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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Os adolescentes são emocionalmente instáveis mas se são bem formados voltam sempre a si. Na segunda-feira entreguei testes a uma turma e um aluno teve uma nota péssima, muito abaixo das possibilidades dele de modo que entalei-o um bocado porque se não desacomodamos os miúdos eles não evoluem, antes começam a reforçar os vícios. Ele levou aquilo a mal e como estava chateado consigo próprio projectou aquela raiva para cima de mim e falou-me num tom irritadíssimo. Hoje veio falar comigo no fim da aula. Pediu-me desculpa, disse-me que andava desmotivado e outras coisas.
Ofereci-me para ajudar, claro. Criámos logo ali um 'mini-bond' e isso geralmente é o início de uma mudança no comportamento de trabalho dos alunos. Essa confiança, quero dizer. Hope so :)
Estou quase no limite que imponho a mim mesma de entrega de avaliações de modo que até à próxima segunda tenho que levar as avaliações dos trabalhos de apreciação estética. Se uma pessoa leva muito tempo a ver as coisas eles esquecem-se porque já estão noutra matéria qualquer e depois tivémos um trabalhão a corrigir e anotar os méritos e deméritos do trabalhos e tudo acaba por ter pouco proveito. Às vezes, se vejo que me estou a atrasar a ver as coisas, para me obrigar a vê-las digo às turmas, 'se não trouxer os testes ou trabalhos até dia tal subo um valor na nota de toda a gente.' É claro que eles começam a dizer, 'professora, não se preocupe, não traga os testes' :) e é claro que arranjo maneira de os ver a tempo...
Tenho muitos ex-alunos no FB. Tenho lá alunos do 3º ano em que dei aulas :) Falamos de vez em quando, espaçadamente, mas vou acompanhando a vida deles, o que aprecio. Já têm filhos. É giro. Muitos, com certa regularidade, mandam-me mensagens a propósito disto e daquilo. Se entraram há pouco tempo na faculdade pedem-me livros, ajuda para trabalhos. Se estão com problemas na vida e não têm ninguém que os ajude pedem-me ajuda ou só querem mesmo falar e desabafar. Às vezes falam-me para contar as novidades da vida deles ou só para dizer olá.
Agora mesmo estava à conversa com uma ex-aluna que já deve ter aí uns 32 ou 33 anos e trabalha na área do desporto com crianças deficientes e disse-me que fez trabalho de Acção Social numa casa de acolhimento da SCDM. Adora o trabalho. Fala com um entusiasmo que dá gosto ouvir. Ligou-me porque anda a fazer uma pós-graduação no ISPA e queria que a lembrasse de um livro que lhe emprestrei quando andava no 12º ano e que a marcou muito, sobretudo o caso de um cirurgião com síndrome de Tourette. Sim, lembro-me muito bem do livro que lhe emprestei, Um Antropólogo em Marte do Oliver Sacks.
Cada vez gosto mais do trabalho das aulas com os alunos. Tem coisas muito gratificantes. E divertidas. Hoje, eu e uma turma tivémos um ataque de riso à conta das parvoíces de um aluno.
Uma pessoa treina os alunos e forma-os e ensina-os o melhor que sabe e depois cada um vai à sua vida. Há de tudo. Às vezes vidas muito diferentes daquilo que imaginávamos serem capazes quando eram alunos. Aqui há tempos dei com um ex-aluno a cantar fado numa casa de fados. Nem queria acreditar. Um rapaz que era tão tímido e bloqueado... é fadista :) Achei fantástico.
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