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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Previa aquilo que aí vinha quando optou por abandonar a política ativa?
Previa... A corrupção tinha começado e quando começa é como uma epidemia e não há propriamente vacina. Só a denúncia pública. Mas a imprensa também teve a sua cumplicidade nisto, porque em vez de denunciar casos reais pôs-se a espetacular com outros irreais. Hoje tudo está comprado ou vendido. Quase tudo. Eu tenho a minha alma limpa e se tivesse ficado na política eu conservava a minha alma limpa, mas podia ter alguns salpicos, porque estava limitado pela camaradagem e pela solidariedade que devia aos meus correligionários. Eu não podia estar a acusar o partido. Mas eu digo aí (aponta para o romance “Rio das Sombras”) o caso de um sujeito que quis ser deputado dois ou três meses para ficar no currículo e pagou cem contos ao PS para ir nas listas. Isso é verdade, mas não digo o nome. Eu fiquei tão indignado. Estou a falar há 35 anos ou 40 anos. Cem contos era muito dinheiro. Esses contratos não se fazem, mas era assim. Veja o que se passa hoje nos Estados Unidos. Quem não tem dinheiro não pode aspirar a desempenhar um cargo público. Aqui em Portugal tem que ter caciques para angariar os votos.
António Arnaut
Então ele vê a corrupção, sabe da corrupção, sabe quem se vendeu a quem e quando e que casos são reais e irreais, conhece até o valor dos contratos, sabe que a corrupção é uma epidemia que só se trava com a denúncia, podia ter denunciado e evitado a epidemia mas vai-se embora sem denunciar para não estragar a sua vidinha e a do partido dos amigos e pensa que não é cúmplice da corrupção?? As suas mãos talvez estejam limpas mas a alma está suja, suja, suja.
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