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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Às vezes sai-se das reuniões de pais com uma angústia daquelas que se sentem no estômago. Se eu não soubesse que o apêndice é do lado direito pensava estar com uma apendicite aguda. É nestas alturas que mais valorizo o conselho do meu médico que me disse uma vez que a dieta começa no supermercado. Se tivesse chocolates em casa, hoje iam todos de enfiada.
Confesso que nestes 30 anos de profissão a impressão que tenho dos pais é positiva. Já tive problemas com alguns porque há sempre gente mal formada mas são uma minoria. A grande maioria está preocupada com os filhos e tenta fazer o melhor que pode e sabe. Acontece que alguns miúdos estão em situações dramáticas porque a adolescência é uma terra alienígena, cheia de perigos inesperados e, acontece os pais não terem, nem recursos nem conhecimentos para lidar com os seus problemas, acontece estarem desesperados, impotentes, sem saber o que fazer, os hospitais públicos não dão resposta porque têm tempos de espera obscenos -falo de esperar 6 meses para se ser visto por alguém- e as escolas não têm respostas adequadas. Temos excesso de desemprego entre os psicólogos mas as escolas não têm psicólogos educacionais para acompanhar estes alunos, alguns dos quais precisavam de intervenção urgente. Aqui na cidade não existe urgência pedo-psiquiátrica, por exemplo. Se às vezes conseguimos ajudá-los é porque já trabalhamos há muito tempo no mesmo sítio e construímos uma pequena rede de contactos para estes casos mas as coisas não podiam depender de arbitrariedades. É revoltante.
O ME, os governos e todos os que tomam decisões e legislam porcarias atrás de porcarias e enfiam todo o dinheiro público na banca e nos saqueadores de dinheiros públicos, estão-se todos nas tintas para os alunos que, no entanto, são o futuro do país. As únicas pessoas que se preocupam com eles são os pais e nós, professores, que lidamos com os adolescentes numa base diária e não somos imunes aos problemas deles e das famílias.
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