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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
-CP
“Não podemos resolver uma crise sem tratá-la como uma crise. Temos de manter os combustíveis fósseis debaixo do solo, e temos de focar-nos na igualdade. E se as soluções dentro do sistema são tão impossíveis de encontrar, então talvez tenhamos de mudar mesmo o sistema.” (Greta Thunberg)
Foi convocada para dia 15 de Março uma greve climática estudantil em Portugal, com manifestações já previstas para Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Leiria, Évora e Faro.
Hoje uma aluna foi tão mal educada... fiz-lhe um favor para não a deixar numa situação de aflição numa disciplina. Não só não teve a delicadeza de agradecer como ainda foi mal educada. Uma pessoa às vezes tem de fazer um esforço muito sério para não dizer, 'sua parvalhona ou seu parvalhão', a alguns alunos em certas situações. É claro que não se pode porque isso não só não resolve o problema da falta de respeito dela como não a põe em situação de aprendizagem que é exactamente o que ela mais precisa, para além de que o resto da turma fica a ver o que eu faço e como resolvo o assunto e também esses estão numa situação de aprendizagem, de modo que respondi como devia responder. Mas isto incomoda e mais ainda ver que a rapariga não foi capaz de pedir desculpa. Enfim, este assunto não está encerrado como ela pensa porque em meu entender ela não aprendeu o que tinha de aprender com a situação da qual a livrei mas isso fica para outra altura. Temos tempo e eu tenho paciência. Na verdade, esta aula, apesar deste incidente no início, correu excelentemente e a turma esteve sempre a intervir. Já trabalhei este tema muitas vezes e sei a que é que os alunos são sensíveis e ao que reagem de modo mais positivo. Isto da aula ter corrido muito bem irritou um bocado a rapariga, quer dizer, nem eu ter-lhe ligado a importância que ela pensava que ia ter com a sua atitude, nem a turma ter valorizado a palermice dela. Às vezes é precisa muita paciência e alguma sabedoria feita de experiência de muitos anos para lidar com a palermice de muitos adolescentes...
Hoje, para atravessar o corredor dos laboratórios, o que fazemos para passar de um bloco de salas de aula para outro, abotoei-me toda e pus o cachecol que toda aquela zona toda é o Polo Norte. Pois os miúdos estão sentados naquele chão de laje gélida ao longo do corredor como se fosse verão; só que depois vão de mantinhas para as aulas que põem nas perninhas como os velhotes quando se sentam ao ar livre... ??
Há bocado, na rua, vinham a caminhar em direcção a mim três miúdas com cerca de doze anos e uma outra mais velha (ou apenas mais alta). De repente, duas delas caíram no chão e ficaram deitadas. Pensei que tinham ficado mal e ia desviar-me para ajudar quando vejo a terceira atirar-se para o chão a rir enquanto a mais velha filmava... as garotas iam naquilo... de dez em dez metros atiravam-se para o chão sempre a tirar selfies e a mais velha filmava, tudo no meio de grandes risadas...
De facto a adolescência é uma terra muito estranha.
A adolescência é um lugar inóspito, alienígena e solitário e quem diz que gostava de ter outra vez 16 anos é porque já não se lembra como era ou não contacta com adolescentes ou contacta mas não os 'vê'.
Está em pânico porque foi descoberta e como está tudo filmado não há maneira de negar... Não sei se a publicação do vídeo foi feita agora por alguém saber que o direito à queixa prescreve e pensar que seria seguro mostrá-lo agora. É muito comum os adolescentes pensarem que a realidade é como nos filmes que consomem. O medo não ajuda a prevenir nada, só ajuda a sofisticar as práticas. Estas pessoas precisam de intervenção profissional urgente, enquanto ainda é tempo, antes que se transformem em adultos sem remissão.
À medida que passa o tempo, esquecemo-nos um bocado de como era a vida de adolescente; excepto se se é professor porque damos de caras connosco próprios, todos os dias, tipo espelho, nalguns alunos; enfim, temos a tendência de pensar que a vida de adulto é sempre mais complicada que a do adolescente -as responsabilidades, os filhos, as contas para pagar, etc.- até sabermos de algumas vidas de alguns adolescentes... ser adolescente numa casa complicada torna a vida muito complicada...fica-se a pensar, 'se eles forem capazes de sair incólumes disto, sobreviverão a tudo'.
O jovem que colocou o vídeo no Facebook chama-se Rodolfo Santos e frequentou a Escola Alberto Neto, em Queluz, o mesmo estabelecimento de ensino onde estuda a vítima de agressão.
Rodolfo terá 18 anos, o 7º ano de escolaridade, frequenta actualmente uma escola profissional na zona da Amadora e reside também na região de Lisboa.
As escolas estão cheias de adolescentes violentos e mal formados dos quais os piores são aqueles cuja idade já está completamente desadequada para o ano de escolaridade que frequentam: podem estar no 7º ano com 18 anos, por exemplo, e são o terror dos colegas. O pior que acontece a estes indivíduos é, em casos extremos, serem transferidos para outra escola. Por exemplo, o aluno que bateu num professor numa escola daqui de Setúbal vai ser transferido para outra. Pode vir parar à minha, enquanto um da minha pode ser transferido para aquela. Andam os alunos numa dança só para não sairem do sistema e não estragarem as estatísticas. Mas, para não estragarem as estatísticas, estragam os colegas.
É uma vergonha que a tutela desvalorize sistematicamente este problema e não só não faça nada como desincentive tacitamente as escolas de procurarem soluções. Nenhuma escola quer estar sinalizada como escola com problemas de indisciplna porque isso põe em causa o lugar da Direcção e, no futuro, o investimento de que se é alvo.
No meio destas cobardias e hipocrisias em resolver o problema porque não se quer investir em medidas que só resultam a médio e longo prazo há alunos em grande sofrimento numa base diária. Camuflado, porque sabem que, regra geral, de pouco lhes serve queixarem-se dado o clima de impunidade geral.
Acho isto revoltante.
Hoje uma aluna disse-me que estavam a combinar uma therapy drum. Perguntei-lhe o que era isso. Disse-me que é uma festa em que se põe altíssimo música com batida muito violenta (a parte drum) e depois se juntam em grupo e batem com a cabeça na parede ao ritmo da música (a parte da 'terapia'). Disse-me que estava a pensar ir a uma festa dessas no dia de Natal mas não sabia se a mãe a deixaria ir... lol.
Cada vez mais actual esta música. Adolescentes, enfiados em guetos, juntam-se a gangs para terem algum sentido de afirmação. Têm a sensação - não errada - de não terem nada a esperar, nada a perder...
jornal SOL
O evento espera a adesão de mais de 500 pessoas, com o objectivo de angariar fundos para a criação do primeiro Curso de Cozinha e Pastelaria que irá formar 15 mães adolescentes solteiras, apoiadas e acolhidas pela Casa de Santo António, permitindo-lhes o acesso ao mercado de trabalho.
Esta iniciativa pretende potenciar as instalações que a instituição já possui e será um contributo na luta contra o desemprego e contra a falta de perspectivas profissionais das jovens em causa.
Notícias encorajadoras. Iniciativas de mérito.
PÚBLICO
15.06.2009, Joana Amaral Cardoso
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Ela é um dos pesos-pesados da moda. E decidiu enviar uma carta a dezenas de criadores e designers de moda europeus e americanos a queixar-se de uma questão de leveza: eles enviam-lhe roupas "minúsculas" para as produções da sua revista - a Vogue - e isso obriga-a a contratar modelos irrealmente magras. A carta de Alexandra Shulman, directora da Vogue britânica, já fez o seu papel: relançou o debate sobre o chamado "tamanho zero".
Alexandra Shulman pesou bem as suas palavras na carta enviada no final de Maio e que não se destinava ao conhecimento dos media, mas que foi revelada sábado pelo Times. "Chegámos ao ponto em que muitos dos tamanhos das peças de mostruário não servem às modelos-estrela, já estabelecidas [no mercado], de forma confortável", lê-se na carta enviada às casas - Prada, Versace, Yves Saint Laurent, Balenciaga - e aos criadores - Karl Lagerfeld, John Galliano, Stella McCartney, Alexander McQueen - mais conceituados do mundo.
Mais de dois anos depois de ter eclodido a discussão sobre o peso dos manequins e modelos nas passerelles, na sequência da morte de duas modelos sul-americanas por subnutrição e da proibição de modelos demasiado magras (o tal "tamanho zero" na tabela americana, que corresponderia a um tamanho 30 na tabela europeia) nas passerelles de Madrid, Nova Iorque e Milão, agora o dedo é apontado aos criadores de moda. Até aqui, o peso da questão estava sobre os manequins.
Paulo Gomes, produtor de moda, explicou ao P2 que a questão da diminuição dos tamanhos - "nos últimos anos, mesmo em Portugal, já há alguns criadores que usam o tamanho 34" para as suas peças de amostra.
Até que enfim que alguém com peso no mundo da moda diz qualquer coisa positiva sobre este assunto. Numa época em que a pressão da imagem é esmagadora e em que as modelos são contra-exemplos de crescimento e vida saudável, o exemplo que dão e que é seguido por milhões de pessoas, sobretudo adolescentes é vergonhoso.
Mas, como se diz no artigo, as modelos vestem a roupa dos 'designers', não são elas que impõem o 34 como medida standard.
Para quem lida com adolescentes diariamente é aflitivo ver a angústia e o sofrimento que acompanham o esforço destas miúdas para se esqueletizarem até tamanhos de roupa próprios para crianças.
Passar fome impede o crescimento, perturba a concentração, o estudo e o bem estar geral.
Algumas miúdas parecem saídas de um campo de concentração, mas têm uma percepção tão enviezada da realidade que não se vêem como são.
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