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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Dantes nós votávamos em partidos individuais e havia, grosso modo, cinco em quem votar. O voto útil era possível.
Se não queríamos um dos partidos da governação (PSD ou PS) com maioria absoluta votámos num dos partidos mais pequenos, sabendo que um governo minoritário era obrigado a atender as vozes da oposição e sabíamos que o pequeno partido no qual o partido do governo se apoiava para governar, fazendo acordos, era mesmo oposição e tinha verdadeiro peso negocial.
Agora votamos em coligações e em vez de cinco opções possíveis de voto só temos duas: ou a coligação de esquerda, como a que lá está ou, uma alternativa, idêntica, de direita. Só temos duas opções e deixou de haver voto útil, uma vez que votar BE ou PCP ou CDS é igual a votar numa coligação (seja a de esquerda ou a de direita) que perfaz uma maioria absoluta no Parlamente onde os coligados, comprometidos formalmente com o partido que apoiam no goveno, não fazem oposição a não ser de cosmética e são uma extensão da vontade absoluta do partido governante.
Este novo arranjo político diminuiu o horizonte de possibilidades democráticas do país e é por isso que nem uma única pessoa com quem falo sabe onde votar nas próximas legislativas. Ninguém quer, nem a outra coligação que lá esteve (foi para tirá-la de lá que votaram em partidos da esquerda) nem esta que lá está que veio a ser igual ou pior, em termos de destruição dos bens e serviços públicos e, de reforço do clientelismo, que a outra.
A não ser que apareça uma nova força política ou que se alterem as regras das eleições e possamos eleger deputados que respondam mais a nós que ao líder partidário, há ninguém em quem votar.
Na realidade, esta coligação (a geringonça) que tanto é elogiada pelos próprios que a constituem e por outros na Europa piorou o nosso sistema político em termos de vitalidade democrática e, por consequência, possibilidade de regeneração política que permita que possamos sair deste marasmo de corrupção, clientelismo e amiguismo, uma autêntica inversão perversa do utilitarismo, em que estamos presos.
A não ser que se seja um crente desses partidos ou, um cego, todo o voto agora é inútil...
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