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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
teresa de sousa
1. Ninguém viu chegar os gilets jaunes.
Imensa gente viu chegar os 'gilets jaunes'. Talvez não literalmente, com o colete amarelo mas muita gente em França alertava para a degradação das condições de vida dos trabalhadores, para o aumento obsceno da riqeueza dos ricos. Até Chirac, um insuspeito, avisou que se estavam a criar condições para insurreições. E não é só na França. Fala-se muito disso nos EUA e até há quem defenda a criação de exércitos especializados em revoltas populares. Cá em Portugal também se fala disso há muito tempo. O que acontece em França, como nos EUA, em Portugal e um pouco pela Europa fora é que não temos tido, desde há muito tempo, políticos acima da mediocridade com visão para além do seu umbigo.
...«Não quermos nada com os políticos. Ou seja, uma greve [está a falar da greve dos camionistas] contra a política. Ou seja, contra o sistema.
Os camionistas não dizem que são contra o sistema ou contra a política mas contra 'os' políticos, estes políticos que nos governam há anos num nepotismo divorciado do povo. Ora, dizer que perdemos a fé nestes políticos e precisamos de regeneração é muito diferente de dizer que se é contra 'a' política em si mesma.
Depois esta articulista fala na irresponsabilidade dos enfermeiros, insinua que se deve limitar as greves e diz que culpar o governo é de pessoas infantis. Quem é que toma as decisões e distribui dinheiros? Somos nós? A seguir mete-se com os professores para dizer que não queremos saber da qualidade do ensino. Assim sem mais. Só porque lhe apeteceu dizer, apesar de não perceber um boi do que se passa no ensino.
A seguir diz mal da campanha para o PE, chama populistas a estes e outros e diz que o debate político caiu para níveis muito baixos, o que é verdade mas ela própria, em grande parte deste artigo também mostra falta de nível: falta de conhecimentos e falta de argumentação para a sua tese. Não há uma reflexão, uma ideia. Nada. O artigo ocupa uma página inteira do jornal.
José Ribeiro e Castro
Por razões ideológicas, a ADSE continua a besta negra, a mal-amada, apesar de funcionar bem e dar boas respostas. Gigantesca será a responsabilidade de quem der cabo dela.
(sem comentários. O Costa e o DeBorla são isto, nos negócios com bancos e grandes destrutoras empresas batem qualquer política de direita aos pontos...)
A única certeza é que se algo correr mal, governos e supervisores vão dizer-nos que fizeram tudo o que a lei lhes permitia. Foi assim do BPN ao BES. Agora não será diferente.
Estas terras pedem socorro. E o socorro de que precisam não são bombeiros, mas administração pública.
A revolução socialista também deu origem, no seu tempo e contexto, ao sistema político e económico que mais poder e liberdade concedeu ao seu povo [isto é uma enorme mentira. Nem concedeu nem nunca Lenine ou, mais tarde, Estaline, tiveram essa intenção].
Em 1917, a Revolução foi capaz de retirar a Rússia do feudalismo e lançá-la para a modernidade com um projeto que inspirou direta ou indiretamente todos os movimentos progressistas e grande parte das conquistas populares do século XX. [os movimentos progressistas são do século XIX, como resposta às condições criadas pela revolução industrial. O próprio Marx, como esta Mortágua deve saber, nos escritos dos últimos anos que têm estado a ser descobertos e editados, reviu parte da sua teoria política, admitiu ser a democracia parlamentar à maneira inglesa um regime melhor que o socialismo. E depois, muitos países tiraram as pessoas do feudalismo sem assassinar 40 milhões do seu próprio povo...mas enfim... isto devem ser pormenores].
...só um movimento capaz de mobilizar povos para além delas poderia ter suscitado o nazismo e o fascismo como reação das classes dominantes. [what?? mas quem é que argumenta o valor de um regime pelo poder de ter invocado o nazismo...?]
Este artigo mostra o problema do BE: não têm teóricos e não sabem onde enquadrar-se políticamente em termos de raízes conceptuais, porque... deixa ver... não as têm...?
Recomendamos a esta senhora a leitura deste artigo, embora sem grande esperança pois é sabido serem os devotos, cegos psicológicos, por assim dizer mas, quem sabe...?
Liberty Under the Soviets, published in 1928, is a remarkable book. How rare to witness the mind of a man doing his best to ignore that his faith is a lie... more »
O André fez uma correção ao que eu disse,
"...o Marx não disse que a democracia inglesa era um regime melhor do que o socialismo. Disse foi que em países como o Reino Unido, com aquele modelo de democracia parlamentar, o socialismo podia ser alcançado sem revolução violenta, mas por via parlamentar e pacífica. É o melhor caminho para o socialismo, não melhor que o socialismo".
O livro parte de uma ideia simples: os pais devem poder escolher a educação dos seus filhos. A tese parece óbvia e pacífica, mas simboliza o abismo que nos separa de outras culturas. Desde o século XVIII que boa parte da intelectualidade portuguesa, em particular aquela que capturou o controlo do sistema educativo, se alimenta do postulado iniciático: o país só funciona adequadamente se uma elite iluminada, devidamente preparada e iniciada, tomar as rédeas da sociedade. Isto é assim porque o povo é ignaro e boçal, incapaz de se governar a si mesmo, necessitando da orientação dos seus maiores. (...)
(...) Este princípio, radicalmente antidemocrático, é partilhado por várias doutrinas dominantes...
(...) Assim, apesar da retórica, a intelectualidade nacional é profundamente antidemocrática. Temos um regime de sufrágio, mas numa cultura snob. O povo é quem mais ordena, mas apenas nos casos em que concorde com o orador.
(...) "Há muito boas razões para acreditar que um sistema de educação competitivo terá um desempenho melhor do que a maioria dos mercados. É expectável que as fontes tradicionais de problemas de mercado (...) sejam raras."
Este artigo reduz o problema educativo a um problema de elites ou pseudo-elites. Parte do princípio que os pais poderem escolher a educação dos filhos é uma tese óbvia e pacífica. Pode ser óbvia e pacífica mas não é simples como ele diz.
Em todo o artigo de opinião, procuramos por entre parágrafos de retórica anti... tudo e mais qualquer coisa, se está a defender a escolha, por parte dos pais, de uma educação propriamente dita ou a escolha da escola a frequentar. É que são coisas muito diferentes. Do livro que ele recomenda só ficamos a saber que favorece a competição, à maneira dos mercados, de sistemas educativos, de modo que se era para fazer a promoção do livro, não fez, antes pelo contrário, já que o sistema de mercado aplicado à educação tem dado maus resultados por todo o lado. Basta ver que os melhores sistemas educativos ou, pelo menos, como tal considerados, os dos países nórdicos, são quase totalmente públicos e não promovem a competição entre si.
De nada serve cantar hossanas à "democracia europeia" para, depois, acabarmos nisto.
Elisabete Rodrigues
Infelizmente (a provar que tem toda a razão no que diz) tem logo alguns comentários depreciativos de homens -e de uma mulher que desconfio ser homem que escreve com nome de mulher porque nenhuma mulher diria aquilo a não ser sendo mesmo estúpida [o que pode acontecer, claro]- a dizer que o problema da articulista é não ter homem, ser carente e por aí fora. Típico...
Agora o que me chocou foi ler que no vídeo promocional que a RTP exibiu a propósito das comemorações da implantação da República Portuguesa há uma cena sexista com um piropo daqueles que objectificam as mulheres. É triste.
O autor deste artigo pergunta porque é que ainda nos agarramos à ideia de glória como imortalidade, se sabemos ser uma ilusão absurda, já que não é o eu que perdura no tempo -quando perdura- mas uma qualquer percepção do eu, não real.
Esta maneira de falar das coisas e da sua percepção como coisa real e não real já dava grande discussão mas não vou entrar aí porque mais que isso parece-me que o autor passa ao lado da questão.
O problema não está em sabermos que, se ganhassemos fama e glória imortais, estas seriam sempre interpretações do 'eu', o problema está em sabermos que a não imortalidade traz consigo o aniquilamento do 'eu', a realidade da nossa passagem por este mundo ter sido, no grande esquema da História, insignificante: que todo o esforço, o sofrimento, as lutas, as conquistas e dificuldades por que passámos são nada. Tiveram importância para nós e mais meia dúzia de pessoas durante um pequeno espaço de tempo e depois dissolvem-se no nada como se nunca tivéssemos estado aqui. Esse é que é o problema. É o problema de querermos que as coisas tenham um sentido, uma finalidade, uma escatologia qualquer que faça as coisas terem valido a pena e o valor próprio é, em grande medida, aferido pela validação dos outros, no grande esquemas das coisas.
Enquanto estamos vivos vemos como o trabalho de algumas pessoas tem importância na História, no sentido de influênciar o rumo dos acontecimentos. Se isto é vaidade? Talvez. O maior exemplo de vaidade, então, é o caso do Deus que podia, por um acto de vontade ter limpo os pecados do mundo mas fez questão de se fazer humano, mostrar o sofrimento para induzir piedade e exigir a glória e adoração eterna em troca da salvação...
Pois a mim parece-me ser a natureza humana parente da Metafísica e todas as questões humanas, quando levadas até às últimas consequências, darem de caras com a Metafísica, na seguinte questão: se tudo é nada, porquê o ente, porquê o ser humano, consciente?
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