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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Sou um bocado ingénua com as pessoas. Começo sempre por acreditar... enfim... de qualquer modo prefiro sofrer por ser assim parva que ser falsa ou uma fdp...
Quanto mais gosto de dar aulas e de trabalhar com os alunos e quanto melhor o faço -acho que o posso dizer sem querer parecer mais do que sou- menos gosto desta profissão por causa do que lhe fizeram, daquilo em que a transformaram, das pessoas que a governam e do futuro que a espera. É triste, muito triste.
Tenho muitos ex-alunos, muito queridos. Se ouvem dizer, sabe-se lá como, que algo se passa comigo de menos bom, desatam a mandar-me mails e mensagens de apoio, a perguntar se preciso de alguma coisa, o que é que podem fazer, a mandar beijinhos... muito queridos, mesmo. É um grande consolo para muita coisa.
Hohe o dia correu muito bem e muito mal. Muito bem nas aulas mas de resto muito mal. Primeiro soube que um colega de educação física, mais novo que eu, que esteve muitos anos na escola e com quem me dava muito bem, faleceu há dois ou três dias com um cancro. Não estava nada à espera desta notícia e caiu-me muito mal. Depois, uma pessoa dá-se conta de que pessoas que suponhamos amigas, muito amigas, não o são...
Os alunos animam-me, é o que vale... acho piada a umas turmas do 10º que tenho este ano. Acho os miúdos giros.
As pessoas fazem as coisas, não são capazes de assumirem o que fazem e numa estratégia de fuga para a frente ainda têm o descaramento de se porem em modo de acusação e ameaças fazendo-se de vítimas...
Como dizia o Sartre, o inferno são os outros.
Cada vez leio menos certas coisas. Fico tão irritada com a injustiça e a crueldade das pessoas... e custa a passar... bem dizia o Kant que, se o destino do homem fosse a felicidade, a natureza tinha-nos feito nascer desprovidos da razão... ... uma pessoa ser estúpida tem muitas vantagens no que respeita à felicidade.
Sinto-me um bocadinho como o país...cansada e desperdiçada.
Subestimo sempre o machismo dos portugueses, mesmo aquele machismo não agressivo e benevolente. Nunca estou à espera dele. Como os meus melhores amigos não são nem um bocadinho machistas e como eu não ligo puto a isso nem me passa pela cabeça que os outros vivam nessa atitude. É assim que me acontece dizer qualquer coisa a um homem que não conheço bem mas que faz parte do círculo de conhecidos com a intenção de discutir uma ideia ou tentar perceber um ponto de vista e de repente apercebo-me que o indivíduo assumiu que eu estou a querer qualquer coisa a mais do que disse. Não lhe passa pela cabeça, sendo eu uma mulher, que esteja interessada em discutir uma ideia ou até em fazer uma amizade. Não senhor. O que lhe passa pela cabeça é que estarei com alguma intenção de qualquer coisa. É claro que volto costas e nem digo nada porque também não vale a pena embaraçá-lo. Mas isto surpreende-me sempre e deixa-me irritada. Se eu quisesse algo mais saberia dizê-lo...
Dou por mim espantada com a importância que as pessoas dão a certas coisas que para mim não têm importância nenhuma. Depois, como dão muito importância a essas coisas, assumem que elas também são muitos importantes para toda a gente e, à conta disso, interpretam o que dizemos e fazemos projectando-nos intenções ou estados de alma ou outra coisas quaisquer que nunca tivemos.
Pelo contrário, a coisas que para mim são arquitecturais, não dão importância nenhuma. Mas eu não assumo que o que é importante para mim também é para os outros. Mais, sei muito bem que não o é, na maior parte dos casos.
Gosto da palavra 'desabafo' - tirar o abafo, ficar mais exposto, mas também mais leve.
No fim de semana passado encontrei um colega que já não via há muito tempo, embora tivesse notícias dele de vez em quando, por conhecimentos comuns. Não só fomos colegas de escola como mais tarde ele foi meu orientador de estágio, no 2º ano da 'Profissionalização em Exercício' como se chamava então.
Assim que nos vimos, a primeira pergunta foi: então, és titular? Lol, hoje em dia é preciso saber com o que se conta e com quem se conta... Adiante. Nem ele, nem eu, somos titulares. Ambos a leccionar há muitos anos - ele mais do que eu, porque é mais velho e porque eu estive três anos com uma licença sem vencimento fora do País - e a dar o litro nas respectivas escolas sem nunca esperar ou pedir louvores ou benefícios, muito antes pelo contrário.
Ele não é titular porque foi operado nos últimos dois anos e a penalização roubou-lhe os pontos necessários, eu porque o congelamento das carreiras me deixaram, com pontos, mas a faltar dois dias...lol.
Achei-o muito desmotivado e isso fez-me impressão porque ele era sempre uma pessoa muito positiva e sempre alegre e cheio de vitalidade. Disse-me que passou quase para o último lugar do grupo e que aqueles que antes lutavam pelos cargos para não ter que se chatear com as aulas e poder faltar sem faltas etc., agora eram os titulares e, como tal, já nem sequer precisavam dos cargos para fazer pouco, de modo que atiravam para cima de outros o trabalho todo.
Disse-me que estava à espera que passassem os anos que lhe faltam para poder pedir a reforma antecipada e assim que pudesse ia-se embora mesmo com uma penalização de 40%, acho.
Sendo uma pessoa muito activa e dinâmica e sempre com iniciativas fez o mesmo que eu, para não se deprimir com a visão de certas injustiças e aldrabices descaradas, que foi incrementar a sua vida extra-escola, «abrindo canais nas margens», como diz muito bem o meu amigo Luís Contumélias, pois é a única maneira de uma pessoa não ficar doente com o que vê e o que se passa.
É uma pena que este sistema que promove as Moreiras, os Pedrosas e as Rodrigues e as põe a avaliar as outras, deite outro tipo de pessoas para o lixo, por assim dizer.
Enquanto este ECD se mantiver nada nas escolas e na educação funcionará: dum cancro não se extrai a saúde.
Desabafos...
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