramente que a classe dos professores está quebrada a meio. Há uma divisão profunda e insanável entre os professores por causa deste ECD e da avaliação estúpida praticada entre membros pares, onde uns foram escolhidos para destruir os outros.
Só um cego, completamente cego, não vê que o cancro que injectaram na classe profissional dos professores, aos destruí-los a eles, destrói, simultameamente, o próprio sistema educativo.
O primeiro ministro, a ministra da educação e os besuntos satélites queriam todos os professores iguais a eles. Conseguiram alguns, que hoje se refastelam nos cargos. Mas é sempre assim, nestes casos.
Na minha escola há os que gritaram contra a entrega dos objectivos e falaram muito em ética, e até aparecem aí no blogue de quem tem mais visibilidade entre todos os bloggistas, como grandes resistentes, e afinal foram dos primeiros a entregá-los. Mas andam por lá de boa cara como se nada fosse. Alguns, quando se soube que não eram necessários, foram pedi-los de volta, também às escondidas.
Mas estes são alguns e não, nem de perto nem de longe, todos; e essa fractura entre os professores é fatal.
Qualquer besta vê isto. Até mesmo aquela gente que andam por aí como vírus ambulantes, a infectar tudo à passagem.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.