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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Ontem de manhã ia eu numa rua da baixa em direcção ao mercado, aí pelas 11 horas da manhã-já bem tarde- quando vejo um ex-aluno quase ao mesmo tempo que ele me viu. Deve ter agora uns 23 anos. Ele sorriu e fez uma cara satisfeita e meio segundo depois uma cara de quem quer fugir.
[o que foi isto? O que é que se passou de repente na cabeça dele?]
Vem meio apardalado direito a mim e dá-me dois beijinhos. Cheirava a álcool que só de estar perto dele já dava para ficar tonta.
[ok, já percebi a cara dele... foi uma cara de, 'que chatice, logo havia de dar de caras com a professora com esta tosga em cima']
- Olá, está bom? O que é feito de si?
- Hã... saí agora de uma festa, diz ele.
[no shit? Como se o cheiro a álcool não me tivesse já dito isso...]
- Ahh, quer dizer que isto para si é altura de ir dormir?
- Pois é, tenho que dormir.
- Então e como vai o seu curso?
- Não muito bem... ando a portar-me mal... deixei atrasar cadeiras no último ano...
- Ah, sim? Muitas?
- Estou com um ano de atraso.
[pois, com festas destas a acabar às 11 da manhã quem é que estuda?]
- Bem, não é dramático. Ainda pode recuperar.
- Não sei, agora meti-me nisto e mostrou o cigarro que vinha a fumar.
- Então, meteu-se, saia.
- Não sei, acho que já estou viciado e não sei como sair.
- Mas fuma há muito tempo?
- Há um ano e meio.
- Em um ano e meio ninguém se vicia. Saia disso antes que arranje um problema. Peça ajuda.
[o que eu acho é que anda a fumar outras coisas que não quer dizer e isso é que está a estragar tudo e a pôr-lhe essa cara de medo...]
- A professora não fumou?
- Pois fumei e estou agora com um problema por causa disso.
- Um problema do coração ou dos pulmões?
- Dos pulmões. Está a ver? Não faça como eu, saia disso enquanto pode.
- Não sei se sou capaz.
[deixa-me cá lembrar dele nas aulas... Sim, sim, ele era uma pessoa muito influenciável, muito entusiasmado e um bocado infantil... nada disso o ajuda se se meteu em parvoíces...]
A professora vai fazer o quê?
- Não vou fazer, já estou a fazer tratamentos.
- Não, não é isso. Agora, vai fazer o quê. Para onde é que vai agora?
[what? o que é que ele quer?]
- Vou ao mercado.
Diz ele, posso...? e tive a certeza que ia perguntar se podia ir comigo... de modo que antes que acabasse a frase
[nop, nem pensar, era preciso que estivesse sóbrio]
... disse-lhe, 'vá para casa dormir. E deixe os cigarros, pense em acabar o curso. Se precisar de alguma coisa diga.'
- Vou pensar nisso, professora. Gostei de vê-la.
- Eu também.
[gostei genuinamente, é um rapaz amoroso e gosto muito dele. Espero sinceramente que consiga sair do sítio onde está]
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