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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Vamos lá deixar aqui uma coisa muito clara: nenhuma caricatura, desenho, piada, revista brejeira ou até ordinária que goze com as igrejas alguma vez será tão ofensiva para as religiões como as religiões são para as mulheres.
Todos os dias temos que ouvir líderes religiosos defender que é bom as mulheres serem educadas pela força ou apedrejadas ou que não devem estudar para serem submissas ou que devem restringir-se ao espaço doméstico, ter filhos e cuidar deles como se fossem porcas reprodutoras ou que não devem deslocar-se ou trabalhar sem autorização dos maridos ou pais ou irmãos ou que devem esperar a possibilidade de serem violadas se não se vestirem de acordo com a modéstia religiosa ou que devem velar-se para não terem identidade pública ou que o seu papel na sociedade humana é equivalente ao dos morangos que enfeitam um bolo ou que devemos respeitar as culturas que não respeitam os seus direitos humanos mais básicos ou que devem casar-se aos 7, 8 ou 10 anos ou que devem ser proibidas de serem donas do seu próprio corpo, etc., etc., etc.
A mesma coisa, mais ou menos, poderia ser dita sobre as ofensas diárias que os líderes religiosos dizem dos homessexuais, bissexuais, transsexuais.
No entanto, não é por os líderes religiosos, nomeadamente os cabeças das Igrejas, serem pessoas que todos os dias me ofendem, a mim e a muitos milhares, milhões de mulheres sem o mínimo respeito pelos nossos direitos humanos mais básicos e nos degradadam pelo modo como falam de nós e a nós se dirigem, como se fôramos crianças mais ou menos deficientes mentais, que exigimos que sejam mortos ou proibidos de falar ou andar livremente nas sociedades.
Nenhuma igreja tem o direito de exigir não ser ofendida por opiniões alheias. O único travão à liberdade de expressão, por muito repugnante que uma opinião seja (como o caso das opiniões das Igrejas sobre as mulheres e o seu 'papel' na sociedade), é a defesa e o incitamento ao crime. A única coisa que as Igrejas podem exigir é a liberdade de prestarem e viverem o seu culto sem medos e restrições e todas têm o dever de respeitar os direitos dos outros sob pena de não passarem de uma seita de malfeitores que defendem uma coisa mas fazem o oposto: fazem o mal aos outros.
Acreditar, ou não, num Deus, é uma posição metafísica que tem consequências para a vida da pessoa que faz essa opção mas em nada obriga outros. Seguir uma religião organizada, seja ela qual for é um estilo de vida como ser vegetariano ou epicurista. Também aqui só o próprio é obrigado aos preceitos do culto da sua escolha mas o seu estilo de vida eleito em nada obriga os outros.
O humor, mesmo que de mau gosto, tem uma função sanitária nas sociedades: mostra o ridículo, a pomposidade bacoca, a contradição de princípios, a hipocrisia e outros males das instituições que querem ser faróis dos outros à custa de manterem às escuras os caminhos alternativos. O humor é o nosso bobo de côrte e desde que não ultrapasse os limites da lei, tudo lhe é permitido dizer, mesmo ofender a opinião de religiões de machos. Não de homens mas de machos. Religiões de machos. Aliás, as religiões é que podiam aprender a pedir desculpa, antes de o exigir aos outros...
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