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Da minha janela

por beatriz j a, em 14.01.15

 

 

 

Setúbal, Janeiro 2015.JPG

 

 

Sangra-me o coração. Tudo que penso

 

Sangra-me o coração. Tudo que penso

A emoção mo tomou. Sofro esta mágoa

Que é o mundo imoral, regrado e imenso,

No qual o bem é só como um incenso 

Que cerca a vida, como a terra a água.

 

Todos os dias, oiça ou veja, dão

Misérias, males, injustiças — quanto

Pode afligir o estéril coração.

E todo anseio pelo bem é vão, 

E a vontade tão vã como é o pranto.

 

Que Deus duplo nos pôs na alma sensível

Ao mesmo tempo os dons de conhecer

Que o mal é a norma, o natural possível,

E de querer o bem, inútil nível, 

Que nunca assenta regular no ser?

 

Com que fria esquadria e vão compasso

Que invisível Geómetra regrou

As marés deste mar de mau sargaço —

O mundo fluido, com seu tempo e espaço, 

Que ele mesmo não sabe quem criou?

 

Mas, seja como for, nesta descida

De Deus ao ser, o mal teve alma e azo;

E o Bem, justiça espiritual da vida,

É perdida palavra, substituída 

Por bens obscuros, fórmulas do acaso.

 

Que plano extinto, antes de conseguido,

Ficou só mundo, norma e desmazelo?

Mundo imperfeito, porque foi erguido?

Como acabá-lo, templo inconcluído, 

Se nos falta o segredo com que erguê-lo?

 

(...) 

Fernando Pessoa

 

 

publicado às 18:00



no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

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