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Estes pais que nos tramam

por beatriz j a, em 29.08.17

 

 

Hoje fui ao hospital levar uma vacina. Estávamos lá umas nove pessoas na sala de espera quando entra uma mulher com o filho. O miúdo, com cerca de cinco anos, vinha com um jogo electrónico com o som altíssimo, uma música e uma voz tipo Mário, completamente irritante. Sentou-se numa mesinha de apoio em vez de sentar-se na cadeira, a falar à bebé (dizia 'fomiga' em vez de formiga e a mãe não o corrigia - isto é tão nocivo para o desenvolvimento da linguagem e do pensamento) com o jogo, sempre altíssimo. A mãe chamou-o, disse que não ia. Levantou-se a mãe e foi dar-lhe um iogurte à colher como se fosse um bebé, ela de joelhos no chão, ele a virar a cabeça. A mãe como se nada fosse.

Como não me cabe a mim educar pais mas aquilo estava a incomodar-me imenso -mais a atitude da mãe que a do puto- levantei-me e fui esperar para o corredor onde não o ouvia. Passados cinco minutos já estávamos seis no corredor. O puto ia-nos expulsando da sala, um a um.

São estes pais que nos tramam: quando este miúdo chegar a uma sala de aulas só vai dar problemas em virtude de ninguém lhe ter ensinado competências básicas de sociabilidade ou lhe ter incutido um mínimo de regras e disciplina, alguma resistência à frustração...; enfim, quem se trama é o professor que o apanhar porque vai ter que trabalhar contra a mãe para o educar minimamente nessas áreas, muito antes de o poder instruir. Agora imagine-se uma turma com uma mão cheia destes...

 

publicado às 14:52


25 comentários

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De Maribel Maia a 29.08.2017 às 15:38

Grande parte da educação dá-se em casa, na escola ensinam-se outras competências... Concordo!
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De Marta Elle a 30.08.2017 às 10:03

Provavelmente, não vai ter capacidade para aprender a ler logo no 1.º Ano e a aprendizagem da leitura, e das outras áreas por arrasto, vai atrasar-se levando a que chumbe. E os papás não vão entender porquê...
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 11:57

O puto nem sequer vai aceitar ter que sentar-se numa cadeira e obedecer ao professor...
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De Marta Elle a 30.08.2017 às 16:38

Sim, é o mais provável.
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De Happy a 30.08.2017 às 11:14

Cada vez se vê mais pais que não são pais, que não sabem educar.
Isso deixa-me tão triste porque essas crianças são o futuro, infelizmente...
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 11:57

Happy , acho que as pessoas sabem que não estão a fazer o seu trabalho mas são preguiçosas porque educar dá trabalho.
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De Happy a 30.08.2017 às 22:32

E chatices...
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De David Marinho a 30.08.2017 às 11:26

É super irritante. Hoje faz-se de tudo para calar os miúdos, parece até que não têm gosto nenhum por eles, para não os educar convenientemente.
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 11:59

David Marinho eu compreendo que as pessoas estão cansadas mas educar dá trabalho e é assim mesmo, não há volta a dar. Este miúdos são futuros reizinhos absolutos lá em casa.
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De David Marinho a 01.09.2017 às 11:21

É verdade. É complicado mas é como dizes...não há volta a dar e devoluções (moralmente) não são permitidas.
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De beatriz j a a 01.09.2017 às 11:36

Nestas idades é tão fácil educar... não percebo a motivação dos pais em deixar os miúdos crescerem sem regras nenhumas.
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De ANA a 30.08.2017 às 11:33

São socialmente inaptos, nao todos mas a maioria. Mas nao torno a culpa somente aos pais mas á sociedade em geral. Eu ainda tive a sorte de viver, ser criada e educada com os meus avós. Eles ensinaram-me a sentar á mesa, a estar calada no momento certo, a ouvir as suas historias. Não sei porquê, mas existia tem tempo para tudo. Brincar, ouvir, ver televisão, jogar, correr saltar.....
A ultima experiência que fiz, foi colocar 16 jovens de 18 anos, de ferias sem telemóvel, tinham tudo o resto disponível ( piscina, rio, computador...), ao fim do 1º dia, já diziam que era uma seca, que o local nao tinha condições... ao 3º dia, já conversavam uns com os outros e até gostaram da experiência. O que me levou a pensar é que nós educadores/pais tambem nao lhes damos as ferramentas e o tempo para que cresçam sem a influencia da tecnologia, pois é bem verdade dá-nos muito trabalho, e é uma seca contrariar a facilidade.
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 12:03

Ana, é verdade. A sociedade estilhaça a atenção e para vender busca o bombástico, o entretenimento fácil. É cada vez mais difícil educar porque tem que ir-se contra a corrente e isso dá muito trabalho.
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De correspondente a 30.08.2017 às 13:29

Gostei. Sem tirar nem pôr. O puto provavelmente quando crescer vai a entrevistas de trabalho acompanhado pela mãe ou pela avó (à semelhança de um protagonista de um post que escrevi). Estou perfeitamente em sintonia com o problema de base apontado neste texto.
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 14:24

correspondente gostei desa de ir a entrevista de trabalho com a mãe ou o pai ahah
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De P. P. a 30.08.2017 às 14:28

Aquilo que relata faz parte das observações mais frequentes dos colegas do 1.º CEB. Um ano a mais na pré não pode ficar porque, de acordo com o perfil deste tipo de papás, as competências estão todas desenvolvidas e... mau comportamento? Só mesmo na Escola. Ele e a educadora não têm bom relacionamento.

No 1.º ano problemas de linguagem afetarão a expressão escrita. O comportamento... pobre do professor que o tiver como aluno. Este seu relato é o espelho de grande parte da nossa sociedade e do que não importa falar.
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 14:33

PP tenho muito respeito pelos colegas do ensino básico, primário, como se dizia antes. Quando as bases aí são bem construídas os alunos, mais tarde, aguentam qualquer desaire temporário. Depois, os pais acham que nesse nível sabem tanto como a professora e todos interferem no trabalho. Infernal... No entanto, o importante seria que cuidassem da educação que lhes dão em casa.
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De P. P. a 30.08.2017 às 15:03

Também prefiro a expressão "primários", mas alguns levam a mal.
É bem verdade o que diz, uma vez mais. Quando tenho alunos com um bom 1.ºCEB, no 2.º chego mesmo a conseguir abordar, com linguagem adequada, tópicos do secundário ou 3.º CEB. Os alunos estão disponíveis para ir além.
Porém, as intromissões dos pais são frequentes. Julgam saber tanto ou mais e quando tal não acontece, como é o caso da matemática, julgam-se pedagogos e interferem até no método de ensino. Tudo isto tendo os filhos como membros da plateia. O resultado é caótico!
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 15:11

PP é exactamente isso. Um dia encontrei uma ex-aluna que é engenheira e tinha, na altura, uma filha pequena no 1º ano da escola. Então esteve a fazer-me o relato da situação. Os pais, que são quase todos licenciados, todos os dias iam à escola fazer esperas à professora por não estarem de acordo com a maneira como ensina a matemática e outras coisas. Eram todos 'treinadores de bancada'. No fim disse-lhe que tinha muita admiração pela professora da filha dela e que nem imagino o inferno em que ela estava. Ela ficou espantada a olhar para mim.
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De P. P. a 30.08.2017 às 15:22

Isso é típico! Depois de torturem a colega mais do que muito, acabam por agradecer o que fez pelos meninos. Enfim... Não dá para entender.
Neste ano prestei apoio no 2.º e 3.º anos. Sou de matemática e tive que aprender metodologias que nunca me foram ensinadas. Que direito tenho para dizer que estão erradas? Nenhuma. Científicamente estão corretas e na sua essência estão princípios científicos. É normal que alguns pais, mesmo formados, não consigam acompanhar os filhos nas tarefas de casa (embora, pessoalmente penso que estes devem verificar apenas se os trabalhos foram feitos e se estão bem apresentados). Matemática não é uma"engenharia". Os raciocínios têm que ser explicados. E também nós temos que nos adaptar às mudanças nas nossas disciplinas.
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 15:53

PP os raciocínios têm que ser explicados, justamente. Muitas vezes, por preguiça ou ignorância, reduz-se o ensino ao domínio de técnicas.
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De Maria Araújo a 30.08.2017 às 18:45


Um dia vão dizer que ele é hiperactivo e o professor não tem outra remédio senão aguentá-lo e transmitir o que os papás não fazem..
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De beatriz j a a 30.08.2017 às 19:18

Maria Araújo, quem já anda nisto há muitos anos já viu a onda dos sobredotados, dos hiperactivos, dos disléxicos...
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De Pequeno caso sério a 31.08.2017 às 11:25

Infelizmente, mais comum do que se possa imaginar.
Ora lê e "diverte - te ".

http://pequenocasoserio.blogs.sapo.pt/nos-por-ca-4-119475
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De beatriz j a a 31.08.2017 às 12:08

Bem... essa cena ainda é pior!

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