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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Os preconceitos combatem-se com conhecimento. Conhecimento é exactamente o que falta acerca da comunidade cigana. Na realidade, só se fala de ciganos quando roubam, quando traficam, etc. Raramente se fala dos casos de integração e de sucesso dos ciganos de modo que ficamos com a impressão que todos os ciganos andam a roubar ou a traficar.
Este artigo sobre as iniciativas de integração da comunidade cigana é uma raridade. Acho que é a primeira vez que leio um artigo acerca de iniciativas positivas e casos de integração de pessoas ciganas.
Quantos ciganos existem no país? São novos, são velhos? Qual a situação de alfabetização? Têm casa, têm emprego? Quantos crimes de ciganos são de portugueses e quantos são de romenos ou outros que se deslocam ao país para aproveitar o fluxo de turistas? Etc., etc.
Imensas questões que importava conhecer para combater os preconceitos: sem conhecimento, nem as mentalidades mudam, nem as realidades se podem corrigir.
"O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem."
(Declaração de Salamanca, 1994: 11-12).
Li que há uma escola em Tomar que tem uma turma só de ciganos. Têm entre os 6 e os 13 anos. Fiquei com algumas dúvidas:
- no refeitório têm 'um lugar' designado só para eles. A mesa dos ciganos?
- têm uma farda própria para se distinguirem dos outros?
- cumprem o estatuto do aluno ou há um estatuto do aluno cigano?
- têm aulas de cidadania ou têm aulas de cidadania cigana?
- no seu cartão de cidadão são portugueses ou são 'ciganos em Portugal'?
- os outros alunos têm aulas de como tratar os ciganos?
- há corredores para ciganos e para não ciganos?
- uma porta de entrada para ciganos e outra para não ciganos?
- casas de banho para ciganos e para não ciganos?
Choca que numa instituição que tem como fim educar se esteja a 'deseducar' tanto os ciganos como os não ciganos. Uma coisa é haver, entre esses alunos, quem seja violento no sentido de atacar colegas, etc., - aí, devem ser tratados como tratamos os outros alunos -não ciganos- nesses casos, o que às vezes obriga a afastamento ou mudança de escola; outra coisa é serem afastados apenas por serem ciganos. O quê? Os pais são difíceis? Os miúdos não estão habituados a estar com outros miúdos não ciganos? Pois é também para isso que serve a educação. Para lhes dar a eles e aos outros -os que estão a ser ensinados que é normal pôr as pessoas diferentes de parte- a oportunidade e o direito à cidadania. Para mostrar aos pais, também, que é possível os filhos integrarem-se na sociedade sem perderem as suas raízes. É difícil? Pois, na educação o que é que é fácil? Qual é a parte de educar pessoas que é fácil? Nomeadamente, aquelas que mais se distinguem por serem diferentes, difíceis, desenquadradas? Segregá-las é desistir delas, dizer-lhes que não valem a pena o esforço; e dizer o mesmo aos outros, não ciganos. Também a estes se passa a mensagem de que os ciganos não valem a pena o esforço, que não são pessoas normais e por isso não podem estar juntas com as pessoas normais. A integração por vezes é muito difícil, educar é muito difícil, muitas vezes são dois passos para a frente e três para trás mas, se fosse tudo fácil não era trabalho.
Representante da Santa Sé critica decisão do Governo francês de expulsar os ciganos romenos do país.
Ora aqui está uma oportunidade da Santa Sé fazer exemplo do seu espírito cristão: com um palácio tão grande e jardins ainda maiores pode perfeitamente acolher essas famílias de ciganos, chamados, muito a propósito, romi.
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