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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Ontem uma colega de inglês contou-me uma experiência muito interessante. A propósito de uma parte da matéria esteve a trabalhar com os alunos no tema do Brexit e da migração. Descobriu que os alunos não percebiam a noção de fronteira, o espaço físico, mesmo, com a distância entre países e a linha, muro ou cancela a demarcar o território pertencente a cada um.
Quer dizer, como os alunos são todos do tempo da UE com o espaço schengen não compreendem a noção de fronteira. Quando vão a um outro país ou vão de carro e é sempre a andar sem paragens, só com uma tabuleta a dizer, agora está em Espanha ou em França, como quem entra numa cidade diferente da sua no seu país ou vão de avião e aterram numa cidade e mostram o cartão de cidadão a um polícia como mostrariam aqui no país para entrar num concerto ou num jogo da bola de modo que não associam isso a uma fronteira física e não a abarcam, nem intelectual nem emocionalmente. Muito interessante.
Ponho-me a pensar e lembro-me de crescer sem a sensação de estar um pequeno país uma vez que nos ensinavam que Portugal era um enorme território que começava aqui, passava por Cabo Verde, Moçambique e Angola e acabava em Timor. No entanto, lembro-me da impressão de nos achar completamente diferentes e estranhos de todos os outros países europeus. Portanto, tinha a noção de fronteira com a Europa e a noção de espaço sem fronteiras com a África, mesmo sem nunca então ter lá ido.
Depois do 25 de Abril acho que perdemos a noção desse enorme espaço comum sem deixarmos a impressão de estranheza com os países da Europa. Pergunto-me se esta experiência do espaço schengen e da ausência de fronteiras não vai mudar a ideia que os portugueses tinham de si, nos últimos anos antes da entrada na UE, como um país pequenino e separado dos outros, aqui num cantinho esquecido da Europa.
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