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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
O primeiro foi começar a jogar. Durante estes seis meses de negociações os dois gregos não jogaram, quer dizer, não havia ali bluffs nem póker, havia decisão, convicção e frontalidade. Vinham com intenção de pôr as contas da Grécia em dia, romper com as décadas de corrupção que puseram a Grécia de joelhos, infundir um espírito de mudança democrática em Bruxelas, equilibrar o poder dos países do Norte com um poder a Sul para uma Europa mais equitativa, justa e democrática, enfim, repôr o projecto europeu.
Enquanto não jogaram estiveram sempre por cima. A certa altura, vendo que não iriam conseguir demover os interesses da Alemanha (subestimaram muito a força alemã e sobrestimaram muito as virtudes democráticas dos países ditos desenvolvidos) e vendo-se encostados à parede depois de meses ali sozinhos com todos contra si, decidiram jogar. Tsipras marcou um referendo para saber da vontade do povo pois não tinha sido eleito para assinar uma capitulação da soberania mas nunca pensou que o 'não' ganhasse e, ao ser surpreendido pelo seu próprio sucesso, perdeu o pé e cometeu dois grandes erros: o primeiro foi sacrificar o seu ministro das finanças que era a sua muralha... isso foi uma capitulação face ao Schlaube que enfraqueceu muito a sua posição porque mostrou que a vontade de acordo era maior que a vontade de soberania... nunca a Alemanha sacrificaria o seu ministro para agradar aos gregos; o segundo erro foi usar o referendo como um trunfo num jogo que não estava seguro de ser capaz de jogar, sobretudo depois de ter dito aos gregos que a única coisa de que temos que ter medo é o próprio medo... é certo que ele estava numa posição insuportável há meses... ele e o outro, sozinhos contra aqueles sabidos sem escrúpulos mas mesmo assim, foram dois erros muito grandes.
Acabou sozinho fechado no gabinete do Tusk, rodeado da alemã e do francês que o intimidaram de todos os modos e feitios e que o impediram até, segundo o Times, de falar com o Juncker, com quem ele pediu para falar, a certa altura.
Uma tragédia para os gregos, uma farsa do directório do Eurogrupo.
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