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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
A BBC está a fazer uma entrevista a Rachel Dolezal, uma americana activista dos direitos dos negros, muito respeitada, até que se descobriu que é branca, filha de brancos e modificou a sua aparência para parecer afro-americana. Foi um grande escândalo, perdeu o emprego, os amigos... frequentemente lhe perguntam se não acha que é um desrespeito pela cultura negra fazer-se passar por negra. Ela responde que se identifica com a cultura da comunidade afro-americana.
Chegámos a um tempo em que há pessoas brancas que se identificam com os símbolos da comunidade negra, adoptam-nos e preferem-nos à dos brancos e, em vez disso ser entendido como um progresso, pois no passado eram os negros que adoptavam os símbolos e modos de ser e estar da comunidade branca, vista como um modelo do que devia ser, está a ser entendido como uma espécie de ofensa... e é isso que não percebo.
Que haja pessoas que sintam que os símbolos da comunidade negra são mais atractivos que os da sua própria comunidade branca é algo que vejo como um grande progresso no sentido das especificidades étnicas começarem a ser encaradas pela sua estética cultural e não pelo mérito ou demérito, imaginários, de ter-se nascido de certa cor.
Na semana passada uma estudante universitária americana negra atacou um colega, branco, por estar de rastas; gritou-lhe que não tinha o direito de se apropriar da cultura negra... pareceu-me um auto-apartheid, uma auto-declaração de que as raças não podem superar-se num valor comum de humanidade e de estética. Uma incompreensão do valor, em termos de diálogo inter-culturas, de haver pessoas de uma raça a identificarem-se com pessoas de outra qualquer raça que não a sua. É que isso quer dizer que a raça branca enquanto modelo já não é hegemónica. Então isso não é bom para a convivência das culturas e dos povos?
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