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A cultura é um luxo

por beatriz j a, em 06.01.18

 

 

Hoje acordei às duas e meia da manhã com uma frase na cabeça, de um site que me manda emails de publicidade. A fraze dizia, 'por favor não volte a incomodar-me na minha conta'. A coisa foi tão real que fiquei perplexa e levantei-me, abri o portátil e fui ver se tinha lá algum email do site a dizer aquilo. Não, claro, o que tinha era um email a tentar-me com artigos para compra. Deitei-me outra vez [convencida da justeza da teoria de Freud segundo a qual os sonhos são a realização de desejos]. Não sei se por causa disso mas quando voltei a acordar decidi que daqui até Maio não compro nada de nada a não ser alimentação e outras coisas de saúde e sobrevivência. Não vou aos saldos, não quero saber de compras, estou à dieta de compras. Excepto livros, claro, que disso não faço dieta.

Resolvi fazer as contas ao que gastaria em livros e outros artigos culturais, se de facto pagasse por todos os produtos culturais que consumo. Interesso-me por cerca de três livros por semana, dos quais leio um, pelo menos. Os livros custam em média, 25 a 30 euros, quando novos e, não sendo técnicos, pois esses custam 100€, ou mais. Se os comprasse gastava cerca de 300 por mês.

Se pagasse aquilo que os jornais e algumas revistas pedem de assinatura (online), cerca de 5 a 7 euros mês, era uma renda de 100 euros por mês a acrescentar ao outro preço porque tenho nos meus favoritos cerca de 80 jornais que leio com regularidade, pelo menos uns doze por dia. Junta-se mais um ou dois filmes por mês, uma ida a um museu de dois em dois meses, um concerto, mês sim, mês não (cada bilhete custa entre 40€ a 60€) e, tudo isto, sem entrar com os milhares de música que ouço por mês; ou seja, os gastos apenas com ler, ir ver uns filmes e ouvir música davam qualquer coisa como 600 ou 700 euros euros por mês. São 8500€ por ano. Mas eu ganho lá para isso...?

Se os jornais e revistas e sites de música me pedissem 50 cêntimos por mês eu pagava mas 5 ou 7 euros não posso pagar. Uma pessoa com interesses culturais não lê um jornal ou uma revista apenas, vai buscar informação a muitas fontes: lê uns 30 ou 40 jornais, lê umas 3 ou 4 revistas por semana (estou a falar em formato digital); ouve música de várias fontes, vê vários filmes. Não é possível pagar mais do que cêntimos pelo acesso a cada uma das coisas, a não ser que se tenha um orçamento de 800€ ou 1000€ por mês para gastar, só em produtos culturais. O meu patrão paga-me mal, deixa-me congelada por dezena de anos, sobe-me o preço de tudo e nem me deixa descontar os livros nos impostos...

Portanto, como a cultura é um luxo, se não somos ricos temos que arranjar maneira de aceder às fontes de outros modos ou conformarmo-nos em ser ignorantes e alienados. 

No primeiro dia de aulas do 2º período conversei com umas alunas da turma do 11º ano que gostam imenso de ler. Estiveram a dizer-me o que tinham lido nas férias e trocámos impressões sobre a própria experiência de ler e gostar de livros. Depois as miúdas (duas delas tocam instrumentos e gostam de música clássica) disseram-se que não lêem mais e não vão a concertos porque a família não tem dinheiro para esses luxos. É triste... vivemos num país onde quase tudo o que não seja o pão para comer é um luxo: a cultura, a educação, a saúde, tudo é um luxo. Não admira que as pessoas leiam pouco, frequentem pouco o cinema e arranjem maneira de ver filmes e ouvir música sem pagar.

Quando morei em Bruxelas, o museu de Belas Artes, que é do Estado, não cobrava entradas. Tinha uma espécie de mealheiro gigante no hall de entrada onde pedia para se deixar um donativo, coisa que a maioria fazia mas que quem não podia não o fazia. O que quero dizer é que qualquer pessoa, mesmo um pedinte podia entrar no museu e instruir-se, educar-se, apreciar arte, ler qualquer coisa interessante. Também havia uma política dos livreiros onde um livro, passados seis meses da sua publicação, podia ser editado em versão barata, de bolso e, posto à venda por uma ninharia. É por isso que era vulgar, no metro, ver operários a comprar um livro por um euro e ir a ler até casa. Cá os livros em saldo custam 23 euros... ... no nosso país, a cultura é um luxo. Daí a quantidade de ignorantes por toda a parte.

 

publicado às 13:21


Querer uma coisa e o seu contrário...

por beatriz j a, em 15.03.17

 

 

The Marines Nude Photo Scandal Just Took a Turn for the Worse

 

 

 

Esta vergonha que se passa no meio militar dos EUA só surpreende quem não está acordado. Por todo o lado, no planeta, a esmagadora maioria dos rapazes são educados, desde que nascem, para serem agressivos, dominadores e sexualmente ofensivos. Ensinam-lhes que as mulheres são inferiores justamente por não exibirem esses comportamentos. Os pais reforçam, com orgulho, os comportamentos violentos dos filhos masculinos, sobretudo os de teor sexual. Quase todas as actividades masculinas incentivadas pelos pais envolvem agressividade e todas as que não envolvem são consideradas efeminadas, sendo que a palavra efeminado tem uma conotação negativa, inferior, não máscula. Depois a cultura militar ainda refina mais essa educação para a violência e para a ofensa sexual. Quem é que pode admirar-se que os homens, educados nesses modelos de vida e de relacionamento social tenham estes comportamentos de total desrespeito pelas colegas?

 

Outro dia a propósito de estar a dar teorias acerca da aprendizagem, na Psicologia, passei o vídeo da experiência do Bandura que defendia, simplificando, que aprendemos comportamentos imitando os nossos modelos sociais (pais, irmãos, profs, etc.). A certa altura a experiência mostra um grupo de crianças depois de observar um filme onde adultos são agressivos com um boneco a fazerem exactamente o que viram o adulto fazer e até mais. A turma ficou espantada porque não esperavam que as miúdas fossem tão agressivas quanto os rapazes. Achavam que os rapazes estão destinados a ser violentos por causa da testosterona e as raparigas a serem dóceis por causa do instinto maternal... lol

 

Antes de ontem li isto que me pareceu uma prisão virtual, 

Men are performing for an invisible authority, the Department of Masculinity. We never know when we are being observed, so we constantly keep watch on ourselves and each other; we guard the boundaries of the role. We are all the authority figure and the prisoner. (Grayson Perry)

 

 

Querem ter filhos agressivos e sexualmente promíscuos e dão-lhes um exemplo de objectificação das mulheres e depois não querem que eles sejam... agressivos, sexualmente promíscuos e querem que tenham respeito pelas colegas mulheres...

 

A educação, a educação...

 

 

publicado às 19:59


Clássica

por beatriz j a, em 29.07.15

 

 

 

 cariátides - imagem da net

 

 

publicado às 10:19

 

 

Slipknot's Corey Taylor: no aliens would interact with a culture this stupid

 

Ask yourself this: after we’ve killed each other off or we’ve reached a point in our technology where we can leave this planet and populate the universe with our nonsense, when the aliens come to sift through the wreckage of our civilisation in the eons to come, what do you want them to find? Do you want them to judge us by Bach or Bieber?

 

SHIT SELLS.” That’s right - you all love your shit. From your derivative music to your shiny hollow movies, from those videos displaying your idiocy on the internet to your addiction to fake reality on TV, that saying is a fucking fact. Shit sells and it sells really well. That’s because the people slinging that shit around know their audience. They know that you’ll buy, watch and listen to shit if it’s shiny enough. They all think you’re dumb and it doesn’t bother them in the slightest. They will suck content and intelligence out of their products happily, keeping the costs low, so they can get a deeper yield from their product.

 

You want to feel better about yourselves? You want to prove that you’re all not eating shit? Choose carefully when looking for movies – don’t just rush into the latest YA (that’s “young adult”, parents) movie that sucks so hard the actors all have Lemon Face. Avoid crotch-shot vids and YOLO comps on YouTube Vine Insta-crap. Feed your brain something other than vacuous chaos and mediocre drivel. Challenge yourself to read a book with no pictures in it. Find a show that has some substance that might actually make you think. Listen to some music that doesn’t just repeat the word “Baby” 23,457 times. Your brain and intellect, these things are a lot like your body. If you feed it well, it blossoms and grows and gets stronger.

 

 

publicado às 09:04


Isto é triste

por beatriz j a, em 16.01.15

 

 

Um em cada três estudantes violaria uma mulher se não houvesse consequências

 

Um estudo norte-americano revelou que um terço dos estudantes violaria uma mulher se isso não tivesse qualquer consequência para eles.

O questionário, cuja maioria dos inquiridos são jovens americanos caucasianos, perguntou aos estudantes como é que agiriam numa situação onde pudessem ter relações sexuais com uma mulher contra a sua vontade, “sem que ninguém soubesse e se não houvesse consequências”.  

31,7% respondeu que teria relações sexuais com uma mulher nessas circunstâncias, ou seja, que a violaria.

Mais chocante ainda é que a maioria dos homens não reconhece esta atitude como uma violação, uma vez que quando lhes perguntaram directamente se violaria uma mulher, apenas 16,3% respondeu que sim.

“Alguns homens afirmaram que usaria a força para ter uma relação sexual mas negam ter violado uma mulher”, afirmaram os autores do estudo, realizado por universidades de North Dakota, ao Independent.

Quanto àqueles que afirmaram que violariam uma mulher, os investigadores explicam que são homens violentos para com as mulheres e não o escondem.

 

Uma cultura de desrespeito dos direitos mais básicos das mulheres, promovida pelas sociedades nas pessoas dos educadores e de todos quantos promovem a redução das mulheres a objectos sexuais e de procriação. Não fazer nada para mudar este estado de coisas equivale a uma cumplicidade tácita e, quanto maior a esfera de influência das instituições maior a cumplicidade.

 

 

publicado às 04:30

 

 

Mosaicos gregos antigos recentemente descobertos no sul da Turquia.

 

 

Aqui, as autoridades turcas falam à imprensa acerca da descoberta destes mosaicos como tesouros incalculáveis... enquanto os pisam sem cerimónia...

 

 

publicado às 08:32


António Damásio em entrevista

por beatriz j a, em 02.11.14

 

 

... fala da relação entre a neurologia e a vida social e cultural, da necessidade da ciência olhar à volta, da importância da cultura clássica. Uma entrevista para ministros que acham que tudo o que não seja matemática é dispensável.

 

 

 

 

publicado às 20:51


Citação deste dia

por beatriz j a, em 02.09.14

 

 

 

 

Without blaming Islam as such (which is in itself no more misogynistic than Christianity), one can observe that violence against women rhymes with the subordination of women and their exclusion from public life in many Muslim countries and communities, and that, among many groups and movements designated as fundamentalist, the strict imposition of a hierarchic sexual difference is at the very top of their agenda. To raise these questions is not covertly racist and Islamophobic. It is the ethico-political duty of everyone who wants to fight for emancipation.

.

 

(Rotherham child sex abuse: it is our duty to ask difficult questions | Slavoj Žižek)

 

 

publicado às 06:04


E é isto... ಠ_ಠ

por beatriz j a, em 11.06.14

 

 

 

Em Portugal toda a gente se queixa de sermos um povo iletrado, sem hábitos culturais, que não lê, não frequenta espectáculos culturais, etc., mas ao mesmo tempo, esses mesmos que se queixam e que são quem gere as ofertas culturais, salvo raríssimas e honrosas excepções, fecham a cultura a cliques e a grupos restritos em vez de a abrirem e chamarem os outros para o círculo...

 

 

publicado às 06:48


coisas tristes, mesmo

por beatriz j a, em 27.09.13

 

 

Teatro Nacional de São Carlos

Apetecia-me ir ver uma ópera. Fui ver a temporada lírica do TNSC. Duas óperas, até Janeiro. Depois de Janeiro é um mistério... talvez não haja mais nada, quem sabe. Que tristeza. A casa de ópera mais importante do país (que já de si tem poucas) numa decadência destas. Provavelmente a lutar pela sobrevivência. Certas instituições culturais tinham que ser acarinhadas pelo Estado que não podia deixá-las no estado moribundo em que estão. Mas o dinheiro para elas foi parar ao Bibi do BPN mais ao Duarte Lima, Loureiros e outros filibusteiros.

 

publicado às 20:32


great bites

por beatriz j a, em 18.12.12

 

 

 

 

If culture is purely entertainment, nothing is of importance. If it's a matter of amusement, an impostor can undoubtedly amuse me more than a profoundly authentic person. But if culture signifies more than this, then it's worrying. And I believe that culture does signify much more, not only because of the pleasure we can get from reading a great work of literature, or seeing a great opera, or listening to a beautiful symphony, or seeing an exquisite ballet, but because the type of sensibility, the type of imagination, the types of appetite and desire that high culture, great art, produce in individual human beings gives them strength and equips them to live better. It enables them to be much more aware of the problems in which they are immersed, to be more lucid with regard to what is right and what is wrong with the world they live in. The sensibility formed by art formed enables them to defend themselves better and to enjoy life more – or at least to suffer less.


[...]


I'm not against capitalism, I'm in favour of it; it's enabled an extraordinary advance for humanity. It's brought us higher standards of living, a type of scientific development that permits us to live infinitely better than our forbears. Nevertheless, the great theorists have always said that capitalism is a cold-blooded system, one that creates wealth but also selfishness. This has to be offset by an extremely rich spiritual life. Many theorists of capitalism thought that this spiritual path was religion; others, who were not religious, thought it was culture. If we don't want to reach the point towards which contemporary society is moving – a spiritual void in which all those negative aspects of industrial society, all the dehumanization it brings with it, are becoming more apparent by the day – I firmly believe that the best way of counteracting that egoism, that solitude, that terrible competition which reaches extremes of dehumanization, is an extremely rich cultural life, in the loftiest sense of the word "culture".


[...]


High culture is inseparable from freedom. High culture has always been critical, has always been a result of non-conformism and a source of non-conformity. One cannot read Kafka, Tolstoy or Flaubert and not be convinced that the world is ill-conceived, that compared to things that are so lovely, so perfect, so elegant, where everything is elegant – the ugly and the bad are also elegant and lovely – the real world is so mediocre. This creates in us a tremendous feeling of non-conformity, of resistance and the rejection of actual reality. That is the main source of progress and of freedom, not only in the material realm but in the realm of human rights and democratic institutions. The defence of high culture is linked to that great preoccupation with freedom and with democracy.


[...]


I'm in complete agreement. Modern industrial society, market society, the society of advanced countries has improved the living conditions of individual human beings enormously. But in no way has it brought the happiness that people seek as their ultimate destiny. What is lacking is precisely what goes by the name of a "rich spiritual life". Religion provides this for a section of society – the section that feels its material existence is rounded off via faith – but there remains a broad sector that religion doesn't touch, to which it says nothing, and it's there that culture must play a fundamental role.

Education, I agree, must be one of the main instruments through which modern society can gradually fill this spiritual vacuum. But if there's anything that's in crisis in modern society, it's precisely education. There's not a single country in the world whose education system doesn't reflect a deep crisis, for the simple reason that we don't know what's the best and most workable system, the system that creates on the one hand the technicians and professionals society needs, and on the other fills the gaps this modern society has in the spiritual realm. Education is in crisis because it's incapable of finding a formula that might bring those two objectives together. It's there that we have to work if we want a modern society capable of satisfying the material needs of men and women as well as filling the spiritual vacuum. Education is absolutely fundamental, but along with education the family and the individual are also fundamental, and all this requires there to be a certain consensus when it comes to developing programmes that have to govern the life of our schools, our institutes and our universities. Extraordinary confusion exists about this, but if there existed at least an awareness that it's in education that we have to be creative and functional, I think we would already have taken a huge step forward. In any case, although on the surface our discrepancies may be many, I think Gilles and I agree on the fact that it's necessary to read Proust, Joyce and Rimbaud; that what Kant, what Popper or what Nietzsche thought are valuable things in this day and age and can help us design those education programmes on which the society of the future relies, if it is to become less violent and less unhappy than today's.


Mario Vargas Llosa



publicado às 19:48


porque é que os museus fecham?

por beatriz j a, em 27.08.12

 

 

 

Estava aqui quase de saída para ver uma exposição que me interessa muitíssimo quando resolvi ver se o museu tem dia de fecho. Boing... fecha às segundas. Porque é que os museus fecham? Os shoppings estão sempre abertos mas os museus fecham. Ahh e tal... poupar dinheiro em funcionários.... ããããã... e que tal aumentar o número de empregados e fomentar a cultura e economia?

 

publicado às 14:15


2012, ano zero da Cultura

por beatriz j a, em 21.06.12

 

 

 

2012, ano zero da Cultura

 

(...) “2012 foi um ano zero” para a Cultura, lembrando, entre outros exemplos, que “a rede de museus está parada”, que há “bibliotecas com orçamento zero para aquisições”, que “muitos equipamentos municipais estão em riscos de fechar”, que “o Alto Douro Vinhateiro corre o risco de perder a sua classificação como património da humanidade” e que a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) “não abriu concursos para nada”.

Para a deputada, é urgente desmistificar a ideia de que “a arte pode viver do mercado”(...)


 

Nery contrapôs que “a ideia de que a liberdade de criação exige um deserto institucional é suicida” e apelou aos presentes para exercerem “uma militância política mais ampla, porque a questão é política” e os agentes culturais “tem de ser políticos”

..........

Está a acontecer à cultura o que aconteceu à agricultura quando entrámos para a UE: estamos a arrancar as vinhas, as plantações, a destruir a frota de pesca da cultura.

Os senhores da troika, que em seus países cuidam dos bens culturais- têm as cidades muito bem preservadas, os monumentos impecáveis, uma vida cultural intensa de exposições, concertos, espectáculo, etc. -gabam-se da preservação da cultura (o que faz os turistas virem em hordas para a Europa passar férias...?) pela qual têm até reverência religiosa (veja-se a reacção dos amigos de Versailles à exposição da Joana Vasconcelos), chegam aos países do sul e aconselham o fechamento e o despedimento de tudo o que seja cultural como supérfluo. E nós aceitamos isso!

Na Grécia é de partir o coração: os museus estão a saque por gangues de ladrões. E porquê? Porque a troika mandou despedir os funcionários dos museus de modo que alguns só têm 1 funcionário.

Um país sem vida cultural é um país morto, sem vida. Não há desenvolvimento sem cultura e a cultura não é um adereço, é a própria vida das pessoas. Um país não poder ser apenas uma colecção de pessoas que vivem só de pão.

Um país que não preserva os seus monumentos, as suas cidades e lugares históricos, que trata como secundárias as criações culturais, os impulsos criativos, é um país sem memória, sem identidade, sem orgulho e sem perspectiva de futuro. É como deixar degradas até ao lixo todas as fotografias e objectos de família e acabarmos com as reuniões de família até não sabermos quem somos e o que nos torna únicos. E é isso o que se passa neste país onde tudo se converteu num negócio.



publicado às 06:25


Citações deste dia...

por beatriz j a, em 02.06.12

 

 

 

 

Evelyn Waugh, late 1930s,

barbarism is never finally defeated; given propitious circumstances, men and women who seem quite orderly will commit every conceivable atrocity. The danger does not come merely from habitual hooligans; we are all potential recruits for anarchy. Unremitting effort is needed to keep men living together at peace; there is only a margin of energy left over for experiment, however beneficent. Once the prisons of the mind have been opened, the orgy is on. . . . The work of preserving society is sometimes onerous, sometimes almost effortless. The more elaborate the society, the more vulnerable it is to attack, and the more complete its collapse in case of defeat. At a time like the present it is notably precarious. If it falls we shall see not merely the dissolution of a few joint-stock corporations, but of the spiritual and material achievements of our history.
---------------------------------------------------------
Walter Bagehot
Culture is a precious inheritance, immeasurably more difficult to achieve than to destroy, and, once destroyed, almost irretrievable. It’s not at all clear that we have learned the lesson, though wise men from before the time of Pericles have sought to bring us that sobering news.
(tiradas daqui )

publicado às 16:12

 

 

 

 

Plácido Domingo defende património comum: “O Pártenon não é só grego, é europeu”

O tenor Plácido Domingo esteve em Lisboa para afirmar, no congresso da Europa Nostra, que “o património é uma parte essencial da nossa herança cultural” e revelar os esforços que tem desenvolvido para que a União Europeia aumente o orçamento da Cultura em 37%.
Ao início da tarde de sexta-feira, o tenor Plácido Domingo, presidente da Europa Nostra, a mais importante organização europeia de defesa do património, mostrava na Fundação Gulbenkian e através de exemplos vindos da música, por que precisamos do passado para sentir que fazemos parte do presente, depois de uma intervenção em que Vassiliou descreveu parte dos esforços que tem vindo a desenvolver para que, nos próximos sete anos, a União Europeia aumente em 37% o financiamento à Cultura.

“O património é uma parte essencial da nossa herança cultural, da nossa diversidade”, disse a comissária aos jornalistas. “Mas é também uma responsabilidade de todos. Quando me perguntam se gastamos muito dinheiro dos contribuintes europeus a preservá-lo respondo ‘claro!’, e em seguida explico que é nossa obrigação investir no património porque ele não é um luxo, é uma necessidade.”
A OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económicos] fez um estudo que demonstra que 40% do turismo internacional está relacionado com Cultura e que a Europa é o destino número um. Temos de saber rentabilizar este interesse, mas para isso precisamos de conservar o que temos e de o divulgar.”
Mas quando vemos o que aconteceu em Mântua e Bolonha, choramos os mortos, mas choramos também por todos os edifícios históricos que caíram porque o passado é fundamental para criar um sentimento de pertença.”

publicado às 07:57


Feira do Livro

por beatriz j a, em 14.05.12

 

 

 

 

 

Feira do Livro de Lisboa com balanço positivo

 

Seria interessante saber das razões deste balanço positivo: há mais leitores no país(?), lê-se mais(?), os livros estão tão caros que as pessoas só conseguem comprá-los em saldo(?), o país está tão pobre culturalmente que as pessoas absorvem como esponjas qualquer iniciativa nesse domínio(?), foram as iniciativas que decorrem durante a feira que levaram lá as pessoas, nomeadamente aquelas que envolvem 'celebridades da rádio e da TV'(?)

Seria interessante saber se estamos a ler mais e melhor, ou só a ler mais ou, só a participar mais em eventos. Ultimamente tenho a impressão que a cultura e o mundo da cultura são mais um mundo de eventos que outra coisa e que os editores e responsáveis pela produção da cultura são mais organizadores de eventos que outra coisa...

Li ontem um artigo que dizia que hoje em dia, nos EUA, muitos escritores são 'obrigados' a escrever uma dezena de livros por ano para responder às exigências dum público que lê livros 'on demand' e não está para esperar um ano por um um novo livro, de modo que os autores escrevem qualquer coisa para não perderem a 'lealdade' dos leitores. Necessariamente, a qualidade das obras é grandemente sacrificada...

Por isso gostava de saber a que se deve este sucesso; ou melhor, se ele é realmente um progresso na educação das pessoas ou apenas uma adesão a eventos 'pop-culturais'.

 

publicado às 07:39


Que intelectuais?

por beatriz j a, em 13.11.11

 

 

 

O cardeal D. José Policarpo dizia ontem que é o ideal da Europa (justiça social, democracia, atenção às pessoas, solidariedade, respeito pela dignidade humana, etc.) que está a mudar por causa da aceitação cega da ditadura dos mercados e apelava, entre outras coisas, à intervenção dos intelectuais para recriar a ideia de Europa e não deixá-la continuar na senda em que está. Estou de acordo. Os intelectuais sempre tiveram uma enorme importância na criação e rumo das instituições dos países europeus. Só que chegámos a um ponto em que se endeusou tanto o conhecimento económico e científico que se pensou que ele poderia substituir-se ao pensamento e às ideias numa lógica de, 'precisamos é de dinheiro e não de ideias', quando na realidade precisamos das duas coisas, como agora se vê. Só que a Europa destes tempos despreza, salvo raras excepções, os intelectuais.

Há uns anos um indivíduo escreveu um livro chamado, justamente, "Os intelectuais" em que advogava serem todos uma corja de mentirosos porque defendiam ideias que nem sempre cumpriam (!)...como se as outras pessoas todas vivessem sempre à altura das suas palavras... o livro teve um enorme sucesso.

Em Portugal a palavra tem até uma conotação negativa como se fosse uma espécie de imoralidade. Como se uma pessoa que trabalhe e viva do seu intelecto e não da força dos braços fosse uma espécie de parasita. Em todo o mundo as Humanidades quase desapareceram dos currículos escolares e os pais obrigam os filhos a seguir cursos científicos, mesmo quando os filhos têm uma clara inclinação e gosto por tudo o que é literário. Mesmo pessoas com formação superior que calculávamos terem uma visão do mundo mais inteligente, isto é, mais abrangente, defendem em blogues o fim dos cursos humanísticos por não estarem virados para a riqueza monetária imediata.

Vivemos um tempo em que pessoas responsáveis têm uma visão da cultura pequeno-burguesa e só a entendem como um enfeite: qualquer coisa que dá 'status'; embora não compreendam a sua importância e achem que os que a defendem só o fazem por snobismo.

Por consequência, quando o cardeal apela aos intelectuais, está a apelar em vão: eles são uma espécie em extinção um pouco por todo o lado. Quando pensamos que a Europa já foi considerada, justamente pela sua cultura, uma espécie de farol no mundo...é triste.

 

publicado às 10:38


O parlamento e a cultura

por beatriz j a, em 19.10.11

 

 

 

PARLAMENTO

Deputado do PSD distribui "post it" na AR

O deputado social-democrata Pedro Saraiva distribuiu hoje 230 'post it' pelos deputados pedindo contributos para uma lei-quadro da competitividade e empreendedorismo, numa intervenção em que citou Pessoa e as fábulas de La Fontaine, condenada pela esquerda.

 

Não vi a dita apresentação mas assim pelo que leio não vejo qual é problema de citar o Pessoa na casa da República. Aliás, em tempo de crise muitas vezes se vai buscar inspiração e força aos poetas. Que a esquerda ou outra fação qualquer considere desprestigiante que se faça uma apresentação com um fundo cultural e literário apelando aos valores portugueses e não meramente técnico é um sintoma da falta de qualidade cultural das pessoas que lá andam. E explica muita coisa do estado em que as coisas da inteligência e cultura estão neste país. Uma falta de estética mental, de elegância e de requinte intelectual que faz do parlamento uma casa de gritos e berros e pouco respeito e nenhuma compreensão da importância que têm para o presente e futuro aqueles portugueses que foram melhores que os outros.

No tempo da Natália Correia muitas vezes se citavam os poetas que são grandes congregadores da vontade dos povos. Ninguém achava isso desprestigiante. Pelo contrário...

 

 


publicado às 19:52

 

 

 

 

Autarca diz que processo está parado

Presidente da Câmara de Guimarães em ruptura com a liderança da Capital da Cultura

Face a este cenário, o líder vimaranense promete soluções para breve. “Mais vale, num período crítico, romper do que estarmos à espera. O projecto está semi-parado e isto não pode ser”, sustenta. A presidente da FCG, Cristina Azevedo, está neste momento de férias, mas o presidente da Câmara de Guimarães assegura que, quando a responsável regressar ao trabalho, terá “uma conversa séria e definitiva sobre determinado tipo de comportamento do grupo de trabalho que nos preocupa imenso”

 

E onde está também o ex-presidente Sampaio, aquele que disse que a culpa do insucesso em Portugal era dos professores que deviam trabalhar dez horas por dia e depois ir ainda para casa ficar em frente ao PC a tirar dúvidas aos alunos?

 

publicado às 12:53


a ausência de ministério da cultura

por beatriz j a, em 18.06.11

 

 

 

 

Significa que se aceita o facto de sermos um país culturalmente fraco? Quer dizer que quando há falta de dinheiro é desejável 'despriorizar' a cultura? [que erro!]. Quer dizer que deixamos a cultura para uma elite com dinheiro? Quer dizer que o povo que se oriente com as novelas da TV?

Tenho dificuldade em compreender esta opção de subalternizar a cultura. Todo o desenvolvimento se faz sobre um fundo, um contexto cultural. O contexto cultural está para o desenvolvimento da economia como o solo para o crescimento das plantas: quanto mais rico mais produz, quanto mais pobre menos produz.

 

publicado às 17:16


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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