Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Charlotte Collyer com a sua filha de 8 anos, Marjorie, sobreviventes do Titanic 1912 (não sei de quem é a fotografia). A mãe ainda está com o cobertor da White Star Line.
O que gosto nesta fotografia é que a interpretação que fazemos do olhar da mãe depende do nosso conhecimento acerca do que significam as letras do cobertor. Com esse conhecimento olhamos o olhar da mãe e vemos alguém ainda em choque e trauma. Isso acontece porque imediatamente imaginamos os horrores que esses olhos viram. No entanto, se nos abstrairmos desse conhecimento que temos sobre o desastre do Titanic apenas achamos que a mulher está ausente e preocupada, talvez. O olhar e a pose da filha nada nos dizem sobre o que acabou de testemunhar.
Quer dizer, muito do que interpretamos nos outros depende do que projectamos a partir do que sabemos ou julgamos saber sobre as pessoas e os seus contextos. Na verdade, o semblante das pessoas nada nos diz sobre os seus estados mentais (o que é um dos grandes mistérios, parece-me, acerca do ser-se humano, isto é, essa capacidade de tornar invisível o universo interior) e nas nossas interpretações falamos, muitas vezes, mais de nós próprios que dos outros.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.