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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
É que o programa de Filosofia era um programa coerente e bem pensado e agora, depois de introduzirem as AE sem alterar o programa mas, incongruentemente, obrigando, na prática, a alterá-lo, no 10º e 11º, uma vez que as AE passaram matéria do 11º para o 10º e vice-versa sem se interessarem em manter a coerência a lógica do programa ou, mudá-la, agora, como dizia, o programa é caótico.
Acresce a isso, os manuais não terem sofrido alteração de modo que o manual do 10º ano tem matéria que agora só se aborda no 11º e falta-lhe a matéria que passou do 11º ano para o 10º, como a lógica, que ainda por cima foi modificada em termos de conteúdo de modo que nem o manual do 11º tem esse conteúdo para uma pessoa ir lá buscar fichas, por exemplo.
A mim não me incomoda ter que fazer eu fichas de lógica mas incomoda-me a incoerência do programa e as queixas dos pais que se adivinham, pois gastam dinheiro num manual que não serve. Para além de que o programa, com esta introdução disparatada de meses a dar lógica tornar quase impossível dar todo o programa e muito menos em condições.
O programa estava organizado do seguinte modo: no 10º ano abordava-se a questão da acção humana no mundo (nas dimensões ética, política, estética, religiosa) e no 11º abordava-se a questão do conhecimento: a lógica, a argumentação, a epistemologia.
Agora a lógica passou para o 10º ano mas a argumentação ficou no 11º ano... ora, a lógica na Filosofia serve o propósito da argumentação... podem dizer-me, 'mas no 10º ano também se argumenta' - sim, é verdade, mas procuramos a solidez na argumentação porque não se pode reduzir a Filosofia e o conhecimento da Filosofia, sobretudo num ano inicial, a técnicas de lógica. Querer validar materialmente o discurso epistemológico a partir de operações formais é confundir os dois planos. Faz lembrar um artigo de um professor universitário de Filosofia (que se intitula de Filósofo... as pessoas têm-se em grande conta...) que saiu há um par de meses num jornal diário a argumentar contra o aborto usando tabelas de verdade da lógica formal... um absurdo.
Entretanto, a dimensão estética e a religiosa da acção humana passaram para o 11º ano, embora a acção humana se dê no 10 ano e não no 11º ano...
Enfim, esta equipa da educação é tão má, tão má, têm degradado tanto as coisas na escola que é difícil uma pessoa não se irritar, pois nós é que estamos nas escolas e temos que trabalhar com os alunos e dar sentido ao estudo e às aprendizagens.
A minha escola já tem algumas disciplinas organizadas por semestres há uns anos e, portanto, já dá para fazer um balanço das vantagens e desvantagens.
Todos os colegas com quem falo dizem que a desvantagem de os alunos ficarem de 9 meses até um ano sem contacto com a disciplina anula qualquer vantagem. O pior, dizem, é nas línguas, onde os alunos perdem completamente tudo o que aprenderam. Isto acontece porque os alunos têm, vamos supor, inglês no 1º semestre e em Fevereiro começam com a História, até Junho. Depois pode acontecer no ano seguinte, os alunos começarem o ano com a História e só em Fevereiro voltam ao inglês, o que significa que ficam um ano inteiro sem contacto com o inglês. Na melhor das hipóteses ficam 9 meses sem contacto com a disciplina e, na pior, um ano inteiro. É voltar à estaca zero.
Isto dos semestres foi para imitarem as universidades (há uma tendência nas escolas de quererm uniformizar o que é diverso e outra de imitarem as universidades com o intuito de isso lhes subir o estatuto, ou algo do género... não compreendo... o ensino médio, básico e secundário, tem características e objectivos próprios) mas as escolas e os alunos das escolas não são alunos com características universitárias.
Eu até penso que mesmo nas universidades, terem acabado com as disciplinas anuais, sobretudo em certos cursos, para abolenhesarem os cursos, prejudicou muito a qualidade do ensino porque nada se estuda em profundidade, é tudo superficial. Isso em certos cursos, como a medicina, é um bocado assustador.
Enfim, está uma pessoa aqui a fazer contorcionismo para dar coerência e sentido a um programa que tinha defeitos mas era bom e agora é incoerente e desequilibrado.
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