Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Entro na sala de professores, que está um forno, e há sempre um colega ou dois ou três que me chamam com uma informação ou uma queixa de um aluno, às vezes um recado de modo que vou assentando onde posso a caminho da máquina das águas geladas e a suspirar por um lugarzinho para me sentar dois minutos. Acabo assim meio tatuada.
Depois, vim a pé da escola com estes 30º à sombra, cheguei a casa a destilar... no caminho passei pela mercearia do sr. A. e vi lá um bolo de chocolate... não sei, mas ando há muito tempo a precisar de algo assim...
É isto, este calor desorienta qualquer um. Amanhã vão estar 31º na rua, dentro das salas de aula, uns 40º. Ao fim do dia outra reunião de pais. Vou chegar ao fim de semana a precisar de dormir 16 horas de seguida, como já aconteceu.
... e já estão 26º. Mais um dia de fogos e de não se poder sair de casa. Para além da época de banhos temos que institucionalizar a 'época de fogos', pois o fenómeno de 'Portugal a arder' é já um clássico, em exibição todos os verões, que veio para ficar.
Porque temos seis meses disso. Hoje estão aqui 37º à sombra, 40º ao sol. Quando saímos à rua é como se estivéssemos na Amareleja, levamos uma bofetada de ar tórrido que até se fica tonto. As folhas das árvores estão a cair-nos na cabeça, já murchas. Quem é que aguenta isto...?
Dali - Disintegration of the Persistence of Memory
Já não aguento este calor! O que eu queria um frio de rachar! Eu e os meus 9 alunos ... mais 9 ... mais 9 ... mais uma metade de nove, entramos nas salas e como ocupamos todo o espaço, apertadinhos, entre a porta e os quadros, começamos logo a suar. Eu confesso que não sou uma professora com capacidade de aguentar este calor e, pelos vistos, os alunos também não, pois passam parte do tempo de aula a abanar-se com tudo o que têm à mão, no que perdem imenso tempo de aula que podia ser ocupado a fazer outra coisa. Lá está... um bom professor não sua ... e, mais ainda, tem a capacidade de impedir os alunos de suarem...
O que eu queria mesmo era um frio de rachar! Entrávamos na sala, eu e os meus 9 alunos ... mais 9 ... mais 9 ... mais uma metade de nove e como ocupamos todo o espaço, apertadinhos, entre a porta e os quadros, começávamos logo a aquecer :))
.
·
E não é só por causa do romance escaldante Passos-Portas. É que está aqui um caloraço de 37 graus. Ia morrendo para chegar a casa.
Fica-se prostrado com este calor a esta hora. Detesto quando passamos diretamente (que horror! A palavra fica tão feia!) do verão para o inverno sem gozarmos o dourado do outono.
Eu tinha pedido calor na praia mas não era preciso tanto. Cheguei aqui a Pedras...38 graus! Fui para a praia às cinco da tarde. Água quente, mar chão...atirei-me para dentro de água, tipo logo mesmo. Saí de lá às sete e meia. Foi o suficiente para perder aquela côr de peixe cozido...lol.
Cada contentor tem dois aparelhos de ar condicionado! Sim, dois! Claramente aquelas caixas de alumínio são fornos onde vamos esturrar no Verão!
Passa das 7 da tarde e estão 38º graus aqui em Setúbal. O ar completamente parado, o calor abafado e opressivo que até custa a respirar. Esta noite vai ser pior ainda que a de ontem. Amanhã a cidade vai estar em alerta vermelho! Já tenho uma colecção de leques de fazer inveja a muitas espanholas.
A última vez que estiveram por aqui temperaturas destas foi em 2003. Nesse ano, em Junho, as temperaturas rondavam os 40º. Estávamos ainda em aulas. A coisa foi tão dramática que ainda lembro o martírio dentro daquelas salas completamente estufas.
As condições de trabalho nas escolas são tão más que às vezes espanto-me com os alunos e também comigo própria: como é que conseguimos, com calores de derreter e frios de rachar, trabalhar como trabalhamos? Às vezes, a essas condições espartanas ainda acresce o facto de alguns alunos estarem com fome. Uma pessoa quando pensa nestas coisas que vive no dia a dia escolar tem dificuldade em não sentir asco por toda a hipocrisia e displicência a rondar o desprezo com que se fala dos alunos e dos professores e do trabalho nas escolas.
O ar parou lá pelas 7.30 da tarde e, em vez da noite refrescar o dia encheu-se de uma humidade pesada e peganhenta. Não corre uma aragem. Nada. Nem uma brisazinha. Nada. Nada.
Estive a ver o Brideshead Revisited de 198... com o Jeremy Irons.
O calor continua infernal. Estive a tarde toda a fingir que trabalhava (na mais completa penumbra), mas basicamente o que fiz foi ingerir líquidos. No próximo fim de semana vou para outras paragens estrear fato de banho, sol e água. Estou desejando. Apanhar outros ares. Quando começa o calor verdadeiro, tem que se ir à praia. Não sei porquê mas enquanto não se vai à praia parece que o calor está colado ao corpo. Três dias de corpo ao sol. É claro que no primeiro dia vou dormir barbaramente - tal qual como os miúdos que no primeiro dia de praia caem de borco a dormir, assim sou eu.
Vendo bem, o ser humano está mal desenhado - será que o Domingo (o dia do Senhor) é mal fadado? É que, segundo sei, também o Grande Engenheiro fez o homem a um domingo.
Seja como for, a verdade é que o homem está mal desenhado. Tem 7 pecados capitais - a gula, a luxúria, o orgulho, a avareza, a ira, a preguiça, a inveja- e mais uma infinidade de outros pecados veniais do lado do mal e, para lutar contra eles todos só tem o Amor. Mas enquanto todos estamos marcados pelo(s) pecados, que são uma espécie de oferta da casa, não é garantido que tenhamos acesso ao único instrumento que garante que se passe do nível '0'. Na verdade, parecem ser muito poucos os que têm acesso a ele e ao mundo a que ele dá acesso, pela infinidade de portas que abre no homem. E mesmo uma parte desses que tem acesso à experiência do Amor (com letra enorme) está tão carregada com o peso do outro lado do mundo que não sabe usá-lo. É uma luta sempre desigual, sempre desequilibrada. A maior parte dos homens acaba por não dar uso ao coração, como diz uma canção qualquer.
Por ter sido assim tão mal feito teve depois que ser compensado com uma resistência infinita ao sofrimento. A todo o tipo de sofrimento.
Mas ninguém liga a estes factos pois os relatórios mostram que o Grande Engenheiro é um sucesso incontestável em todos as estatísticas.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.