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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
René Magritte
I dream in blue
Its a dream of peace
yes
is a dream of you
Já não sei traduzir-me em letras
na madrugada sem sono
ao som das rajadas do vento
nem tento...
não quero
o refúgio das sombras.
já não sei como hibernar
como ser noite sem dia
lua
tenebrescente
quisera ser estóica
não sentir, não sofrer,
aqui ou ali,
este ou aquele
ser tudo mais ou menos indiferente
tenebrescente
é sabido que não tenho
sentido de orientação
não sei encontrar caminhos
nem sei dar coordenadas
das coisas do coração
tenebrescente
não aprendi a resguardar-me
do silêncio que me nega
da ausência que me fere
da distância que me apaga
bja
talvez amanhã
não tenha conhecido o mundo de perto
talvez amanhã seja de novo mar navegável
em vez deste imenso deserto
bja
Todo o Tempo é meu contexto.
Eu sou de agora e de antes
plenamente consciente
que todo o passado do Mundo
é, em mim, igualmente presente.
Qualquer época
experimentada
me assenta perfeitamente
visto-as todas à vez
a todas e nenhuma pertenço.
Trajes que provo
por dentro
para melhor sentir o Tempo
do agora, do presente.
Nada me pertence
não tenho lugar reservado
nem modo exclusivo de ser.
Fui cidadã de meu país
fui cidadã de meu continente
tive o mundo como pátria
fui parente de toda a gente
como coisa que também sou
mas que sei, não me pertence.
Sinto o fausto da vida de Tebas
com a mesma realidade
que sofro a solidão deste momento.
Toda a História sentida
como lugar de nascimento
toda a vida vivida
como cidadã do Tempo.
bja
Ser poeta é deixar ver o que está dentro
é sofrer as palavras que em nós tardam
da vida que nos suga, é ser alimento
das entranhas dos que se resguardam.
bja
bja
I saw your eyes
and I'm broken
the night rises and fall
a knife cutting the pain
breaking the inner walls.
I'm nowhere
I'm everywhere
and I don't care
anymore
I'm every person
who dies on the shore.
bja
Sem fé o destino falha.
Coração cego
demente
segues múrmurios
na noite sem sono
armado com ferros
remexes
pétalas vincadas
fechado em rimas
me cravas
... te escravas.
bja
I dream in blue
Its a dream of freedom
yes
is a dream of you
K. I.
Sim, trato a morte por tu
ela também me tuteia
espreitamo-nos uma à outra
a ver quem primeiro fraqueja.
bja
Sentimos o que desejamos
ou desejamos o que sentimos?
Que pergunta indiferente...
se o sentimos já é nosso
se o desejamos vive dentro.
Só é nosso o que sentimos
a pertença é um sentimento
é vida que partilhamos
com quem nos habita por dentro.
bja
Não mergulhes nas águas do abismo
nem te lances, destemido, na descida
(incauto caminhante da vida)
para espreitares
os demónios escondidos,
que aí têm guarida.
São amantes de demência
sugadores necromantes,
insinuam-te o vício do sangue
fazem-te traidor da vida.
bja
Coisa não há que não possa ser
o tempo é um presente constante
e toda a água apaga a sede ao beber.
bja
Se a não-saudade
é uma ausência de ser
deixem-me com esta ansiedade
mesmo que me faça morrer.
bja
Há os que vivem e os que deixam que a vida os viva. Os que vivem não deixam que a vida os transforme em mecanismos de defesa de aço duro, apesar das muitas tragédias que os feriram. (...)
A poesia não é dos poetas
é do olhar assombrado
daqueles que alimenta.
A poesia não é uma arte
que se ensina ou aprende
é uma porta que se abre
é uma luz que se acende.
Quem com o corvo voou
na hora da ilusão despida
se à sorte se negou
fez-se poeta da vida.
Ser poeta é ser olhar
no parapeito de mim
e o que vejo lá dentro
vejo-o também em ti.
Se o abismo encaras
no teu universo profundo
nesse olhar a alma resgatas
constróis-te poeta no mundo.
bja
Se eu fosse vindimeira
deitava-me à noite
no meio das vinhas
a cheirar o perfume
das uvas nos cachos maduros
e a olhar o céu
negro azulado
de estrelas salpicado.
Assim ficava
nas noites de estio
deitada e inebriada
os olhos no infinito
o corpo moldado
a sentir a terra
intensamente.
bja
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