... e não interferir com a sua actividade subterrânea o que também ajuda a controlar a ansiedade. Não sei como os outros fazem mas eu gasto tempo na internet a ver cenas ou no ebay (aí às vezes o ver cenas acaba a custar dinheiro...) ou noutro sítio qualquer onde posso ir navegando à superfície da mente enquanto o cérebro trabalha por baixo, sozinho, a re-arrumar-se(me). Outras vezes começo actividades. Agora, por exemplo, estou a ler uns livrinhos que descobri na net sobre como se desenha a lápis e a carvão e vou começar a desenhar seguindo aquelas técnicas. Não sei o que vai sair daqui mas isso não interessa porque enquanto estiver concentrada a desenhar, o cérebro desfragmenta-se como dantes fazíamos aos PCs, arruma-se, para organizar, ganhar espaço de memória, descobrir processos e documentos que pareciam, e estavam, esquecidos, fazer ligações inesperadas, etc. Muitas vezes, é justamente quando estamos nestas, aparentes, distrações, que surgem no cérebro, tipo pop up, soluções para problemas cujas soluções nos andam a preocupar.
Ontem eu e o meu amigo concordávamos que enquanto estamos na escola (ele na universidade) não conseguimos fazer nada que tenha a ver com estudar, ler, pensar, porque o tempo é gasto, fora as aulas, a resolver problemas e conflitos, a despachar burocracias, a coordenar actividades, a falar com colegas ou alunos ou pais para resolver problemas, etc. Pesquisar, ler, produzir materiais, corrigir testes, pensar, aquela actividade de ficar a olhar para a parede durante uma ou duas horas a congeminar qual é a melhor maneira de abordar o tema 'x' numa turma ou qual a melhor estratégia para chegar ao aluno 'y', para pôr o outro a trabalhar, etc., isso, só em casa e em sossego.
(...) a young professional snowboarder, Kevin Pearce, who sustained brain damage from a near-fatal accident in the halfpipe in December 2009. He’s lucky to be alive and sentient, but the trauma has taken its toll: He had to relearn how to walk, may never snowboard again—and almost certainly will never compete—and has serious short-term memory deficits.
One side effect is less troubling, though more relevant to a food blog: Ever since awakening from his post-accident coma, Pearce has had frequent, intense cravings for basil pesto, a food he had no special feelings for before.
When a certain part of the right hemisphere of the brain is damaged by trauma, stroke or tumors, some patients develop “gourmand syndrome.” First identified by neuroscientists in the 1990s, the disorder is marked by “a preoccupation with food and a preference for fine eating.”
O manelito é um modelo anatómico do cérebro, em plástico, com 24 peças, que comprei no ebay por dez libras, para levar para as aulas de Psicologia quando dou o sistema nervoso e nele, o cérebro e a espinal medula. Há bocado dei-lhe um encontrão e deixei-o cair com tal força que desmanchou-se, o que é uma chatice porque algumas peças são pequenas. Agora não encontro o hipotálamo, o corpo caloso e o hemisfério esquerdo do cerebelo...espero encontrar os restos do manelito amanhã, com a claridade da luz do dia...
Havia uma teoria antiga que dizia não ser um acaso a morfologia de certos frutos e legumes assemelharem-se às partes ou orgãos do corpo para as quais são benéficas. Não faço a mínima ideia se tal ideia tem, ou não, algum fundamento razoável, mas estou a comer nozes e reparo que a noz, que tem efeitos benéficos no cérebro, mais propriamente nas ligações neuronais é uma imitação perfeita de um cérebro com os dois hemisférios, o corpo caloso, as circunvoluções...até a casca se assemelha ao crânio com a costura ao meio. Impressionante. Tão perfeita a imitação que não parece ser uma coincidência.
O jornal 'i' traz hoje uma entrevista muito boa ao neurocientista e professor Alexandre Castro Caldas. Fala do desenvolvimento do cérebro e da educação. Da plasticidade do cérebro e da maneira como o cérebro abre (e fecha) portas sob a influência do meio. Fala da importância de se treinar a memória.
Li num artigo do Le Monde que uma adolescente croata de 13 anos que estava hospitalizada e perdeu a consciência durante 24 horas, ao acordar desse coma, apesar de compreender o croata só respondia em alemão. A rapariga, que tinha começado a aprender alemão na escola, acordou do coma a falar um alemão rico e sofisticado completamente incompatível coma sua idade e nível de instrução.
Isto mostra bem como sabemos ainda pouco sobre o cérebro e o seu funcionamento. Dá ideia que o cérebro tem um programa a correr por detrás do programa principal -a consciência- que vai recolhendo informações do exterior e vai fazendo a instalação da informação de acordo com os padrões de arrumação específicos de cada mente.
Embora não tenha a certeza acho que isto explica aqueles 'instintos' que vêm com a experiência e que acontecem muito nas profissões - sabermos, intuitivamente, que há algo errado num cenário, ou que um ambiente determinado está tenso, ou que um aluno se prepara para fazer um disparate, etc. Ou, por exemplo, antecipar quem é o criminoso num livro policial, ou como se vai desenrolar a trama de um romance - o cérebro reconhece sinais de padrões que foram 'instalados' e estão interiorizados. Pela mesma razão, ao fim de se ouvir muita música ou contactar com obras de arte, ganha-se uma capacidade de apreciar e ajuizar que advém desse trabalho que o cérebro faz em 'background'.
Este pequeno filme é fascinante! Oliver Sacks, o genial médico neurologista virou recentemente a sua atenção para a música, para a sua relação com o cérebro, para o modo como influencia alguns disturbios mentais e como pode contribuir para o melhoramento de outros. Isto interessa-me no âmbito da neurociência, da paixão que tenho pela música e porque já há uns anos que sou adepta da 'imusic' - há muitos anos que sei, por experiência própria, da capacidade da música afectar o estado de espírito, a concentração, a criatividade, etc. Mas isso não interessa. Interessa a experiência a que ele aqui se sujeita.
Para saber da reacção do cérebro à música fazem-lhe dois 'scans' ao cérebro enquanto ouve duas peças de música, uma de Bach (compositor que adora desde pequeno) e outra de Beethoven (que não adora). No primeiro teste, ele diz claramente que adorou a peça de Bach enquanto a de Beethoven o deixou frio. E a verdade é que o cérebro dele o confirma, pois que ao ouvir Bach o cérebro reconhece-o e activa todas as áreas, enquanto que ao ouvir Beethoven está com quase nenhuma actividade.
O interessante é o que acontece no segundo 'scan' que lhe fazem, porque ele não conhece as peças, não distingue sequer qual é a do Bach e qual é a do Beethoven, e não gostou de nenhuma particularmente. Ora, o que é fascinante é que o cérebro dele reconheceu imediatamente a peça do Bach e activa-se todo com ela, enquanto que a peça do Beethoven pouca actividade gerou.
O que a mim me parece extraordinário é a constatação de que, se calhar, nós somos mais que um cérebro em funcionamento, somos mais que umas centenas de biliões de neurónios e sinapses, somos mais que a soma das partes e não podemos reduzir-nos ao argumento materialista da consciência. Pois senão como seria possível que o 'eu' do Oliver Sacks não coincidisse com a actividade do seu cérebro?
Et pourtant...cest ce qui se passe...A sua consciência e o seu cérebro não estão em consonância e o cérebro parece funcionar com automatismos a que a consciência não parece estar sujeita. Isto levanta claramente o problema da consciência livre, do materialismo e do mecanicismo cartesiano.