De Sarin a 26.07.2019 às 14:39
Não vejo onde a ausência de valores democráticos: um dos problemas é, exactamente, a violação actual, a permissão de acesso sem chancela jurídica. Costa propôs a criação de secções específicas para apreciação de tais matérias, cuja resposta pode ter implicações para a segurança nacional.
Pelo contrário, esta manobra de Costa tentou ultrapassar um problema real sem ultrapassar os limites entre colaboração e ingerência.
O que diferencia a democracia de outras formas de organização política não é haver problemas para resolver que isso há em todas as sociedades mas sim a maneira como se resolvem, os procedimentos que se adoptam.
As democracias têm orgãos soberanos distintos e independentes. Os governos podem ter ideias acerca de como resolver problemas e querer muito que se aprove certas leis com esse fim; no entanto, não é aos governos mas ao TC que compete avaliar se essas soluções legislativas colidem com a Constituição e, em caso afirmativo, vetá-las.
Nesse caso, o governo, só tem duas opções: ou argumenta o seu caso de modo a convencer o TC do mérito constitucional da sua solução ou acata a decisão e vai à procura de outra solução que não entre em conflito com a Constituição.
Agora, arranjar manobras e esquemas para levar a sua avante e ultrapassar a oposição do TC mostra uma pessoa que não admite soluções e opiniões contrárias à sua, não se interessa, ou não sabe, argumentar o mérito da sua solução e não tem pruridos em servir-se de qualquer meio para esvaziar de poder um orgão que se não lhe submete de modo a impôr a sua vontade. Isso é uma clara ausência de valores democráticos.
Se não houver um TC verdadeiramente independente e não apenas no papel, estamos à mercê dos caprichos, opiniões, interesses, etc. dos governos.
Por exemplo, se não fosse o TC tínhamos perdido o direito ao subsídio de férias e de Natal porque o PPC e o Gaspar tinham a certeza que essa era a única solução para o país sair da crise. O TC vetou essa proposta. Eles barafustaram, chamaram nomes, mas acataram e não foram arranjar um esquema, uma manobra para ultrapassar a decisão do TC.
Costa é um autoritário. Temo-lo visto na maneira como lida com os outros que não concordam consigo. Ainda agora a propósito da greve dos camionistas em vez de anunciar a intenção de negociar para resolver o problema mandou as pessoas açambarcar combustível... o que isso mostra é que não é uma pessoa capaz de dialogar, de perceber quando não tem razão, não aceita isso e por conseguinte, é incapaz de ir ter com outras pessoas ouvir outras soluções. Tem que ser como quer e da maneira como quer. Isso não é democrático.
De Sarin a 26.07.2019 às 16:25
Repare que não falei da actuação geral de Costa, mas da actuação especificamente no caso em apreço.
Costa "acatou a decisão e foi em busca de uma solução que não entre em conflito com a Constituição" :)
Criar tribunais específicos é uma solução. A forma como se criarão obrigará a algumas alterações constitucionais? Talvez, a constituição define os tribunais, não a sua organização... como estamos é manifestamente insuficiente - não se trata apenas de falta de meios.
Os juízes têm de estar preparados para lidar com tipos diferentes de casos - mas, como na saúde, há os casos generalistas e há os casos de especialidade. Terrorismo, crime económico, violência doméstica e abuso sexual exigem, quanto a mim, preparação especializada não no que à lei diz respeito mas quanto à abordagem e ao tratamento dos dados e até das pessoas envolvidas, vítimas ou não.
Não considero manobra. E nada tem a ver com o concordar com a criação de alguns tribunais - nem sempre concordo com os objectivos que subjazem a medidas que defendo. :)
A 'solução' dele é uma manobra porquanto continua a desrespeitar a Constituição no que esta determina que não pode escutar-se uma pessoa, abrir-se-lhe a correspondência, filmá-la, gravá-la, segui-la etc., se a pessoa não foi acusada de nenhum crime. Outra coisa diferente é proporem mudanças na Constituição se as entendem necessárias. Então façam a proposta. Sem manobras.
De Sarin a 26.07.2019 às 17:41
Daí a criação de tribunais que, celeremente, decidam sobre tal autorização.
A CRP salvaguarda o direito de confidencialidade. Numa investigação ainda sem acusação deduzida pode o tribunal autorizar mandado de busca a tais elementos - por exemplo, numa apreensão de computadores os ficheiros que o integram serão varridos a pente fino. O processo de instituição de escutas é outro exemplo. Portanto, reitero não considerar manobra mas sim adaptação à lei.
Não é para fazer aquilo que já pode fazer-se sem polémica nenhuma que se quer criar estas conselheiros. Isso nem tem sentido haver uma polémica acerca de coisas que não são polémicas. É para fazer justamente outras que a Constituição não permite como há pouco tempo veio a público que pessoas andaram a ser seguidas, gravadas, filmadas, etc., sem serem suspeitas de coisa alguma.
De Sarin a 26.07.2019 às 18:33
É exactamente para poder fazê-lo no decurso de investigações que querem tais tribunais, parece-me - para que as decisões possam ser quase imediatas. Para que ninguém tenha a sua privacidade violada sem autorização de um tribunal - os vários mecanismos de equilíbrio, para que a decisão não seja arbitrariamente tomada por um investigador ou outra figura menos transparente.
Pois, mas isto de seguir pessoas, filmá-las, gravá-las, etc, sem serem suspeitas não é constitucional e não são tribunais que vão tornar isso constitucional.
Não me parece que seja par acelerar procedimentos mas sim para legitimar procedimentos que os serviços de informação já fazem à margem da lei e querem continuar a fazer.
De Sarin a 26.07.2019 às 18:51
Não sendo os alvos suspeitos (o que difere de acusados) duvido que as acções passem no crivo judicial do tal tribunal especial pois não é a lei que muda, portanto continua a justificar-se a criação de tais tribunais.
pois a mim parece-me que é mesmo para poderem passar numa lógica de 'irem à pesca' antes de haver propriamente suspeitas
De Sarin a 26.07.2019 às 18:58
É uma leitura possível, claro - mas passará sempre por um magistrado judicial, o que retira ímpeto arbitrário à coisa.
quem é que nomeia esses juízes conselheiros?
De Sarin a 26.07.2019 às 19:01
Os mesmos que nomeiam os juízes do TC e do STJ - não será por aí, Beatriz :)
veremos o que o TC terá a dizer disto tudo
De Sarin a 26.07.2019 às 19:23
Vamos ver o que apresentam como razões da sua decisão, seja ela qual for.
De Manuela a 26.07.2019 às 18:41
O Costa está a tornar-se numa espécie de caudilho à portuguesa, ou seja, bonacheirão e bom rapaz. Daí a sua popularidade.
Penso que a popularidade dele é muito fabricada pelos jornais. Tanto insistem em fazer-lhe apologias que às tantas pega.
De Manuela a 26.07.2019 às 18:50
Pois, e aí vou dizer uma coisa muito pouco democrática mas que é o que me ocorre: o povo é estúpido!
não me parece que seja estúpido. é mal informado e muitas vezes não tem recursos académicos para perceber as manipulações