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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Bela peça que saiu este rei espanhol. O valor de uma monarquia é o de unir os povos que a constituem. Este rei é bom a dividir... e a Alemanha... o que é que tem que se meter nisto? Não é com estes líderes que a UE se resolve.
De todo o artigo, salta-me à vista a frase que pus a negrito. De facto, para os belgas, que pertencem a um pequeno país de 10 milhões de habitantes, têm três línguas oficiais (o holandês [uma variante] que chamam flamengo, o francês e o alemão), andam à bulha desde o século XVI e sabotam-se constantemente, em tudo, uns aos outros, alguém querer fazer um referendo de independência e querer a independência da sua região é o pão nosso de cada dia e, se fossem prender essas pessoas por sedição, não sobrava quase ninguém... a única coisa que têm em comum é o gosto fanático pelos mexilhões e pelas batatas fritas.
De resto, uma pessoa da Valónia não fala o flamengo e, um flamengo na sua região não fala o francês, embora o saiba muito bem, mesmo se vê que somos estrangeiros. Temos que falar com eles em inglês ou outra língua.
Quando a universidade de Lovaina se desmembrou e deu origem a duas, uma flamenga e outra francófona, nos anos sessenta, dividiram o arquivo de Husserl ao meio, cada uma ficou com metade dos manuscritos, metade das cartas, etc...
Um chefe do exército belga pode pôr os flamengos a serem comandados por um valão ou vice-versa, fazendo com que morram, não às mãos do inimigo mas por ausência de comunicação entre eles.
Visto por esta perspectiva, o que os catalães estão a fazer não tem grande importância.
Os partidos independentistas catalães reuniram ontem os seus conselhos nacionais para pensar os próximos passos, com a sombra da prisão e do exílio a pesar sobre os seus líderes.
O bloco independentista, que inclui também a Candidatura de Unidade Popular (CUP), elegeu 70 deputados. Contudo, cinco estão em Bruxelas e os três que estão detidos só podem delegar o voto (como sugeriu o juiz depois de proibir a sua presença no plenário por questões de segurança) se o Parlamento aceitar.
Os líderes independentistas na cadeia, um a um, saem dos interrogatórios a dizer que são contra a independência. Belos interrogatórios... a Europa dos direitos humanos está a apodrecer.
Em todas as actividades há bons e maus trabalhadores, gente inteligente e gente estúpida, sendo a actividade política uma excepção pois, pela sua natureza de exercício de poder, atrai uma esmagadora maioria de gente gananciosa, vaidosa, superficial, mesquinha e estúpida. Mas é claro que estes deméritos só muito ocasionalmente aparecem em doses extremas concentrados numa só pessoa. É o caso do espanhol Rajoy que sofre destes males em dose extrema. Marcou eleições depois de prender a oposição para que fossem não-livres com o objectivo de esmagar os independentistas e aparecer vitorioso mas, como a mesquinhez de carácter só por grande sorte dá bons frutos, saiu-lhe o tiro pela culatra e agora não sabe como descalçar a bota.
Neste momento, metade dos eleitos foi mandatado para permanecer ligado a Espanha e, a outra metade, para prosseguir a sua agenda de separar-se de Espanha. É por isto que a Catalunha está ingovernável. Se tudo correr muito mal até pode acontecer uma tragédia de guerra civil na Catalunha... que Rajoy não tenha pensado nesta possibilidade só demonstra a sua superficialidade e estupidez.
O rei de Espanha tem agora uma oportunidade única de prestar serviço ao seu país, invertendo esta dolina democrática que ajudou a criar quando se pôs, explícita e imprudentemente, ao lado de Rajoy. Pode agora ser o impulsionador de uma mudança da Constituição que permita à Catalunha permanecer, sem ressentimentos corrosivos, ligada às Espanhas. Se não o fizer, dá argumentos aos republicanos e aos independentistas das várias regiões espanholas que vêm na monarquia um gasto inútil de recursos para manter umas famílias com vidas priviligiadas, para vender revistas côr-de-rosa. É agora que vai ver-se se o rei de Espanha, o é.
Quem sai mal nisto é o governo espanhol e o rei. Atiraram com a oposição política para a cadeia e mesmo assim os independentistas renovaram a maioria absoluta no parlamento. Agora têm uma sociedade profundamente dividida em que metade das pessoas reforçaram o ressentimento que têm à monarquia. Isto não era escusado? Era. Havia soluções.
Estou a ver na TV a prisão dos dirigentes da Catalunha que lideraram e declararam a independência [e o estabelecimento de 6 milhões de euros de fiança...].
Tenho lido, por este dias, opiniões a clamar que Puigdemont é um cobarde porque fugiu e que os catalães estão armados em vítimas... mas que havia ele de fazer? Liderar um movimento armado contra os espanhóis? Transformar-se na ETA da Catalunha? Ficar na Catalunha e arriscar-se a ir preso 30 anos nesta leva de vingança política? Para quê? A quem serviria isso a não ser ao Rajoy e ao Rei que são como pedras embrutecidas no muro de violência que construíram?
É bom não esquecer que tudo isto começou porque Espanha se recusou a deixar realizar um referendo, com a força da polícia, que todos vimos, com o argumento de que a Constituição o proibe, sendo que todos sabem as condições de (re)pressão em que a Constituição, saída da brutalidade de Franco, foi aprovada... as mesmas condições que agora estão criadas para estas eleições onde as pessoas já sabem que ser contra Rajoy e o Rei é igual a poder-se ir preso...
Por ora, Rajoy e o Rei estão ufanos da sua aparente vitória mas a maneira como (não) resolveram o problema, com violência, intransigência e presos políticos, abriu o caminho para os populismos e movimentos que nascem dos ressentimentos e, abriu um precedente grave acerca do modo como se lida com regiões fracturantes.
Quanto à UE que vemos aprovar tranquilamente esta exibição de violência e prisões políticas sobre pessoas pacíficas que queriam referendar o seu direito à autodeterminação, independentemente de se discutir a prudência ou eficácia da independência da Catalunha, o que fica evidente, mais que a sua crescente hipocrisia de defender A e praticar B, é o medo do desmembramente da (des)União, devido à desorientação e falta de um rumo e identidade consistentes.
Com Puigdemont ausente, procurador vai pedir prisão para dirigentes catalães
[optaram pela declaração uilateral de independência porque o governo espanhol optou pela declaração unilateral de proibição de referendo com recurso à violência policial e recusa de diálogo...]
Catalunha - O governo espanhol vai aplicar o artigo 155, como? Fazendo mais presos políticos? Ou espera que os separatistas, que são metade da população, peçam desculpa e voltem ao quotidiano como se nada fosse, aceitando a perda de direitos de autonomia? E a UE vai apoiar a prisão política de separatistas? E se prenderem os separatistas, quanto tempo pensam que essa solução vai durar até que se formem resistências duras? E nesse caso, fazem o quê? Entram com a força das armas e induzem uma guerra civil ou dão uma de Erdogan?
O rei de Espanha deu um passo na direcção contrária da união das Espanhas ao fazer um discurso de reprovação das autoridades catalãs sem uma única palavra de reprovação da carga dos 'cavalos' sobre a população. Em vez de sugerir caminhos de diálogo institucional e de ser, assim, uma voz de integração e concórdia, preferiu pôr-se de um lado contra o outro, sem mais. Está a apelar à divisão dos catalães numa luta intestina, na esperança de uns (os não separatistas), calarem os outros (os separatistas). No entanto, com esta intervenção radicaliza ainda mais os separatistas, arranja-lhes novos argumentos e filiados e, separa-os ainda mais dos espanhóis porque apoiou o governo de Rajoy que se comportou, nesta questão, como os maridos nos casamentos com violência doméstica que batem nas mulheres enquanto lhes dizem, 'vês o que me obrigaste a fazer, sua irresponsável?'.
A falta de bom senso e de inteligência do governo espanhol não espanta porque vai na linha da falta de líderes de qualidade que constatamos por essa Europa fora; no entanto, incomoda porque estas imagens que se vêem eram escusadas. A Espanha é constituída por regiões mas também por nações: a Catalunha, o País Basco são nações, com uma história de independência, língua própria, etc. No entanto, o governo espanhol insiste em tratá-los como uma região qualquer. Imagine-se que Portugal tinha ficado sob dependência espanhola no século XVII (livra!!). Por acaso aceitaríamos ser tratados como uma região qualquer...? Se o governo espanhol não tem capacidade de diálogo, soluções alternativas à repressão e capacidade de integrar a diferença no Estado espanhol, seja transformando a Espanha numa federação, seja outra coisa qualquer, já perdeu a Catalunha, por muita prisão e pancadaria que ordene.
Catalunha. Escolas vão ser ocupadas pela polícia no fim de semana
Estou convencida que a votação no referendo, se ele tivesse sido normalmente realizado, seria contra a independência. Os catalães lêem jornais e sabem os problemas do brexit num país com o tamanho e a riqueza da Inglaterra. Agora, já não estou tão certa disso acontecer pois, neste momento, o voto a favor de ficar ligado a Espanha é, ao mesmo tempo, um voto de assentimento ou conivência, no mínimo, com a repressão, a violência e as prisões políticas que os catalães estão a sofrer.
A UE que se queixa, com razão, do autoritarismo na Hungria e Polónia, assiste a esta repressão na Catalunha, com presos políticos e tudo, como se fosse uma coisa normal, isto é, como se fosse um Estado a reagir a hooligans.
Por muito que custe a Espanha que os catalães se desliguem do reino, se a esmagadora maioria das pessoas quiser desligar-se, desliga-se, mais tarde ou mais cedo. É isso a auto-determinação dos povos consagrada na Carta dos Direitos Humanos.
Só me parece que nestes casos de referendos de independência, por serem fracturantes das sociedades que vão a referendo, não das que assistem de fora à espera dos resultados, a votação só poderia ter valor de decisão com uma maioria de 75% e nunca menos. Veja-se o que acontece em Inglaterra onde a votação foi meio-meio e deixou a sociedade profundamente dividida e, uma das partes, muito ressentida com a outra. Isso há-de ter consequências negativas na coesão da sociedade inglesa.
Agora, o que me parece indefensável é prender as pessoas para impedi-las de dizer que querem o divórcio. A Constituição espanhola proibe o divórcio? Mude-se a Constituição. As leis devem ir aperfeiçoando-se no sentido de serem cada vez mais justas e não cada vez mais repressivas dos direitos das pessoas. Senão, o que fica implícito é que as pessoas têm direito a expressar-se desde que o que dizem não incomode o poder, caso contrário calam-nas com o abuso da força. [ vendo bem, vendo bem, tal qual como na escola...]
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