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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Pois depende, não é verdade? É bom se está fundada numa construção realista da pessoa porque caso contrário é um perigo (vide, Trump) ou só uma coisa ridícula. Agora lembrei-me disso a ver esta capa do Sol. O Crato, esse separado à nascença da fulana Rodrigues, ainda hoje não percebe que foi uma nódoa de incompetência no cargo, tendo feito todos os erros e mais alguns que criticava na outra fulana de má memória mas, no entanto, acha que esteve muito bem e que o único problema foi os sindicatos terem embirrado com ele. Aqui está um caso claríssimo (mais do que este e o da Rodrigues só o do carisma aos molhos) em que a auto-imagem positiva, não estando fundada numa perspectiva realista de si mesmo, dá origem a um ridículo que faria dó se tivéssemos alguma pena dum incompetente a quem pagámos a boa vidinha.
O programa desenhado por Nuno Crato...
A pista está na frase acima... como é que um tipo que não é matemático anda a desenhar programas para ensinar matemática? Mas a auto-promoção à custa da competência, da seriedade e dos alunos estão na moda. Professores duma especialidade a [des]ensinar outra...
A pseudo-entrevista parece um campo minado. Já não há paciência para desmontar este tipo de entrevistas quilométricas cheias de enredos e narrativas de mentes que vivem fechadas nas suas ilusões míopes.
... entretanto:
A informação consta no Relatório de Actividades de 2015 da IGF, que critica o Estado por financiar colégios, sem confirmar a situação socioeconómica das famílias dos alunos, e por desconhecer o efeito da aplicação das verbas.
..
Segundo a IGF, "o ministério não dispõe de um plano estratégico enquadrador quanto às subvenções públicas aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo", assim como "não dispõe de indicadores de aferição do impacto na sociedade, o que não permite avaliar cabalmente a eficiência e eficácia da utilização destes dinheiros públicos".
Então seja agora responsável, já que não foi competente. Sim, eu sei que o acordão não diz que 'uma' prova de professores seja, em si mesma, inconstitucional. No entanto, diz claramente que 'esta' prova foi inconstitucional. Tornaram obrigatório o que a lei não manda. De modo que, todos os que foram prejudicados por esta ilegalidade, devem ser justiçados.
A prova de avaliação dos professores foi declarada inconstitucional. Quando custou "este desvario?"
... o Tribunal Constitucional se pronunciou pela inconstitucionalidade da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades dos Professores (PACC), não só por esta constituir um requisito para o exercício de funções docentes que não consta da Lei de bases do Sistema Educativo mas também porque, em 2015, o Ministério da Educação e Ciência decidiu afastar de um concurso de contratação, que já tinha começado, os professores que se recusaram a fazer o teste.
Nogueira exige não só que seja devolvido o custo de inscrição nos testes cobrado a todos os professores que os realizaram como também que sejam identificados e indemnizados todos os professores que teriam sido contratados se não tivessem reprovado ou recusado realizar o teste.
Abri um jornal na internet para saber o que ele disse e dei de caras com isto:
Isto é um filme de terror... só pode...
Carla tem 39 anos e 11 de serviço. Licenciada em engenharia de sistemas de informática na Universidade do Minho, trabalhou durante cinco anos em empresas. Acabou por seguir a carreira docente por um acaso. “Arranjei entretanto um marido que é professor e por influência dele decidi experimentar e apaixonei-me pelo ensino. Resolvi então profissionalizar-me para poder seguir a profissão”.
Durante oito anos, Carla conseguiu sempre um contrato anual com horário completo. Mas desde há três anos começou a enfrentar dificuldades. “Há dois anos já estava a desesperar, há um ano só consegui vaga na terceira ronda de colocações. Foi um choque muito grande em 2012 e 2013. E continua a sê-lo todos os anos”.
Carla faz parte do conjunto de 22 mil professores contratados que não conseguiram colocação no concurso inicial. Do total de 25 296 docentes que se candidataram a um contrato numa escola pública, apenas 2833 conseguiram lugar.
“Estamos a assistir a uma uma debandada geral do sistema público de ensino. Quase 44% de docentes desistiram de lecionar. Tratam-se mal os professores, na sua maioria são pessoas com alta formação. Muitos professores contratados têm mestrado e doutoramento. Se o ritmo de desistência da profissão continuar a esta velocidade , Portugal corre o risco de recorrer a recrutamento fora do país, o que é muito grave, porque estamos a prescindir de profissionais com experiência”(...)
“Esperamos que o Ministério do próximo Governo venha refletir com calma esta situação e que estude casos como o Reino Unido que foi contratar milhares de professores à Índia.
Porque este governo concretizou a destruição da educação começada pela Rodrigues para agradar aos defensores da necessidade do empobrecimento da escola pública e porque o próximo governo pretende apanhar a estafeta deste e continuar na mesma pista...
Jorge Ferraz, da associação de pais do agrupamento de Escolas Baixa-Chiado, aponta no mesmo sentido. “Como pai e professor, sinto-me, mais do que preocupado, assustado. Não só com a visão do conhecimento como mero factor de competição, mas também porque se trata de uma formação ideológica que se esconde sob a aparente neutralidade da quantificação”, desabafa. [completamente de acordo com o que diz este pai]
Para Nuno Domingues, professor contratado há 11 anos, a revisão curricular “foi o exercício mais bem conseguido da governação de Nuno Crato no que à redução de professores diz respeito. Um verdadeiro exercício de engenharia que levou à perda de componente lectiva de muitos professores do quadro [os chamados ‘horários zero’] e ao desemprego milhares de contratados”. Em 2009-2010, estavam nas escolas cerca de 34 mil docentes a contrato, um número que desceu para perto de 15 mil em 2013-2014. [exacto]
[sobre a PACC- prova de avaliação de conhecimentos e capacidades, vulgo exame para despedir professores] O PS, que inventou a prova, não chega ao ponto de a enterrar, mesmo sendo ela tão polémica e estando em campanha eleitoral. Em resposta à Revista 2 promete apenas suspender a sua realização e proceder “à reponderação dos seus fundamentos, objectivos e termos de referência”.
1,73 mil milhões de euros. Eis a soma do dinheiro que a Educação perdeu ao longo dos últimos quatro anos. Depois percebe-se como se chega aqui: o sistema educativo tem hoje menos custos, porque tem menos professores, menos funcionários e também menos estabelecimentos de ensino. Fruto dos cortes, as escolas foram forçadas a subcontratar alguns serviços e lançar estratégias apertadas de controlo de despesa em aspectos tão quotidianos como os gastos com energia. Não será preciso esperar pelos próximos anos para perceber os impactos: os efeitos negativos já se sentem na qualidade do sistema educativo, alertam os especialistas ouvidos pela Revista 2.
Para justificar este corte no financiamento público do sector não bastará apontar as implicações da ajuda externa. O memorando de entendimento com a troika, que vigorou nos primeiros três anos de mandato, previa uma redução de gastos na Educação de 370 milhões de euros para o conjunto dos dois primeiros anos de execução. Todavia, logo no primeiro Orçamento do Estado do actual executivo, esse impacto foi ultrapassado — menos 404 milhões de euros no total. Esse esforço atingiu três vezes mais do que o previsto durante o período de aplicação do programa de ajustamento e prolongou-se no primeiro OE pós-troika.
O especialista do Centro de Investigação e Intervenção Educativas defende também que os problemas como os que envolveram a bolsa de contratação de professores e colocação de docentes, no início do ano lectivo passado, provocando um autêntico caos nas primeiras semanas de aulas, são motivados pela perda de competências na estrutura do Ministério da Educação. A “redução drástica” no número de funcionários fez com que o “aparelho técnico-administrativo do ministério” perdesse competências. “A qualidade do serviço tem caído brutalmente”, avalia Martins.
Os dois especialistas não acreditam que o cenário de desinvestimento no sector venha a inverter-se com um novo governo. A “degradação parece estar para durar”, considera Jorge Martins.
Jornal Público
Só a correcção dos erros pode garantir a “igualdade entre docentes” que concorreram aos concursos de colocação, defende provedora adjunta Helena Pinto. Mais de 60 mil docentes candidataram-se.
Candidatura acaba hoje mas a exigência de comprovativos gerou "corrida às minutas" nas escolas. Em 2014 o concurso foi caótico.
Entrega de turmas a privados aumenta despesa do Estado com educação
O Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC) afirma que o governo vai gastar, nesta zona do país, mais cinco milhões de euros em 2016 com a entrega de turmas a privados, que tinham lugar no setor público.
(...)
Importa ver além da opacidade das paredes dos gabinetes das Avenidas 5 de Outubro e 24 de Julho... Para as questões relacionadas com o ensino da Língua Portuguesa, cRato socorre-se da opinião de duas linguistas, cada uma delas gerindo "feudos próprios" há muito instalados no Ministério da Educação. Uma delas é Inês Duarte, com uma grande quota de co-autoria na TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário), sigla para o monstro, ora ligeiramente atenuado (em versão revista), que ainda persiste em pretender substituir a gramática tradicional, para desgraça dos alunos. A outra é Maria Helena Mira Mateus, à frente do ILTEC (Instituto de Linguística Teórica e Computacional), instituto universitário incumbido pelo Governo de produzir um "acordês oficial" em constante reformulação.
Estes "feudos" envolvem poder, envolvem empregos, envolvem subsídios e... envolvem fazer concessões. Inês Duarte pugna pela TLEBS, mas abomina o "acordo ortográfico". Maria Helena Mira Mateus produz o "acordês oficial" deste reino sem rei nem roque, mas abomina a TLEBS. A solução para as objecções de ambas foi simples: um pacto de não-agressão. Assim, no lodo, florescem ambas as monstruosidades e "atola-se" a aprendizagem e o ensino do Português. «Tu não te opões ao 'acordo', eu não me oponho à TLEBS...», e vice-versa. cRato sabe bem disto, cuja lógica matemática é linear. Não se trata de um matemático ultrapassado por duas linguistas, não, é ele o ministro. Apenas se demite, demite-se do seu dever, mas não sai de cena.
cRato sabe igualmente que o Ministério da Educação e a aprendizagem do Português nas escolas estão reféns da multimilionária negociata dos livros escolares, cujo monopólio pertence a dois grandes grupos editoriais (apesar da multiplicidade de chancelas sob as quais os manuais são dados à estampa): o Grupo Porto Editora e o Grupo Leya. Trata-se de gastos avultados e inadmissíveis que as famílias são coagidas a fazer. Se estas não puderem, há sempre o dinheiro dos contribuintes, através da Acção Social Escolar. Os interesses instalados é que não podem ser incomodados. cRato não perturba este saque anual, não institui o livro único por concurso público, demite-se quanto a isto também, mas não arreda pé.
Quem ouviu o actual Presidente da República fazer um discurso inolvidável sobre produtos "láteos" patrocinado pela Nestlé, quem soube da proposta da actual presidente da Assembleia da República de que este órgão de soberania arranjasse patrocinadores para as comemorações oficiais do 25 de Abril, em 2014, não poderá de forma alguma abismar-se ao ver (como eu já vi) uma embalagem de Chocapic numa roda-dos-alimentos afixada numa escola primária algures em Portugal.
Em 2014, cRato resolveu privatizar o Iave (Instituto de Avaliação Educativa), ou seja, dar autonomia administrativa a este organismo, que, por sua vez, diligenciou a obtenção de patrocínios para o "PET" (Preliminary English Test), um exame obrigatório no 9.º ano de escolaridade, após uns anos de estudo obrigatório de uma língua estrangeira específica pelas crianças portuguesas (enquanto a língua nacional é delapidada activamente). Onde pára a soberania?
Os patrocinadores do "PET" são a Universidade de Cambridge, o banco BPI, duas empresas de software (a Connexall e a NovaBase – "like life" –, portuguesíssima da Silva) e, claro, a Porto Editora. Esta está em todas, faz mesmo questão.
A globalização iniciada por Vasco da Gama foi a do encontro de culturas, não foi esta com que nos deparamos, a da massificação, a da fast-food. Em Agosto passado, tivemos a Porto Editora em megapromoção nos individuais de papel dos tabuleiros, nos McDonald's: poupe dinheiro, faça já a encomenda dos livros escolares dos seus filhos através da Wook (empresa do grupo Porto Editora) e tenha grandes descontos! Eis o local escolhido pela empresa que mais lucra com a educação dos nossos filhos, nesta cultura do descartável, do consumismo, do facilitismo... Nenhum local poderia ser mais adequado, de facto.
Nós, pais, sabemos que todas as tabelas dos manuais escolares adoptados para cada ano de escolaridade, em cada ano lectivo, afixadas em cada escola, têm em comum um importante "pormaior": o asterisco que remete para a recomendação de adquirir o manual apenas após confirmação da necessidade deste pelo professor da disciplina. Com promoções destas, a Porto Editora pretende retirar aos professores uma liberdade que ainda têm: a de não adoptar nenhum manual, a de utilizarem os seus próprios materiais para cumprir os programas que lhes são impostos.
Não nos espantaremos quando tivermos governantes fazendo conferências de imprensa em cenários revestidos com logótipos, como sucede no futebol. Falta pouco. Parece que não há "dignidade do Estado" (?) capaz de se sobrepor à força do dinheiro.
O Iave, em comunicado recente, veio insurgir-se contra quem afirmou poder o uso do português costumeiro pelos alunos implicar um desconto de quatro valores (em 20) nos próximos exames nacionais de 12.º ano, dizendo que se trata de uma improbabilidade. Ora, se se tratasse de uma impossibilidade, o Iave afirmá-lo-ia. Não o fazendo, paradoxalmente, vem confirmar as alegações que pretendia contestar, mas já se sabe da incompetência científica que por lá grassa. A colecção de erros crassos da PACC (Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades) de Física, por exemplo, veio demonstrá-la à exaustão, se dúvidas ainda houvesse.
Entretanto, saúda-se a novíssima Associação Nacional de Professores de Português (Anproport). Finalmente há, assim, uma alternativa credível à famigerada APP (Associação de Professores de Português) da inefável Dona Edviges das "ações de formatação em acordês", segundo a qual os professores não serão pagos para pensar, mas sim para acatar acriticamente as ordens da tutela, tutela essa que subsidia as "ações de formatação" e convoca a Dona Edviges para a "informar" sobre o que os professores de Português... não pensam.
A APP não divulga o número de associados, o que não se estranha, poderia alguém aferir da sua (não) representatividade. Com a recém-criada associação, certamente essa representatividade agora existirá, ouvir-se-ão vozes legítimas e extra-sindicais na defesa do ensino e da aprendizagem da Língua Portuguesa. Há luz ao fundo do túnel, os professores não se demitem.
Fora de brincadeiras tragicómicas muito sérias e sentidas, como as do título deste artigo, e a despeito do que dizem por aí, não há nem nunca houve "consoantes mudas", porque as consoantes pertencem à escrita, não à fala. Todas as consoantes se lêem, mas nem todas se dizem ou, se se dizem, dizem-se de tal forma que não se ouvem ou mal se ouvem. No máximo, seriam portanto "consoantes surdas" cujo lugar visual numa língua de matriz europeia, antiga, logo supostamente civilizada, não pode estar em causa.
A única surdez, aqui, é a do poder político perante o clamor do senso comum. A única mudez, aqui, é a que resulta da inexistência de verdadeira representação popular nesta pseudodemocracia partidocrática perante a qual a própria consciência individual dos actores políticos, seja no Governo, seja na Assembleia da República, de pouco ou nada parece valer-nos.
Aquando da carta aberta que lhe dirigi, fez agora três anos, tive ocasião de falar com cRato em privado. Não digo o que me disse, nem o que lhe respondi. Venho pública e repetidamente chamar-lhe cRato e, para melhor compreensão, três anos volvidos, acrescento no inglês mais português e imperativo de que sou capaz: "Prove me wrong!"
MADALENA HOMEM CARDOSO
Em Actualização: Miguel Macedo anuncia saída do Governo dizendo que que não tem nada a ver com os vistos gold mas que o caso diminuiu a sua autoridade política.
É certo que o Crato já não tinha nenhuma autoridade política...
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