... mas não... deixa-os lá ficar bem doentes que depois remediamos com apoios... não sou contra os alunos terem apoios, bem pelo contrário mas preferia que em primeiro lugar se tomassem as medidas que evitam que os alunos cheguem ao ponto de precisar de apoios. Mas essa não que isso custa dinheiro. E depois, quando fosse necessário sacar mais uns biliões para pagar a crise onde se iria buscar...?

Ontem aquela luminária que escreve livros a dizer que é preciso inventar novos professores escreveu um artigo a explicar aos professores de Português como devem dar os Lusíadas à maneira que ele 'gosta'  [como se isto fosse uma espécie de bacalhau à moda do senhor] e que é a maneira como a dona Zulmira que foi professora dele há 60 anos dava a obra... e diz que os alunos não gostam dos Lusíadas porque os professores são maus e os alunos aborrecem-se. 

O que me aborrece são estas pessoas que do lado de fora deste sistema insano em que se transformaram as escolas para se poder despedir e poupar dinheiro  [o que passou e passa pela degradação constante dos professores e do seu trabalho] em vez de lutarem pelas medidas que previnem e diminuem os casos de chumbos (mas se calhar o que interessa não é os alunos aprenderem de facto mas apenas mudar a estatística nem que seja à custa de os passar em cursos de...deixa ver... navegar no Facebook, por exemplo) passem o tempo a dizer o que 'gostam' e o que 'querem' segundo as últimas modas - os mesmos que não fizeram o que 'deviam' quando tiveram o poder de o fazer, em grande parte porque têm um enorme desprezo pela profissão de professor que acham ser uma profissão para gente que não soube ter sucesso, isto é, não soube ser um fura-vidas e ganhar dinheiro.

Alguns são mesmo grandes responsáveis pelo estado da educação actual como essa Rodrigues e este Crato que também passa o tempo a dizer o que 'quer'. Porque a escola existe para satisfazer os 'quereres' e 'gostos' e 'opiniões'  desta gente toda de sucesso, especializados em ser viajantes do planeta que dão duas voltas ao mundo em 80 dias, estes especialistas em saber quantos engenheiros havia em mil novecentos e troca o passo e em pagar milhares e milhares de euros a pessoas para tirar fotocópias e ordená-las pelo sistema alfabético ou algo assim. 

O que me aborrece é que não se calem de uma vez por todas!

Se as turmas não estivessem a abarrotar de alunos, os professores a abarrotar de turmas e de trabalho burocrático inútil, se calhar faziam melhor trabalho, os alunos chumbavam muito menos e não havia professores sem turmas...

Ex-ministros querem professores sem turmas a apoiar alunos

Os professores lidam com realidades dramáticas numa base diária.

Hoje um aluno partilhou [na e com] a turma a sua história de vida, um bocadinho a despropósito, porque aquilo de que se falava não tinha grande relação com a história dele, o que mostra, a meu ver, a grande necessidade que ele tinha de uma certa catarse, de uma demostração de solidariedade e de empatia.

O rapaz contou que é o segundo filho de seus pais. Quando nasceu, vinha com uns problemas que fizeram os médicos suspeitar que ele pudesse ser cego e ter graves deficiências mentais (o que se revelou completamente falso). Os pais, sabendo desse prognóstico, abandonaram-no ali mesmo e, quem foi buscá-lo e o criou foram os avós. Os pais entretanto tiveram mais filhos. Ele viu os pais pela primeira vez aos seis anos e nem se dá com os irmãos. Os pais ligam uma vez por mês à avó (o avô, que foi o seu verdadeiro pai dele, já morreu) para saber como está e mais nada.

Uma pessoa fica chocada a ouvir estas coisas. Um miúdo amoroso. Como é que se vive com uma rejeição destas?

A vida profissional dum professor está cheia destas histórias que geralmente não contamos porque os alunos não as partilham assim publicamente, como este fez, mas apenas em privado.

A pergunta que se faz é: que respostas a escola pública dá a estes alunos que não têm 'almofadas', não têm famílias que os apoiem e que dependem 'da aldeia toda', por assim dizer, para terem uma oportunidade na vida... ? Cada vez menos resposta, infelizmente...

Li hoje que em Inglaterra a percentagem de alunas que se prostitui, a partir dos 16 anos, para poderem ir estudar numa universidade, por causa do aumento do custo de vida e da diminuição drástica dos apoios sociais, cresce assustadoramente. Que experiêcias terríveis levam estes miúdos para a vida adulta e que repercussão tem tudo isto na construção da sociedade do futuro...?

Mais 50 cêntimos de comparticipação na compra dos livros do secundário

Os alunos do secundário vão receber mais 50 cêntimos de comparticipação na compra dos manuais escolares.

50 cêntimos? Uau! E isto é para os alunos do secundário do escalão A, que são aqueles cujo rendimento familiar só dá para uma refeição por dia, porque para os do básico são só 30 cêntimos!

Quantos milhões já se gastaram em magalhães para fazerem de relógio despertador e nada mais?