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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
alunos-nota-20-eles-podiam-entrar-no-curso-que-quisessem (DN)
Endeusam estes alunos. O ensino está tão facilitado que qualquer aluno que tivesse um bom método de estudo, um plano e alguma autodisciplina passava sempre sem problemas mas como inculcam nos alunos que a responsabilidade de passarem cabe aos professores, nas escolas e, fora delas, na sociedade, endeusa-se qualquer aluno que assume o seu papel de estudante.
Uma pessoa apanha alunos no 10º ano que vêm com nota de 5 a tudo e não sabem o mínimo, nem sequer de como trabalhar na sala de aula... pior, às vezes apanhamos turmas no 12º ano que vêm com grandes notas e convencidos que são excelentes e estão ao nível do 10º ano, na organização de trabalho e autonomia.
Outro dia, à conversa com a minha médica oncologista, que também dá aulas na faculdade de medicina, a propósito do filho dela ir agora para o 10º ano, ela disse-me que os alunos que entram para a faculdade são muito bons a decorar mas não são capazes de relacionar dois conceitos autonomamente e que isso é mau porque um médico tem que ser capaz de estabelecer relação entre as vários sistemas do corpo para fazer um diagnóstico. Além disso, são pessoas muito ignorantes, quer dizer, sabem de química e são bons a matemática mas isso não chega. Não lêem, não pensam, não sabem o que se passa no mundo.
Pois, como é que chegam assim às universidades? Eu sei. São os jornais, as escolas e todo este ensino vocacionado para infantilizar e endeusar qualquer aluno que estude e saiba escrever o nome sem se enganar em vez de se queixar dos professores, da escola, das matérias, e que é tudo chato e depois vem o ME e diz que os alunos não estão em constante prazer e outras parvoíces do género.
Nas escolas e nos discursos oficiais só valorizam a matemática como se fosse um saber que se basta a si mesmo e desvalorizam todas as outras disciplinas. É claro que os próprios alunos interiorizam estas escalas deturpadas de valores e, sendo bons a matemática, acham-se extraordinários e tratam-nos como prodígios...
Não se trata de desvalorizar o mérito de quem estuda para 20, trata-se de ter uma perspectiva equilibrada do que significam os 20s no contexto da educação.
Um aluno não precisa de ter 20s para ter sucesso e para ter um percurso escolar e uma vida assertiva e vivida com satisfação. Estas notícias põem os alunos que não chegam aos 20s a avaliarem-se como incapazes ou inferiores, o que é absurdo. Há alunos muito inteligentes e muito bons numa determinada área e, no entanto, não tiram 18s e 20s e estas notícias são para eles como as capas das revistas cheias de modelos a fazerem crer as raparigas que são todas feias e gordas.
Mas isto não é evidente?
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