Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]





A minha experiência com os alunos é positiva

por beatriz j a, em 04.08.19

 

Há pedacinho recebi um email duma rapariga que foi minha aluna entre 2015/16 e 2017/18 duma turma excepcional. Enviou uma fotografia para o caso de já não me lembrar dela. Como se esquecesse essa turma... muito querida, quis pôr-me a par do que andava a estudar e a fazer e queria saber de mim. Continua muito entusiasmada com a vida, o que me deixa muitíssimo satisfeita.

 

Hoje de madrugada li um artigo de um professor americano que se reformou três anos antes do tempo. O artigo é uma justificação dessa decisão. Ele conta como era um professor entusiasmado e carismático, fala da atmosfera que conseguia criar dentro da sala de aula, da experiência de crescimento e de aprendizagem e de como tudo isso desapareceu com os portáteis e os smartphones, focos permanentes de dispersão, de isolamento e silêncio onde antes havia questões e da falência da própria experiência de aprendizagem enquanto experiência social. Os alunos, diz ele, deixaram de olhar para ele, vão batendo nas teclas e pelo meio vão ao FB, atendem chamadas, vão à internet ver uma perspectiva alternativa ao que ele está a dizer e ele deixou de sentir-se ligado às turmas e aos alunos.

É um professor universitário mas fala da incapacidade de ter os alunos atentos e refere que muitos professores de escolas e de universidades lhe contam que já não têm autoridade dentro da sala, que os miúdos não querem saber de nada e que isso já chegou aos colégios privados, onde costumava haver turmas interessadas com alunos brilhantes.

 

Há qualquer coisa que não bate certo nisto. Eu não tenho esta experiência, pelo contrário. Mesmos com as turmas com as quais não me dou bem nem mal, por assim dizer, há um clima de trabalho. É verdade que não deixo usar o telemóvel dentro das aulas a não ser em certas ocasiões muito específicas e controladas, para trabalhar, e é no fim do ano, quando já tudo é muito claro. Sou muito rigorosa com isso. 

Mas quer dizer, dou aulas numa escola pública de uma zona que não é rica e, no entanto, a minha experiência é positiva. A maioria das turmas é razoável com alguns bons alunos e volta e meia apanho uma turma excelente, como a desta rapariga. Turmas com muitos bons alunos e gente interessada, empenhada.

 

É muito mais raro apanhar uma turma de gente desinteressada que apanhar uma turma de gente interessada. É claro que não é fácil, no 10º ano, pôr os miúdos a trabalhar porque a quase totalidade não tem método de trabalho nem de estudo, nem dentro nem fora da sala de aula mas é para isso que nós, professores, existimos e, uma vez que lhe apanham o jeito, muitos tornam-se entusiasmados com as coisas.

Assim de repente, nos últimos cinco anos tive três turmas muito boas, a desta rapariga e mais duas. 

Faço regularmente amigos entre os alunos. De modo que não percebo bem estes testemunhos.

Os alunos continuam a ser seres humanos e que eu saiba os seres humanos não desenvolveram escamas de modo que continuam como sempre: a maioria não gosta de estudar mas gosta de aprender, mesmo que tenham interesses limitados; no entanto, têm potencial para alargar os interesses e fazem-no.

Enfim, espero não vir a ter, nunca, o discurso desiludido daquele indivíduo, relativamente aos alunos. 

 

publicado às 23:00


2 comentários

Sem imagem de perfil

De Cosmo Kramer a 05.08.2019 às 17:36

Tem «sorte». Uma grande percentagem revê-se no discurso do indivíduo. Em quase 100 alunos, este ano tive uns 20 que trabalhavam. O resto passeou os livros, entre outras coisas.

Comentar post



no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau. mail b.alcobia@sapo.pt

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.



Arquivo

  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2018
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2017
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2016
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2015
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2014
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2013
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2012
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2011
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2010
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2009
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2008
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D



Pesquisar

  Pesquisar no Blog

Edicoespqp.blogs.sapo.pt statistics