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(...)a realidade não existe por si, apenas como percepção da nossa mente, o que satisfaz fielmente o meu trabalho com as estatísticas, aperfeiçoando-as por processos em que me tornara especialista, foi a minha tese de doutoramento, Como manipular dados estatísticos de modo a evidenciar resultados não existentes na realidade; se não existe uma realidade consensual para todos, é dever dos números fazer passar por objectiva e verdadeira a realidade que mais satisfaz as elites, mostrando ao povo o caminho a seguir – é a lição que transmito aos meus alunos de Sociologia das Estatísticas: os números, impondo-se, universalizam e objectivam o que de raiz é particular e opinativo, transfigurando-o, não em verdade, em sociologia não existem verdades, mas na linha dominante da interpretação do mundo, aquela que os jornalistas, presumindo criar opinião própria, partilharão nos diversos editoriais, estabelecendo um consenso social entre as elites e o povo (…). (p. 25)

 

Fui tirar este excerto do livro A Ministra do Miguel Real ao blog do Umbigo. Fiquei na dúvida, ao ler, se o autor está a citar a dita cuja ou a fazer interpretação de palavras dela. Vou ter que ler o livro para saber.

No entanto, se está a citar Mª de Lurdes Rodrigues é um escândalo que a mulher tenha sido escolhida para esta ou outra qualquer pasta pois ali se declara, preto no branco, a intenção de inventar uma realidade fabricada por números que lhe darão uma aparência de verdade com a o intuito de manipular as pessoas e retirar dividendos. Fala em «mostrar ao povo o caminho a seguir»(!!) como se fosse uma espécie de pastor Cristo que vem indicar o caminho da redenção...que alucinação...

Repare-se que a ministra confunde verdade (absoluta) com objectividade, pois diz que ao não haver uma verdade consensual qualquer verdade pode ser instituída. Ora, não haver uma verdade única não significa não existirem critérios de objectividade de tal modo que todas as interpretações sejam equivalentes.

Depois refere, como se tivesse descoberto a pólvora, a dificuldade ou impossibilidade de se provar uma verdade acima das outras (uma discussão que já leva milhares de anos) e apresenta-a como legitimação da manipulação das massas por uma suposta elite da qual pensa (alucinadamente?) fazer parte. Ao dizer que a percepção cria a realidade porque os números a impõem como coisa universal, faz uma declaração de fé na existência de uma realidade (que antes negava como apenas percepção) e, mais do que isso, na capacidade -mágica? - duma percepção criar realidade, só por ser acreditada. Bem, isso é o que acreditam também aqules que vão a Fátima de joelhos...

Mas estas declarações explicam muita coisa: o primeiro ministro contrata actores para fazerem de alunos 'muito à frente' pensando que, se o povo percepcionar a escola e os alunos assim, eles se tranformarão, por magia, em tais pessoas;

a ministra faz campanha nos jornais contra os professores para criar a percepção de que são uns incompetentes, jugando que essa percepão passará a ser, po rmagia, verdade: o povo continua, no entanto, a ter mais confiança nos professores que nela;

a ministra diz que para ter melhores resultados na matemática basta fazer uma campanha pública a dizer que a matemática é fácil: acredita que essa percepção criará, por magia, excelentes alunos - confunde confiança e auto-confiança com criação mágica do real;

a ministra culpa os media dos maus resultados nos exames, por terem dito que eram difíceis - ela acredita que, se a percepção dos alunos acerca dos exames é a de que eles são fáceis, pois por magia eles não apenas parecerão, como serão, na realidade, fáceis.

E por aí fora, porque esta foi a única política desta indivídua: criar percepções ilusórias na crença de que por si só engendrariam realidades de facto, que entretanto, muito contraditoriamente, defende não existirem como tal.

 

Em conclusão, estivemos à mercê duma adulta com pensamento mágico..? Uma pessoa que baseia o seu pensamento em crenças sem objectividade....

De facto, a uma especialista em estatística, que é o que ela é, não se devia ter pedido mais do que ela é capaz... o resultado está à vista.

Com esta maneira de pensar faltou pouco para que tornasse obrigatória a leitura daquele livro idiota e anti-pedagógico que fez grande sucesso chamado O Segredo, que defende que para se alcançar objectivos na vida basta acreditar muito, muito, e percepcionar que depois isso acontece, tipo por magia...

 

O que lhe deve custar, a ela e ao senhor Sousa é que, com tanta manipulação de números e de percepções, nunca nos enganaram, nunca conseguiram falsear a nossa percepção daquilo que eles, na mais pura realidade são.

 

 

publicado às 03:46


no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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