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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Morreu Franco Zeffirelli, um cineasta italiano, conhecido, sobretudo, pelos amantes de ópera porque foi director de ópera e montou muitas dezenas de óperas absolutamente extraordinárias de lindas. Opulentas, muitas delas. Um indivíduo com uma imaginação excepcional que criava experiências únicas. Estou a lembrar-me de uma Turandot no MET, por exemplo.
Enfim, foram mais de 60 anos a proporcionar prazer aos outros. É o que chamo uma vida bem vivida 🙂
Uma cenário simples, sóbrio mas inteligente porque a Gulbenkian não tem palco de ópera e não dá para ter ali cenários complexos. A orquestra tocou excelentemente com um maestro que não conhecia, um tipo novo, muito bom. O coro excepcional. Gostei muito do Tebaldo, um tenor português e do Mercúcio, um barítono americano muito bom. A Julieta veio a melhorar ao longo da ópera porque começou mal, quanto a mim. Parecia que não tinha aquecido a voz. Agora o Romeu... primeiro parecia um merceeiro de quarenta anos com a camisa aberta até quase ao umbigo (houve uma altura em que andou a cantar uma cena romântica à Julieta com a braguilha das calças aberta o que não ajudou nada...), depois a voz dele não tem o tom romântico, quente e cheio, suave em registo alto, que o papel requer. Pelo contrário, tinha uma voz áspera em registo alto e sem nenhum romantismo. Uma chatice... mas as pessoas parece que gostaram porque baterm-lhe muitas palmas e gritavam e isso. Para mim estragou um bocado aquilo tudo. Achei-o mesmo descativante.
Não gostei da maneira como puseram a Julieta a entrar no palco na primeira cena. Foi ridículo, para não falar no Romeu que parecia um merceeiro vestido de cabedal preto com uma camisa encarnada... quer dizer, o Romeu é irreverente mas tem 14 anos, é romântico e lírico, não um gangster. No geral foi bom e valeu. Pena o Romeu...
Uma voz de Romeu é assim:
“At a time when our society is having to confront the murder of women, how can we dare to applaud the killing of a woman?” Chiarot, who took up the role last year, told the Thomson Reuters Foundation in an email.
Em Florença um produtor resolveu mudar o final da ópera de Bizet onde o D. José mata a Carmen num acesso de ciúmes. Não é que isto tenha grande importância mas o argumento dele de não querer que aplaudam a morte de uma mulher é idiota. A história da Carmen é que ela prefere morrer a subjugar-se de modo que a morte dela faz sentido. Sei que à conta disto só se fala na ópera e já esgotaram os bilhetes :))
Ainda não encontrei o outro DVD... (tenho que sair da estrada principal e ir procurar numa ruela) mas entretanto encontrei este concerto. Aqui, os nove minutos finais do acto 1 das Valquírias. Lindo, lindo. O crescendo do último minuto passa uma tal carga de energia positiva emocionante directamente da música para nós que é difícil de descrever por palavras. Vou pôr isto no meu leitor de mp3 para ouvir de manhã a caminho da escola :)
Estas é uma das preferidas, nesta mesma versão. Comprei-a quando morava em Bruxelas (o CD tinha saído há pouco tempo) de modo que sempre que a ouço lembro-me da casa de Bruxelas e de um jogo de PC em que estava viciada e que jogava a ouvir isto em modo repeat. De tanto ouvir a ópera decorei-a e cantava-a (enfim, fazia algo....) sem dar por isso enquanto jogava. Ajudava-me, como ainda faz, a concentrar. Só desconcentro e 'acordo' quando ouço aquele grito, Amfortas! Amfortas! Adoro esta ópera. Música do outro mundo, deveras.
... que está em Portugal para cantar o Macbeth de Shakespeare de Verdi. Uma entrevista muito interessante para conhecer uma portuguesa que aos 18 anos saiu das berças, como se costuma dizer, para ir para Madrid, sozinha, estudar no Conservatório, lá pelos anos 80 do século passado e que construiu uma carreira de sucesso internacional. Quem é muito bom e muito acredita sempre consegue :))
Está a começar um Fidélio (Beethoven) com o Zubin Mehta a conduzir e a Waltraud Meier a cantar :)))
Orphée e Eurydice de Gluck, versão revista por Berlioz. Espectativas positivas :)) mais porque gosto muito desta ópera e porque neste país é tão raro podermos assistir a uma ópera ao vivo que é como um golo de água numa jornada pelo deserto...
... que já não ouvia há que tempos! Quando me apaixonei pela ópera, o Puccini foi um dos primeiros compositores de que gostei, o que não admira porque é muito fácil de ouvir. Ainda gosto dele e desta ópera. Gosto desta cena que, quando é bem cantada e representada, é ao mesmo tempo muito cómica e comovente. Embora esta não seja a minha versão preferida da ária da Musetta porque o burlesco me parece um bocadinho exagerado (a que gosto não anda aí na net... ) é duma produção excelente. Aliás esta versão, com o Pavarotti e a Freni está completa na net. Esta que canta a parte da Musetta é a Sandra Pacetti.
Adoro isto!
Hoje, a dar volta a livros, vim a descobrir um pequeno livrinho duma colecção de ópera, com direcção de um tal Sampayo Ribeiro, de meados do século XX. Neste caso, 'O Ouro do Reno' da tetralogia de Wagner, 'O Anel do Nibelungo'.
O livrinho é um mimo e vê-se que o editor, Manuel B. Calarrão, pôs muito amor na sua edição. Não lhe falta nada. Tem uma introdução sobre o autor, o contexto do nascimento da obra e os seus principais intérpretes, tem o argumento e texto da obra, tem excertos da partitura com análise musical e, está bem ilustrado, com fotos de Wagner e dos vários 'tableaux' que compõem o drama da ópera. Escrito numa linguagem rica e brilhante, consegue isto tudo num pequeno livrinho de tamanho de edição de bolso com sessenta páginas de um papel creme lustroso, muito fino. Uma coisa linda, mesmo.
Já não me lembrava de ter isto :)
Como eu gostava de ter assistido a este Ernani... a excitação, aquele frisson que antecede uma representação operática que já sabemos que vai ser especial, pela qualidade do maestro, da produção e, muito especialmente, dos cantores. Aquele momento em que estamos a uns minutos de subirem o pano, quando se ouve o afinar dos instrumentos. Sobretudo quando estamos numa grande casa de ópera como o Scala, o ROH ou o Met. Mas, até mesmo no S.Carlos, se a representação é boa, sai-se de lá, literalmente, nas núvens com um sorriso parvo na cara :) Horas de pura magia.
Adoro o Bruson a catar esta ária do Carlos V, perto do túmulo do Carlos Magno, à espera de ser escolhido. Uma voz poderosíssima que passa do tom duro ao nostálgico com a maior coerência e facilidade e o sentimento de crescente consciência do poder real que põe no dizer das palavras, na expressão facial e na dignidade dos gestos.
Hoje fui à Gulbenkian ouvir a Flauta Mágica do Mozart, em versão concerto, pela Academia de Música de Berlim. Muito bom. A ópera já de si é encantadora, com uma música elegante e amável e, como se isso fosse pouco, ainda tem um humor muito de conto infantil que nos deixa bem dispostos :)
Os músicos muito bons -adorei o Sarastro, o Papageno e a Tamina-, o coro afinadíssimo, as flautas no ponto... enfim, um serão mesmo agradável.
Carmen: Elīna Garanča & Gustavo Dudamel
Fui à Gulbenkian ver o Tannhauser em versão concerto. Adoro esta ópera embora por ela perceba muito bem porque é que o Nieztsche chamava traidor ao Wagner: aquela conversa toda no terceiro ato sobre anjos e bençãos e passarinhos do céu...enfim... o tenor que fazia de Tannhauser e que devia pesar uns cento e cinquenta quilos, foi em crescendo à medida que voz aquecia e cantou a sua parte com uma voz enorme e mesmo wagneriana. A soprano alemã que fazia de Elizabeth tinha uma voz muito bela e cantou muito bem, a que fazia de Vénus e os cavaleiros também. O coro...excepcional. Foi muito para cima de bom :))))
Esta ópera é tão excitante e empolgante que uma pessoa nem dá por terem passado quatro horas e meia - infelizmente eu aí na última meia hora do segundo ato estava sem posição e aflitíssima por causa da maneira como caí nas escadas... mas isso não interessa. Eu só tenho pena de viver num país em que há tão poucas oportunidade de se assistir a espetáculos bons. Quando se olha para a temporada de ópera de N.Y., Londres, de Milão ou de Viena fica-se cheio de inveja.
Enfim... já estou outra vez estacionada...
Tem que ouvir-se alto.
A música afeta o cérebro duma maneira profunda que só agora se começa a perceber, desde que existem maneiras de se 'espreitar' para a atividade elétrica e química do cérebro. Já Platão e Aristóteles lhe atribuíam grande poder. Platão pensava que a música proporcionava uma entrada direta na alma da pessoa ativando e influenciando a disposição emocional e moral. É exatamente o que se pensa hoje: a música tem um enorme poder de modulação mental e emocional de modo que pode ser terapêutica. Fala-se muito do 'Efeito Mozart'.
Houve uma altura em que sabia esta ópera de cor. Agora ouço-a menos. Infelizmente, não sei porquê, a partir de certa altura esta ópera começou a ter um efeito emocional negativo, sobretudo em certas partes...mas gosto tanto dela que não resisto lol
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