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no cabeçalho, pintura de Paul Béliveau
Hoje na aula estivémos a discutir as páginas 64 e 65 desta obra de J. Rawls, Uma Teoria da Justiça que pode ler-se toda online, gratuitamente, nesse link, acerca dos princípios de justiça social e, paralelamente, para responder à questão, 'como preservar as democracias de decadência e morte'.
Os miúdos, antes de perceberem racionalmente as questões da organização do Estado no que respeita à questão justiça têm já uma intuição do conceito de justiça fundada na experiência de vida particular que depois generalizam à situação social.
A percepção da justiça e a revolta contra a injustiça parecem ser evolutivas e inatas. Outros primatas evidenciam-nas como se vê nessa célebre experiência aí em baixo onde um dos macacos se revolta face ao tratamento injusto de que é alvo.
O que nós fizémos foi racionalizar a justiça de modo a ser capaz de regular a vida social. Mas onde a justiça falha a revolta e, a certa altura, a lei da força vingativa impõem-se.
A quantidade de protestos que vários sectores sociais que clamam por justiça andam a levar a cabo no país é um sintoma grave de revolta face à injustiça da redistribuição do património, facto que todos vêem menos aquele/s que tem a mão no saco do dinheiro e, como diz Madeleine Albright nesta entrevista (On tyranny, populism—and how best to respond today) a propósito do seu novo livro, Fascism: A Warning, o fascismo floresce quando não há âncoras sociais, quando há a percepção de que os media mentem, de que a democracia se tornou uma farsa, que as corporações têm um contrato com o diabo, como costuma dizer-se, e que só uma mão firme pode proteger do 'outro' que é a origem do mal.
Déspotas raramente revelam as suas intenções e pessoas que começaram bem no poder frequentemente tornam-se autoritárias à medida que se prolongam no poder.
Primo Levi dizia que o ponto crítico atingia-se, não apenas através da imtimidação da polícia do terror mas pela negação e distorção da informação, pelo minar da justiça e a paralização do sistema de educação.
As experiências que moldaram as instituições do pós-guerra estão já tão distantes que muitos não fazem ideia da sua razão de ser. (...) nenhuma instituição, por muito bem construída que tenha sido pode ajudar-nos se perdermos o sentido de humanidade partilhada e se as pessoas se virem como vítimas para atropelarem os direitos dos outros.
Como diz Raws, a justiça é virtude das instituições sociais e uma sociedade é justa, apesar das diferenças, se estas beneficiarem toda a sociedade e injusta se as diferenças não beneficiam a sociedade como um todo.
A percepção da justiça/injustiça está na origem de toda a revolta social, dos populismos e dos autoritarismos e as democracias não têm nenhum selo de garantia de perpetuidade.
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