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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
* Na idade em que apanho os alunos, entre os 15/16 e os 18/19 anos, ainda estão a definir-se, ainda são pessoas optimistas, idealistas, capazes de mudar (depois disso começa a ser difícil mudar porque a maioria das pessoas cristaliza) e sendo eu uma optimista, acredito que é pela educação que se vão mudando as sociedades.
* Temos um impacto positivo na vida dos alunos (se nos deixarem trabalhar e não nos sabotarem). Não em todos, claro, mas em muitos. Temos o poder de ajudar, de orientar, de inspirar. Uma sala de aula é um pequeno modelo de sociedade: o que fazemos e como o fazemos mostra as possibilidades positivas de uma sociedade.
* Uma pessoa pode dar aulas vinte anos e continua a ser surpreendida porque os seres humanos não são iguais, as dinâmicas das turmas não são iguais e isso obriga-nos a maleabilidade, a estar alerta e despertos. Temos que estar sempre em bicos de pés, não nos podemos acomodar.
* O prazer gratificante de ver no olhar de um aluno aquele brilho de quem acabou de ligar os pontos e compreender as coisas.
* Acompanhar a evolução dos miúdos desde o 10º ao 12º ano. Ver o crescimento, a maturação intelectual... ver um ser humano em construção é uma coisa extraordinária.
* A maioria dos adolescentes tem qualquer coisa interessante que nem sempre é fácil descobrir mas, descobri-lo é um desafio que gosto.
* Uma pessoa aprende muito com os alunos porque os adolescentes não têm filtros sociais e dizem-nos, por palavras ou comportamentos, o que pensam de nós e do nosso trabalho: aprende-se a ser paciente, a desvalorizar certas atitudes que noutro contexto não aceitaríamos, aprende-se a ter uma visão abrangente, aprende-se a reconhecer padrões de evolução, aprende-se a aceitar as nossas próprias insuficiências.
* É fantástico quando uma turma, ou até um aluno apenas, se apaixona pelo conhecimento e desata a querer saber tudo, a questionar tudo, a entusiasmar-se com tudo e a evoluir duma maneira que nem acreditamos (tenho uma turma de 12º ano que é assim desde o 10º ano).
* Damos por nós a emocionarmo-nos de cada vez que um aluno supera dificuldades e consegue atingir objectivos.
* É giro ver os miúdos serem críticos, criativos e organizarem-se quando têm o controlo de certas tarefas.
* De vez em quando encontramos ex-alunos e damo-nos conta do impacto que tivemos na sua aprendizagem e crescimento intelectual. Isso é extremamente gratificante.
* Gerir o tempo de trabalho mesmo que isso me faça trabalhar a maioria dos fins de semana.
* Reconhecer o potencial de um aluno difícil e insconsciente do seu valor, ter a coragem de não desistir dele e ser capaz de ajudá-lo a libertar esse potencial, é uma sensação de realização como não há outra.
* Ensinar é, sobretudo, divertido, quando tudo corre excelentemente bem numa aula e vemos que os alunos estiveram entusiasmados, o que não é o pão nosso de cada dia e, nunca é garantido, por muito bem que se prepare as aulas.
* Obriga-nos a ter uma atitude positiva e a reavaliar constantemente o que fazemos e como o fazemos.
* Praticamente todos os anos fazemos amigos entre os alunos.
* Até os alunos que não gostaram de nós nos ajudam: mantêm-nos os pés na terra.
* Quando as aulas correm bem é como se aquela sala de aula fosse a totalidade do Universo e enquanto estamos ali tudo faz sentido, mesmo o que não faz sentido e, tudo podemos.
* Ensinar é o contrário de aborrecimento. Não há dois dias iguais, apesar de haver rotinas e padrões.
* A maioria dos miúdos quer muito acertar na vida e não sabe como e podemos ajudar alguma coisa, ser a oportunidade que precisam.
* É claro que poder passar parte do dia mergulhada na Filosofia é meio caminho andado para gostar de dar aulas. E como a Filosofia que se faz neste nível é básica, estamos sempre numa actividade de discussão de problemas fundamentais.
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