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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Hoje num almoço de família, gabaram tanto uma sobremesa de mousse de lima com menta que fui buscar uma colherzinha de café e tirei uma lágrima para experimentar. Soube-me a açúcar. Eu sei que se estivéssemos no ano passado, por esta altura, tinha sabido bem mas como ando sem comer coisas com açúcar há mais de um ano, tudo que tenha 1 graminha de açúcar só me sabe a açúcar. Se como uma banana mais madura, é como enfiar um pacote de açúcar pela boca abaixo.
O lado positivo é que estou desintoxicada de açúcar, o lado negativo é que devo ter perdido a mão para doces porque as coisas que aos outros sabem bem, para mim são pilhas de açúcar.
Depois, uma pessoa da família que está com enorme excesso de peso perguntou-me como é que eu tinha conseguido fazer esta dieta tão extrema. Se tinha ido a um nutricionista, se estava a tomar comprimidos... disse-lhe que tem sido só força de vontade e orientação inestimável do meu querido médico sem o qual não tinha chegado aqui. Disse-me que não era capaz só com isso. Não critico. Já fui meio-viciada em chocolates, completamente viciada em cigarros... mas chega uma altura em que temos que escolher entre o vício e a vida.
Quando deixei de fumar pedi ao meu filho (que sempre odiou tabaco) para me guardar os maços que sobraram (comprava os cigarros em volumes de 10 maços) no quarto dele porque sabia que para deixar de fumar tinha que ter cigarros em casa. Entretanto ele saiu de casa e guardou-mos numa gaveta onde tenho meias. Isto foi há 9 anos ou por aí. Desde então nunca mais vi esses maços de cigarros. Não abro essa gaveta até ao fundo para não os ver mas toco-lhes, de vez em quando. Acho que agora já os podia ver. Vou ali ver e já venho. Será que é hoje que me desfaço deles?
(melhor ouvir sem som que esqueço-me que isto está a gravar o som e fico a dizer parvoíces...)
Estou há um ano e quase dois meses sem comer açúcar (com excepção de um dia de Fevereiro em que resolvi comemorar o feito e fartei-me de comer doces...), há quase oito meses em restrição de fruta, de arroz e massas e, agora, também de pão. Para uma perdida gulosa como eu isto tem sido extremamente difícil mas, se tenho a pouca sorte de ter diabetes em ambos os lados da família com casos de cegueira e tudo, também tenho a sorte de ser daquelas pessoas que, se adoptar um estilo de vida e de alimentação cuidadoso, não fico diabética, de modo que não posso desperdiçar a oportunidade.
O açúcar é o meu veneno. Mesmo. Faz-me inflamações por todo o lado e outras coisas.
Para ser capaz de passar sem doces tenho que fazer o que fiz com o tabaco quando deixei de fumar, vai fazer 14 anos no mês que vem: tenho que convencer-se que sou uma diabética, mesmo não sendo (para não chegar a ser), por isso, tenho que ter os comportamentos dos diabéticos, da mesma maneira que sei que sou uma fumadora. Só que já não fumo, mas sou uma fumadora de modo que não posso, nunca mais, pegar em um cigarro. Tal como os alcoólicos... é certo que com o pão ou os doces é diferente. Consigo comer um doce uma vez por mês, ou um pãozinho, sem me viciar. Havemos de chegar a essa altura de poder, uma vez por mês, fazer uma pequenina batota (se o meu dearest deixar, que sem ele não tinha conseguido chegar aqui), que a vida não pode ser só sacrifícios mas, até lá, estamos em blackout total...
O que tem que ser tem muita força. É este fim de semana que vamos comemorar um ano sem açúcar: nem bolos, nem doces, nem gelados, bombons, chocolates, bolachas... até a fruta está em restrição. Tem que haver uma comemoração épica para me motivar a mais um deserto de açúcar de sei lá quantos meses...
Já estamos a preparar. Isto vai meter bombons (plural) godiva (pelo menos um com kirsch), bolo(s) de chocolate, um gelado novo da haagen daz, mais um ali da baixa (tipo Santini), mais um restinho de torta de laranja com chocolate que está no congelador há meses - já deve estar estragada... falando nisso, vou andar com um cartão ao pescoço para o pessoal do INEM que, tenho a certeza, vai fazer parte desta história doce...
Estou a um centímetro de ir comprar um caixa destas e comê-la toda de enfiada... ...mesmo!!!
Conspiração é o termo certo porque os fabricantes arranjam maneira de enfiar açúcar em tudo, às escondidas, com nomes químicos que nós não conhecemos e não percebemos o que é.
Eu ando a desintoxicar-me de açúcar já há meses. Deixei de comer pão, doces, chocolates e bolos, claro, mas também arroz e massas, batatas fritas, etc. Um dia fui para o supermercado investigar rótulos: na carne, descobri que quase toda vem com adição de açúcar (agora só compro carne no talho do senhor António que ele corta em minha frente. Mesmo assim, como pouca porque sei que os animais são alimentados com farinhas e injectados com antibióticos); produtos de charcutaria como presuntos, patés, etc., a maioria tem adição de açúcar; os iogurtes foi o mais chocante porque fazem parte das dietas 'saudáveis' mas praticamente todos têm enorme excesso de açúcar. Um potezinho com 100 ou 120 gramas de produto tem 15g, 17g ou até mais gramas de açúcar! Estive mais de uma hora só no corredor dos iogurtes a ler rótulos até descobrir um iogurte com 0g de açúcar.
Mas a conspiração é tão grande que uma pessoa não se pode sentir confortável no conhecimento dos produtos, para não acontecer o que me aconteceu a caminhar na Serra que tropecei e caí porque já me sinto tão confiante a andar naqueles trilhos que ia a andar a olhar para o céu em vez de olhar para o caminho... pois outro dia, também tropecei no açúcar por excesso de confiança. A verdade é que nestas coisas do açúcar, é preciso ter presente que os fabricantes têm uma arte de o disfarçar nos produtos muito maior que a nossa de o descobrir de modo que toda a prudência é pouca.
Fui ao supermercado de manhã com intenção de comprar as coisas que preciso para fazer os doces de Natal que me couberam em sorte (como somos imensos cada um tem que levar cenas...). Precisava de amêndoa ralada, duas dúzias de ovos, um quilo e meio de limões, papaia mamão, pêras e, claro, açúcar. Sendo que o que tenho em casa não chega a meio quilo (usa-se pouco açúcar por aqui) estava a pensar comprar um quilo. Dei de caras com um magote de gente à volta do sítio do açúcar que estava completamente vazio. 'Ó diabo', pensei, 'sem açúcar não há doces para ninguém'. Vim-me embora sem o açúcar (o senhor A. da merceeiria onde costumo ir vendeu-me depois um quilo), não antes de ter ouvido na caixa quem se gabasse de ter conseguido levar dezassete pacotes de um quilo cada! Não percebo estas coisas. Para que é que precissa de dezassete quilos? Fiquei com vontade de ser mázinha e desejar-lhe uma crise diabética com estadia natalícia no hospital.
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