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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Isto são peanuts quando olhamos para os biliões que aquilo já comeu. Okay, por algum sítio se há de começar, mas faz lembrar o Bibi da Casa Pia: trinta anos de abusos de centenas de crianças e o Bibi paga as contas todas. Também o JOC, como era conhecido pelos que lhe tratavam da conta A1, vai pagar todas as contas com os seus treze ou dezassete milhões enquanto os passarões se põem ao largo com uns biliões.
Há uma sociedade chamada Parva qualquer coisa que foi criada para recuperar dinheiro do BPN e que ao fim de todo este tempo vai buscar -talvez...- treze milhões. Resta ver se estes próprios da Parva qualquer coisa não acabarão por sair mais caros que o dinheiro que recuperarem.
Os Juízos Criminais de Lisboa condenaram Teresa Costa Macedo por crimes de falsidade de testemunho quando depôs no julgamento do processo Casa Pia e de difamação da jornalista Felícia Cabrita.
A pena fixada é de 300 dias de multa pelo primeiro crime e 150 dias de multa pelo segundo, à taxa de 15 euros por dia - ou seja, terá de pagar 6.750 euros. O tribunal determinou ainda o pagamento de uma indemnização de 10 mil euros a Felícia Cabrita (que esta pretende entregar à Rede de Cuidadores, uma instituição de apoio a crianças vítimas de abuso sexual). Teresa Costa Macedo poderá ainda recorrer desta sentença.
Em causa estavam as declarações de Costa Macedo enquanto testemunha do processo Casa Pia, em Janeiro de 2007, em que negou ter entregue a Felícia Cabrita um documento por si manuscrito com uma lista de nomes de envolvidos no caso, entre os quais o do apresentador de televisão Carlos Cruz e o de diplomatas. A jornalista contara antes ao tribunal que julgava o processo Casa Pia que o documento lhe tinha sido entregue por Teresa Costa Macedo durante um programa da SIC em que ambas participaram, em Novembro de 2003.
Confrontada com o documentco no julgamento do caso Casa Pia, Costa Macedo disse não reconhecê-lo e até que não era a sua letra. A jornalista moveu então uma queixa contra a antiga secretária de Estado e o Ministério Público abriu um inquérito, em que exames periciais concluíram que a escrita no documento é de Costa Macedo, pondo de lado a hipótese de pertencer à jornalista.
Os políticos estão tão habituados a mentir que o fazem com a maior das naturalidades em qualquer sítio mesmo sabendo que podem arruinar a reputação de outros. Mas a mentira conivente com crimes de pedofilia por parte de uma Secretária de Estado da Família...
...é o que se ouve a juíza dizer. O que não se percebe é porque é que anda por aí a clamar inocência e, sobretudo, porque é que lhe dão tempo de antena?
A única coisa de útil que este pedófilo pode fazer agora é vomitar os nomes dos que foram acusados pelos mesmos rapazes que o acusaram a ele e a outros com credibilidade aceite pelo tribunal, e que se viram livres de investigação, vá-se lá saber porquê...eu percebo que ele se sinta injustiçado por ter sido o único 'figura pública' a ter a cabeça no cepo, embora saibamos que o crime de uns não desculpabiliza o de outros.
Neste assunto do processo Casa Pia, o que me chocou foi ver ao longo destes anos ex-presidentes, como o Soares e o Sampaio, primeiros ministros como o Sócrates e outras figuras públicas defenderem indivíduos acusados de pedofilia com ovações na Assembleia da República, declarações em conferências de imprensa, tempo de antena nas TVs, apoios a candidaturas políticas e sei lá que mais, enquanto permaneciam e permanecem em silêncio relativamente às vítimas, e às suas próprias responsabilidades no assunto pelo facto de ser uma instituição que depende do Estado.
Agora andam os pedófilos condenados nas TVs a fazerem ameaças veladas às vítimas, como se não bastasse as sevícias de que foram alvo. Temos grandes figuras do PS, uma como presidente da Casa do Povo, a mandar nos destinos do país depois de terem sido acusados de pedofilia e de se terem escapado por prescrições e outras manigâncias e de terem tentado que olhássemos as vítimas como criminosos.
Gente nojenta. Tudo isto é nojento.
29 Novembro 2009 - 02h00 Correio da Manhã
Paulo Pedroso, Ferro Rodrigues e Jaime Gama já perderam pelo menos cinco processos contra os jovens que os envolveram no caso de pedofilia da Casa Pia.
Paulo Pedroso, destacado dirigente do PS, apoiado por todo o governo PS e pelo ex-presidente Sampaio, Ferro Rodrigues, ex-secretário geral do PS e Jaime Gama, actual presidente da Assembleia da República e, ao que se diz, candidato a presidente de Portugal, todos acusados de coisas infâmes, nunca desmentidas por nenhum dos juízes que apreciaram os processos que estes senhores moveram às vítimas de crimes e sevícias horrendas.
Pessoas sobre quem recaiem suspeitas desta natureza e que continuam a perder processos de cada vez que tentar virar a acusação contra as vítimas, deviam, no mínimo, afastar-se da vida pública.
Espero que quem fez estas coisas horríveis aos miúdos tenha o castigo que merece, nesta vida ou na outra.
Jornal SOL
Eu li esta esta notícia há pouco e pus-me de imediato à procura de notícias acerca da demissão de Jaime Gama, pois pareceu-me ser de enorme gravidade que um indivíduo acusado de coisas infames e não desmentidas tenha lugar de responsabilidade pública.
Mas é claro que isso se deve à minha imensa ignorância. Afinal, são vários os que continuam a ocupar cargos de responsabilidade política tendo sido acusados de coisas infames e não desmentidas.
Repugna pensar que estas pessoas fazem as leis com que nos (des)governam.
Durante o inverno de 1945-1946, ainda no rescaldo da guerra, Karl Jaspers deu um curso sobre a situação espiritual da Alemanha, por causa dos campos de morte, do processo de Nuremberga e das acusações do mundo inteiro que recaíam sobre o povo alemão. As lições desse curso foram publicadas sob o título A Questão da Culpabilidade (ou 'La Culpabilité Allemande', na tradução francesa, que foi a que li.)
Diz ele na introdução: ao publicar estas considerações eu queria, como alemão, levar os meus compatriotas a buscar a clareza e a unanimidade e, como homem, tomar parte com os outros homens, num esforço comum pela verdade.
Neste livro Jaspers distingue quatro tipos ou graus de culpabilidade:
1) a culpabilidade criminal - os crimes são constituídos por actos objectivos que infringem leis unívocas. A instância competente, o tribunal, estabelece os factos e aplica as leis;
2) a culpabilidade política - reside nos actos dos homens de Estado e no facto de, sendo nós cidadãos dum Estado, devermos assumir as consequências dos actos cometidos por esse Estado aos quais estamos subordinados e cuja ordem nos permite viver. Cada indivíduo carrega uma parte da responsabilidade pelo modo como o Estado é governado;
3) a culpabilidade moral - os actos que realizamos são sempre, em última análise, individuais,e nós somos moralmente responsáveis por eles (mesmo os políticos ou os militares). A expressão «uma ordem é uma ordem» não tem, nunca, um valor decisivo. Um crime não deixa de ser crime pelo facto de ter sido ordenado (embora possa ter circunstâncias atenuantes); do mesmo modo, todo o acto se submete ao juízo moral.
A instância competente é a consciência individual.
4) a culpabilidade metafísica - existe entre os homens, pelo facto de serem homens, uma solidariedade em virtude da qual cada um se torna co-responsável de toda a injustiça e de todo o mal cometidos no mundo, em particular dos crimes cometidos na sua presença ou sem que os ignore. Se nada fazemos para os impedir somos cumplices.
Eu estava a ler isto e a pensar no caso da Casa Pia. O que lá se passou, e talvez ainda se passe, é um crime hediondo que espalha um manto de culpas que envergonham não apenas os criminosos que os cometeram, mas o país também.
Uma casa de acolhimento de crianças. Pobres, abandonadas,a precisar de protecção, carinho, segurança. Uma casa que as autoridades transformaram numa espécie de quinta onde se engordam os cordeirinhos para serem repartidos em festins pelos lobos.
Um crime que dura há quanto tempo? Francamente não sei. Isto já vem do tempo do Salazar ou foi só depois do 25 de Abril?
Anos e anos e anos, implicam criminosos e criminosos e criminosos. Tantos anos de abusos continuados a tantas crianças implicam muitos criminosos. Basta fazer umas contas. O Bibi, sozinho, não abusou de centenas de crianças durantes sei lá quantos anos, aos 10 por dia, como é evidente.
E estamos a falar de criminosos em todos os ramos do poder. Porque foi preciso muita cobertura para guardar segredo e proteger os criminosos e os crimes. Tem de haver ali políticos, gente da administração, da polícia, juízes, etc. Onde está toda essa gente? Esses pedófilos, chulos e proxenetas? É assustador pensar que podemos estar a ser governados, directa ou indirectamente, por gente desse calibre.
Que não se tenha tentado apurar a verdade de que fala Jaspers é trágico porque impede a catarse do crime: porque não se atribui a culpa criminal a quem a tem, nem a moral tampouco - todos os que souberam e calaram, por medo, por ambição política etc., têm uma grande nódoa - esses que tudo viram, tudo sabiam e nada fizeram. São pessoas sem aquilo que Jaspers chama "imaginação do coração", isto é, a capacidade de se pôr no lugar do outro e sentir o seu sofrimento intolerável.
Mas, que alguém do Estado, portanto também em meu nome, tenha acobertado esses crimes, torna-me a mim cúmplice involuntária, porque o dinheiro dos meus impostos também serviu para manter a quinta dos cordeiros para os lobos. Essa gente manchou todo o povo com os seus crimes. Mesmo quem não votou nestes tipos é, como diz Jaspers, co-responsável pelos actos que o Estado comete, pois é em seu nome que são feitos.
Tenho esperança, e a história dá-me a certeza, de que todos os nomes serão, um dia, conhecidos. É sempre assim. Com o tempo tudo acaba por se saber, porque os que sabem acabam sempre por falar. Pode levar tempo, mas acontecerá.
Tenho pena dos filhos desses criminosos que ficarão manchados pelos crimes dos pais, para sempre.
Acima de tudo tenho pena dos miúdos obrigados a tansformarem-se em velhos antes do tempo, por aqueles que os deviam defender.
'Monstro', significa 'homem-besta'; e a monstruosidade significa a desumanização do outro.
Um dia toda a gente conhecerá o rosto dos monstros que cometeram estas monstruosidades.
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