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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Um conjunto de propostas pouco ambiciosas, que não oferecem mais do que “migalhas” para estimular o crescimento económico e, em certos casos, parecem querer “perseguir quem tem dinheiro e poupa”. As conclusões são da SEDES - Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que se dedicou a comparar os programas dos partidos e a analisar as medidas que estes propõem para os próximos quatro anos - e chegou à conclusão de que as ideias para a economia estão muito longe de trazer soluções para o país.
Durante a apresentação das conclusões da SEDES, que também incidiram sobre as áreas dos programas dedicadas à Saúde ou à reforma do sistema eleitoral, as críticas mais duras foram feitas às medidas económicas, de política orçamental e salarial. Com um traço comum: quase todas foram consideradas insuficientes e pouco ambiciosas. E um contexto: a SEDES, como explicava o socialista Álvaro Beleza, que faz parte do conselho coordenador, tenta fazer uma avaliação “o mais objetiva possível”, tendo em conta a sua base de origem - um pensamento com raiz nos países do norte da Europa, na social-democracia e na democracia cristã.
Nem por isso foram apenas os partidos de esquerda os alvos de crítica durante a sessão desta quinta-feira. Alexandre Patrício Gouveia, administrador do El Corte Inglés, identificou o problema: “É no crescimento que Portugal tem claramente um défice”. E porquê? Porque “a atual política [para o crescimento] não leva a lado nenhum”. Nem dá sinais de melhorar: “A lição de fraquíssimo crescimento de 19 anos euro não foi aproveitada pela grande maioria destas propostas políticas”.
A lista do que podia ser feito mas é longa: a falta de investimento, “que não chega a 60% da média europeia”, é um dos maiores “bloqueios” e continua a não haver “uma política claramente virada para o investimento”; também não existe “uma campanha de poupança”, sendo, ao contrário, o consumo incentivado; e assim não se aumentam salários: “Os salários não se aumentam por decreto, mas pelo funcionamento da economia. Parece que há uma perseguição de toda a gente que tenha dinheiro e poupe”, criticou Gouveia, apontando as baterias à esquerda.
As críticas tiveram eco: o economista e professor universitário Abel Mateus frisou o mesmo ponto, dizendo não ver “nenhuma preocupação sobre poupança e investimento” e apontando riscos até no programa do PS. “Quanto um partido diz que reduziu o passe em 20 euros ou aumentou a pensão em três, são medidas pobrezinhas com um impacto marginal sobre a vida das pessoas”. Para o crescimento, defendeu, tudo o que há são “migalhas” - e não uma real alteração de políticas que permita a Portugal ultrapassar os países de leste neste ranking.
Quanto às propostas tendo em vista a despesa, frisou João Duque, presidente da SEDES, uma palavra positiva para a “responsabilidade” mostrada por PS e PSD - mais preocupados com a redução do défice. Ainda assim, “não existe” uma proposta “rigorosa” que apresente uma redução do défice sem um aumento da carga fiscal, nem uma resposta “ambiciosa e plena” a esse objetivo.
A sessão focou-se sobretudo em política económica, mas não só. Houve ainda tempo para analisar as propostas dos partidos na área da Saúde - com as do PS, PSD e CDS consideradas “mais realistas e moderados” pela organização e as da esquerda atacadas por Álvaro Beleza: querem “mais investimento” e “menos privados”, mas “de boas intenções está o inferno cheio”.
Embora com poucas hipóteses de avançar, dado o desacordo entre os partidos - alguns têm propostas, mas são em boa parte impossíveis de conciliar - o outro tema abordado foi o da reforma do sistema eleitoral, com José Ribeiro e Castro a apontar a “nebulosidade” de algumas propostas, sobretudo no PSD, que “defende com vigor” uma mudança no sistema mas “não clarifica” os moldes desta. “É uma promessa adiada”, uma “batalha que importa prosseguir”, garantiu o antigo líder do CDS - resta saber se há vontade política para isso. (Expresso)
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