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O “ricochete cultural” e as casas de banho

Rui Tavares

Nestas polémicas, mais do que a posição política que cada um de nós possa ter sobre cada assunto, o que está em jogo é mais profundo: trata-se do próprio estatuto de facto real e de veracidade.

 

O Rui Tavares está em campanha eleitoral a favor de Costa ou, melhor, contra aquilo que ele chama frequentemente, 'A Direita', e já diz qualquer coisa.

 

A comentar o despacho sobre a igualdade de género, digamos assim, para abreviar, diz que o assunto não é sobre casas de banho mas sobre duas centenas de crianças e que foi falseado, numa tentativa, diz ele, que passa o tempo a falar de Direita e Esquerda, de fazer polarização cultural como no Brasil.

Em primeiro lugar, na escola pública andam sobretudo não-crianças. As crianças frequentam apenas o ensino básico de quatro anos. No 5º ano já são, quase todos, adolescentes e, quando saem no 12º são jovens com 18, 19 ou 20 anos. Antes de ontem, um jornal dizia que um homem de 19 anos foi baleado à porta da discoteca. O que quero dizer é que andam na escola crianças, adolescentes de 12 anos e jovens maiores de idade.

Em segundo lugar, o despacho também é sobre casas de banho, apesar de ele gozar com isso, porque se fala nelas, na operacionalização do despacho. Em terceiro lugar se houve falsidade nas redes sociais foi porque o governo fez questão de não esclarecer a questão. Mandam tanta publicidade manipulativa eleitoral para os jornais mas não foram capazes de explicar como seria feita a aplicação do despacho e limitaram-se a dizer que, 'a Direita tem má intenção'. Isso não esclarece.

 

Seguidamente diz que o problema é o estatuto do facto real e veracidade e passa a anunciar, ele mesmo, o que é o 'facto real e a veracidade'. Aqui não se percebe se há alguma falha de raciocínio ou se Rui Tavares acredita mesmo que sabe o que é o facto real e a verdade. Se sabe, diga-nos porque andamos todos há uns milhares de anos a ver se conseguimos destrinçar essa questão complexa. 

 

No excerto a seguir diz que quem fez estes achincalhos foram políticos e cronistas da direita conservadora. Para quem se queixa de outros polarizarem as questões com esquerda e direita...

 

Finalmente compara-nos à Irlanda e à Islândia nessa não-polarização. No entanto, o artigo dele é uma mostra de polarização. Todo o discurso dos políticos e cronistas portugueses em geral está infestado dessas expressões de direita e de esquerda com que se acusam mutuamente em vez de discutirem e esclarecerem os problemas. Não sei em que país ele vive para não ver isso.

É preciso ver que na Islândia meteram os políticos e banqueiros prevaricadores, irresponsáveis e ladrões na cadeia. Cá andam à solta...

Depois, concluir dizendo que a crise está a diminuir... em que país ele vive? Estamos endividados até aos olhos, o ministro das finanças nem sequer para comprar ambulâncias dá dinheiro, só para a banca e prémios de milhões para caçadores do fisco, as pessoas cada vez mais pobres, os empregos precários, os tais passes baratos para os estudantes, o governo não os paga...

 

Percebemos que ele anda em campanha a favor da 'Esquerda' como ele diz, mas mesmo assim...

 

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publicado às 14:30


campanha inútil e com excesso de ruído

por beatriz j a, em 23.05.11

 

 

 

Nada do que importa se discute. O que vão fazer para acabar com a corrupção na política e na Administração Pública, o que vão fazer para que a democracia seja representativa e não uma encenação, o que vão fazer para acabar com a lentidão da justiça, a desigualdade na educação e na saúde, como vão inverter o processo do desemprego, como vão estimular a economia, como vão baixar as despesas do Estado sem atirar todo o povo para a miséria, etc., etc.

Nada se discute. É só ruído e esbracejamento. Os próprios partidos não acreditam em coisa alguma do que dizem. Alguns, como o Sócrates, vê-se perfeitamente que recitam frases decoradas que não têm consequência, como um actor que despeja as suas 'frases' noite após noite, cada vez mais ruidosamente para disfarçar a falta de convicção. Mas, mesmos os outros, não são muito melhores. Alguns preocupam-se, mas não têm nenhuma visão para apresentar. Não têm um regime, um plano, não só para recuperar a saúde do país, mas com um regime para depois manter a saúde. Só nos dão pensos rápidos. 

Os políticos, por falta de cultura política e filosófica, demitiram-se do seu papel de pensarem o país e o povo e deram esse cargo aos economistas e gestores. Mas a economia e a gestão não se esgotam em si mesmas, são instrumentos. Se não obecedem a um plano que as ultrapassa, até podem restaurar alguma riqueza, mas para ser desbaratada logo a seguir, por falta de fins que dêem sentido a uma estratégia definidora de prioridades. 

Nenhum partido parece perceber isso. Ora defendem uma coisa, ora outra oposta.

 

publicado às 09:37


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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