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Exactamente o que penso há muito tempo

por beatriz j a, em 29.01.15

 

 

Professores deviam ser apoiados no primeiro ano de trabalho

 

Leonor Santos, professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e especialista em avaliação e desenvolvimento profissional de professores, considera que não será através da Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC) - que registou mais de um terço de chumbos este ano - que o ministro Nuno Crato alcançará o objetivo anunciado de "escolher os melhores professores".

"Esta prova não se dirige certamente a apreciar ou não a qualidade das competências profissionais", diz, acrescentando que é em contexto de trabalho que estas competências são identificadas e desenvolvidas. "Isso consegue-se através do ano de indução na carreira, no início da sua atividade, em que o professor trabalha com o acompanhamento próximo de profissionais competentes e experientes"

 

Em primeiro lugar o ministro, antes de falar e criticar os outros, podia ter lido aquele enunciado da prova e mandado alterar a qualidade da escrita de algumas questões... mas deixemos isso para lá... a questão de haver professores a dar muitos erros ortográficos tem que ver com as escolas, os exames e as universidades de onde saem formados dessa maneira e é aí que tem que actuar-se. Saber-se de onde e como é que saem alunos formados nessas condições, isso é que é importante. Fazer exames já depois de tudo acabado é desonesto.

 

Em segundo lugar, qualquer professor que se inicia na carreira não beneficia em nada de testes de escolha múltipla, nem de métodos de intimidação ou de humilhação (ter os funcionários da escola a tratá-lo como aluno...) do que precisa é de acompanhamento e de apoio de alguém experiente que o ajude a desenvolver-se como professor porque avaliação já a teve durante os dois anos de estágio de formação de professores que foi obrigado a frequentar. Que essas formações de professores não prestem, em muitos casos, isso é que tem que avaliar-se e mudar se necessário. Não é aprová-los e declará-los aptos para o ensino e depois de tudo feito excluí-los em testes de escolha múltipla o que é profundamente desonesto. Estes testes são inúteis para o fim a que se destinam e só servem para o ministro dizer mal dos professores e criar desconfiança relativamente ao ensino (que parece ser o seu grande objectivo, à semelhança da outra).

 

E já agora só um aparte: estes professores que escrevem com muitos erros serão 'vítimas' de anos e anos de políticas educativas que desprezavam a língua porque essa era, então, a moda. Quantas vezes tínhamos problemas com os alunos e os pais que não aceitavam -e faziam queixa dos professores em questão- que um professor de Matemática ou Filosofia ou Biologia penalizasse um trabalho ou teste por estar mal escrito, com o argumento de que só o professor de Português podia corrigir o Português e que o de Biologia tinha que corrigir a Biologia mas não o Português que não era a área dele. Este era um argumento aceite por toda a 'inteligência' dos pedagogos da moda. O estrago que esta moda fez foi de tal ordem que teve que sair escrito, em letra de lei, há um par de anos, que todos os professores são também professores de Português e devem corrigir os alunos nesse domínio. Mas para aqui chegar foi uma luta de anos e anos, muito grande, contra as políticas do 'aprender a aprender' e dos os alunos terem é que ser felizes nas aulas... estes jovens professores que dão erros andaram na escola nessa altura...

 

A moda agora é a contradição: por um lado temos o AO a querer simplificar a língua ao ponto de podermos escrever tal qual como falamos, por outro lado querer complicar o estudo da língua artificialmente. Aqui há tempo os alunos de uma turma queixavam-se da reforma do estudo da língua e diziam, 'quando aprendemos a gramática, no básico, as regras eram simples e lógicas; havia o sujeito, o predicado, os complementos, que podiam ser de tempo, se estávamos a falar de quando as acções tinham sido feitas, de lugar, se estávamos a falar do local onde tinham sido feitas, etc. e tudo era fácil de perceber e memorizar; agora chamam-se 'modificadores' e podem ser 'modificadores oblíquos' ou podem ser 'modificadores adjuntos' ou ainda 'predicadores verbais' e as frases chamam-se 'grupos verbais'... (de não sei quê, já não lembro) e há tantas excepções e apartes que é tudo confuso e difícil de organizar mentalmente. As regras gramaticais desta última reforma talvez façam as delícias dos linguístas mas se calhar não ajudam a cimentar uma aprendizagem estruturada e sólida da língua e esse é o objectivo do estudo da língua nas escolas.

 

 

publicado às 04:24



no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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